Capítulo LIII
Eles margearam a cidade de Mégara andando sempre na mata, evitavam contato até com lenhadores e caçadores. Haviam decidido evitar o conflito, restavam poucos dias até a superlua e cada um deles precisava chegar em seu lar para descansar. Tudo parecia correr de acordo com o plano, chegaram num vilarejo que ficava a um dia de viagem de distância de Mégara, Dídimo entrou cumprindo o papel de batedor.
Ao entrar no vilarejo, passando pelo centro, ele viu cartazes de procurados e como esperado os rostos deles estavam estampados em vários deles. Dídimo recolheu alguns na surdina enquanto tentava conter o riso e voltou para junto do restante do grupo que o estava esperando fora do vilarejo.
- Esse daqui deveria ser eu? - Perguntou Nikolaus.
- Parece um jovem prostituto. - Disse Dídimo gargalhando da miséria do amigo.
- Alguém deixou uma grande impressão na filha dos Nomikos. - Comentou Aiala olhando o cartaz de Nikolaus mais de perto.
- De todo modo, felizmente é grande a discrepância entre nós e esses cartazes ridículos. - Disse Íris.
- Sim. Contudo, nós temos que tomar cuidado com pessoas que conhecem nosso rosto. Talvez tenham colocado pelo menos um soldado, que nos viu no dia da fuga, em um dos pontos com outros soldados e até mercenários. - Argumentou Aiala.
- Tudo culpa do Nikolaus. - Acusou Íris.
- Pois é, ele tinha que ferir o coração da princesa? - Dídimo se juntou a provocação.
- Falou a garota que libertou um prisioneiro. - Rebateu Nikolaus.
- Falou o cara que afanou um cetro de inestimável valor. - Devolveu Íris.
- Não começa. - Avisou Aiala. - Vamos seguir o plano. Entramos, pegamos alguns mantimentos, apenas o suficiente para chegarmos em Atenas e damos o fora. Estamos perto demais de Mégara para dormir em uma cama quente e esses cartazes são um péssimo sinal. Vou entrar primeiro com Íris e vocês entram depois de algum tempo.
Eles entraram no vilarejo e foram direto para o centro comercial, optaram por seguir para o mesmo lugar enquanto mantinham uma distância segura o suficiente para não parecer que estavam juntos. Nikolaus ainda tinha algumas moedas e foi o que usaram para comprar umas poucas coisas.
Enquanto caminhavam pelas ruas um homem saiu de uma taberna aos tropeços e esbarrou em Dídimo, o pirata mal sentiu, mas o homem se estatelou no chão, estava bêbado e pior, vestia uma farda comum aos guardas de Mégara.
Dídimo queria evitar uma comoção, se desculpou gentilmente, mas sem olhar diretamente para o guarda, não queria ser reconhecido. O guarda por outro lado estava frustrado com seja lá o que aconteceu na taberna e queria muito extravasar numa briga. Ele se pôs de pé e armou uma desengonçada pose de batalha.
- Pelo Olimpo! - Resmungou o pirata em voz baixa. - O que é que eu fiz para merecer isso?
Olhando de relance para Aiala ele a viu lhe dizer para que pegasse leve com o guarda e desse um jeito de sair dessa sem chamar muita atenção antes que uma platéia se acumulasse.
O plano dele era simples: o homem estava desorientado, ele empurraria de leve e o guarda cairia no chão, ele daria o fora dali antes que o bêbado se levantasse de novo. Fim. Dídimo só não contava com um pequeno detalhe.
O bêbado avançou sobre o pirata, Dídimo ergueu a mão direita e empurrou de "leve" o guarda, mas o guarda não caiu no chão. Na verdade ele caiu, mas antes de finalmente cair, o homem foi arremessado por cerca de doze metros e bateu contra a bancada de um estabelecimento usado para recolher tributo, as moedas nas caixas sobre a bancada caíram espalhando pelo chão o tributo recolhido naquele. Levou cerca de cinco segundos para que a surpresa da população se transformasse em uma confusão pelo dinheiro esparramado. Aquele não era o plano, mas serviu ao propósito. Dídimo correu em disparada para fora do vilarejo, guardas começaram a surgir de todos os lugares e alguns tentaram persegui-los, mas falharam, o quarteto estava correndo rápido demais e com maestria saltavam por cima ou se esgueiravam por baixo dos obstáculos, desviando com agilidade de pessoas, animais e objetos. Eles pararam de correr quando adentraram fundo na floresta.
- Que porra foi aquela? - Indagou Íris.
- Eu disse para pegar leve. - Falou Aiala.
- Não olha pra mim não! - Defendeu-se Dídimo. - Eu só empurrei um pouco, ele que voou.
- Não! - Disse Nikolaus.
- Não o que? - Dídimo estava pronto para arrumar confusão.
- Não é isso… - Nikolaus parecia tentar buscar as palavras certas para explicar. - Nós estamos diferentes. - Falou ele.
- Fale de uma vez. - Disse Íris impaciente.
- Ninguém corre do jeito que acabamos de correr, além disso estamos nos recuperando bem rápido mesmo não tendo descansado direito ainda. - Disse ele. - Passamos por situações de quase morte no mundo inferior, é quase como se tivéssemos feito um treinamento extremo e intenso por cerca de seis meses. Foi tão natural que nem percebemos até agora.
- Só pode ser brincadeira. - Murmúrio Íris.
- Aiala partiu uma rocha em dois usando uma espada. - Argumentou Nikolaus.
- Aiala sempre faz coisas sinistras. - Rebateu.
- Ai!? - Aiala fez cara de ofendida.
Nikolaus parou para pensar um pouco. - Vamos testar. - Falou.
- Não temos tempo para isso. - Disse Dídimo.
- O que não temos é liberdade para matar alguém acidentalmente com um leve empurrão. - Respondeu.
- Tá! - Falou o pirata derrotado. - Tá bom! Como vai ser?
Nikolaus olhou em volta e recolheu uma pedra do chão, continuou a olhar e viu um bastão.
- Íris, pegue aquele bastão. Ele parece resistente. - Pediu Nikolaus.
Íris foi até o bastão que estava a uns dezessete metros e o agarrou sem entender nada. - E agora? - Perguntou a ruiva.
- Eu vou atirar essa pedra e você vai rebater com toda sua força. - Instruiu Nikolaus.
- Tá de sacanagem? - Reclamou.
- Só faz. - Pediu.
- Se for zoeira eu vou dar com esse bastão nas tuas costas. - Ameaçou.
A ruiva posicionou o bastão e flexionou os joelhos, ela estava de lado para Nikolaus a fim de ter uma visão melhor da bola chegando e conseguir mover o bastão com maior precisão.
Nikolaus arremessou a pedra com força, Íris não tirou os olhos da pedra. Aiala observava tudo e viu a expressão de sua amiga mudar para surpresa.
- Ué? - Disse a ruiva no instante em que a pedra deixou a mão de Nikolaus.
Ela rebateu a pedra com toda sua força, mas o bastão arrebentou e a pedra abriu um buraco no chão no lugar onde caiu. Todos estavam em silêncio.
- Você disse que o bastão era resistente. - Faliu Dídimo.
Aiala caminhou até Íris e pegou o que sobrou do bastão da amiga em choque.
- E era. - Comentou a garota.
Quanto a ruiva olhava para suas próprias mãos atônita.
- Estava devagar. - Falou ela finalmente. - A pedra estava extremamente lenta, tão lenta que eu tive que esperar por muito tempo até ela chegar até mim.
Aiala conhecia bem aquele sentimento.
- É sempre assim para mim. - Disse Aiala. - Treinei meu corpo ao ponto de conseguir agarrar facilmente uma flecha com as mãos nuas, isso só é possível porque a flecha parece vir até mim devagar. - Explicou. - Parece que Nikolaus está certo. Fomos aprimorados, não só a velocidade, mas também outros aspectos como força, reflexo e agilidade. Aquele buraco no chão não deveria ser feito só arremessando uma pedra. - Comentou apontando para o bruraco que o arremesso de Nikolaus abriu no chão. - Isso é bom ou ruim? - Perguntou Dídimo.
- Não estamos acostumados com nossa nova força, então evitem usar em outras pessoas a menos que tenham intensão de matar. - Exortou Aiala. - E não usem nem de brincadeira com amigos e familiares. Vamos fazer isso até aprendermos a controlar. Íris? - Chamou. - Você retornará para a casa de seus pais antes de chegarmos na minha casa, lamento, mas você terá que voltar até mim mais cedo que o esperado, vamos treinar entre nós, não treinem com outras pessoas. Acho que vai ficar tudo bem desde que usemos nossa força apenas em nós, já que entramos e saímos do submundo juntos.
Íris queria ficar mais tempo com a sua família antes da superlua, mas só de pensar que poderia machucá-los por acidente seu coração se enchia de temor.
- Farei como diz. - Disse a ruiva em tom sério.
- Vamos continuar andando até anoitecer, precisamos abrir uma distância maior entre nós e nossos perseguidores. - Falou Aiala antes de recomeçar a caminhada.
❇❇❇
A jornada até Atenas era árdua, mas após alimentados e hidratados os membros do grupo se moviam rapidamente, chegando na cidade-estado muito antes do esperado. Foram direto de encontro a Dareios, não só para lhe entregar o crânio de bronze, mas também porque havia algo sobre o homem que Aiala estava decidida a averiguar.
Como de costume Dareios se encontrava no balcão, quem imaginaria que o dono enganasse a todos se colocando na posição de Barman e negociador de informações?
Assim que o quarteto se aproximou ele os notou sem sequer erguer a cabeça.
- Ora! Ora! Vejamos quem voltou. - Disse ele e ergueu o rosto. - E todos estão surpreendentemente vivos.
- Tirando a parte em que você não parece surpreso… - Disse Aiala.
- Impressão sua. - Rebateu o homem. - Vamos conversar lá dentro.
Eles fizeram o já conhecido caminho secreto que levava até o escritório dentro de uma das muitas propriedades de Dareios. O homem ia na frente liderando a caminhada.
- Chegamos! - Anunciou abrindo a porta. - Vocês já são de casa, podem ficar a vontade.
Nikolaus, Dídimo e Íris se sentaram, enquanto Aiala se manteve de pé, sua guarda estava alta e ela fez questão demonstrar isso, seu olhar analítico não deixava de observar Dareios nem por um segundo.
- O que foi Aiala? - Perguntou o homem sentando-se em sua poltrona. - Está assim desde que chegou. - Ele havia notado o óbvio, mas não era como se a garota estivesse tentando esconder.
- Trouxemos o que nos pediu. - Falou ela ignorando a pergunta a princípio. - Um presentinho direto do submundo. - Disse a garota estendendo a mão para que Dídimo lhe entrega-se o objeto.
O pirata havia cuidadosamente envolvido com um pedaço de pano. Ele passou o objeto para Aiala que caminhou até Dareios atenta a seus movimentos. Os membros do grupo já haviam notado o comportamento da garota fazia um tempo, e tentavam compreender o que se passava. Então apesar de estarem sentados, ninguém estava relaxado, um movimento brusco de Dareios e não daria para saber quem chegaria primeiro em seu pescoço. Mas qual o motivo por trás de tanta hostilidade com alguém que lhes fez tanto bem e a quem muito deviam?
Aiala estendeu a mão para Dareios e ele pegou o objeto com tranquilidade, não estava nem um pouco intimidado com a situação, afinal sabia que naquela sala ele era o indivíduo mais perigoso. Ele sorriu ao desembrulhar o objeto.
- Impressionante! - Disse ele. - Roubar de deuses requer muita coragem.
- Concordo plenamente. - As palavras de Aiala soaram como se ela falasse de outra coisa, ela encarava os olhos do homem.
- Você parece ter algo para me dizer, Aiala. - Disse o Dareios. - A essa altura não tenho mais nada a esconder, então vá em frente.
Aiala não respondeu nada de imediato, premeditava cada palavra. - Sabe? - Começou ela. - Eu estava intrigada como um mortal sabia tanto sobre o mundo inferior, ao ponto de ter um mapa e um livro com informações detalhadas sobre os monstros e outras figuras históricas relacionadas aos deuses.
- Comentou despretensiosamente. - Sou o melhor no ramo das informações afinal. - Gabou-se ele.
- Foi o que pensei, mas isso foi antes de entrar no submundo e antes de… - Ela fez uma pausa e fixou ainda mais o olhar em Dareios, queria pegar qualquer mínima mudança no comportamento dele. - nos encontrarmos com os ciclopes.
Os outros três estavam atentos a Aiala e ficaram surpresos quando ela mencionou esse dado sigiloso a alguém que vende todo tipo de informação a quem paga mais. Vendo que seus companheiros se agitaram, Aiala decidiu deixá-los despreocupados.
- Está tudo bem! - Disse confiante - Tenho plena certeza de que ele não vai abrir o bico.
Dareios ficou quieto, não olhava para Aiala desde que o grupo chegou em sua taberna. O silêncio que dominava o ambiente foi rompido por uma sonora gargalhada. Ele ria com vontade e levou tempo para se recuperar.
- Interessante! - Disse ele. - Magnífico! - Bradou animado. - Você não me decepciona garotinha humana. - Falou Dareios explodindo de satisfação, sua personalidade mudou em questão de instantes. - Diga-me! Me conte mais sobre onde me deixei ser pego.
Aiala não estava surpresa, aquilo apenas confirmava tudo, mas como os demais estavam consternados ela decidiu seguir explicando seu ponto. - Para começar, tenho certeza de que você conhecia um caminho mais curto e menos perigoso que nos levasse ao tártaro, mas decidiu nos empurrar pelo mais perigoso para evitar que os deuses suspeitassem que ramos peões usados para um fim maior. - Disse com certa acidez.
- Não diga "peões", diga colaboradores. - Dareios já não tinha nada a esconder. Apenas fez seu comentários enquanto servia o chá fumegante que já estava a disposição quando chegaram. - Soa melhor.
O chá foi mais uma confirmação para Aiala.
- A próxima evidência foi o comportamento dos gigantes, eles nos observavam desde que colocamos nossos pés para dentro do tártaro, talvez parecem apenas curiosos com a aparição de humanos em seu território. Contudo eu já estava desconfiada sobre você e por isso interpretei aquilo de outra forma. - Comentou ela. - Eles já estavam nos esperando.
Dareios bebericava seu chá enquanto agia como se estivesse ouvindo a apresentação de um bardo. - Mas havia mais naquele comportamento e eu só saberia mais tarde, eles se aproximaram de nós cada vez mais, porém não interferiam nem para ajudar nem para nos perturbar. Só pude concluir que estavam nos avaliando.
- Avaliando para quê? - Indagou Íris. Ela estava assistindo com interesse, animada com a apresentação.
Dídimo apenas suspirou, não entendia como alguém conseguia ser tão despreocupado, mas já estava habituado com a intensidade da ruiva.
- Avaliando potenciais aliados. - Respondeu Aiala. - Afinal eles já sabiam sobre nossas intenções.
- Perfeito! - Disse Dareios. - Quando chegamos lá a avaliação estava quase concluída, eles não precisaram fazer muitos testes pois nós tínhamos uma valiosa carta de recomendação. - Falou Aiala.
- Eu não me lembro de nenhuma carta. - Disse a ruiva.
- A carta não é literal, Íris. - Explicou Nikolaus, que já estava entendendo o rumo da conversa.
- Perspicaz, jovem semi-deus. - Comentou Dareios.
- Dareios nos recomendou e por isso não tivemos dificuldade para conquistar a confiança dos Ciclopes. - Argumentou Aiala. - Eles precisavam de alguém para empunhar a arma, imagino que já tivessem tentado eles mesmos, mas com o número de mortes aumentando a moral do exército devia estar em perigoso declínio. Um veneno para alguém indo à guerra contra entidades poderosas. - Expôs. - Por algum motivo Dareios estava confiante de que eu conseguiria selar um elo com o bracelete. - Mas como ele tinha tanta certeza? É certo que Dareios tem vendido informações para aquele que pagar melhor, mas isso é mais um motivo para os Ciclopes não confiarem nele. Então de onde vem a confiança dos Gigantes? Que autoridade um humano teria? Como um humano encontraria e negociaria com eles, quando os gigantes não conseguem sair do tártaro?
- São perguntas bem relevantes. - Comentou Dareios. - Sua inteligência é deveras uma raridade.
- Foi então que eu percebi que a premissa por trás das minhas dúvidas estava errada. - Prosseguiu Aiala. - Eu estava partindo do pré-suposto de que você era humano. Mas isso não foi uma falha minha, você deu um jeito de me manipular para que continuasse pensando assim através de suas ações. - Acusou serenamente.
- Touchê! - Disse Dareios.
- E quando a premissa "humano" foi para o ralo tudo ficou claro. - Dizia a garota. - Você tinha informações privilegiadas de antemão, conhecia muito bem o comportamento dos deuses, dos gigantes, dos humanos e sabia tudo sobre o mundo inferior. - Comentou. - Você sabia que eu não me contentaria apenas com os seis mercenários, sabia que eu viria até você em busca de informações sobre uma arma para matar um deus e sabia que Hera me encontraria. Não acho que você disse a ela que eu estava no palácio de Poseidon, mas que os deuses te ajudem se eu descobrir que vendeu aos mercenários a localização em que eu, meu irmão e meus pais estávamos. - Ameaçou.
- Não vendi. - Disse Dareios despreocupado mesmo diante da clara ameaça.
- Então me diga Dareios… - Ela fez uma pausa. - Ou melhor, Prometeu*, me diga qual o seu interesse nessa guerra. Você se ressente pelo que os deuses fizeram a você? Ou você viu algo através de sua clarividência.
- Não posso negar que vi algo com minha clarividência, mas garanto que não fiz por ressentimento. - Disse Prometeu. - Não é novidade para ninguém que sempre tratei a humanidade com favoritismo, ao ponto de pagar um alto preço.
- Então só posso imaginar que o que você viu era algo que afetaria a humanidade como um todo. - Falou a garota.
- Não posso dar muitos detalhes sobre o que vi, mas garanto que manobrei tudo ao máximo para evitar um futuro ruim para meus preciosos humanos. - Respondeu.
Aiala o analisava e pôde constatar que ele não mentia, mas olhou de relance para Nikolaus a fim de confirmar.
- Ainda me incomoda o fato de você ter nos usado. - Disse Aiala.
- Quanto a isso eu poderia me desculpar, mas não é como se eu estivesse arrependido. - Ponderou Prometeu.
- Me poupe de hipocrisia. - Falou a garota.
- Então você era na verdade uma divindade. - Comentou Íris se situando, ela ignorou todo o resto.
Prometeu voltou sua atenção para ela, mas não falou nada.
- Qual é a sua verdadeira aparência? - Perguntou a ruiva.
- Essa é a minha aparência. - Respondeu ele.
- Não, essa é a aparência do Dareios. - Esse revide deixou Prometeu intrigado, os olhos da ruiva brilhavam em uma intensidade feríl. - Pelo que eu ouvi a seu respeito, você roubou o fogo dos deuses e entregou aos humanos, até foi punido por isso. Eu não andaria por aí com um rosto que os deuses conhecem depois de aprontar contra eles.
- Sua inteligência funciona de um jeito diferente pelo que vejo. - Comentou ele. - Mas tem certeza do que está pedindo? Eu sou um titã apesar de tudo e certamente você já ouviu o termo " estatura titanica".
- Mas você tem a altura de um humano agora, tenho certeza de que consegue voltar para sua aparência sem destruir a cidade. - Respondeu Íris.
O titã riu.
- Muito bem! - Disse ele. Vou satisfazer sua curiosidade.
Prometeu sempre foi visto como uma divindade do fogo, mesmo assim foi surpreendente quando seu corpo foi coberto por chamas negras e parecia queimar, mas chamas não emitiram calor algum.
O titã tinha traços finos, mas nada próximo aos traços femininos, seu corpo não era exageradamente musculoso e harmonizava bem com o que estava vestindo. Tinha uma aparência muito mais jovial e elegante que a anterior, até sua postura parecia ter mudado para uma mais digna e aprumada. Seu cabelo tinha um corte chanel repicado curto, sua coloração era atípica, começava com um tom de azul celeste na raiz e ia desbotando para um tom mais claro até chegar nas pontas. Seus olhos tinham um delineado natural que davam maior destaque para sua heterocromia, o olho esquerdo era dourado e o olho direito tinha a mistura de mais duas cores, sendo azul e indo numa espécie de degradê na cor verde até o centro da íris. Sua expressão era serena.
- Belos olhos! - Disse Íris com certo entusiasmo.
- Muito lisonjeiro da sua parte. - Agradeceu o titã. - De todo modo, agora que nossos assuntos estão terminados e que a curiosidade da jovem foi saciada, poderia lhes oferecer minha casa para que descansem, mas acredito que não lhes sobra tempo.
- Não quer saber os detalhes do plano? - Perguntou Dídimo.
- Permita-me esclarecer o mal entendido. - Falou Prometeu. - Não tenho a intensão de me juntar aos monstros ou aos deuses. Só me envolvi porque o inevitável conflito arrastaria minha preciosa humanidade para a extinção.
- Isso ficou claro. - Disse Aiala. - Estamos de saída. - Ela anunciou e seus companheiros se ergueram e após uma respeitosa mensura ao anfitrião, eles começaram a se retirar da sala.
Aiala os seguiu assim que o último chegou à porta, mas antes que ela saísse Prometeu chamou sua atenção.
- Aiala! - chamou o titã. - Eu realmente tinha grande afeição por Pachis e devido a isso tentei pensar em maneiras de te tirar da jogada por pura consideração a ele. - Falou. - Mas não importa o quanto eu tentasse olhar para variações do futuro você estava em todas elas. A clarividência me mostra muita coisa, mas não me mostra tudo, porém existem certas coisas que são imutáveis, podem ser objetos, fenômenos da natureza ou até mesmo indivíduos. - Explicou Prometeu. - Acredito que você era uma dessas coisas imutáveis e por isso desisti de tentar te retirar do futuro com ações no presente, em vez disso, comecei a planejar meios de chegar a um futuro no qual você pelo tivesse poder para ajudar sua raça. - Disse ele. - Mesmo que eu possa ver, não tenho o poder de mudar ativamente o futuro e por isso acabo usando as pessoas, quero que saiba que não sinto nenhuma satisfação em fazer isso. - Ele parecia lamentar. - Eu realmente queria que você pudesse exercer sua liberdade, mas não a nada a se fazer quanto ao destino.
- Eu sei o que quer dizer, tenho lutado contra esse tal "destino" de que nasci e só tenho apanhado. - Falou Aiala. - Mas não consigo deixar de lutar só porque sei que vou perder. Tenho aprendido a olhar para o destino de forma mais positiva e se meu destino é contribuir mesmo que só um pouco para um bem maior, para o bem da humanidade. - Dizia ela. - Como guerreira, vou cumprir meu dever até o fim.
Aiala deu as costas e começou a sair.
- Vai ficar tudo bem! - Garantiu a garota. - Como você eu aprendi a ter estima pelos humanos, conheci pessoas maravilhosas que desejo proteger. Destino ou não, eu descido lutar… por elas e… por mim. - Falou enquanto acenava em despedida de costas, caminhando para alcançar seus amigos.
Eles a esperavam encostados nas paredes do corredor. Ela passou por eles e tomou a liderança.
- Belas palavras! - Disse Íris. - Mas parece que agora nós não estamos nessa apenas para ajudar uma amiga. Também temos pessoas para proteger.
- Vamos encher a cara antes disso acabar. - Disse Nikolaus indo atrás de Aiala.
E com esse pesado fardo o grupo deixou a mansão de Dareios, ou melhor, Prometeu.
*Prometeu é um personagem importante da mitologia grega. Ele é a divindade do fogo, além de ser um mestre artesão, roubou o fogo dos deuses, roubou o fogo da deusa Héstia, e entregou à humanidade, sendo severamente castigado por Zeus. Foi acorrentado no topo do Monte Cáucaso por Hefesto, deus da metalurgia, para que seu fígado fosse bicado todos os dias por uma enorme águia. Ele se regenerava no decorrer da noite por ser imortal e durante o dia a águia voltava. Segundo o mito foi o herói Hércules quem o libertou após seus trabalhos, isso depois de trinta mil anos de castigo. Prometeu é um titã de segunda geração, ele é filho de Jápeto e neto de Urano e Gaia. Ele é irmão de Epimeteu, Menoécio e Atlas. Ele é também um dos criadores dos humanos e de todos os animais, fez isso junto a seu irmão Epimeteu, seu irmão criou e ele supervisiona. O nome Prometeu significa “aquele que vê antes”, ou seja, que tem a clarividência, diferente de seu irmão Epimeteu que significa irmão Epimeteu “aquele que vê depois”, ou seja, aquele que tem “ideias tardias”.
Nota da autora: para mim a culpa do que aconteceu a Prometeu é toda do Irmão dele, Epimeteu. Esse abestalhado saiu distribuindo dons e habilidades para os animais e quando chegou na vez dos humanos ele simplesmente não tinha mais nada para dar, sobrou pro coitado do Prometeu resolver o B.O e ele teve que roubar o fogo e dar aos humanos para que a humanidade tivesse uma vantagem. Tinha como ele saber que os humanos iam usar para guerra e isso ia enfurecer os deuses? Provavelmente, mas fazer o quê? Maldito seja Epmeteu. Dito isso, fica aqui meu desabafo.
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E esse foi o doce capítulo "refrigerante" do combo, espero que tenha gostado. Não esqueça de votar e comentar. 💜💜💜💜
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