Capítulo VIII
"Amor e perdão não são sentimentos que compramos com palavras bonitas"
- Nagato
Aiala havia preparado suas coisas com antecedência e deixado suas poucas bagagens no interior da mata, ajeitando-as sobre o cavalo antes que Andreas e ela começassem com sua punição, deste modo, no momento em que saiu da casa abandonada tudo que ela precisava fazer era montar em seu cavalo e deixar Mégara antes que a família Nomikos notasse o sumisso do segundo filho.
No momento em que alcançou o limite territorial de Mégara, Aiala enfim pôde respirar com mais tranquilidade. Contudo, a garota não pôde deixar de se sentir frustrada, ela desejava eliminar todas as suas presas em pouco tempo e voltar para seu vilarejo para ajudar o povo, mas o outono já estava indo embora e logo seria inverno, porém ela tinha eliminado apenas dois homens. Com a chegada do inverno, viajar se tornaria mais difícil e cansativo, então ela se decidiu " eliminarei mais um antes que o inverno chegue".
Segundo as informações, o próximo alvo de Aiala estava em Corinto. Aquela era uma Cidade-estado muito conhecida por ser um rico centro comercial, seu porto era porta de entrada para negócios internacionais. Era uma das cidades mais antigas de toda a Grécia tendo seu território populado a mais de três mil anos antes de Cristo, ela também ficou conhecida por seu poderio Naval. Para a desgraça e preocupação de Aiala, aquela era uma cidade devota a Poseidon ao ponto de realizarem jogos para honrar o deus do mar, nela também foi construído o templo dórico de Apolo, ela é uma das cidades mais populosas de toda a Grécia.
Apesar do ônus de ser uma cidade devota a Poseidon, ao ponto de atribuírem a ele a maior parte dos créditos pela prosperidade do lugar, não era como se Aiala pudesse simplesmente evitar o lugar para sempre, a menos que o alvo deixasse a cidade. Mas a garota afastou de sua mente tal esperança, o homem que ela perseguia agora não deixaria uma cidade como aquela tão cedo e ela não tinha tempo para esperar que ele o fizesse. A cada minuto que passava, as chances de perceberem algo errado e notarem que alguém estava sumindo com os integrantes do grupo de sete homens se tornavam maiores, principalmente depois da morte de Andreas Nomikos. A família dele era influente demais, notícias de sua morte logo se espalhariam como areia ao vento e se o restante do grupo procurasse por Geórgios poderiam constatar que estavam sendo perseguidos e se moverem de onde estavam, dificultando a caçada. Aiala precisava agir e fazer isso rápido.
Aiala chegou a Corinto de madrugada, à alguns dias, ela tinha começado a viajar também a noite, felizmente Torkell ,o cavalo, era jovem e vigoroso. Da parte mais alta da cidade, ela pode ver o revolto mar e sentir o vento atigir seu rosto com mais agressividade e mais frio que o normal, ela constatou que era em decorrência do final do outono e que os ventos anunciavam a chegada do inverno.
Depois de encontrar um lugar para deixar seu cavalo e se instalar na cidade, Aiala foi até a área da cidade onde ficava a maior concentração dos mercados, de longe ela notou uma amontoado familiar de carroças para transportes e decidiu se aproximar. Sua memória não a estava enganando, quando chegou ao local onde estavam as carroças, a garota encontrou um amigo que fez no vilarejo dos comerciantes onde matou a fera.
- Eúandros!? - chamou a jovem.
O homem se virou em reconhecimento ao seu nome, ele possuía cabelos negros e grisalhos que delatavam seus cinquenta anos, tinha cerca de 1,70 de altura, olhos pretos e uma expressão sempre gentil em seu rosto. Um homem sábio, motivo pelo qual seus negócios se mantinham firmes mesmo em tempo de crise, líder de seu grupo que vinha de muitas gerações de uma família de comerciantes. Eúandros havia se afeiçoado a jovem no pouco tempo que passaram juntos no vilarejo, ele admirava sua força e coragem, até mesmo lhe ofereceu um lugar em sua família. Ele queria que Aiala se tornasse esposa de seu filho mais velho, aquele que herdaria os negócios do pai, e assim se tornasse sua filha. Qualquer uma teria aceitado uma proposta como essa, mas Aiala tinha outros planos e faria o melhor para envolver o menor número possível de pessoas em sua vida perigosa. Talvez um dia após finalizar sua vingança e restaurar seu vilarejo, ela fosse até Eúandros e aceitasse sua proposta.
- Aiala! - Eúandros, o homem bom e justo. - Que felicidade em vela de novo, mandei cartas ao vilarejo em que você me disse que morava, mas não recebi respostas.
- Me desculpe por isso, estive viajando esse tempo todo resolvendo meus próprios negócios, não voltei pra casa ainda, mas logo irei para lá.
- Compreendo. - Ponderou Eúandros. - De qualquer forma eu até planejei uma viagem para um local perto de seu vilarejo em Tânagra, eu ia passar por lá para vê-la, em pensar que a encontraria aqui.
Eles ouviram alguém chamar por Eúandros no interior de uma grande loja.
- Bom, tenho que ir agora, o dever me chama. Se quiser enviar algo a Tânagra ou que eu entregue algum recado em seu vilarejo, o farei com prazer. Ficarei aqui por mais alguns dias. - disse Eúandros. - Ainda te devemos muito por salvar nossas vidas daquela besta.
- Por falar nisso, como está o homem que perdeu o braço. - Perguntou.
- Ele está bem, infelizmente levou muito tempo para se recuperar e quase morreu, mas estamos gratos que tenha sobrevivido. O rapaz até me pediu para deixar o grupo dizendo que não seria um fardo, mas você sabe como sou, não é como se eu fosse capaz de deixar alguém que não tem para onde ir na mão, ninguém do grupo foi contra minha decisão também, então...- disse Eúandros. - Ele está aqui, se quiser vê-lo pode ficar a vontade, garanto que ele ficará contente em ter a oportunidade de agradecer.
- Não, vou deixar para uma próxima vez. - Falou a jovem. - Tenho que Fazer algumas antes que anoiteça.
- Ah sim! Claro! Eu vou indo então e não esqueça que pode contar com a gente, se eu não estiver por perto basta falar com um outro membro do grupo, todos sabem quem é você. - Ele falou enquanto se afastava indo em direção a voz que o tinha chamado outra vez.
Aiala continuou a caminhar pelo local em busca de mais informações, o homem que ela estava procurando certamente estaria alí. Aquela era uma cidade rica e tendo em vista a principal atividade do alvo, aquele deveria ser seu paraíso, pois sendo ele um ladrão teria muito o que roubar e sendo aquela uma cidade populosa, com um grande fluxo de forasteiros, ele teria como se esconder das pessoas de quem roubava. Uma hora ele iria aparecer e tudo que Aiala precisava fazer é estar atenta aos padrões que ele deixaria para trás.
A garota lembrava muito bem do rosto do sujeito, no dia em que invadiram sua casa, o homem tinha instigado os outros para que levassem todos os itens de valor que pudessem carregar antes de partirem, a princípio os outros não concordaram pois queriam deixar o local rapidamente, contudo acabaram cedendo no fim. Dentre os itens que foram levados estava um anel que era passado na Família Kokkinos por gerações e com ele uma história, dizem que quando o deus do submundo os abençoou com força, resistência e riquezas, deu a eles também um anel.
Aiala se lembra vividamente do anel, ele era prateado e tinha uma polida pedra de rubi incrustada. Mas aquele não era um rubi qualquer, segundo seu pai, Hades disse que aquele minério era proveniente de seus domínios e que os próprios ciclopes tinham feito o anel. Contudo o anel não coube nos dedos do deus, assim como não coube nos dedos de nenhum Homem nascido na família Kokkinos, apenas algumas poucas mulheres tinham dedos em que o anel coube. Cabendo ou não em seus dedos, Aiala estava decidida a reaver a herança de família roubada.
Três dias se passaram desde que Aiala chegou a Corinto, ela tinha ouvido falar de roubos na cidade mas não encontrou quem ela queria. A jovem queria deixar aquela cidade portuária rapidamente, mas seu alvo não estava colaborando. Ela já estava perdendo as esperanças quando encontrou Eúandros mais uma vez no mesmo lugar, ele parecia angustiado mesmo visto de longe.
- Eúandros, o que foi? - Aiala perguntou no momento em que chegou, mas o homem estava perdido em seus pensamentos e não ouviu. Alguém como ele que sempre carregava uma expressão tranquila no rosto estava exasperado. - Eúandros, o que houve? - Dessa vez a garota tocou em seus braços e isso fez com que ele se assustasse.
- Aiala. - Reconheceu. - O que faz por aqui? - Perguntou, trazendo de volta a sua face a habitual gentileza e tranquilidade.
- Eu estava de passagem. - disse. - Mas Você ainda não respondeu.
- Não é nada que tenha que se preocupar. - falou gentilmente.
- Nem venha com essa pra cima de mim. Desembucha.
O homem sabia o suficiente sobre Aiala para concluir que ela iria correr para cima do perigo no momento em que soubesse o que aconteceu, mas ela não se contentaria com uma explicação meia boca. Mentir poderia fazer com ela ficasse zangada com ele e falar a verdade a colocaria em perigo. O que fazer? Ele coçava a cabeça angustiado.
- Nem pense em mentir. - Ela falou decidida. - Eu vou encontrar um jeito de descobrir e me envolverei com ou sem a sua ajuda.
Eúandros soltou uma gargalhada, aos poucos parte de suas preocupações se aliviaram. Nesse momento ele reavivou em sua mente o motivo pelo qual queria trazer a doce Aiala para sua família e ficou um pouco triste por lembrar que tinha sido rejeitado.
- Não tem jeito mesmo. - Falou erguendo os braços em rendição. - Nos fomos roubados.
- Roubados? Como? Por quem? - Nesse momento a garota tinha até esquecido que seu alvo era um ladrão, tudo que ela sentia era preocupação.
- Se acalma. - Falou Eúandros. - Nós saimos um pouco, alguns para reabastecer o suprimento para a viagem e outros para encontrar alguns cliente. Alguns estava de folga. Quando voltamos o roubo já tinha acontecido, foi ontem a noite, não sabemos ao certo quem fez isso. - Eúandros parou de falar e suspirou exasperado, foi a primeira vez que a garota viu aquela expressão em seu rosto, ele estava furioso. - Se ele apenas tivesse roubado, estava tudo bem. Se tem uma coisa que eu aprendi em todos esses anos é que os nossos bens podem ser substituídos, mas o ladrão tinha que ir tão longe?
- O que ele fez? - perguntou.
Eúandros suspirou para recuperar a razão em meio a ira.
- O homem que perdeu o braço, aquele que você ajudou a salvar da morte contra a fera... Ele foi brutalmente espancado. Nós o deixamos aqui tomando conta das mercadorias, não esperavamos que atacassem. - Aos poucos a expressão do Homem foi se tornando triste. - É minha culpa, não deveria ter deixado ele sozinho.
Eúandros estava tão perdido em sua narrativa, raiva e tristeza que sequer percebeu as mudanças no comportamento da jovem. Aos poucos a garota energética que conversava com o comerciante se foi, sua face se fechou e sua expressão se tornou dura e fria. Era a aparência da mulher que aplicava a retribuição merecida a cada um que ousasse ferir os seus.
- Não! - Disse ela com tranquilidade. - A culpa sempre é do agressor e não da vítima.
O homem finalmente olhou para a garota e notou a mudança, era assustador, uma presença deveras esmagadora. Mas ele não sentia medo, afinal aquela intensão assassina não era direcionada a ele. Confusão surgiu em seus olhos quando ele a viu se virar silenciosamente e começar a ir emboram.
- Para onde está indo? - Perguntou.
- Pegar suas coisas de volta e dar esse bandido o que ele merece. - Falou docemente.
- Mas eu nem te falei como ele se parece. - Ouvir isso fez a garota parar.
- Acheia que tinha dito que não sabia quem eram. - Disse se virando e voltando para perto do homem
- Eu disse que não sabia quem era e não que não sabia qual era a aparência dele.
- Não banque o espertinho. - debochou. - Desembucha logo, como ele é.
- Seu único defeito é essa sua personalidade horrível. Isso lá é jeito de tratar um pobre homem, eu sou sensível. - Ironizou. - Não me olhe assim, já vou começar a te dizer como ele é.
Eúandros repassou exatamente o que seu funcionário havia dito, ele falou que o ladrão era um homem de cabelos pretos enrolados e olhos castanhos, tinha cerca de 1, 85 de altura, não era magro nem musculoso e o principal era que possuía uma cicatriz antiga que ia da sobrancelha até perto do cabelo. Aiala inicialmente ficou chocada, mas aos poucos sua face ficou desprovida de qualquer sentimento e enquanto ouvia ela não tinha dúvidas de que o homem que procurava e o homem que roubou Eúandros eram a mesma pessoa. A alma de Aiala mais uma vez escureceu.
O ladrão tinha levado muita coisa e isso significava que sua toca não era muito longe dalí, se ele tivesse simplesmente pegado pouca coisa seria impossível constatar isso.
- É o suficiente. Atraze um pouco a sua partida. - Falou. - Em três dias entrarei em contato com você.
Foi isso que ela disse antes de sair sem nem mesmo dar tempo para que o homem processasse nada. Ela o deixou sem dizer mais nenhuma palavra.
Encontrar o ladrão não seria uma missão tão difícil agora, a menos que tenha poderes sobrenaturais ou a ajuda de um deus ele não seria capaz de evaporar sem deixar rastros com toda aquela carga, principalmente porque ele estava sozinho.
Aiala decidiu então não rastrear o homem e sim a carga. Ela não dormiu nos três dias que se seguiram, empenhou todo o seu tempo para encontrar não o homem mais sim a toca e foi no segundo dia que ela encontrou na floresta uma trilha que levava à uma caverna. O local não parecia ter sido visitado aquele dia, o último registro de presença humana batia com o dia em que Eúandros foi roubado, aquele era o lugar. Ao adentrar o local e caminhar até o fundo da caverna, ela encontrou uma pilha de tesouros, uma parte dele estava dentro de caixotes. E naquele momento Aiala descidiu o método que usaria para fazê-lo lamentar por se envolver com seu amigo. A garota deixou a caverna, apagando qualquer vestígio de que um dia esteve alí.
No caminho de volta ela deixou a trilha e andou por entre as árvores, em algum momento ela sentiu a presença de mais alguém na área e passou a procurar quem era. Não demorou muito para ver o ladrão caminhar pela trilha, com um saco nas costas, porvavelmente objetos roubados. Ela teve que reconhecer a audácia e habilidade daquele homem, fazendo roubos um atrás do outro sem nunca ser pego. Ele estava alí, diante de seus olhos, despreoculpado e cheio de aberturar, aquilo era o suficiente para começar o plano original, mas para o novo plano ela teria que deixar seu forte desejo de agir naquele instate e segui-lo. Ela não o perderia de vista nem se o rio Flegetonte congelasse.
Enquanto seguia cautelosamente sua presa, Aiala encontrou um menino na rua que atuava como mensageiro e mandou por ele uma mensagem para Eúandros, aquele era o terceiro dia. A mensagem descrevia a localização da caverna e uma ordem expressa de ir imediatamente ao local designado e retirar tudo que estivesse lá, a garota instruiu Eúandros também a pegar o que era dele e levar o restante para Tânagra, lá ele deveria ir o seu vilarejo, procurar pelos irmãos encrenca e dizer a eles " Aiala, sua irmã, manda seus cumprimentos", feito isso deveria segui- los até uma casa afastada dos demais e seguir as instruções dos rapazes. Eram homens de sua confiança.
Após enviar a mensagem Aiala continuou a seguir o ladrão.
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Obrigada por acompanharem a história. Aguardem mais capítulos.Não esqueça de comentar e votar, desse modo a história chegará a mais pessoas. Aceito críticas construtivas. Se encontrar qualquer erro na ortográfica, por favor, sinalize para que eu possa corrigir. 💜💜💜💜💜💜
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