Cap. 47 - Guardião do Ar
A sensação de estar em um lugar distante se desfez lentamente, como se uma névoa estivesse se dissipando, e a realidade me envolveu de volta. Ainda estava deitado, mas agora podia sentir o peso da terra sob minha pele e o vento suave acariciando meu rosto. A visão havia me deixado exausto, com as imagens de Richard e o nascimento do artefato ainda fervilhando em minha mente. Mas era hora de seguir em frente. Não havia mais tempo para refletir, e a próxima sala nos esperava.
O som da brisa cortante foi o primeiro a me alertar de que algo estava prestes a acontecer. Era como se ele estivesse vivo, ansioso para nos guiar até a próxima provação. Não era como o silêncio profundo que se seguiu à nossa luta na sala de fogo. Não. O vento aqui estava diferente, mais denso, mais carregado de uma força que eu mal compreendia. Eu podia sentir em meus ossos que algo estava mudando. Levantei-me lentamente, minha mente ainda zumbindo com os ecos da visão.
Ed, Taylor, e os outros estavam já em pé, mas Pedro e Kauã continuavam desacordados. Eu sabia que isso nos colocava em desvantagem, mas o que me incomodava ainda mais era o fato de que a próxima sala seria um teste, não apenas físico, mas mental e espiritual. A pressão do vento começava a aumentar, um indício de que algo maior estava por vir.
— Vamos. A próxima sala está perto.
Ed me lançou um olhar preocupado.
— E os dois? Não podemos deixá-los aqui.
— Não vamos.
Estendi a mão, puxando Pedro e Kauã com cuidado. Eles estavam fracos, mas algo me dizia que descansar mais ali não os ajudaria.
Com alguma dificuldade, colocamos os dois sobre uma plataforma improvisada de vento que criei.
Taylor soltou um assobio.
— Você é mesmo impressionante Jon.
Não respondi. O ar ao nosso redor começava a ficar denso, quase sufocante, mas não de forma agressiva era como se o próprio ambiente estivesse nos testando antes mesmo de chegarmos.
Seguimos com cautela. Cada passo parecia mais difícil, como se o ar estivesse se fechando atrás de nós. O vento não mais brincava suavemente com nossos cabelos. Agora, ele parecia pesar, uma presença invisível que aumentava a pressão ao nosso redor.
— Está ficando mais forte...
Comentei, sentindo a pressão no peito aumentar.
A cada passo, a sensação de que algo se aproximava se intensificava. Mas ainda não víamos nada além da brisa que começava a se transformar em rajadas. Quando finalmente viramos uma das enormes arvores à frente, a entrada da próxima sala se revelou diante de nós.
Uma gigantesca porta de ar se materializou no horizonte. Não era uma porta comum, mas algo vivo, pulsando com uma energia que parecia respirar como se estivesse esperando por nós. A porta parecia ondular no ar, cada movimento do vento moldando-a em diferentes formas, como se ela estivesse viva, testando nossa coragem.
O vento estava tão forte agora que a visão da porta parecia distorcida. O ar se movimentava com tal força que parecia que até os próprios céus estavam em movimento. Eu sabia que não seria fácil atravessar. Cada rajada que passava por nós deixava um estrondo no ar, devido a colisão com a minha barreira, era como se, algo estivesse tentando nos afastar, mas a porta, a entrada, estava diante de nós.
O ar estava espesso. O som do vento se misturava com o ruído de algo mais profundo, mais primordial. Senti minha pele arrepiar, como se o próprio ar estivesse nos vigiando, esperando o momento certo para testar nosso limite.
— Está ficando mais forte...
Murmurei, mais para mim mesmo do que para os outros. O ar, agora estava ainda mais cortante. Não era apenas o vento, era algo mais, como se o próprio ambiente estivesse resistindo à nossa passagem.
Taylor e Ed foram os primeiros a tocar a porta, ela não cedeu imediatamente. O ar ao redor parecia vibrar, pulsar com uma energia difícil de definir. Era como se a sala estivesse tentando nos expulsar antes de sequer entrarmos. Senti minha barreira densa sendo desfeita, e eu sentia os ventos cortando meu corpo, pressionando minha mente, testando minha força, não apenas física, mas espiritual.
Foi então que, ao colocar minha mão na porta de ar, eu senti algo mais. Uma energia que não vinha do ambiente, mas de algo maior, algo que transcendia o espaço e o tempo. Uma sensação de que, mais uma vez, algo nos observava.
E então, a porta se abriu.
Era como atravessar uma barreira invisível. O vento se acalmou instantaneamente, e a sala diante de nós se revelou. Não era um simples ambiente de ventos e correntes de ar. Era uma área imensa, como se estivéssemos em um espaço suspenso no ar, com nuvens formando uma espécie de solo etéreo, pulsando com a mesma energia que senti ao tocar a porta. A visão à nossa frente era indescritível: formas de vento que se entrelaçavam como um organismo vivo, circulando, formando espirais, criando uma dança que desafiava as leis da gravidade.
O que mais me impressionava, porém, era a sensação de que algo ou alguém nos observava da imensidão do vento. Não era uma sensação nova, mas uma sensação crescente de que não estávamos sozinhos ali. Alguma presença poderosa aguardava.
Então, a visão do nosso próximo desafio começou a se revelar: uma figura etérea, composta inteiramente de vento condensado, flutuava. Seus olhos brilhavam como estrelas, e sua voz ecoou em todas as direções.
— Para dominar o vento, você deve entendê-lo. Para controlá-lo, deve se libertar de sua própria rigidez. Quem ousa me desafiar?
Era como se ele estivesse falando diretamente a mim. E se ele estava perguntando, apenas uma pessoa iria enfrenta-lo.
Eu dei um passo à frente.
— Eu aceito.
O guardião se curvou levemente, como se reconhecesse minha escolha. Então, sem aviso, ele se desfez em um turbilhão que engoliu a sala. Parecia que toda a pressão daquele lugar estivesse vindo em nossa direção.
— Protejam-se!
Gritei, levantando uma barreira de vento ao nosso redor.
A tormenta nos atingiu com uma fúria avassaladora, cheia de lâminas invisíveis que cortavam o ar com assobios agudos, quase como gritos de uma entidade enfurecida. Minha magia tremulava sob o impacto incessante, cada golpe mais feroz que o anterior. Ao meu lado, Ed lutava para reforçar a defesa, mas o guardião era rápido, ágil demais para nossas reações.
Uma rajada mais forte colidiu contra a barreira, fazendo-a tremer perigosamente. Vi Kauã e Pedro sendo lançados para trás como bonecos desarticulados, inconscientes, incapazes de ajudar.
— Droga!
Concentrei-me, sentindo o fluxo da magia em minhas veias. Expandir a barreira exigia muito mais energia, mas eu não podia deixar que fossem atingidos. Meu coração batia como tambores de guerra, o peso da responsabilidade queimando em meu peito.
— Jon! Estamos sem cobertura!
Gritou Taylor, tentando manter-se de pé em meio ao caos.
Sem hesitar, canalizei minha magia para formar barreiras individuais ao redor de cada um deles, protegendo-os do vendaval que nos despedaçava. Permaneci sozinho no centro, enfrentando o redemoinho diretamente. A energia girava ao meu redor, esmagadora, sufocante. Mas então senti algo. Era estranho, quase íntimo, como se a tempestade reconhecesse quem eu era, como se compartilhássemos um vínculo ancestral.
O turbilhão começou a tomar forma diante de mim novamente, condensando-se até o guardião surgir, maior e mais imponente, quase tocando o teto da sala. Seu semblante carregava a força bruta de uma tempestade prestes a desabar.
— Você protege os outros, mas será capaz de proteger a si mesmo?
Ele disparou um ataque direto uma lança de vento cortante. Não tive tempo para pensar; reagi instintivamente, desviando e lançando uma corrente de ar oposta para neutralizar o golpe.
— Se isso é tudo que você tem, vamos acabar rápido.
Minha voz soou mais confiante do que eu realmente me sentia.
O guardião riu, um som que parecia uma tempestade distante. Ele levantou os braços e, de repente, a gravidade parecia desaparecer. Todos começamos a flutuar, presos em uma corrente de ar que nos puxava em diferentes direções.
Ed e Taylor gritavam, laçando suas magias, buscando criar um ponto estável, porém sem sucesso, tudo aqui era feito de ar. Pedro e Kauã estavam indefesos, flutuando como folhas no vento.
— Não vou deixar ninguém cair!
Minha magia reagiu, formando correntes de vento que os envolviam e os seguravam no ar, mantendo-os estáveis enquanto eu me concentrava no guardião. Ele atacava incessantemente, lançando rajadas, lâminas invisíveis e explosões de energia que surgiam de todos os lados. Cada movimento dele parecia uma dança caótica, mas havia algo mais profundo.
E então percebi: ele não era apenas força. Ele era ritmo, fluxo, equilíbrio. Lutar contra isso era inútil. Fechei os olhos por um instante, sentindo o padrão, a cadência do vento. Comecei a mover-me com ele, acompanhando suas correntes e usando sua força contra ele.
— Você é forte, mas isso não será suficiente.
A provocação foi como combustível. O guardião explodiu em mil pedaços, espalhando-se pela sala em um redemoinho descontrolado. Mas desta vez, eu estava pronto. Minha mente estava conectada ao fluxo, à essência do vento que nos cercava.
— Venha.
Ele atacou com força total, mas, em vez de lutar, eu o absorvi, redirecionando sua energia. Formei um turbilhão próprio, maior e mais controlado, até que o guardião foi forçado a recuar, reunindo-se em sua forma original.
O guardião fala depois de muito tempo, agora menos ameaçador, mas sua voz ainda é imponente:
— Você me enfrentou com força, inteligência e liberdade. Você passou. Mas lembre-se: o vento nunca será completamente seu. Ele é livre e imprevisível. Se cuida portador do espirito do ar.
Quando o confronto terminou, o caos na sala se dissipou, dando lugar a um silêncio quase sagrado. O guardião se desfez diante de mim, transformando-se em uma brisa que me envolveu. O toque do vento era suave, como um reconhecimento silencioso da minha força ou talvez da minha compreensão.
O cheiro de sangue encheu o ar assim que a brisa gentil do guardião se dissipou. Meu coração apertou ao olhar para Pedro e Kauã. Ambos estavam inconscientes, mas agora havia mais do que exaustão — cortes profundos os cobriam, provavelmente causados pelas lâminas invisíveis durante o teste. O sangue se espalhava rápido, tingindo o chão branco em tons de vermelho.
Ed se abaixou ao lado deles, pressionando uma das feridas de Kauã com as mãos.
— Jon, eles não vão aguentar assim. Precisamos fazer alguma coisa, rápido!
Olhei para minhas mãos, sentindo a energia da magia do fogo pulsar nelas. Eu podia curá-los... sabia disso. Mas revelar outro poder seria um risco. Ed e Taylor não eram inimigos, mas e se essa informação chegasse ao Conselho? Era uma linha tênue entre ajudar e me expor ainda mais.
Taylor me encarou, a ansiedade estampada em seu rosto.
— Jon, você consegue fazer alguma coisa? Não temos muito tempo!
A dúvida me consumia. Deixar Pedro e Kauã morrerem seria cruel algo que nunca conseguiria carregar na consciência. Por outro lado, se Ed ou Taylor falassem sobre isso, minha vida poderia se complicar ainda mais.
Fechei os olhos, respirando fundo.
"Às vezes, proteger os outros é mais importante do que proteger a si mesmo."
Essas palavras ecoaram na minha mente, como se o guardião do vento ainda estivesse ali, me observando. Sem hesitar mais, deixei o calor da magia fluir para minhas mãos.
— Ed, segure o Kauã. Isso vai doer.
Ed olhou para mim, confuso, mas obedeceu. Inclinei-me sobre a ferida mais grave de Kauã, uma linha profunda no ombro, e toquei a pele com minhas mãos envoltas em chamas suaves.
O fogo não queimava ele brilhava com um calor reconfortante, como a luz de uma lareira em uma noite fria. A ferida começou a fechar lentamente, a carne se recompondo diante de nossos olhos.
Taylor prendeu a respiração.
— Você está curando... com fogo?
Não respondi, focado em terminar. Quando terminei com Kauã, passei para Pedro, repetindo o processo. A cada segundo, a magia consumia mais energia, mas eu não podia parar.
Finalmente, quando ambos estavam estabilizados, soltei um suspiro de alívio e caí de joelhos, exausto.
Ed olhou para mim com uma mistura de admiração e confusão.
— Jon... eu não sabia que era possível usar fogo para curar.
— Nem tudo precisa ser destrutivo.
Minha voz saiu rouca, quase um sussurro.
— Às vezes, o fogo pode ser uma força de vida.
Taylor cruzou os braços, me observando com atenção.
— Você sempre guarda esses truques pra quando estamos quase morrendo?
Ignorei o tom provocador, mas senti o peso das palavras dele. Eu havia me exposto. Só esperava que não se tornasse mais um problema no futuro.
Depois de estabilizá-los, ajudamos Pedro e Kauã a se levantarem, embora ainda estivessem fracos. Criei um suporte de ar para carregá-los enquanto seguíamos para fora da sala, passamos por uma ponte de puro ar, que conectava com outra enorme porta. A saída do domínio do vento era tão grandiosa quanto a entrada, mas carregava um alívio diferente. O ambiente começou a mudar gradualmente o ar denso e cortante deu lugar a uma brisa fresca e calmante. Quando finalmente cruzamos a saída, fomos recebidos por um espaço seguro, um santuário temporário.
Era um campo verdejante, com árvores ao redor e um riacho que corria serenamente ao fundo. O contraste com a intensidade da sala anterior era quase surreal.
— Vamos descansar aqui.
Minha voz era firme, mas baixa. Todos precisávamos de tempo para nos recuperar antes de enfrentarmos o próximo desafio.
Ed se sentou ao lado do riacho, lavando o rosto e olhando para o horizonte. Taylor permaneceu em silêncio, mas seus olhos me seguiam com curiosidade.
Eu me afastei um pouco, tentando processar tudo. O teste do vento havia revelado mais do que apenas minhas habilidades. Ele havia mostrado o quão vulneráveis éramos, o quanto ainda precisávamos crescer. E, mais do que isso, ele reforçou o que eu já sabia: carregar segredos era perigoso, mas às vezes, necessário.
Enquanto olhava para o grupo, senti uma determinação renovada. Não importava o que viesse a seguir eu precisava estar preparado. Para evitar mortes desnecessárias. Para mim ficar mais forte. E para o que nos aguardava no fim dessas salas.
***
Antes de avançarmos para o terceiro desafio, Kauã e Taylor finalmente recuperaram a consciência. Eles acordaram assustados, seus olhos arregalados como se ainda enfrentassem os pesadelos da última sala. O medo parecia ter se enraizado neles, e suas expressões refletiam cansaço extremo, quase como se o próprio ar ao redor fosse pesado demais para suportar. Apesar disso, estavam vivos – o que já era mais do que eu esperava.
Enquanto eles se recuperavam, Ed e Taylor mantinham um comportamento peculiar. Seus olhares pousavam em mim com uma frequência desconfortável, como se estivessem tentando decifrar algo. Talvez fosse só desconfiança mútua, mas a ideia de que poderiam estar coletando informações para o Conselho não saía da minha cabeça. Desde o início, mal vi a extensão do poder deles. A única exceção foi Taylor, que me ajudou a sustentar a barreira, mas até isso agora me parece calculado.
Quanto a Kauã e Pedro, minha confiança neles ainda é frágil. Morgana me alertou sobre intenções ocultas, mas, até agora, eles não deram motivos concretos para que eu duvidasse mais do que já duvido de todos. Talvez, por isso, o benefício da dúvida seja a única coisa que posso oferecer – e ainda assim, com cautela.
Mas então veio a mudança. Começou como um gotejar discreto, quase imperceptível. Pingos ecoando nas poças de sangue e suor que ainda manchavam o chão. Olhei para baixo, e a sola das minhas botas já estava submersa por uma fina camada de água. O ar ficou mais úmido, pesado, e uma brisa gelada começou a passar por nós, carregando o cheiro salgado de um oceano distante.
— Jon... a água está subindo.
Ed disse, quebrando o silêncio.
Sua voz era baixa, mas carregada de urgência. Eu já sentia a pressão no ambiente, mas as palavras dele tornaram tudo mais real.
Olhei ao redor, e o que antes era um espaço sólido e seguro começou a se transformar. As paredes pareciam derreter em um brilho líquido, como se a própria sala estivesse cedendo ao elemento. As árvores ao redor começaram a desaparecer lentamente, se dissolvendo como névoa ao vento.
— Pedro... consegue sentir isso?
Perguntei, virando-me para ele.
Ele estava sentado, os olhos semicerrados, as mãos tremendo enquanto seguravam os próprios joelhos. Ele parecia pálido, vulnerável. Mas, quando ouviu minha pergunta, ergueu o olhar lentamente, com uma expressão que misturava exaustão e algo mais profundo talvez medo.
— Sim... É como se a água estivesse... viva.
Ele murmurou.
A correnteza começou a ganhar força, cobrindo nossos tornozelos e subindo rápido. Eu me aproximei de Pedro, percebendo que ele estava tentando controlar o fluxo. Seus dedos gesticulavam com dificuldade, mas o esforço parecia inútil.
— Não está respondendo a mim.
Ele disse, apertando os dentes.
Ed estava ao lado dele, tentando mantê-lo de pé, mas a água já subia até a altura das canelas. A pressão aumentava a cada segundo.
Era um aviso. Ou melhor, um chamado. A próxima sala não estava esperando nossa decisão. Ela nos convocava. Qualquer hesitação seria engolida pela crescente onda de água que agora ameaçava tomar tudo. Não importava o que viria a seguir; o que importava era que não estávamos prontos.
Eu tinha que tomar uma decisão rápida. Dois de nossos companheiros ainda estavam fracos, e essa urgência só tornava tudo mais difícil. Se o desafio for iniciado agora, precisarei carregar mais do que meu próprio peso. E o pior de tudo: preciso continuar escondendo minhas habilidades. Não posso me arriscar a mostrar o que realmente sou capaz de fazer não diante deles.
A água continuava a subir, agora até os nossos joelhos, e eu podia sentir o frio invadindo cada centímetro do meu corpo. Era como se o tempo tivesse desacelerado, mas a água não parava de subir. Ela parecia impiedosa, como se tivesse uma intenção própria. Estava nos engolindo. Cada respiração minha ficava mais difícil. Olhei para Pedro novamente. Ele estava lutando para manter a calma, mas não conseguia mais manter o controle sobre a água. Seus olhos estavam perdidos, como se ele estivesse lutando contra uma força maior.
— Eu não consigo... Não consigo controlar
Pedro murmurou, a voz trêmula. O pânico estava se espalhando entre os outros, e eu podia sentir isso. Ed e Taylor, que não eram de demonstrar medo, estavam visivelmente desconfortáveis. A água não era algo com o qual eles estavam acostumados a lidar da mesma maneira que Pedro.
Kauã também estava tentando manter sua compostura, mas sua testa estava suada, e ele olhava rapidamente ao redor, em busca de algo. Qualquer coisa que nos ajudasse. Mas nada. Só o som da água subindo, engolindo cada canto da sala.
Eu sabia que não podia usar minha magia de fogo. E com a água se espalhando tão rápido, ar não ajudaria em nada. A única esperança era Pedro. Ele tinha o domínio sobre a água, e se alguém podia reverter isso, seria ele. Mas, pelo visto, ele estava à beira de perder o controle.
Eu me aproximei dele, tentando não demonstrar o pânico que se formava no fundo da minha mente.
— Pedro, você tem que tentar de novo. Você é o único que pode parar isso. Tente controlar a água. Não a deixe te dominar.
Pedro virou lentamente o olhar para mim. Ele parecia... derrotado.
— Eu tentei, Jon. Não é só... não é só a água. Tem algo mais aqui. Algo... maior.
Eu franzi a testa.
— O que você quer dizer com 'algo maior'?
Antes que Pedro pudesse responder, a água ao nosso redor começou a se agitar, como se tivesse vontade própria. Não era mais apenas uma inundação. Agora, ela se movia com precisão, como se estivesse sendo controlada por uma força invisível. O som da água se movendo era ameaçador, e uma sensação de pressão surgiu, apertando nossos peitos.
Então, eu percebi. Algo estava manipulando a água de forma estratégica, como se estivesse testando nossos limites. Não era só uma sala sendo inundada. Estávamos dentro de um desafio maior, e a água não estava ali apenas para nos afogar. Era parte do teste.
Suas mãos estavam tremendo, e o controle sobre o elemento se tornava cada vez mais difícil. A pressão da água era quase insuportável para ele. A situação estava ficando crítica, e eu sabia que ele estava prestes a ceder.
Olhei para ele, percebendo o cansaço em seus olhos, o peso da responsabilidade. O que ele não sabia era que, apesar de estar à beira do colapso, ele tinha algo dentro de si uma força que, se fosse dada o suporte certo, poderia ajudá-lo a superar isso.
Eu não podia usar minha magia de fogo, isso seria arriscado. Mas... havia outra maneira. Uma maneira mais silenciosa. Algo que ninguém poderia perceber, mas que poderia fazer toda a diferença.
Senti o calor se acumulando em meu peito, como se meu próprio coração batesse mais forte, mais rápido. Eu não precisei pensar muito. Me concentrei em Pedro, sentindo sua energia, suas forças esgotadas. Com um movimento quase imperceptível, comecei a transferir parte da minha energia vital para ele. Assim como Richard fez com o monstro...
Era algo simples, mas poderoso. Não um feitiço visível, mas uma conexão silenciosa. Uma troca. Eu senti minha energia fluir para ele, suavemente, quase como um impulso silencioso, uma corrente invisível. Pedro não perceberia o que acontecia, mas logo sentiria o efeito.
Ele respirou fundo, como se uma nova força o invadisse. A água ao seu redor parecia mais fácil de controlar. A pressão que antes parecia esmagadora agora era algo que ele conseguia canalizar e direcionar com mais precisão. Ele começou a se mover de maneira mais firme, suas mãos agora dominando as correntes de água com um controle renovado.
— Eu... eu consegui...
Pedro murmurou, a surpresa em sua voz acompanhada de um alívio profundo. Ele parecia ter encontrado o equilíbrio, e a água ao seu redor começou a fluir calmamente, sem resistência.
Os outros olharam para ele, visivelmente aliviados. Kauã e Taylor pareciam ainda um pouco tensos, mas já estavam começando a relaxar. Ed, por sua vez, deu um leve sorriso de aprovação.
Eu apenas assenti com a cabeça, sem dizer nada. Eles não sabiam o que tinha acontecido. Não sabiam que eu, de forma silenciosa, havia amplificado suas forças ao transferir minha energia vital para ele. Era uma habilidade que eu acabei de adquirir apenas vendo Richard, uma maneira de ajudá-los sem revelar demais sobre o que eu realmente era capaz. E até onde eu poderia evoluir?
— Bom trabalho, Pedro.
Ed comentou, como se ele tivesse superado um grande obstáculo por conta própria.
Antes que pudéssemos respirar aliviados, algo mudou. A água, que Pedro finalmente conseguira controlar, começou a desaparecer. Primeiro, parecia apenas um refluxo natural, mas em seguida tornou-se uma retirada abrupta, quase como se fosse sugada para um ponto específico.
— O que está acontecendo agora?
Ed perguntou, sua voz carregada de inquietação.
Não houve tempo para responder. Do chão abaixo, a água explodiu com uma força violenta, como se tivesse sido comprimida até o limite. Foi um ataque direto, uma onda poderosa que subiu até o teto, envolvendo-nos completamente. Em segundos, toda a sala estava submersa. Não havia espaço para respirar, apenas o peso esmagador da água e a sensação sufocante de estar sendo consumido por ela...
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