CAPÍTULO 41 - LOLLA
O mar me acalma. E Jaime fez o melhor que pôde.
Eu poderia aparentar que tudo estava bem. E estava. É fácil esquecer quem te faz mal, pessoas sem importância, mas é impossível esquecer quem te fez feliz. Os sentimentos que criei por ele não sairão de mim.
É algo estranho e incomum na minha vida.
Eu poderia dizer que tive poucas paixões, mas não nomeio nenhum deles como amor de verdade. Foram namoradinhos que não passaram de casos não tão especiais para ser lembrado. Mas com ele é diferente. O carinho, cuidado, os olhares, a nossa noite de amor...
Ontem, ele disse coisas lindas para mim, mas é aquela história, com a bebida tudo fica mais bonito e intenso. Ele estava bêbado e prefiro pensar que tudo foi da boca para fora.
Eu preciso entender que nada mudou enquanto ele mantém Celina na sua vida. Eu devo ser profissional e não me deixar abalar por esse sentimento.
Lembro de como Jaime entrou na minha vida, a anos atrás, quando assisti a entrevista do seu irmão na televisão. Meu fascínio, ainda adolescente, foi imediato e se estendeu ainda mais ao ver o homem incrível que ele é quando o conheci pessoalmente. Pelo menos depois daquela carranca que ele cismava em colocar quando me via. Até isso foi passando.
Seu carinho, sua devoção, seu jeito família, me encantaram. É meio assustador reparar o quanto a vida dá voltas. Ele era para mim intocável. E, inevitavelmente, tornou-se o antônimo disso. Eu havia tocado seu corpo inteiro.
Beijar Mateus me deu a certeza de que eu precisava. Os amassos na sua casa serviu para eu entender que o que aconteceu entre mim e Jaime não foi algo de uma noite. O que sinto por ele é verdadeiro e muito real. Foi assim que eu parei e não acabei na cama do Mateus.
Eu gosto do Jaime como achei que jamais gostaria de nenhum homem, pelo menos não tem cedo, contudo, meu objetivo nunca foi esse, sempre foi de cunho profissional e eu preciso continuar a colocar isso em primeiro plano.
Aqui estou eu. Da mesma forma que ele diz estar por mim, podendo viver isso sem nenhum empecilho, embora não seja recíproco. E isso me afasta. Prefiro manter todas as suas declarações da noite de ontem, esquecidas em meu coração.
Atendo os meus fãs e Jaime vem me acudir.
Atravessamos a avenida em direção ao hotel.
— Deu para relaxar? — ele me pergunta com um sorriso nos lábios.
— Muito. Eu estava precisando. Obrigada.
Guardamos as pranchas e chegamos no nosso andar.
— Tem compromisso hoje, Lolla?
Sua pergunta me faz rir.
— Sei lá. Estava pensando em abrir o Tinder e procurar alguma companhia já que não tenho nada para agora à tarde.
Ele revira os olhos.
— Não achei graça.
— Ah, eu achei! — Até que não seria uma má ideia. Pelo menos me faria parar de pensar nele por algum tempo.
— Tem um lugar que eu gostaria de levá-la.
— Jaime...
— É uma praia. Dizem que o pôr do sol é lindo. Eu já iria sozinho e... se puder ir comigo seria ainda melhor. Como amigos, Lolla.
Eu sorrio. Amigos? Nessa altura do campeonato?
— Será que lá pega a internet para o Tinder?
— Ah, Lolla! — Agora ele sorri. — Então eu vou baixar esse aplicativo e serei o primeiro a aparecer aí porque estarei ao seu lado.
— Não dará certo.
— Por quê? — Ele cruza os braços.
— Porque tem que dar Match e eu te colocarei para a esquerda.
— O que isso significa?
— Nunca usou?
— Henrique baixou pra mim uma vez e foi um fiasco. A garota era diferente da foto. Aí fiquei traumatizado e desinstalei. Sei que é pela localização e tal.
— Eu não vou aceitar você, Jaime. Sinto muito.
Ele faz cara feia.
— Maldade.
— Maldade nada. A coisa boa é que eu posso tentar até achar um bem parecido com a foto.
— E o Mateus?
É a minha vez de rir e ele fica sério esperando a minha resposta.
— O que tem ele? Vai perguntar de novo?
— Pelo que me recordo, você não me respondeu.
— Ele é um homem legal. Solteiro.
Ele arfa.
— Não diz isso, Lolla.
— Não falei nenhuma mentira.
— Eu sei, mas...
O seu celular toca.
Respiro fundo e já espero ser deixada aqui, no meio da conversa, sozinha, novamente.
Ele atende e ouve na minha frente.
Viro-me para sair dali, mas ele, prontamente, segura meu braço.
— Aham. Sim, sei — fala com o aparelho no ouvido. — Ótima notícia. Estou aqui com ela. Vou repassar a novidade. Em poucos dias estaremos aí antes de mais viagens e acho que dará tempo de... sim, claro. Obrigada, doutor.
Ele desliga e me olha com um sorriso.
— Era o meu advogado — conta ele. — Ele conseguiu um pedido diante a justiça para que você tenha um sobrenome. Você poderá escolher.
— Está brincando?
— Não! É sério!
Eu não aguento de felicidade e o abraço forte, pendurando-me em seu pescoço.
Ele me aperta pela cintura e devagar uma das suas mãos vão até à minha nuca.
Nossos rostos ficam perto.
Eu poderia te dar um beijo. Sentir seus lábios nos meus mais uma vez. Eu queria, mas não posso.
Meu coração está pulsando forte com tamanha felicidade.
Isso mudaria tanta coisa. Eu não teria mais vergonha do meu nome. Não teria vergonha de mostrar meu documento.
Solto-me dele, devagar e ajeito os meus cabelos.
— Eu posso ser Raíssa Lolla?
— Pode ser o que quiser, Lolla.
— Eu nem acrediiiito! Preciso ligar para o Minga! Contar a ele.
— Toma — ele me entrega seu telefone. — Liga para ele!
Aceito e ligo, mas, como sempre, ele não atende.
— Deve estar ocupado. Depois tento de novo. — Devolvo seu celular.
— Será que agora aceita meu convite?
— Eu já havia aceitado antes, seu bobo. Agora mesmo eu quero respirar ar puro e agradecer aos céus, Deus, ao mar...
Ele me olha com carinho. Pega a minha mão e me puxa para perto dele.
— Assim não, Jaime — digo, sem titubear.
— Desculpe. — Ele me solta contrariado.
Vou no quarto pegar a minha bolsa e encontro Jaime no corredor. Caminho ao seu lado e saímos do hotel novamente. Dessa vez um carro já está a nossa espera. Ele premeditou isso?
Eu não poderia culpá-lo. Eu queria tanto quanto ele ficar perto. Apenas perto e nada mais.
Jaime abre a porta do carona para mim e entra no do motorista. Ele coloca a localização no GPS e dá partida.
— Que lugar lindo é esse que você vai me levar?
— Praia do Patacho.
— E quem disse que é legal?
— O quê?
— Você disse que te indicaram.
— Menti. Desculpe. Eu vi na internet. Achei a praia a sua cara.
Sorrio de lado. Jaime tem o dom de me deixar feliz com pouco.
Se sentir cuidada é assim? Se sim, eu nunca havia sentido nada igual.
— Só demora um pouco. Se importa?
Faço que não.
— Que seja o tempo que for necessário.
Ele sorri e coloca a mão em cima da minha. Não o afasto. Apenas entrelaço nossas mãos. Me permito a apenas sentir. Eu não me importo com nada nesse momento. Só quero ficar assim, perto, sentir todo o seu carinho, mesmo que para mim ele não deveria ser destinado.
Falamos sobre música, ouvimos algumas e cantamos outras no carro. Jaime sorri e gargalha na maioria das vezes. Ele está feliz tanto quanto eu.
Duas horas depois chegamos na praia do Patacho, ainda no estado de Alagoas.
Ele estaciona em um lugar deserto. Diante da janela do carro já dá para ver o quanto a praia é linda.
Saímos juntos.
— Aqui, pelo que fui informado, é um paraíso para relaxar. Como podemos ver tem milhares de coqueiros na beira do mar, não tem comércio ou vendedores ambulantes e ainda oferece um mar calmo e de águas esverdeadas...
— Pesquisou direitinho mesmo, não é?
— Um pouco. — Ele dá uma piscadinha para mim antes de colocar seu óculos de só.
Visualizo com deslumbre toda a extensão que meus olhos dão conta. É lindo demais.
— Uau, eu nunca vi uma praia assim...
— Eu sabia que iria gostar.
— Será que posso ir dar um mergulho?
— Você pode fazer o que quiser, Lolla. Eu a trouxe para que aproveitasse ao máximo.
Eu sorrio, inebriada com a surpresa que ele me faz. Não havia nada mais magnifico do que apreciar o mar.
Coloco minha pequena bolsa no carro de luxo. Nem ligo para o que ele possa pensar. Deixo meu instinto tomar conta diante de um lugar tão mágico.
Retiro meu shorts e corro até a primeira onda que avisto.
Sinto a quentura da água me atingir quando dou o primeiro mergulho.
Olho para a areia e vejo Jaime me observar.
Faço um gesto que ele me acompanhe.
Mergulho mais uma vez e consagro o que nunca tive na vida: liberdade de poder aproveitar cada momento.
Fico boa parte dos minutos agradecendo todas as coisas maravilhosas que a vida tem me dado.
Após algum tempo, volto para areia onde Jaime está e espremo meu cabelo de lado.
— Gostou? — ele pergunta.
Faço que sim.
— O pôr do sol logo vai começar — conto, prevendo a maré mais alta.
Sento-me ao seu lado.
— Eu te trouxe para ver isso... esse sorriso.
— Eu nem sei como se agradecer, Jaime. O mar é a minha vida e conhecê-lo em outros lugares é magnífico.
Ele sorri e fica todo engomadinho no seu cantinho sentado sobre a canga.
Eu acho graça e sorrio sozinha.
— O que foi?
— Nada.
— Você me olhou e riu. Não é nada — pergunta ele, achando a situação divertida.
— Você é um homem muito perfeitinho.
— O que isso quer dizer?
— Não entrou no mar só pra não despentear o seu cabelo?
Ele nega com um sorriso nos lábios.
— Eu só quis aproveitar a vista. E... não é do mar que estou falando.
Viro o meu rosto e mordo meu lábio inferior para evitar que os meus desejos por ele sejam expostos.
Ficamos quietos por alguns segundos até que tenho uma ideia.
Pego um punhado de areia, faço uma bola como massa de modelar e taco em cima dele.
— Lolla... o meu cabelo! A minha roupa... Isso é guerra?
Não falo nada e taco outa bola de areia.
Penso logo que ele ficará chateado, mas, pelo contrário, ele começa a rir alto.
Até que se levanta para a batalha. Brincamos na areia como duas crianças.
Corro o mais rápido possível e ele consegue me alcançar. Caímos sobre a areia, abraçados. Até não termos mais fôlego.
Ele me olha nos olhos.
— Eu preciso te falar algo... Lolla....
— Não, Jaime... não vamos estragar o dia perfeito, por favor... Eu vou poder ter um sobrenome. Talvez você não tenha noção da grande mudança que isso causará na minha vida...
Saio de cima dele e me sento ao lado.
Ele se ajeita também, sacudindo a areia dos cabelos.
— Eu sei, mas preciso te dizer antes que seja tarde demais.
Fico quieta.
— Eu estou perdido, Lolla. Nunca senti por ninguém o que sinto por você. Eu... eu sei que tenho barreiras, mas... prometo resolver o quanto antes para viver o que quero viver.
— Jaime, eu sou uma mulher comum. Não estrague a sua vida por mim. Celina é alguém quem eu jamais serei. Alguém como você.
Ele se inclina para o lado e mexe nos meus cabelos molhados.
— Ah, meu amor... — ele sorri de lado, tocando em meus cabelos. — Eu pensei assim por tanto tempo. Estragar a minha vida? — Ele sorri mais uma vez, como se o que eu falasse fosse um absurdo. — Você é não é exatamente o que sempre sonhei, Lolla. É ainda melhor.
Deus, não me deixe fraquejar!
— Temos mundo diferentes e isso já estava resolvido entre a gente.
Ele se inclina ainda mais sobre mim e pega o meu rosto.
— Você sabe que nada foi resolvido. Você me dispensou naquele dia na ilha. Ali mesmo eu...
— Eu não dispensei. Acordei sozinha e o vi abraçado a ela pela janela. Aquilo foi a resposta de que o que tivemos foi apenas uma noite.
— Ela me pegou de surpresa e eu nem tinha pensando em como resolveria essa questão.
— Teria largado ela?
Ele ajeita uma mecha do meu cabelo.
— Era o certo a fazer naquele momento, Lolla.
— Mas você ainda continua.
— Eu sou um babaca. Achei que os meus planos estariam resolvidos com Celina, mas isso é uma grande besteira. Ouça... eu sempre fui muito metódico. Adorei quem deveria adorar, cuidar de quem deveria e esperei que o amor me atingisse como em conto de fadas. Henrique sempre zombou de mim sobre isso, enfim, eu queria te dizer que o que sinto não é algo habitual, normal... eu pensei que sentisse isso por Celina, mas por você é algo além do que eu poderia imaginar. Eu a amo.
Se rosto fica ainda mais próximo ao meu.
Sua revelação faz meu coração acelerar ainda mais.
Sinto falta de ar.
Coloco uma mão na areia e aperto-a com cautela.
— Me diga um motivo para não a beijar agora mesmo, Lolla?
Minha pele ferve.
— Não faça isso, Jaime. Você sabe os motivos.
— E se eu disser que assim que voltar para o Rio tudo será resolvido?
— Eu não posso me apegar em apenas palavras. Isso tudo já foi além do que deveria.
— Lolla — ele pega o meu rosto. — Deus, eu preciso fazer que você entenda de uma vez por todas.
— Por favor... — pronuncio, com os lábios entreabertos. Sinto toda a tensão no meu corpo.
Eu não deveria. Eu não deveria!
— Eu nunca senti nada parecido ao que sinto, Lolla...
— Jaime... não faça isso. Não torne tudo mais difícil.
— Eu não consigo parar de pensar em você. Você já faz parte da minha vida diariamente. Impossível pensar em um futuro no qual você não esteja presente. É... é... atormentador.
— Jaime...
— Como eu disse, fiz vários planejamentos de vida e nenhum deles faz mais sentido pra mim. Eu só quero saber se meus sentimento são recíprocos, assim como foram na Ilha.
— Do que você falando? Não pode falar essas coisas para mim.
Sinto uma lágrima escapar por um dos olhos. Merda!
— Desculpe por expor tudo, sem medo, sem pudor. Eu preciso ser sincero comigo mesmo. Não quero perder tempo, mas, ao mesmo tempo, eu te entendo. Não se preocupe, Lolla. Sabe, posso te dizer, com certeza, de que toda essa loucura de te agenciar me trouxe mais do que eu jamais poderia crer.
Meu coração se aperta e aconchego a minha cabeça em seu ombro.
— Desculpa fazer tudo ser uma loucura.
— Na verdade, percebi que um pouco de loucura é algo bom. Você me mostrou o verdadeiro sentido da alegria. Já sentiu isso?
Faço que não.
Acho que não.
— O verdadeiro sentido da alegria é isso... Eu a amo, Lolla.
— Por favor, Jaime, você não pode dizer isso.
— Eu posso. Eu posso ser livre com os meus sentimentos e, faz tempo, que eles me indicam de que você é a pessoa na qual eu sempre precisei na minha vida, a que me faz feliz. Eu só tive medo, mas não tenho mais.
Ele volta a segurar meu rosto.
— Não podemos fazer isso, não agora.
— Podemos fazer o que quisermos, Lolla, somos livres, lembra?
Ele olha profundamente em meus olhos e, para o meu deleite, junta seus lábios aos meus.
Sinto todo o seu afeito. Toda a sua paixão.
A mesma na qual compartilho com ele.
O beijo que almejei por tanto tempo.
Eu paro.
— Não posso. Não vamos fazer isso... não novamente.
Ele segura o meu rosto com os olhos fechados e junta sua testa na minha.
— Eu te amo — profere e sinto todo o amor empregando nessa declaração.
— Desculpe — sussurro.
Ele abre os olhos e passa as mãos nos meus cabelos, analisando todo o meu rosto.
É a minha vez de fechar os olhos com força. Tantos sentimentos encubados.
Deito minha cabeça sobre seu peito.
Tento igualar minha respiração com a dele antes que tudo saia do caminho correto.
— Só não esqueça que te amo, Lolla. Por favor.
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