Capítulo LVIII
- Se pensar demais sobre isso vai acabar ficando ainda mais louco do que já é. - Disse Nikolaus tentando afastar a preocupação de Dídimo.
- Bom, que seja! Pensaremos sobre isso quando tudo isso acabar. - Falou confiante. - A gente sempre dá um jeito de sobreviver mesmo.
- Os fios das nossas vidas são bem escorregadios, as Moiras devem estar furiosas porque falharam tantas vezes em que tentaram contá-los. - Riu Nikolaus e Dídimo o acompanhou.
- Ei Vocês dois! - Chamou Aiala. - Nada de corpo mole. Comecem a treinar.
- Sim, vossa majestade. - Dídimo fez uma mensura exagerada e foi apanhar sua espada de madeira. - Tem certeza de que dá para treinar com essas coisinhas frágeis.
- São feitas de madeira de lei, não são frágeis, nós é quem estamos fortes demais. - Disse Aiala.
- Ainda assim, não dá para… - Dídimo não conseguiu completar a frase.
O pirata foi atingido com um soco no rosto com força, mas seu rosto inclinou como se apenas tivesse sido esbofeteado.
- Então é assim que você me trata. - Disse ajeitando a postura. - Vou devolver com juros. - Falou avançando sobre Nikolaus.
Cada um usava um estilo próprio de artes marciais. Parecia uma dança, uma peça ao som de boa música, porém letal. Uma sinfonia escrita sobre golpes e contragolpes, esquivas e movimentos rápidos, força, havia força descomunal em tudo aquilo.
Usavam por completo os membros superiores e inferiores para defender e atacar. A cada impacto uma nova onda, mais e mais energia era gerada, até que Aiala e Íris pararam de lutar para observar o que estava acontecendo.
- O que é aquilo? - Indagou Íris para que Aiala ouvisse.
- Eu não tenho certeza, só li sobre isso em livros. - Comemtou. - Até tentei praticar, mas como não tinha com quem lutar para refinar a técnica acabei desistindo.
- O que dizia no livro? - Insistiu Íris.
- Posso estar errada, mas acho que aquilo é Nean.
- Fala na minha língua.
Aiala revirou os olhos, onde estava Nikolaus para fazer o trabalho chato quando ela precisava dele?
- É dito que Nean é energia cósmica proveniente do Caos, a energia da qual surgiram todas as coisas. Até mesmo o poder dos deuses surgiram através dessa energia. - Explicou Aiala. - Pelo que li alguns humanos no Oriente foram capazes de usar Nean e criaram técnicas de manipulação baseados nisso. O livro também dizia que a habilidade de controle e manipulação de tal energia surgiu com um povo cujo qual acreditava-se que eram descendentes de uma linhagem híbrida de humanos e deuses que nao conhecemos.
- E por que tem Nean se manifestando em dois caras que nem sabem o que é isso? - Indagou Íris impaciente.
- Eu sei lá Íris. - Bradou Aiala. - Talvez seja porque romperam a barreira que limita o corpo humano. Essa barreira existe para proteger o corpo humano visto que ele é frágil, mas já que o corpo já não é frágil a existência do limitador natural se tornou inútil, eles só precisavam de estímulo. A luta deve ter estimulado.
- Qual era o nome do livro? - Indagou.
- Eu não lembro o nome da maioria dos livros que li, me recordo apenas do conteúdo deles. - Respondeu Aiala. - Acho que era "Legado de alguma coisa" o nome.
- Mas isso tudo é ridículo! - Disse Íris após pensar um pouco. - Não é como se nossas vidas fossem parte de uma obra de ficção escritas em um maldito livro.
- Você tem um ponto.- Concordou Aiala. - Mas ridículo ou não, essa é a realidade agora. Acredito que a nossa constante exposição ao sobrenatural também influenciou nisso.
- Como a gente faz aquilo? - A gente não faz. - Disse Aiala, Íris a olhou confusa. - Olhe para eles com atenção, está vendo?
Íris se esforçou para tentar ver o que Aiala queria lhe mostrar.
- Eu não vejo nada. - Respondeu Íris dando-se por vencida.
- Você nem tentou de verdade. - Aiala suspirou. - Veja, a gente consegue ver o fluxo da energia a cada golpe, mas eles não estão manipulando Nean. Aquele Nean não está sendo canalizado, sempre existiu a gente só não conseguia ver.
- Entendo. - Disse a ruiva. - Só porque a gente consegue ver não significa que a gente pode canalizar ou manipular.
- Exatamente. - Confirmou Aiala.
- Então é inútil. - Comentou Íris.
- Não necessariamente, se nós conseguimos ver algo que não éramos capazes de ver antes significa que nós evoluímos e isso é uma informação importante. - Argumentou Aiala.
- Se você diz… - Rebateu Íris.
- De qualquer forma, temos pouco tempo. Vamos focar em tentar aprimorar e fortalecer o que já temos em vez de ficar perseguindo coisas novas.
Os treinos se intensificaram com o passar dos dias, em algum momento eles tiveram que mudar o local do treino visto que estavam começando a fazer estrago, acabaram indo mais e mais fundo na floresta. O tempo corria sem dó e não se preocupava com aqueles que ainda não estavam preparados.
❇❇❇
O quarteto fez o que pôde nos dias que antecediam o clímax da história da vida deles, treinaram arduamente e se revezaram na provisão de alimentos e outros recursos. Eles preferiram manter o máximo de sigilo sobre o que iam fazer de modo que os únicos no vilarejo que tinham ciência da guerra que viria era família Ráptis.
Na noite que antecedeu o dia da batalha, os quatro se sentaram no campo de treinamento em volta de uma fogueira.
- Por quanto tempo vai afiar essa faca? - Indagou Nikolaus.
- Meu velho costumava dizer que um bom lenhador passa a maior parte do tempo afiando seu machado. - Respondeu Dídimo.
- Mas isso é uma faca. - Rebateu Nikolaus.
- Tá muito engraçadinho para o cara que vai ser o primeiro a morrer amanhã. - Brincou Dídimo e Nikolaus Gargalhou.
- Ninguém poderá me vencer numa luta franca. - Falou Nikolaus.
- Eu e minha faca acabaríamos com você em um segundo. - Provocou o pirata.
- Você e mais quantos? - Nikolaus simulou que ia dar um golpe no amigo, os dois gargalhavam.
- Chega desse papo, ninguém morrerá amanhã. - Disse Íris. - A gente vai se reunir em volta da fogueira de novo quando tudo isso acabar, vocês vão fazer as mesmas brincadeiras idiotas de sempre e a Aiala vai apartar as nossas brigas. Ninguém vai precisar fugir de novo, nem ser separado da família de forma trágica por causa de uma maldita profecia, ninguém vai temer perseguição injusta por parte de um deus. - Falou Íris. - Depois de amanhã a humanidade não precisará temer.
Todos ficaram em silêncio olhando para Íris.
- Então até a Íris consegue dizer algo que preste de vez em quando. - Provocou Nikolaus.
Íris correu para cima dele com uma caneca cheia de chá quente e Nikolaus fez o que dava para fazer no momento… fugiu por sua vida.
- Vem cá, vou te falar mais umas coisinhas. - Disse Íris docemente.
- Tenho certeza de que você pode dizer qualquer coisa sem essa caneca de chá quente. - Respondeu ele parado a uma distância segura.
- Lá vai vocês de novo. - Falou Aiala cansada. - Já chega! Sentem aqui. - Os dois foram cada um para seus respectivos lugares. - Dídimo, tem certeza que aquele será o local? - Perguntou para o guia.
- Eu imagino que seja lá, Nikolaus também concorda, o local é historicamente conhecido como o lugar onde Hades mora. Acredito que seja uma das entradas para o submundo, neste caso, a entrada que dá acesso ao Tártaro e o lado externo dos portões da morte.
- Mandamos Uma mensagem dizendo para Niobe ir para lá, se o local não for esse não vai dar para segurar os deuses até o reforço chegar, vamos ter nós unir aos monstros e dar um jeito de vencer a guerra. - Ressaltou Aiala. - O lugar tem que estar certo.
- Vai dar tudo certo. - Murmúrio Íris.
Como esperado ninguém dormiu e na manhã do dia seguinte Aiala deu a cada um dos integrantes o quarteto uma gota de seu sangue, tudo que eles precisavam fazer agora é aguardar. Aguardar até que todos fossem teletransportados para o lugar designado.
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Já haviam chegado na nona hora da manhã quando finalmente começaram a sentir um leve formigamento na ponta dos dedos. Imediatamente todos se reuniram sob o carvalho sob o qual Pachis repousava, aquele havia se tornado um ponto comum de encontro para eles todos os dias.
Aiala foi a primeira a chegar e vestia uma calça que era mais justa na cintura e nos tornozelos, porém na parte restantes era tão folgada que parecia uma saia quando ela mantinha as pernas unidas, a calça tinha a cor azul de prusia. Na parte superior do corpo cobria-se com uma blusa sem mangas que deixava seus braços desnudos, ela era drapeado em vários lugares e sua cor era cinza azulada, na região dos seus trazia um decote em V e no decote fitas de couro faziam um encadarçado. Um cinto de metal prateado protegia o abdomen. Sapatilhas calçavam seus pés e seus cabelos estavam presos no seu característico rabo de cavalo. Sua roupa não lhe oferecia proteção e tinha o único propósito de cobri-la e não atrapalhar sua mobilidade, alguém da estatura de Aiala sequer poderia se dar ao luxo de sofrer um golpe direto e se acontecesse estar de aramadura não faria diferença diante de poder divino.
Íris chegou logo em seguida, vestia uma comprida blusa, a parte superior lembrava um qipao oriental, a peça era justa até a altura dos quadris, mas logo ficava mais folgada e seguia como um vestido até o meio das coxas, contendo uma abertura na parte frontal que começava na altura do umbigo e fazia com que a modelagem da roupa lembrasse uma cortina dupla se abrindo. A blusa tinha a cor azul royal, tinha duas mangas estreitas sendo uma parte do corte regata da blusa e o segundo um detalhe ombro a ombro. Ela usava um largo cinto metálico dourado na região mais fina da cintura e braceletes igualmente dourados em ambos os braços, os braceletes cobriam quase todo o antebraço e tinham detalhes que se assemelhavam a escamas de peixe. Na parte inferior do corpo usava uma calça justa na cor preta e botas de caçador. Seus cabelos estavam soltos como de costume.
Os homens do grupo chegaram ao mesmo tempo, Dídimo e Nikolaus usavam roupas de estilos semelhantes dado ao fato de que fora Dídimo quem escolheu as duas roupas. O jovem pirata vestia uma blusa simples de mangas curtas por dentro cuja gola cobria quase todo o pescoço e por cima colocou um justo colete de couro marrom escuro, usava calça na cor verde Kentucky e botas de caçador na cor preta. Protegeu os antebraços com braceletes de bronze.
Nikolaus usava uma blusa na cor turquesa por debaixo do colete de couro na cor preta, usava ombreiras prateadas de placas de aço e braceletes de proteção feitos com igual material. Trajava uma calça em tecido na cor vermelho rosewood e usava sandálias de couro na cor preta.
Cada um agarrou firmemente suas armas na esperança de que fossem capazes de levá-las junto com eles ao sentirem o formigamento se intensificar, mal tiveram tempo para uma salvação e em um feixe de luz o grupo desapareceu.
O quarteto se viu em um ambiente novo, mas para sua satisfação acabaram por constatar que haviam acertado qual seria o local da batalha e que Niobe estava sendo guiada para o lugar correto.
Eles se encontravam no ponto mais meridional da Grécia continental, um lugar conhecido como Cabo Taenarum, que ficava a noroeste da ilha de Citera. Estavam na região de Esparta.
Encontravam-se a cerca de quinhentos metros da praia, quase não haviam árvores e tinham muitas rochas dos mais variados tamanhos dispostas pelo lugar, apesar do terreno ser declive na maior parte daquela região, sendo rico em ladeiras e outros relevos semelhantes, o local em que estavam era uma extensa área plana e descampada, o chão era coberto por gramíneas e outras plantas de pequeno porte, mas a frente deles existia um lugar com cerca de quarenta metros quadrados totalmente desprovido de vegetação. Ao se aproximarem um pouco mais constataram que se tratava de uma enorme placa de pedra colocada alí de forma artificial.
Antes que pudessem subir da placa coberta por areia que tinha chegado ali carregada pelo vento, ao lado deles surgiram três figuras enormes, não precisavam apresentar-se, os três Ciclopes poderiam ser reconhecidos mesmo de longe.
- Porque precisam abrir os portões da morte se vocês possuem uma bugiganga que teletransporta? - Indagou Íris antes mesmo que alguém tivesse a chance de saudar os recém chegados.
- Não tem energia suficiente para transportar um exército. - Respondeu Brontes como se falasse o óbvio.
- De todo modo estamos todos reunidos aqui. - Disse Estéropes com sua habitual gentileza.
- Sim. Aiala, faça as honras. - Pediu Arges inquieto.
Ele caminhou até uma área mais plana e subiu na placa, sacudiu uma mão e a ventania gerada foi suficiente para varrer toda a areia que cobria o chão e revelar o que estava esculpido.
No chão haviam figuras entalhadas de modo a formar um círculo, pareciam contar uma história e era isso de fato, as imagens retratavam a batalha de Titanomaquia, bem como a derrota e queda dos titãs e seus aliados. Mais ao centro haviam figuras que contavam uma outra história, a batalha feroz contra Tifão e de como Zeus foi seu algoz, mesmo que na verdade o deus tenha recebido ajuda para derrotar aquele inimigo formidável.
- Seus amigos devem ficar na margem do círculo e você deve ficar no centro de tudo. - Explicou Arges. - Cada um dos seus humanos devem ficar num ponto cardeal e Estéropes, que tem um acordo forjado com você, ficará no ponto referente ao norte.
- Não entendi o sentido disso. - Disse Dídimo.
- Não temos tempo para explicar. - Falou Arges. - Aiala, qual deles é o mais precioso? Qual deles é aquele com o qual você não pode viver sem? - Indagou o Gigante.
- Que tipo de pergunta é essa? - Questionou Aiala.
- Sem essa Aiala, a gente não se importa. - Respondeu Dídimo. - Sabemos onde estão os nossos lugares em seu coração e estamos satisfeitos com isso.
- Além disso, não é segredo, todo mundo sabe. - Argumentou Íris.
- É! - Comentou Nikolaus. - Nós sabemos que o Dídimo é o mais importante. Não precisa se preocupar.
Os três olharam para Nikolaus.
- O que foi? - Perguntou ele desconcertado. - Não era pra falar?
Silêncio.
- Meu amigo. - Disse Dídimo se aproximando e dando tapinhas no ombro de Nikolaus. - Às vezes você é tão burro que chega a ser assustador.
Íris gargalhou e tentou abafar o riso com uma das mãos enquanto virava o rosto.
- Enfim, essa pessoa deve ficar no ponto Sul. - Falou Arges.
A quem diga que o Sul é o ponto mais próximo do mundo inferior e possui uma ligação especial com ele.
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