CAPÍTULO 44 - JAIME
Neste momento, eu acredito que ninguém entra ou sai da sua vida por eventualidade ou acaso. A grande charada é que, demoramos para perceber o real motivo de determinada pessoa ter cruzado a nossa vida. Por mais que Lolla tenha dito que foi ela que me escolheu, e claro, eu concordo, mas ainda acredito que tudo estava acontecendo para que chegássemos até aqui.
Diversas vezes, acabamos dando papeis supervalorizados aos personagens que calham em cair em nossas vidas. Celina foi uma dessas. Ela é linda, inteligente, mas não me faz feliz como Lolla me faz. Ela não me deixa completo e eu demorei para entender isso. Demorei a crer que novamente eu estava errado. Agi por impulso. Puro desespero de ficar sozinho a vida inteira.
Descobri que ela era a atriz coadjuvante, não a principal do meu filme. Foi tudo rápido, eu sei, mas quem me diria que bem nessa época eu me apaixonaria, mas agora de verdade. Que agora entendendo perfeitamente o sentido desse sentimento.
Sabe aquela caminhada que precisamos fazer para chegarmos a um determinado local? Ou aquele empecilho da corrida? Aquele pequeno barquinho que te induziu até o porto de chegada ou até mesmo aquele outro que afundou e te deixou a deriva? Principalmente este segundo barquinho. Ele foi de puro aprendizado. Hoje, não tenho dúvidas, de que ele tenha sido o mais importante. Sim! Afinal, sem ele você não teria aprendido tanto.
Há pessoas que são o caminho, não a chegada. O passeio, não o destino. Por isso é preciso muito amadurecimento emocional para perceber quando for a sua vez de ser o barquinho.
Em sempre seria o personagem principal da história. Percebo agora que a frase: "o que é seu está guardado" é a mais certa do mundo e vai achar um jeito de chegar até você. Sem nenhuma dúvida. Lolla me achou.
Experiências ruins também te fazem crescer. Quantas vezes achei que o meu feliz para sempre estava certo e no fim, me ferrei? Mas agora eu tenho o entendimento que nenhuma dessas vezes o amor foi tão forte, tão verdadeiro.
Por pior que tenha sido uma relação, ela vai, no mínimo, servir para te instruir a não fazer igual. Celina é linda, mas séria. Ela não tira meus sorrisos com apenas uma conversa boa e o simples fato de mudar e dizer a verdade, de alguma forma, faz dela uma parte fundamental da minha história. O aprendizado. Um novo recomeço.
A nosso curso neste mundo é um ir e vir sem fim. Nem tudo chega para ficar. Eu consigo compreender que não é porque um relacionamento acabou que ele não tenha dado certo. Deu certo com Celina. Tudo isso fez parte do processo. Somos um reflexo das pessoas que conhecemos. Tiramos todos os proveitos de cada época. Seja pelo carinho, atenção ou, até mesmo, pela dor. Cada pessoa ou conhecimento acaba te afeiçoando de alguma forma, amparando a desenvolver aquilo que somos, quer você queira, quer não. Nunca é por acaso. Lolla não foi por acaso. Coisa nenhuma e nem ninguém. Sempre tem um pretexto, um objetivo, um motivo.
Esse caminho é bastante longo e ainda existem muitas curvas, subidas e descidas, até que ele possa finalmente, com paciência, com sabedoria, encontrar o destino: o mar.
Pego o café para mim e o amor da minha vida. Pedi flores ao hotel e uma bandeja preparada.
Assim que entro no quarto, não a encontro.
Ah, não! Não dessa vez.
Para a minha surpresa, Celina está de pé, de costas, vendo a vista do hotel.
— Celina?
Ela se vira e me vê. Quase deixo a bandeja cair no chão.
Um sorriso nos lábios me deixa espantado.
Uma passagem rápida com os olhos sobre o quarto, vejo que as coisas da Lolla continuam espalhadas pelo chão.
— Oi, Jaime.
— O que faz aqui?
— Vim ver com os meus próprios olhos o motivo do meu noivo não atender as minhas ligações.
Ela vai até a cama e se senta na ponta.
— Nunca pensei que passaria por isso mais uma vez, Jaime. Você me traiu com aquela... aquela...
Coloco a bandeja na mesinha ao lado.
Estou tremendo.
Eu não queria que fosse assim.
— Eu iria conversar com você quando voltasse, Celina.
— Conversar que estava me colocando um par de chifres enquanto viaja com a sua funcionária?
— Lolla não é funcionária. Eu a empresário.
— E a come.
Seu palavreado me deixa um pouco irritado, mas entendo a sua mágoa. Tudo será compreensivo.
— Eu me apaixonei por ela.
Ela começa a chorar e coloca as mãos no rosto.
— Eu apostei todas as minhas fichas em você. Temos os mesmos sonhos, temos planos... Jaime... olhe o que fez comigo. Eu estava me curando. Eu fiz tudo o que o médico me pediu... eu estava tentando ser uma pessoa melhor pra você...
— Eu sei, Celina, eu sou um cretino, mereço todo o seu rancor, mas quero que entenda que nada disso foi premeditado. Eu a amo de verdade.
— Como disse que me amava? É isso?
— Não, Celina. Eu não entendia o significado dessa palavra. Desculpe falar assim, mas... eu descobri com ela.
Para o meu espanto, Celina vem para perto e me abraça forte.
— Não! Não faça isso comigo! Estou no momento mais difícil da minha vida... Eu prometo esquecer de tudo. Eu aceito! Aceito esse seu deslize e vamos viver felizes para sempre, assim como imaginamos. Por favor, Jaime...
Eu a afasto com cuidado.
— Fui diagnosticada com estafa, depressão... tudo por conta do trabalho, queria ter de contado ontem, mas, você não me deixou. Preferiu ir para cama com... Mas tudo bem. Eu estava longe e não te dei a atenção que merecia.
— Não foi por isso...
— Eu quero casar, ter filhos com você...
— Eu não aceitar fazer isso, Celina, não com você, nem com a Lolla, comigo mesmo.
— Dane-se ela! Ela é uma vadia que usa o corpo para poder levar os homens para a cama.
— Não fale assim.
— Eu não acredito nisso! Só pode ser um pesadelo. — Ela segura os seus pequenos cabelos em meio ao choro meio histérico e anda de um lado para o outro. — Estou passando mal. Eu... nunca pensei que... Eu... Eu...
Ela revira os olhos e cai.
Seguro-a antes que caia sobre o chão. Tento acordá-la, mas nada. Acabo chamando a emergência.
***
Explico ao médico a verdade.
Estou cansado de mentir.
Ele conta que ela desmaiou, provavelmente, pelo nervosismo. Foi sedada e está esperando que ela acorde, mas que não corre nenhum tipo de perigo.
Fico mais tranquilo e ligo para Lolla. Preciso dizer para ela que estava resolvendo tudo, mas pediria um pouco de paciência nesse início.
Ela não me atende. Ligo para o hotel e sou informado que ela fez checkout e pediu um taxi para o aeroporto.
Ela me deixou? De novo?
Merda! O que Celina disse a ela? Eu preciso desfazer isso e não a deixarei escapar mais uma vez. De jeito nenhum!
O médico logo me chama pareço entrar em um abismo ao ser informado que Celina tomou alguns remédios em demasia na tentativa de suicídio.
Deus, o que ela está fazendo?
Ele me informa que ela teve uma parada cardíaca, mas que já haviam conseguido reanimá-la e estão tentando amenizar a intoxicação. Explico que ela é médica e eles entendem que os remédios estavam sob a sua custódia.
Vou até ao quarto vê-la.
Sinto-me culpado.
Eu não queria que fosse assim! Deus, eu não queria.
Eu estou destruindo a vida de muitas pessoas.
Agora as coisas mudaram. Pego o celular da Celina e resolvo fazer o que ela talvez não aprovaria, disco para os seus pais. O primeiro contato que encontro é o da sua mãe.
— Alô — A voz de uma senhora atende. Incrível como eu nem sabia o nome da sua mãe. Onde eu estava com a cabeça?
— Hum... Boa noite, aqui é o Jaime, noivo da Celina e...
— Noivo? Onde ela está? — A pessoa parece surpresa.
Ela não contou que estava noiva? Não falou sobre nós dois?
— Ela está em Maceió nesse momento. Desculpe, minha indiscrição, sei que não se falam há algum tempo e...
— Não estou entendendo. Falamos diariamente. Celina está bem? Você roubou o celular dela?
— Não, senhora, eu sou noivo da Celina há alguns meses, mas...
— Qual o seu nome?
— Jaime — repito. — Eu me chamo Jaime.
— Celina está em tratamento. Ela não pode se envolver romanticamente com ninguém. Eu não estou entendendo nada!
Agora sou eu que fico sem entender.
— Desculpe, ela me disse que não falava direito com a família por conta alguns problemas pessoais.
— Onde ela está? Quero falar com ela agora mesmo!
— Celina está internada.
— Céus, o que aconteceu com ela?
— Nós tivemos um problema e terminamos nosso relacionamento, mas ela não aceitou muito bem e...
— Meu senhor Jesus! Tudo de novo! O que ela faz em Alagoas? Ela mora no Rio!
— Eu estava a trabalho e ela veio atrás de mim.
— Jaime, eu não estou conseguindo raciocinar muito bem. Celina é uma mulher com problemas, faz tratamentos psiquiátricos há muito tempo por conta de alguns acontecimentos aqui em nossa cidade.
— O que aconteceu?
Ela fica calada por algum tempo.
— Celina foi acusada por tentativa de homicídio pelo seu ex-marido. E está sendo investigada pelo conselho de medicina por algumas atitudes inaceitáveis.
— Eu não sabia... e lá no Rio, onde moramos, ela trabalha no hospital como médica, isso é possível?
— Não. Ela está proibia de exercer a profissão. O que essa menina está fazendo? Em que hospital ela está? Eu e o pai dela pegaremos um voo para aí assim que der.
Falo para ela em meio ao nervoso.
Celina nunca me contou nada disso.
Onde eu estava me metendo?
Desligo a ligação completamente perdido em tudo que soube.
Ligo para Lolla. Ela não me retorna. Mando mensagem para que ela me ligue, mas nada.
Merda, Lolla! Me deixe explicar dessa vez!
Fico sentado na recepção do hospital, sozinho, sem saber o que fazer.
Mas isso logo passa quando resolvo ligar para a minha família.
Henrique atende de prontidão.
— E aí, irmão... está tudo bem?
— Não, Henrique. Eu preciso te contar um monte de coisa.
— Oh, porra! É tão sério assim? Mais sério do que o primo da Lolla estar preso?
— O QUÊ?
— Pow, cara, não está sabendo? Está em todos os lugares. Ele foi preso ontem à noite com uma grande quantidade de cocaína. Olha, dessa vez vai ficar por um bom tempo preso, viu!
MERDA!
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