Antony Snow estava inquieto. Ele tamborilava na mesa, que estava mais fria do que deveria. Eliza o olhou, meio incomodada com tanto barulho.
-Frost, dá pra parar?-perguntou Fire, um pouco alto demais, olhando-o de relance da mesa que dividia com David.
-Me desculpem. Não gosto de audiências, nem de missões.-ele falou, colocando suas mãos no bolso do moletom (que não estava dentro das regras da IPEP, diga-se de passagem).
-Ninguém gosta, eu acho. Mas temos que manter a calma, ou será pior ainda.-disse Eva, olhando para o caderno, fazendo anotações.
Os Helementos, Antony e Bianca estavam sentados em três mesas da biblioteca, distribuídos em duplas, fingindo estudar enquanto esperavam os outros membros do grupo da missão chegarem.
O garoto que entrou na sala era alguém que Eliza não conhecia. Ele tinha cabelos loiros, espetados, pele bronzeada e olhos azuis. Lembrava bastante o Naruto, se ela parasse agora pensar, exceto pelo fato de seus olhos azuis parecerem ter pequenos sóis azuis girando de um lado a outro.
Na verdade, o garoto parecia brilhar.
-E aí galerinha. Eu sou o Leo.-sorriu o garoto.-Mas vocês garotas podem me chamar de Leão.-ele disse, tentando soar galanteador enquanto piscava para Fire.
Foi difícil segurar o riso. Bem difícil. Não que ela realmente precisasse, já que Fire Declan e Bianca Pride riam alto daquele garoto que se exibia sem escrúpulos.
-Senta aí, "Leão".-falou Antony, num tom jocoso.
O garoto se sentou em uma quarta mesa, sozinho, mas ainda com um sorriso perigosamente confiante no rosto.
Não demorou muito para que os outros integrantes chegassem, gradativamente, ocupando quase todos os lugares disponíveis na biblioteca.
O Diretor chegou logo depois, parecendo apressado e cansado ao mesmo tempo. Havia uma mulher atrás dele que Eliza já havia visto pelo Instituto, mas cujo nome ainda era desconhecido a ela.
-Boa tarde, Alunos e Cidadãos, imagino que vocês saibam por que vocês estão aqui, sentados.-ele diz, olhando para cada um dos escolhidos.-A missão de vocês é extremamente importante e sendo sincero, alguns de vocês tem um treinamento precário, podendo não sobreviver às condições impostas.-ele suspira, olhando para a mesa de madeira.- Por isso vocês precisam se ajudar. Mira está com os comunicadores de vocês.
         A tal mulher, que tinha uma mecha roxa num cabelo loiro platinado, colocou algo semelhante a um fone de ouvido na mesa de cada um.
        -Esses comunicadores permitirão a vocês o contato direto entre si e conosco a todo tempo. Se um de vocês estiver com problemas, outros poderão ajudar.-ela explica. Sua voz era séria e seus olhos estavam escondidos atrás dos óculos. Ela se distancia e volta a ficar atrás do Diretor.
         -O transporte está esperando por vocês. Não é muito grande, mas espero que dê para aproveitarem o descanso para se concentrar em encontrar aquela garota.-ele sorri de maneira solene para nós.-Boa sorte a todos.
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         Eliza e seus amigos, acompanhados dos outros Escolhidos, foram levados até o lado de fora da propriedade da IPEP, onde uma pequena van prateada estava estacionada. Eliza pensou em como todos ficariam meio apertados ali. As janelas eram revestidas com insufilme preto, fazendo com que fosse impossível enxergar o lado de dentro.

         Ao entrar, a menina viu que estava redondamente enganada sobre o conforto proporcionado pela IPEP naquela viagem. Algum tipo de ilusão fazia com que o veículo parecesse bem menor de fora do que realmente era. Parecia mais um trailer. Havia uma série assentos para duas pessoas, de couro sintético virados de frente uns para os outros, com pequenas mesas. Atrás, cerca de 10 camas dobráveis e um banheirinho, com uma pia do lado oposto. Embaixo dela, algo que deveria ser um fogão elétrico antiquado.

         Anthony assobiou.

        -Quanto luxo, né?- disse Eva, se colocando ao lado de Eliza na primeira mesa.

        -Pois é.- respondeu ela, olhando para o instituto através da janela. Não podia deixar de se sentir ansiosa. Não se lembrava de nada sobre sua própria vida, mal havia chegado naquele lugar no qual ainda não confiava plenamente e já a estavam enviando para uma batalha da qual não pertencia. Era uma sensação sufocante e inegável de que estava se metendo em algo que não tinha nada a ver com ela. 

         Mas que outra opção tinha? Não sabia de nada sobre si mesma ou sobre o mundo, não tinha ninguém, estava sozinha. Morreria em menos de dois dias longe da IPEP. Sabia muito bem disso. 

         Fire e David se sentaram lado a lado, na frente delas. David sorriu para Eliza. A garota tentou dar um sorriso em resposta, mas foi uma tentativa falha. Ele a olhou com intensidade, respirando fundo. Seus olhos cinzentos pareciam nuvens de chuva, escuras e tempestuosas.

         -Vai dar tudo certo.- ele falou. Havia uma certeza no seu olhar que quase fez com que ela acreditasse. Mas demoraria um pouco mais para que conseguisse conquistar alguma fé dela.

         A van arrancou e Eliza só conseguia pensar que estavam dirigindo calma e voluntariamente em direção à uma armadilha.