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Cap. 38 - Encontro noturno

Quando abro os olhos, o quarto está mergulhado numa penumbra suave, a luz da lua escorrendo pela janela. O silêncio é quebrado pelo som oco da minha barriga reclamando. Levanto devagar, a cabeça ainda pesada. Decido ir ao refeitório.

Enquanto como, mal sinto o sabor do alimento; minha mente está em outro lugar. Não treinei com o vice capitão hoje. Algo nele ainda me incomoda. Confiança, essa palavra soa tão distante, mas agora não importa. O mais urgente é descobrir o que Cristina realmente sabe.

De volta ao quarto, sento na cama. As tábuas do assoalho rangem sob meus pés descalços. Fecho os olhos e deixo a imagem de Cristina se formar em minha mente. Seu rosto, moldado com algumas rugas, parece jovem à primeira vista, mas sei que essa aparência esconde séculos de segredos. Ela tem mais de cem anos.

Respiro fundo. A mente divaga até o que vou dizer, cada palavra ecoando no silêncio.

— Cristina, Cristina, Cristina, Cristina, Cristina, Cristina, Cristina...

Repito seu nome como um feitiço. Quando digo pela última vez, um frio cortante atravessa o quarto. Minha pele arrepia. E então, ela aparece.

Cristina. Surgida como uma sombra entre as sombras. O vestido negro desliza até o chão, denso como a escuridão. Seus cabelos brancos caem em cachos delicados, e os olhos, de um azul intenso, parecem ver mais do que a realidade. Ela sorri, quebrando o silêncio com uma voz que reverbera no ar.

— Não pensei que me chamaria tão cedo.

— Trouxe o que pedi?

Minhas palavras saem diretas, sem hesitação. Não há espaço para rodeios.

Ela estala os dedos. Três livros aparecem, empilhados no ar, flutuando suavemente até o criado-mudo ao meu lado.

— Claro. 

Sua voz é tão leve quanto o gesto.

— Obrigado.

— Sem problemas. 

Ela inclina a cabeça, os olhos me sondando.

— Mas você não me chamou apenas por isso, chamou?

O sorriso malicioso dela deixa claro que já sabe a resposta.

— Quero saber o que você realmente sabe. Podemos falar aqui?

Minha voz sai baixa, carregada de desconfiança.

— Já ergui um feitiço de barreira assim que cheguei. Aqui, ninguém vai ouvir nada além do silêncio.

Ela diz isso como se fosse algo simples, mas sei que não é.

— Impressionante... Depois me ensina esse truque.

— Será um prazer, Jon. 

Ela solta uma risada contida.

— Aliás, olá Kajidova. Tenho visto que tem sido útil para o Jon.

O sorriso de Cristina se alarga, quase vitorioso.

Kajidova... Ele a conheceu mesmo. Isso confirma.

— Você o conheceu, então.

Cristina acena, os olhos fixos nos meus.

— Sim, trabalhamos juntos por um bom tempo.

O nome dele fica reverberando na minha mente, mas há algo mais urgente a perguntar.

— Como você sabia aquela frase? "Tudo vem de onde menos se espera."

Minhas mãos apertam a colcha, e minha voz me trai com um toque de insegurança.

— O tempo é meu aliado, Jon. Posso atravessá-lo à minha vontade. Eu ouvi essa frase, porque ela foi dita antes, será dita depois... Passado, presente e futuro, para mim, são uma coisa só.

Suas palavras flutuam no ar, e minha cabeça tenta absorver o que ela disse. Ela fala sobre o tempo como se fosse um mero detalhe. Tento processar, mas não faz sentido ainda.

— Então, você pode ver o passado... e o futuro? 

Pergunto, a dúvida estampada na voz.

— Sim, posso ver. Mas há um limite. Não posso interferir diretamente, Jon. Só posso te mostrar o caminho. A decisão, no fim, sempre será sua.

Ela se aproxima e se senta ao meu lado, os olhos me observando com paciência, como se aguardasse uma escolha.

— Então... Você sabe quem matou minha mãe? Quem foi o mandante?

As palavras saem rápido, cheias de urgência e dor.

— Mais do que te dizer, eu posso te mostrar. Para entender o presente, você precisa conhecer o passado. Os capitães farão de tudo para manter o poder, Jon. Você quer realmente saber a verdade?

Ela fala com uma calma quase perturbadora, como se o conhecimento fosse um fardo pesado que eu estava prestes a carregar.

— Sim. 

Minha voz firme quebra a tensão no ar.

— Faça o que precisa fazer.

Cristina se levanta, e o ar no quarto muda de novo. Sua voz, enquanto fala uma língua que não reconheço, parece dobrar o espaço ao nosso redor. Uma linha fina surge no centro do quarto, expandindo-se em um portal irregular.

— Vamos sair daqui. A barreira limita as magias que posso usar. 

Ela gesticula para o portal, explicando como se estivéssemos discutindo algo trivial.

— Vamos ser pegos. 

Lembro-me do aviso de August.

— A barreira impede teletransporte.

Cristina ri suavemente, um som que parece ecoar.

— Travessia sim, portais não. Além disso, estamos lidando com o espaço tempo, algo que ninguém aqui é capaz de rastrear. Você vem ou não?

Sinto um aperto no peito. A voz de Kajidova soa dentro da minha mente, sua presença sempre cautelosa.

"Tem certeza disso, Jon? Ainda não sabemos as verdadeiras intenções dela."

Cristina, com um sorriso provocador, parece ouvir cada palavra.

— Se tentar descobrir por conta própria, será tarde demais. Eles já estão se movendo.

Ela pausa, seus olhos azuis prendem os meus, desafiando-me.

— Quero destruir o Conselho que se tornou corrupto e sedento por poder, e montar algo novo, algo justo, como Richard desejava, algo para proteger quem precisa de proteção. Ele fundou a ordem para proteger, não para trazer caos. Eles querem usar você, Jon. Para desencadear caos na terra.

A menção a Richard me faz hesitar. Quantos anos ela realmente tem? E se... ela estiver dizendo a verdade? Mas posso confiar?

— Você conheceu Richard?

— Sim, e posso te contar tudo, mas não aqui. 

Sua voz está mais tensa agora.

— A fenda não vai durar muito.

Me levanto, decidido.

— Vamos.

Dou o passo à frente, hesitante, mas determinado. Estendo minha mão, e Cristina segura firme, guiando-me através da fenda. Tudo ao redor se distorce, e o campo vasto e silencioso nos envolve, a lua e as estrelas brilhando acima, como se anos tivessem passado, mas ao mesmo tempo apenas um instante. 

O ar era diferente ali. Uma brisa suave soprava, mas trazia consigo um cheiro estranho, uma mistura de terra úmida e algo antigo, quase esquecido. O campo parecia se estender infinitamente em todas as direções. Ao longe, colinas cobertas por névoa se erguiam como sombras espreitando, observando silenciosamente, como se fossem testemunhas de algo imutável.

Cristina estava ao meu lado, olhando para o horizonte. Seu vestido preto balançava levemente ao vento, enquanto sua expressão permanecia serena, quase indiferente ao que nos cercava. Ela parecia à vontade naquele lugar, como se fosse parte dele. Já eu, sentia algo corroendo por dentro, uma inquietação crescente.

— Onde estamos exatamente? 

Perguntei, a voz saindo baixa, quase como um sussurro.

— Este é o espaço entre o tempo. 

Cristina respondeu, sem desviar os olhos das colinas à distância. 

— Aqui, o tempo não segue as mesmas regras que no seu mundo. Vamos observar eventos que já aconteceram... 

Meu coração acelerou. Sabia o que ela estava prestes a mostrar. A chance de ver com meus próprios olhos o que eu sempre soube em fragmentos. De finalmente encarar a verdade. Minha verdade. Cristina estendeu a mão, e quando toquei sua palma, senti uma força invisível puxar minha mente para longe. O campo ao nosso redor começou a se dissolver, as estrelas e a lua desaparecendo, e em seu lugar, uma cena começou a se formar. Estávamos flutuando agora sobre uma sala grande e escura, iluminada apenas por tochas. O ar cheirava a fumaça e algo mais... algo velho, ancestral. Reconheci imediatamente. Era o salão do Conselho, a câmara onde os capitães se reuniam...

No centro da sala, estava um homem desconhecido, curvado, submisso, diante de uma figura encapuzada sentada na cadeira mais alta que todas as outras. 

— Esse é o início da conspiração. 

Disse Cristina, sua voz reverberando na minha mente.

— Observe bem.

O encapuzado inclinou-se para perto do homem curvado, murmurando algo que não consegui ouvir, mas a expressão dele mudou rapidamente de confusão para terror, como se o futuro estivesse sendo revelado diante de seus olhos.

— Eles sabiam que a criança da profecia nasceu, sabiam que você havia nascido. 

A voz de Cristina ecoava dentro de mim.

— Quando a enorme quantidade de energia foi liberada naquela noite, eles perceberam. Ficaram de olho em você desde então, mas não apenas para protegê-lo.

A profecia... Eu sabia, sempre soube. Mas nunca soube o quão cedo eles começaram a me caçar. Lembrei-me das palavras que o Ancião me disse: 

"Uma criança nascerá do sétimo filho de cada família. Essa criança virá para salvar ou destruir o mundo, mas saibam, ninguém ficará impune quando a criança da profecia nascer. Entretanto, ele deve ser muito bem instruído para não se desvirar do caminho da luz."

Meu corpo estremeceu de raiva. Minha mãe... Ela foi o primeiro sacrifício. Usaram meu pai, a pessoa que mais amava, como uma peça no jogo. A dor era sufocante, a fúria, corrosiva.

Cristina virou-se levemente para mim, como se soubesse exatamente o que eu sentia.

— Eles precisavam acelerar sua evolução, Jon. Sua mãe foi morta por isso. Disseram que era necessário para ativar um poder maior, mas a verdade é que o verdadeiro objetivo sempre foi você, sempre foi te levar para o caminho das sombras.

Minha respiração acelerou. Cada palavra dela parecia apertar um laço ao redor do meu peito. Toda a minha vida, todas as tragédias... Nada foi um acidente. Eles manipularam tudo.

— Isso foi apenas o começo. 

Cristina continuou, os olhos fixos na cena diante de nós.

— O Conselho busca desencadear algo muito mais sombrio. Algo que está diretamente ligado aos seus poderes... Você já deve saber que a magia é alimentada por emoções, e existe emoções mais fortes que as outras, e eles desencadearam ela em você Jon, essa ira que você sente... Era o que eles queriam, deixar sua magia o mais forte possível. 

De repente, a imagem mudou. O salão agora estava mais cheio. Reconheci alguns rostos que me eram familiares: James, Juliette, Cardan, Humberto, o Ancião, Eris, Damon, Cristian, August. Todos fazem parte da mesma conspiração. Eles discutiam com veemência, traçando planos, falando de um ritual. Meu nome ecoava entre eles como uma sombra. Falavam de mim como se eu fosse apenas uma ferramenta.

— Eles precisam do seu sacrifício.

Cristina explicou.

— Para despertar forças que lhes foram negadas há muito tempo. Magias proibidas que poucos tem acesso. E você é a chave para isso... 

Eles querem acesso ao conhecimento de Richard, que no momento sou o único que possui. Senti o gosto amargo da traição. Eu, que desde pequeno acreditei que era parte de algo maior, um herói destinado a salvar o mundo, agora sabia a verdade. Eu era apenas um peão. Meu destino havia sido selado muito antes de eu sequer entender o que era ser um escolhido.

— Agora você entende o que está em jogo. 

Cristina falou suavemente, a intensidade de suas palavras me puxando de volta para a realidade.

— Eles querem usar seu poder, Jon. Matar você, como fizeram com sua mãe.

Eu me virei para ela, com uma expressão dura.

— E qual é a minha escolha?

Ela me encarou profundamente, seus olhos escuros pareciam enxergar através de mim, como se cada linha do meu destino estivesse ali, nas profundezas de sua mente.

— Ou você aceita o que eles planejaram para você... ou nos unimos para destruir o Conselho e libertar o verdadeiro legado que Richard queria deixar. O destino da Ordem está em suas mãos.

Minhas mãos tremiam, o peso do que estava diante de mim começava a se acomodar nos meus ombros. O Conselho, minha família, meu poder. Tudo estava interligado, uma teia de mentiras e manipulação. Mas agora... eu tinha uma escolha. Não havia mais volta.

O campo começou a ressurgir ao nosso redor, o cheiro de terra úmida retornando. A luz das estrelas se espalhava pelo céu. O frio da noite agora parecia mais cortante, uma lembrança amarga do caminho que eu tinha à frente.

— O tempo está se esgotando. 

Cristina disse, sua voz firme, mas calma.

— O que vai fazer, Jon?

Eu inspirei fundo, sentindo o ar frio entrar em meus pulmões, limpando a mente. Olhei para Cristina e falei, com uma determinação que nunca havia sentido antes.

— O Conselho vai pagar por tudo isso. Eu não vou ser a ferramenta deles. Vou destruí-los. Cada um deles.

Cristina esboçou um pequeno sorriso, um que trazia tanto aprovação quanto uma sombra de expectativa.

— Então está decidido.

As estrelas acima pareciam brilhar mais intensamente, como se o próprio universo soubesse que algo havia mudado. Não havia mais volta agora. O jogo havia começado... e eu estava pronto.

— Quanto tempo temos antes que eles tentem me matar? 

A pergunta saiu mais afiada do que eu pretendia, o peso da dúvida comprimindo meu peito.

Cristina sorriu, aquele sorriso enigmático que parecia saber mais do que deveria. Ela virou-se lentamente, a expressão controlada, como se aquilo não fosse mais do que um jogo para ela.

— Pouco tempo. 

Disse ela, cada palavra cuidadosamente medida.

— Vão esperar até você ficar forte o suficiente para que possam tomar seus poderes.

Sua voz soou calma demais para o assunto.

— Mas há uma maneira de ganhar tempo. Finja que está com dificuldades para dominar sua magia. Deixe que acreditem que você ainda não está pronto. Quando eles perceberem, será tarde demais.

Ela sorria como se o plano fosse óbvio, quase infantil. Sua tranquilidade me irritava, mas também me forçava a pensar em todas as possibilidades que eu não tinha considerado. Meus olhos encontraram os dela, buscando uma resposta que talvez já estivesse ali, escondida.

— E as pessoas que não estavam na visão? 

Perguntei, hesitante.

— Elas fazem parte desse plano?

Cristina ergueu uma sobrancelha, sua expressão mudando para algo que parecia mais... interessado.

— Você fala de Morgana, Noah, Gustavo e Elisa, a alquimista? 

Sua voz carregava um tom de familiaridade.

— Acredito que não. Eles não faziam parte do Conselho quando você nasceu. 

Ela inclinou a cabeça, como se quisesse observar minha reação mais de perto.

— Mas eu tomaria cuidado, Jon. Às vezes, a traição vem de onde menos se espera.

As palavras dela cravaram-se fundo em mim. Podia confiar neles? Ou estava destinado a ser traído por todos? As dúvidas formavam um nó apertado no fundo do estômago.

— Se não tiver mais nenhuma dúvida, quero te mostrar algo mais. O que acontecerá se você morrer... e seu poder cair nas mãos deles.

Antes que eu pudesse responder, Cristina estendeu a mão para mim. Relutante, segurei-a novamente. O mundo ao nosso redor ondulou, distorcendo-se como uma miragem antes de desaparecer completamente. Em um piscar de olhos, estávamos pairando sobre minha cidade, agora irreconhecível.

O céu estava tingido de um vermelho denso, quase pulsante. O que antes era um lugar familiar agora não passava de um campo de ruínas. Prédios inteiros haviam desmoronado, transformando-se em escombros espalhados por quilômetros. O ar era pesado com o cheiro de cinzas e algo mais... queimado, podre.

A cidade parecia morta.

Meu coração quase parou quando meus pés tocaram o chão daquela visão devastadora. As ruas estavam irreconhecíveis, tomadas pela destruição. Os prédios que antes abrigavam tantas vidas, agora não passavam de ruínas, escombros espalhados por todos os lados. O cheiro de fumaça e morte enchia o ar. Olhei para Cristina, tentando entender o que eu estava vendo, mas ela manteve os olhos fixos no cenário à nossa frente, séria, como se quisesse que eu absorvesse cada detalhe, cada grito silencioso de dor daquele lugar.

— Tudo isso... se eu morrer? 

Perguntei, minha voz falhando no meio das palavras. Era quase impossível de acreditar que minha própria queda poderia desencadear tamanha destruição.

— Não apenas se você morrer, Jon, mas se eles tomarem seu poder. 

Cristina respondeu, seu olhar se voltando para mim.

— O Conselho deseja poder absoluto, e com seus dons em mãos, nada os impediria de manipular a magia como bem entendessem. E este...

Ela fez um gesto em direção ao caos à nossa volta.

— É o futuro que eles criarão. Uma terra onde as regras da magia não seguem mais a ordem natural, e onde qualquer um que ousar se opor será destruído.

Senti um peso esmagador no peito. O destino do mundo, de tantas vidas, dependia de mim. Sempre ouvi falar de profecias, de heróis destinados a salvar ou destruir o mundo, mas nunca imaginei que eu seria um desses. E agora, diante desse cenário, tudo fazia sentido, a profecia fazia sentido pela primeira vez. A responsabilidade que carregava não era apenas sobre vingança ou justiça pessoal... Era muito maior do que isso.

Caminhei um pouco pela cena, o barulho de escombros quebrando sob meus pés. Pude ver rostos entre as sombras, rostos conhecidos, pessoas que uma vez faziam parte da minha vida. Famílias inteiras, destruídas.

— O que eu devo fazer, então? 

Perguntei, quase desesperado.

— Como eu posso parar isso?

Cristina se aproximou, colocando a mão no meu ombro. Seu toque era firme, mas não reconfortante.

— Você precisa ser inteligente, Jon. Precisa ganhar tempo, como eu disse. Enganá-los, fingir fraqueza enquanto se fortalece em segredo. O Conselho subestima seu verdadeiro potencial. Use isso contra eles.

Minha mente corria, processando cada palavra. A tentação de simplesmente confrontar todos de uma vez era grande, mas sabia que isso só levaria ao meu fim e à catástrofe que se desenrolava diante de meus olhos.

— E sobre os outros? Morgana, Noah, Gustavo, Elisa... posso confiar neles? 

Perguntei, mais uma vez para Cristina.

— Como eu te disse antes. Confiança é uma moeda perigosa em tempos como este, Jon. 

Disse ela, com uma voz calma, mas afiada.

— Não posso te dar essa resposta. Só você pode decidir quem merece sua confiança. Mas lembre-se, até mesmo aqueles que não estavam diretamente envolvidos podem ser usados como peões pelo Conselho. Ninguém está completamente livre de manipulação.

Olhei novamente para a destruição ao redor, tentando imaginar cada movimento que deveria fazer daqui para frente. Se houvesse uma forma de evitar esse futuro, teria que encontrá-la rápido. Meus olhos voltaram para Cristina, buscando uma última orientação.

— E se eu falhar? 

Perguntei, minha voz soando mais como um suspiro de medo do que uma pergunta real.

Ela hesitou por um momento antes de responder.

— Então o mundo como você conhece desaparecerá.

As palavras soaram duras, mais sinceras. Tudo dependia de mim!

A cena de destruição começou a desaparecer aos poucos. O campo começou a ressurgir ao nosso redor, o cheiro de terra úmida retornando. A luz das estrelas se espalhava pelo céu. O frio da noite agora parecia mais cortante, uma lembrança amarga do caminho que eu tinha à frente.

[...]

— Antes de me levar para o meu quarto, podemos fazer uma última parada? Quero me despedir de uns amigos antes de salvar o mundo.

Quebro o silêncio, minha voz soando mais leve do que o peso que carrego por dentro.

Cristina me olha com seus olhos atentos, analisando cada palavra como se já soubesse o que viria a seguir. Depois de um breve instante, ela assente.

— Tudo bem. Estamos longe da Academia, você pode atravessar até lá. Vou com você.

Ela acrescenta, dando um passo mais perto.

— Afinal, sou a única que pode te levar para dentro da Academia de Magia sem ser notado.

Seu tom é firme, mas há uma cumplicidade implícita que me faz relaxar um pouco. Assinto em concordância, e ela apoia uma mão leve no meu ombro. Fecho os olhos, tentando capturar cada detalhe do meu quarto, a textura das paredes, a posição dos móveis. Preciso estar presente em cada aspecto. Um instante depois, sinto o familiar estalo de deslocamento, e quando abro os olhos, estamos lá. O silêncio é absoluto.

Cristina permanece ao meu lado, observando tudo com curiosidade, enquanto sigo em direção à sala, meus passos ecoando nos pisos de madeira. Ela me acompanha, sem dizer uma palavra, seus olhos dançando por cada detalhe do ambiente.

— Impressionante.

Ela finalmente diz, quebrando o silêncio.

— Seu pai parece ter bastante dinheiro.

Seu comentário ressoa no vazio da sala. Dou um meio sorriso, tentando afastar o peso da situação.

— Pelo menos isso... Imagina, sua vida ser um caos constante e você ainda ser pobre.

Brinco, tentando aliviar a tensão, mas meu riso é abafado. Ela solta uma risada contida, um tanto forçada, como se não soubesse exatamente como reagir.

— Espere um pouco aqui. 

Digo, movendo-me em direção ao corredor.

— Acho que deixei meu celular no quarto.

Cristina assente, mas antes de caminhar como qualquer pessoa faria, fecho os olhos por um instante. Visualizo o ambiente que quero estar, o quarto, o criado-mudo ao lado da cama, e em uma fração de segundos, sinto o familiar deslocamento. Quando abro os olhos, já estou lá, o quarto silencioso e iluminado apenas pelo brilho suave da lua entrando pelas frestas da cortina.

Me aproximo do criado-mudo e encontro o celular. Ao ligá-lo, uma enxurrada de notificações aparece. Dezenas de chamadas perdidas de Isis, algumas de Júlio e até mesmo do senhor Pearson. Um suspiro escapa antes que eu perceba. Eles estão preocupados, claro. Ultimamente, desaparecer sem avisar parece ter se tornado meu novo hobbie.

Sem pensar muito, retorno a ligação de Isis e começo a descer, refazendo o caminho pela casa. Cada passo ecoa no vazio que parece maior agora. Não consigo evitar pensar o quanto essa casa era diferente quando minha mãe estava viva aqui comigo... O som da risada dela preenchia os cômodos, os momentos compartilhados faziam tudo parecer mais leve, mesmo quando o mundo lá fora estava desmoronando. Agora, tudo parece mais frio. Mais solitário.

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