Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Agridoce


Rosamund virou-se espantada quando escutou o clique da porta da cozinha, mas sorriu ao perceber que era apenas Severus chegando - com seu habitual bom humor - para mais uma das suas aulas. Aula que ela tinha esquecido completamente que marcara para aquela tarde. Sorriu mantendo o semblante cansado e o olhar distante, sem parar de mexer o doce que tinha na panela na sua frente.

- Hoje você terá uma aula teórica. Pode sentar e cortar esse chocolate em cubinhos, se quiser ajudar.

Indicou apenas com o olhar a faca e o chocolate que ela própria começara a cortar, sem prestar exatamente atenção em Severus enquanto ele lavava as mãos antes de assumir seu posto. O homem já notara que aquela era uma mulher estranha - uma constatação óbvia para quem a conhecesse, ou qualquer uma daquele ainda mais estranho estranho grupo de amigas - mas ela parecia especialmente alheia ao mundo ao seu redor, cantarolando para a comida como se ele não estivesse ali. Sem contar que a cozinha cheirava a chocolate e tristeza, o que não era uma combinação especialmente agradável. Poderia ter bufado, mas a atividade de cortar o chocolate em cubos acabara por aplacar parte do seu aborrecimento.

- Sabe, cozinhar é a coisa mais próxima de fazer magia que eu conheço. Na verdade, eu acredito que estou fazendo mágica quando eu cozinho, porque comida precisa de sentimento, e ela também reflete o sentimento de quem a preparou.

Severus estreitou estranhamente o cenho com a menção à magia, mas calou-se. Aquele arrepio que se apoderara de sua espinha cessou lentamente quando ela parecera esquecer que estava falando com ele, voltando a cantarolar enquanto mexia seu caldeirão... ou melhor, sua panela.

- Você deve me achar ainda mais maluca, mas o cozinheiro não passa de um ingrediente a mais no prato final. Se você cozinhar com raiva, mesmo que siga a receita por exato, não vai ficar bom. O que a maioria das pessoas que passa por aqui não entende é justamente o fato de que cozinhar não é só seguir uma receita. Você tem que por seu empenho, sua vontade e seu coração se quiser que funcione.

Talvez você tenha razão nessa comparação descabida. Ele completou em pensamento, mas continuou calado, aparentemente mais concentrado em não fazer o chocolate despedaçar quando ele pressionava a faca contra ele.

- Uma vez Michael me disse que gostava de me ver cozinhando. Ele brincava dizendo que a única coisa pela qual eu tinha amor enquanto cozinhava era a comida.

Fazia sentido. Severus mesmo já prestara atenção como sua chef parecia irritada quando as coisas ficavam realmente caóticas ou quando alguém fazia algo de modo diferente do que ela queria na cozinha do restaurante. Jamais tivera o ímpeto de criticá-la por isso, porque entendia o que era coordenar uma sala com alunos fazendo da coisa mais fascinante da sua vida um estudo bobo e sem entusiasmo. Isso quando eles não estavam completamente errados no modo de preparar ingredientes raros.

O que não fazia sentido era ela se referir ao ex-noivo a quem, visivelmente, vivia evitando. Em situações normais ele não prestaria nenhuma atenção àquele típico dilema feminino bobo - e, por não ter nada a ver com ele, certamente não se incomodaria em reter qualquer informação sobre o relacionamento fracassado. Entretanto, desde que se vira no meio daquelas mulheres completamente malucas ele não se considerava em uma situação normal. Ele estava preso com um bando de malucas achando que poderiam resolver a vida dele, e acabando por envolvê-lo em seus próprios problemas.

- Talvez ele tivesse razão, mas mais do que amar a comida, eu amo o que ela pode fazer com as pessoas.

Alegrar, consolar, integrar... Severus tinha certeza que ela pensara naqueles adjetivos, porque via como ela os usava nos pratos que preparava. Nunca se negava em consolar uma amiga triste com sorvete, ou fazer um desesperançado suspirar ao sentir o gosto tenro de uma carne macia se espalhar por sua boca. Remédios curavam e matavam, e Rosamund deveria saber que algumas comidas também eram capazes de fazer mal. Ela sabia, e provavelmente era por isso que estava suspirando sobre sua panela.

Ela passou um longo tempo calada, e ele terminara de cortar todo o chocolate, sentindo o cheiro quase enjoativo que consumia a cozinha. Definitivamente, não combinava com a melancolia que ela emanava. Se sua teoria estivesse correta, provavelmente aquele seria o doce mais amargo da história. Só podia esperar que ela não quisesse servi-lo para os clientes daquela noite.

- Você não quer saber disso, mas eu o vi hoje, e por isso eu precisava de doce. Eu precisava pegar de volta a felicidade que ele tirou de mim.

Ela não disse, mas os dois sabiam que não estava funcionando enquanto ela desligava a chama abaixo da panela com a receita, visivelmente, pela metade.

- Sua missão do dia é fazer alguém sentir com a sua comida. Faça uma canja, se achar que pode fazer com que alguém se sentiria sendo curado por ela. Faça um doce se acha que pode dar alegria para alguém. Eu só quero saber se você é capaz de cozinhar de verdade ao invés de somente seguir uma receita.

Ele poderia ter bufado, principalmente porque Rosamund parecia se esquecer de que sempre reclamava do fato de que ele nunca seguia realmente as receitas dela. Severus sabia que ela só lhe passara aquela missão porque estava desistindo da dela, e não podia deixar de se irritar consigo mesmo por se importar verdadeiramente com aquele pequeno fato. Observou-a lavar as mãos com esmero e sair da cozinha, deixando-o a sós com todos os ingredientes necessários para um banquete, mas com a única missão de fazê-la voltar a acreditar na sua própria magia. Isso depois de dizer que aquela seria uma aula teórica.

Olhou para a panela que ela antes mexia e, mesmo que doces não fossem seus favoritos, ele provou o conteúdo, sentindo uma ponta de melancolia carregada de açúcar. Certamente não era a pessoa mais adequada para concertar aquilo - não quando fugia de sua própria amargura - mas jamais fora homem de fugir de um desafio. Deixou a panela de lado por um tempo enquanto separava alguns ingredientes. Ela provavelmente iria querer aquilo pronto antes de começarem os preparativos para abrir o restaurante mais tarde.

Quase duas horas depois, Rosamund estava perfeitamente consciente de que jogar seus problemas encima de um homem que visivelmente tinha muitos mais problemas do que ela não fora justo, mas ela podia se dar ao direito de não ser justa na sua cozinha de vez em quando. Animou-se um pouco mais quando o filho finalmente chegou da escola, principalmente depois do abraço que ele lhe deu. Os dois estavam sentados em uma das mesas do restaurante, ela ajudando o menino com a lição antes que tivesse de mandá-lo para casa, quando percebeu que Severus saia pela porta da cozinha. Estreitou o cenho quando ele simplesmente se aproximou, o que, definitivamente, não era um hábito.

- Terminei.

- Você também tinha uma tarefa e a tia Rosamund estava te ajudando?

Anthony perguntou levantando a cabeça da própria cartilha, visivelmente admirado por um adulto também ter tarefa de casa por fazer. Severus não respondeu, mas não era Rosamund quem esperava que ele começasse a ser simpático com o menino naquela noite, entretanto esperou que ela dissesse que o filho deveria ficar quietinho enquanto ela entrava para ver o que ele tinha preparado. Os dois foram juntos para a cozinha, sem trocar nenhuma palavra ou olhar. Uma das coisas que ela admirava nele era o fato de deixar a cozinha perfeitamente organizada depois que a usava, por isso limitou-se a sentar-se a mesa, esperando que ele lhe servisse qualquer que fosse o prato que ele havia preparado.

O crumble ainda fumegava quando ele colocou uma pequena poção no prato na frente de Rosamund, não sem deixar de servir a si próprio logo após. Ela analisou com cuidado, sentindo o cheiro das frutas vermelhas se espalhar pelo ambiente. O próximo passo foi colocar uma bola de sorvete de baunilha ao lado do doce quente e cobrir tudo com uma calda de chocolate.

- Você usou como base da calda o doce que eu estava fazendo?

- Usei.

Ela balançou a cabeça e pegou a colher ao lado do seu prato, misturando um pedaço do crumble com o sorvete antes de por tudo na boca. A sensação do quente e do gelado se misturando era boa, bem como a do fundo levemente azedo das frutas com a massa crocante do crumble e a textura macia e doce do sorvete. Mas, no final das contas, aquela era uma sobremesa quase agridoce, porque ela não sentira alegria ali.

A calda de chocolate era dela, portanto amarga. Não apenas pela qualidade do chocolate que ela usara, mas por conta do sentimento que ela colocava ali enquanto mexia a panela. Não podia esperar outra coisa de uma receita feita com tristeza. O sorvete macio, por melhor que fosse, não tinha sentimentos, porque era de uma máquina. Ele estava ali apenas para contrabalancear o excesso de sensações. O crumble não era uma promessa de que as coisas ficariam bem enquanto ela mastigava as frutas e a massa crocante. Não mentia dizendo que ficaria tudo bem. O que aquele crumble dizia, por trás do azedo das frutas e do amargor da calda era que, independente de o quão ruim as coisas estivessem, haveria alguém ali para apoiá-la.

A vida não tinha que ser regada de açúcar para ser boa. Uma sobremesa não precisava ser completamente doce para completar perfeitamente um jantar. E então Rosamund observou o homem na sua frente, também concentrado no que comia, e sorriu.

- Você fez um bom trabalho com isso.

Porque ele se utilizara como ingrediente, e a fez acreditar novamente na própria magia sem usar nem um pouco de magia real isso. Porque, naquele momento, ele lhe dissera que ela tinha um amigo, ainda que inadequado e ranzinza, e Rosamund o apreciava ainda mais por isso.




Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro