Agosto - Capitulo Único
O sol reluz delicadamente sob suas costas, quase como se tomasse cuidado ao te tocar. Seria engraçado dizer que eu entendo como ele se sente? Porque também tenho muito cuidado ao te ter. Não quero de forma alguma que você me passe a ver como um erro apesar de ter quase certeza que isso vai acontecer. Enquanto me vejo enrolada pelos lençóis que nos une ao mesmo tempo que é a única distância, percebo que ele se mexe. Ele vira o rosto na minha direção, sua expressão de sono tenta ser acolhedora e imagino que vi uma tentativa de sorriso.
Olho o relógio tão pontual pendurado na parede a frente.
Menos de duas horas pra ele ir.
O fim de Agosto chegou.
Eu estava a um mês atrás tranquilamente dando a ré no estacionamento do supermercado com meu carro. Eu tinha ido comprar um vinho e alguns frios pra ver um filme sozinha em casa. Eu não tinha muito a perder, aquele podia ser meu melhor momento em tantos dias de trabalho pela frente, foi exatamente quando o vi, centrado ao celular e senti aquela mesma sensação de anos atrás.
Gabriel era amigo do meu irmão mais novo na época em que eu ainda estudava, eles eram bem jovens e nunca dei atenção a qualquer um deles, mas Gabriel sempre teve algo diferente. Eu sempre quis a atenção dele como nunca me interessou a de ninguém, mas então ele se mudou e só vinha visitar o pai nas férias de Agosto. O problema é que todas as outras vezes, Gabriel estava com a namorada dele, Eliza, e hoje ela não está com ele. O desejo foi maior que minha honestidade, buzinei pra chamar atenção e abaixei a janela:
— Oi, quer dar uma volta comigo?
Eu nunca tinha feito algo do tipo antes. Vi na sua expressão que ele estava surpreso e confuso. E não posso me esquecer que foi exatamente aquele momento confuso que o fez entrar no carro comigo.
— Amanda, quanto tempo! Como você está?
Nunca estive tão bem, pensei enquanto passava a marcha.
Não me atrevo de modo algum a me levantar daqui enquanto ele arruma as últimas malas. Alguns anos mais novo do que eu mas consegue me fazer esperar por ele o tempo que quisesse, bem, é claro, se quisesse. Observo a ferrugem na porta, o tempo seco, a mancha de vinho no lençol. Confesso que minha boca está amarga e estou com muito medo de perdê-lo.
Sei que ele não mentiria pra mim e é por isso que a pergunta foi um impulso do qual eu me arrependi:
— Você vai me ligar quando chegar em casa?
De repente, ele está tenso. Ele me olha quase como se pedisse perdão.
Eu sei a resposta.
Paro o carro na entrada de uma encosta porque amo a paisagem. Ele sorri pra mim e põe a mão no bolso, seus olhos castanhos dourados, seu cabelo longo, tudo sempre encaixou tão bem. Eu gosto disso e sinto meu coração acelerar. Parece que ele sabe porque nesse momento ri pra mim e me pergunto se ele não percebe o quanto estou encantada com ele ao meu lado. O vento leva o cabelo dele pra trás.
— Me trouxe pra essa encosta pra me matar?
Eu rio alto, mas sinto que tenho essa reação com qualquer fala dele.
— Eu acho essa vista linda, e também acho você especialmente bonito. Queria ver como ficariam juntos.
Ele vai até a beira observar o mar e vou atrás. Os olhos dele brilham, como eu imaginei, combinavam perfeitamente. Será que eu fazia parte também?
— Eu não sei se eu combinei com a paisagem, mas definitivamente, você a deixa perfeita.
Eu percebi o nervosismo quando ele soltou essa frase mas achei que era por causa da idade. Achei que tivesse pouca experiência mas ele logo me puxou e eu senti o corpo que eu tão desejei tão perto. Eu sabia que teria aqueles lábios bem perto dos meus logo e foi o que aconteceu.
Era exatamente como nos meus sonhos.
Ele se despede de mim com um beijo na testa e fico com o coração angustiado ao perceber que talvez seja a última vez que eu o tenha tão perto. Se olhamos por alguns segundos mas não o suficiente pra causar mágoas.
Eu quero que isso termine sem dor.
Depois do beijo não precisei ver filme sozinha. Nem tomar vinho sozinha. Era tudo dividido como também a minha cama. Tudo tão próximo como minhas unhas ficando tão presas a sua pele. Tão próximo como cada parte do meu corpo esteve em suas mãos.
E parecia ingênuo dizer que não existia nada tão importante na vida como correr até ele. Esperar sua ligação. Dormir ao seu lado, rir das suas piadas e até tentar ver suas séries idiotas. Eu faria tudo pra que ficasse, era dia após dia vivendo a esperança de cada amanhecer.
Não foi menos intenso quando ele me contou que ainda estava namorando. Ele tinha brigado com ela quando veio pra cá, exatamente no momento em que o encontrei. Eu sou a pessoa errada no momento errado.
Eu chorei escondida no banheiro porque ele não me escondeu por muito tempo sobre seu relacionamento, e eu fingi que estava muito brava e que não queria vê-lo mais. Ele não sabe que desmarquei todos os planos da semana pro caso dele ligar.
E ele ligou dizendo que estaria atrás do shopping.
Enquanto eu dirigia, eu pedia a Deus que ele aprendesse a gostar mais de mim do que dela e que me escolhesse.
Eu não estava brava. Nada que ele fizesse me deixaria brava. Eu estava com medo.
Vivi pela esperança dele me ligar.
Vivi pela esperança dele me escolher mas eu sabia que isso não aconteceria.
Enquanto pego minhas chaves do carro para comprar um vinho. Abro uma rede social qualquer para me distrair e ali está lá meu maior pesadelo.
Uma foto dele e de Eliza juntos.
Reconciliação.
Ele não iria ligar.
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