Feliz
James se sentia estranhamente renovado. Estava dormindo em um ambiente limpo, com alguns currículos enviados e cobertas quentinhas. Havia tido um dia feliz. E pela primeira vez, não se sentia pior por estar sozinho.
Ele suspirou, alegre.
Era Severus... Severus era a chave para a sua salvação. E isso era reconfortante.
***
A manhã estava fria. Ele fez um café e correu em direção ao sofá com seu notebook. Estava faltando o curso há dois dias, e sabia que se não participasse nas aulas teóricas, que eram online, acabaria se dando mal nas aulas práticas. E hoje não estava exatamente com vontade de fazer nada.
Ele se sentou, abriu a aula e suspirou. Se fosse positivo, não estragaria o dia.
James se acomodou e respirou fundo, sorrindo para o ambiente como nunca antes. Talvez até desse uma saída de tarde.
***
James não esperava a tristeza súbita que iria se abater de seu corpo às duas da tarde. Quando aconteceu estava no parque, comendo um churro que de repente adquiriu um gosto amargo em sua boca.
Já havia se acostumado com isso, principalmente quando estava sozinho. Era fácil se sentir melhor quando tinha pessoas conhecidas ao seu redor, mas quando não o eram. Aí se sentia péssimo.
Ele só não estava esperando que acontecesse tão de repente e num dia em que não havia feito nada que envolvesse gatilhos.
Pelo menos não havia acontecido enquanto estava no curso.
Suspirando, se pôs de pé e começou a andar, apenas para ser segurado por braços conhecidos. Levou um susto ao olhar para trás e ver Severus o encarando. James não esperava encontrá-lo tão cedo depois do dia anterior.
--Severus? O que está fazendo aqui?--Olhou ao redor, não havia visto ele se aproximar.
Severus deu de ombros, parecendo cansado. James não pôde evitar a felicidade que sentiu por tê-lo aí. De repente, a sensação horrível de antes desapareceu.
--Eu estava voltando do cemitério.--Por algum motivo, James não acreditou.--Aí eu vi você sentado. O que estava fazendo?
--Comendo um churro.--James deu de ombros.--Você está agindo estranho para alguém que a dois dias atrás não queria saber da minha companhia.
Severus solta uma risada forçada, porém não diz nada a respeito do comentário. Por outro lado, Severus troca de assunto.
--Eu quero te mostrar uma coisa, James.
James franziu as sobrancelhas. Tão de repente? Ele não estava simplesmente voltando do cemitério?
--O quê?
--É um lugar. Acho que você vai gostar.
Severus começou a andar, não permitindo que James falasse. Curioso, James o seguiu pelo parque e depois pelas calçadas tumultuadas. Ele esbarrava em quase todo mundo, enquanto Severus andava com uma graça sobrenatural, sem tocar em ninguém. James se perguntava como ele estava conseguindo fazer aquilo quando a voz baixa e estranhamente rouca o trouxe de volta.
--Chegamos!
Em sua frente uma galeria pouco chamativa atraia poucos clientes. Fora feita em uma construção antiga, com grades nas janelas velhas e uma porta dupla de aparência emperrada. James não entendeu num primeiro momento o motivo para Severus tê-lo levado até aí.
--Por que você me trouxe aqui?
Severus adentrou o lugar e James o seguiu. Com exceção deles, somente três pessoas olhavam os quadros nas paredes.
--Este lugar coloca em exposição os quadros mais horrorosos possíveis. Pensei que seria bom para tirar algumas risadas de nós.
James olhou para uma das paredes. Havia uma banana e ao lado da banana, duas maçãs. James, antes de começar a rir, piscou três vezes seguidas. Não era possível que o dito artista, tivesse desenhado um pênis com frutas achando que fosse fazer sucesso. Talvez fosse justamente para cair na galeria, mas quem faria isso de propósito?
--Bem...--James tossiu.--Eu acho que vai ser legal.
Eles andaram por cerca de uma hora na galeria. Um dos quadros tinha uma mulher de meia idade com um olho maior do que o outro e uma boca completamente deformada. Um deles tinha um cachorro e um gato um no lado do outro, mas o cachorro não tinha orelhas. E o mais engraçado, na opinião de James, foi o quadro pintado proporcionalmente, James imaginava, para a mulher estar olhando desejosa para a virilha de um homem obviamente excitado.
Era quase 4 da tarde quando eles partiram em direção ao Hyde Park. Severus parecia deprimido, e James não sabia exatamente como entender o motivo para ele estar assim. Severus era uma espécie de ignota, que fazia James ficar mais confuso a cada dia. Ele aparecia do nada, seja quando James precisava e sabia disso ou quando ele precisava e não sabia. E quando ele aparecia, James ficava feliz, e isso era o suficiente para ele não se importar com a estranheza do outro.
--Severus.--James falou quando chegaram ao lado do lago.--Quer jantar lá em casa hoje? Ontem eu não ofereci. Mas eu posso passar no mercado agora e comprar algo para fazer.
James engoliu em seco quando pareceu que Severus iria negar. Ele não queria passar a noite sozinho, não de novo. Queria ter Severus ao seu lado e talvez fazê-lo rir. Queria com toda a sua força passar um tempo conversando sobre nada e tudo com ele. Apenas queria ter Severus ao seu lado.
Apenas precisava.
--Tá.-- Severus deu de ombros e James sorriu.--Pode ser.
--Sério?
--Por que não?--Severus respondeu, olhando para o lago. Não parecia animado.--Podemos jogar algum jogo.
James não sabia se Severus havia aceitado porque quis ou por pressão, mas a felicidade por saber que não ficaria sozinho naquela noite não era digna de espera.
--Vou fazer lasanha!--Gritou em completa felicidade.--Você vai amá-la.
Severus não riu quando James correu na sua frente em direção ao mercadinho no outro lado da rua, mas James teve a impressão de que ele havia sorrido.
Isso era bom. Isso era perfeito.
E daí que talvez eu não esteja completamente feliz?
Eu sinto que essa tristeza não fará mais parte de meu ser no próximo amanhecer.
***
James entendeu naquela noite, após Severus já ter ido embora enquanto recolhia os pratos. O de Severus parecia intocado.
Talvez seu coração não estivesse mais batendo por Lily.
Mas o que Severus poderia ter feito para fazer as suas batidas o cercarem tão de repente? Talvez James demorasse para entender, mas ele não se sentiu culpado, mal ou sentiu qualquer coisa ruim em relação à descoberta. Por outro lado, ele se sentiu feliz.
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