Capítulo 30
Chegou o grande dia, Michael estava ansioso, tinha que dar tudo certo.
Para Laura estava dando tudo certo, até agora, acabava de chegar ao baile e já se sentia diferente, tal vez a atmosfera de celebração tivesse elevado seu estado de espírito.
O jardim estava muito bonito, mas não como sempre. Estava só iluminado com pequenas tochas que criava uma iluminação fraca, mas que permitia apreciar os bonitos vestidos que circulavam pelo local, embalados por uma doce música que Laura nunca tinha ouvido.
Todos no baile estavam bonitos, inclusive ela. Imagine só, já até haviam elogiado seu vestido! Mas claro aquilo não se devia ao seu bom gosto, e sim ao de Michael, mas preferia não pensar sobre o assunto. Preferia não pensar nele. A festa estava cheia havia muito familiares e bonitos meninos em ternos impecáveis. Parece que toda a alta sociedade resolveu subir a serra. O burburinho envolvia todo o jardim com risadas e conversas animadas. Mas quando a Madre subiu no balcão central do jardim, todas as conversas se cessaram e todas as atenções se voltaram para ela.
- Boa Noite, senhoras e senhores. Espero que estejam apreciando essa comemoração tanto quanto eu – disse com um sorriso satisfeito em seu rosto que mostravam algumas suaves rugas. – Entretanto, acho que precisamos de um pouco mais de luz, para essa noite se tornar ainda mais especial.
Nesse momento, diversas pequenas luzes acederam em toda a volta do jardim, e logo a cima do balcão onde a Madre estava, viu uma luz mais forte se acender, a principio não pode identificar o que era, pois seus olhos não estavam preparados para tanta claridade.
Mas quando leu o letreiro que dizia “Laura’s Boulevard” bem no meio do jardim, se sentiu emocionada, melhor dizendo, se sentiu... Querida.
Olhou ao redor e viu que outros letreiros com os nomes de suas colegas de classe também brilhavam em outros lugares, mas não tão bonitos quanto o seu lugar, pensou Laura.
- Vejo que as meninas gostaram da surpresa, mas devo confessar que a idéia não é minha, e sim do planejador de exteriores que fez esse incrível trabalho de reforma em nosso jardim. Mas como o senhor Michael Levine não está aqui para escutar nossa gratidão ao trabalho responsável e integro que nos foi entregue, aplaudiremos o senhor Denis Bellman que foi importantíssimo também nessa etapa final. – disse a Madre começando a onda de aplausos.
Enquanto recebia os aplausos Denis estava sorridente como sempre, mas agora sorria para Laura. E não demorou muito tempo para ela entender que as novas idéias do entusiasmado Michael era justamente aquilo, os nomes luminosos, com o dela sendo o do centro.
Tentou, mas não conseguiu reprimir a pontada de satisfação por saber que Michael se importava com ela, ou ao menos, se lembrava do nome dela. O que já era um começo. Seu pensamento vagava por ele, e por aquela noite que eles compartiram, tentava se policiar. Mas enquanto a Madre fazia um grande discurso em homenagem às alunas, sua mente buscava com muito fervor as lembranças doces e amargas que aquele homem a causou.
Após uns longos minutos de discursos a música voltou a encher o jardim que agora iluminado parecia ainda mais vivo. Laura ainda estava encantada olhando para o letreiro com o seu nome. Ela sempre sentiu que aquele jardim fosse seu, mas agora podia provar que ele era de verdade.
- Olá – disse alguém interrompendo seus pensamentos.
- Ah, olá! – respondeu Laura após olhar para o rosto conhecido – Não sabia que você era da minha turma.
- Mas eu não sou! Sou uma simples convidada. Formo-me no ano que vem. Espero que minha festa também seja tão bonita quanto essa. Está maravilhosa, não acha?
- Sim, eu concordo...
- Gwen! Meu nome é Gwen.
- Eu sei que seu nome é Gwen – mentiu Laura, a verdade era que pretendia passar essa conversa sem precisar falar o nome da menina, que por alguma razão Laura sempre se esquecia.
- Pois parecia não saber. Mas não importa, vim aqui em uma missão. Não para tagarelar sobre as belezas do internato, porque de fato, já as conhecemos muito bem, vim lhe trazer isto. – e estendeu um pequeno papel dobrado.
Laura o pegou somente a titulo de curiosidade, na verdade achava aquela menina um pouco estranha, mas enfim, tampouco seria mal educada.
Laura,
Esteja no lugar certo na hora certa.
A propósito, bonito vestido.
M.L.
Laura reconheceu a letra, mas não pode acreditar, e tampouco compreender o bilhete que dizia nada com coisa nenhuma. Seria mesmo Michael que escreveu? Se não fosse ele, quem mais seria? Se fosse ele, onde ele estaria?
- Onde ele está, Gwen?
- Não sei, vi um vulto saindo do dormitório do segundo ano, presumi que fosse ele, mas não consegui alcançar. E quando voltei ao quarto, achei isso sobre meu travesseiro – disse Gwen tão rápido que Laura quase não conseguia acompanhar a velocidade da menina.
- Pois bem, muito obrigada – disse Laura um pouco decepcionada e um pouco sem saber o que fazer.
Gwen saiu em silencio, deixando Laura imersa em seus pensamentos novamente. Caminhava por toda volta do jardim, olhando para as famílias felizes reunidas ali, mas sem realmente vê-las. Por fim, subiu no balcão de madeira, o cheiro floral invadia suas narinas, já que tinha tulipas vermelhas sangue por toda a volta do pequeno circulo que ali formava. Suas tulipas, e umas pequenas plantinhas que não se pareciam em nada com as que Michael gostava de usar. Laura se aproximou para tocá-las e imediatamente elas murcharam. Dormideiras. Quem diria, o sofisticado planejador de exteriores decorando suas grandes construções com vulgas dormideiras! Laura se dedicou a acariciar todas elas, as vendo dormirem ao seu toque.
Mas em meio às plantinhas que acabaram de dormir viu um papel que estava encoberto por elas, ao fundo na pequena jardineira. Tão logo quanto o viu, deixou de lado a tarefa de babá botânica e começou a desdobrar as muitas dobras do pequeno papel.
Para começar a ler desesperada.
Esteja às 5:00 no canto das tulipas, não use uniforme. Seja pontual, antes que eu me arrependa.
SeuMike.
Era exatamente o mesmo bilhete da vez em que ele a levou até a cidade, tirando o ‘seu’ que havia sido rabiscado com outra caneta. Com as mesmas dobras compulsivas que Laura havia feito naquela noite há semanas atrás. O que só levava uma resposta: foi tirado de debaixo do travesseiro dela. Mas por quem? Por Mike? Pouco provável, pensou Laura com bom senso. Mas quem então? E por quê?
Só de uma coisa Laura já não tinha dúvida: tinha mudado, e muito. A antiga Laura não daria a mínima importância para esse tipo de brincadeira, já essa nova tremia da cabeça aos pés pela mínima possibilidade desta não ser uma brincadeira.
E mesmo se não fosse, o que ela diria a Michael? Quer dizer, não queria falar nada com ele, queria bater nele, e gritar, gritar muito. Mas como sabia que isso não ia levar a nada, resolveu para de ponderar e apreciar o bonito baile que tinha atrações de sobra.
Michael via toda a movimentação do baile de camarote, em um pedaço da serra que não era lá muito habitável, mas que dava uma vista panorâmica do jardim, e principalmente da garotinha que circulava pra cima e pra baixo com um vertido verde cítrico, foi uma ótima escolha de cor, se parabenizou Michael, assim era muito mais fácil localizá-la, espiá-la, apreciá-la...
Estava fazendo uma força sobre-humana para não adiantar o horário de seu plano e simplesmente seqüestrá-la. Durante a execução do tal crime, a seguraria bem forte contra si. Sim, era exatamente isso que ele queria fazer.
Mas não podia, obviamente, já estava tão perto de completar seu plano... Não poderia arriscar arruiná-lo justo agora.
Esses últimos dias foram especialmente difíceis para Michael, a expectativa junto com a saudade não o deixavam em paz. Tentou buscar alívio da maneira em que estava acostumado, só que não se sentia atraído pela idéia. Mas passou a repudiá-la a partir do momento que caiu em consciência que ninguém poderia fazer nada com a doce entrega que Laura tinha feito. E que ninguém chegaria nem perto de captar sua atenção como ela fazia.
E após uma semana de agonia chegou aà conclusão: Não precisava de uma mulher, precisava da sua mulher. Laura.
Por essa razão aguentou firme e reprimiu todos os desejos de tê-la por perto nesse longo tempo. Ela tinha que terminar o colégio, não havia jeito de buscá-la antes disso. E não havia sentido deixá-la saber de tudo antes do tempo. Porque assim não seria só um torturado, e sim dois.
***
Laura não tinha jeito, estava ali, sentada em uns dos bancos do jardim desde as três horas da manhã, esperando o que ia acontecer às cinco. À titulo de curiosidade, se lembrou pela milésima vez. Só queria saber quem ousava brincar com ela dessa maneira. Ah, esses abusados iam escutar!
Era 4:50 quando ouviu um barulho diferente do canto dos pássaros. E estava se aproximando do jardim, Laura podia sentir, e podia sentir também toda uma onda de expectativa recorrendo pelo seu corpo, não deveria estar sentindo isso, mas tampouco conseguia impedir.
Quando viu aquela conhecida pick-up se aproximar, Laura pôs a mão na boca para abafar um grito não sabia se era de raiva ou de emoção. Torceu para que fosse de raiva.
O carro estacionou na vaga mais perto do jardim, e quando Laura correu para ver quem sairia de lá, ficou a ver navios. Só encontrou com a porta da caçamba aberta, claramente queriam que ela entrasse, mas ela não daria esse gostinho. Não sem dar um bons berros com o motorista.
- Sai do carro agora! – gritou de uma maneira histérica que até a própria Laura se surpreendeu.
O que recebeu em resposta foi uma buzinada. Ai, como aquilo a irritou!
Começou a bater na lataria do carro, era inacreditável que ela tinha se formado ontem mesmo numa escola de damas. O estrondo causado por ela foi diminuído quando o carro começou a andar. Laura ia gritar alguma coisa, mas quando viu aquela mão pra fora da janela dando um tchau um tanto quanto teatral.
Interrompeu o grito.
Conhecia aquela mão. Conhecia muito bem aquela mão, seu corpo inteiro conhecia, e todo ele ansiava por tê-la de novo. Mas não, não poderia se dar tal luxo. Entretanto...
- Espera! – foi o que Laura gritou.
E imediatamente parou, e ela correu até a caçamba, já estava craque em entrar ali sozinha. Mas entrou lá pra saber o que a mente maquiavélica de Michael pretendia agora, não iria participar de nenhuma de suas loucuras, não se fosse para terminar sozinha. Não queria. Não queria, se repetia continuamente. E iria gritar com ele. Isso, iria gritar.
- Já vai tão cedo, senhor Levine? – perguntou alguém, um alguém masculino, deveria ser um dos seguranças. – Pensei que ia voltar a trabalhar com a gente!
- Não, não Bill – era a voz de Michael, percebeu Laura logo na primeira palavra – eu só vim aqui buscar algo muito importante que tinha deixado aqui.
Fingido, pensou Laura.
Durante todo o sacolejo da caçamba Laura tratou de dissimular a quão nervosa ela estava. Não deveria se sentir nervosa, sim furiosa. Tinha que se lembrar disso quando a pick-up parar. E não demorou muito até isso acontecer.
Ele abriu a caçamba e Laura saiu trêmula. Decidiu ficar sentada ainda no carro, caso suas pernas a traíssem.
- Oi – disse ele parado na frente dela com um lindo sorriso. Será que não percebia que ela não estava nem um pouco feliz?
Mas Laura não conseguiu expressar sua infelicidade, melhor dizendo, ela não conseguiu expressar nada.
A não ser um tapa.
Um tapa muito bem dado no ombro dele. Mas que provavelmente, não deve ter doído muito.
- Talvez eu mereça mesmo – falou Michael tranquilo.
Então Laura lhe deu outro. E mais outro.
- Merece – outro tapa – Muito – mais um, e esse foi dos fortes – Mais.
Enquanto ela batia desesperadamente em todos os lugares que suas pequenas mãos alcançavam Michael. Ele não ousou se mexer. Ousou considerar que parar Laura deveria ter sido ainda mais difícil a espera. E que ela deveria estar pensando o pior dele, com razão. Mas deveria mudar isso o mais rápido possível, tinha que mudar, necessitava que mudasse.
Quando ela terminou de espancá-lo. Tudo o que Michael queria fazer era abraçá-la. Para que aquele brilho de tristeza deixasse os olhos dela.
E assim fez. A abraçou, tão forte que ela não podia escapar. A abraçou, tão apertado que ela podia sentir o coração dele batendo acelerado sobre seu peito. E não tinha como não abraçá-lo de volta.
Estava perdida.
Ficaram assim longos e memoráveis segundos. Agora ele acariciava cuidadosamente seus cabelos. E ela só se apertava contra ele.
- Já passou? – perguntou ele, com um pouco de receio de receber outro tapa.
Mas o que ela fez foi se apertar ainda mais.
- Então, você me perdoa? – disse Mike enquanto beijava seu rosto.
Quer dizer, beijaria, se ela não tivesse se afastado tão bruscamente.
- Não.
- Teve um motivo, Laura.
- Não.
- Por favor.
- Não.
- Vai ser pra sempre.
A dureza que via nos olhos dela desapareceu no mesmo instante, dando lugar para uma grande tristeza. E isso, era infinitamente pior.
- Quantos dias vão durar seu pra sempre dessa vez, Michael?
- Não dias, e não semana, nem meses. Anos, décadas, um pra sempre de verdade – disse Michael pondo seu coração em cada palavra, esperando, ou melhor, implorando para que dessa vez ela acreditasse nele.
Mas quando ela abaixou a cabeça, viu que não foi assim. E Michael se viu tomado por um desespero que até então era desconhecido pra ele. Se ela se recusasse ir com ele, não iria obrigá-la. Mas também não saberia viver sem ela.
- Posso provar, Laura.
- C-como? – e foi com esse inseguro desafio que Mike notou que ainda tinha chance.
E se aproximou dela, se aproximou perigosamente muito dela.
- Você sabia... – dizia calmamente enquanto segurava as mãos dela. – Que eu te amo?
Laura negou com a cabeça e tentava negar com o coração também.
- Pois eu amo, e muito. E cada dia que eu passei longe de você. Eu pensava em você, e sentia sua falta e meu amor crescia mais.
Laura só pode negar de novo.
- Não acredita?
- Não.
- Pois eu vou mostrar – disse Michael se aproximando mais, o seu rosto indo ao encontro do dela.
Laura sem querer entreabriu os lábios e os aproximou de Michael. Mas antes de sentir o calor da boca dele sobre a sua ele e afastou e lhe mostrou um papel que tirou do bolso da jaqueta.
- Isso era o que eu queria te mostrar. É o papel que passa sua tutela da Madre para mim.
- Não é possível.
- É sim, com você tudo é possível.
E por fim pôde beijá-la. E foi maravilhoso, foi doce e quente. Mostrou tudo o que sentia naquele beijou. Permitiu-se ser vulnerável àquela garotinha e não foi desapontado. Ela a correspondia com a mesma devoção. O beijo se aprofundava e as línguas se encontravam, quando ele a pegou no colo e parou pouco a pouco com o beijo.
- Vamos?
Na cabeça de Laura ainda tinha muitas dúvidas. De como ele havia conseguido aquilo, porque havia feito tal coisa, pra onde iriam... Mas resolveu perguntar a única coisa que realmente importava.
- Juntos?
- Sempre.
FIM
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É gente... Acabou? Espero que vocês tenham gostado! (se puder, me digam se gostaram!) Porque eu gostei muito de postar essa história aqui :) agradecida pela estrelinhas e comentários da SalDurbain e da Clara, saibam que eu não seguiria isso aqui sem o incentivo de vocês. Obrigada mesmo!
Vou tentar escrever o epílogo até domingo pra postar aqui, mas eu sou um pouco >lenta< assim então não queiram me matar caso eu atrase um pouco... No mais... Logo começo a postar a história nova, tomara que nos vejamos por lá!
Até mais ver <3
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