Cap. 32 - Prisão Infernal da Morte
"Impressionante, Jon. Combinar os elementos assim... Você vai ser muito útil para nós. Nosso trunfo". As palavras ecoavam na minha mente, me deixando intrigado.
— Do que está falando?
Perguntei, minha voz carregada de desconfiança.
— Você não disse que era para escolher entre lutar ou falar? E aqui está você, todo falante.
Ele zombou novamente, seu tom casual demais para a gravidade da situação.
— Do que está falando?
Repeti, meu coração batendo mais forte.
— Não vem ao caso agora, Jon. Vamos continuar?
De repente, duas figuras emergiram das chamas ao redor de James. No início, eram apenas sombras em brasa, mas logo tomaram forma, clones exatos de James. Eles se moveram como um só, me cercando em uma dança de chamas e velocidade. Eu não sabia qual era o verdadeiro.
Criei mais lâminas de ar e as lancei contra eles, mas os três desviaram com facilidade. James riu com aquele sorriso torto.
— Prisão infernal da morte!
Sua voz estava cheia de malícia, quase uma melodia cruel.
Os clones ergueram as mãos, e rajadas de fogo se cruzaram, formando um triângulo ao meu redor. As paredes de chamas começaram a se fechar, e antes que eu pudesse reagir, grades de fogo se ergueram, prendendo-me no centro daquela prisão ardente.
Flechas flamejantes dispararam das paredes. Tentei desviar, mas havia muitas. Minha barreira de ar imbuída com fogo não foi suficiente. Uma flecha atravessou, atingindo meu abdômen. A dor foi excruciante, queimando como uma brasa viva. Soltei um grito involuntário, a dor me dominando por completo.
Olhei ao redor, com dificuldade, e vi que um dos clones havia desaparecido.
— Que merda está acontecendo? Ele quer me matar agora? Eles não precisavam de mim vivo? Alguém avisa esse idiota que me matando ele não vai conseguir minha ajuda!
Sem perceber, gritei meus pensamentos em voz alta. A gargalhada de James ecoou dentro da prisão em chamas.
— Não quero te matar, Jon. Estamos nos divertindo. Tente não morrer!
Diversas flechas dispararam novamente, e usei uma explosão de ar denso para ricocheteá-las. A maioria foi repelida, mas uma delas, mais rápida, atravessou minha defesa e cravou-se na minha coxa. A dor foi tão intensa quanto antes, arrancando outro grito dos meus lábios.
A risada de James se intensificou, enquanto o segundo clone desaparecia. Agora restava apenas o verdadeiro. Algo fez clic na minha mente.
Toda vez que uso magia para me defender, e algo me acerta, um clone lá fora desaparece. Será que essa magia garante acerto garantido, nesse caso, isso seria o fim se não fosse um treinamento... Pelo menos eu acho que seja treinamento, ele mesmo disse que não me mataria. Mas de todas as formas ele está em outro nível mesmo, nem mesmo com minha magia atual eu sou palio para ele.
Penso tentando entender como essa magia de "prisão infernal da morte" funciona.
E mais uma vez, as flechas em chamas são disparadas em minha direção. Lanço uma explosão de ar denso, seguida por uma barreira de ar imbuída em fogo, para testar minha teoria. Como eu esperava, as outras flechas foram ricocheteadas, exceto uma. Sem tempo para desviar, a flecha transforma-se em James no ultimo segundo que me atinge em cheio com seu punho incandescente no meu peito, arremessando-me contra a parede. A magia de prisão se desfaz, e volto para a arena. Sem forças para invocar uma corrente de ar, atinjo a parede de concreto com força. Sinto minhas pálpebras pesarem, lutando para ficar acordado. Senti a dor irradiar por todo o corpo quando bati contra o concreto. Meu corpo já não respondia. Sem forças, minhas pálpebras pesaram e a escuridão começou a me engolir.
Essa luta com um capitão, deixou claro que ainda sou fraco, e que preciso aproveitar esse lugar para evoluir o mais rápido possível e fazer os responsáveis pagarem quando eu for forte o suficiente. Afinal se eu perdi para um capitão, eu provavelmente morreria enfrentado todos eles.
Então vejo Bia próxima a mim, dizendo:
— Vai ficar tudo bem, não mo...
A escuridão é densa e sufocante. Sinto o peso do cansaço dominando meu corpo. Minha mente vagueia entre o que aconteceu e a realidade do agora, como se eu estivesse flutuando em um vazio interminável. Fragmentos de memória vêm e vão: a dor das flechas, o soco incandescente de James, a prisão de fogo. Tudo parece distante e ao mesmo tempo tão próximo.
Minhas pálpebras pesam, mas as palavras de Bia ecoam na minha mente, como uma âncora para a consciência. "Vai ficar tudo bem, não mo..." As palavras ficam incompletas, e me pergunto o que ela estava prestes a dizer. O medo de morrer? Ou algo mais?
O pensamento de morrer me agita. Ainda não. Não posso simplesmente apagar agora, com tanto ainda por fazer. Eu tenho um propósito, uma missão. Preciso me tornar mais forte. Preciso fazer aqueles que me traíram pagar. Isso é tudo que consigo pensar enquanto luto para me manter consciente.
Me pergunto o que James quis dizer sobre ser um "trunfo" para eles. Claramente, ele não quis me matar, mas isso não muda o fato de que eu fui humilhado. A diferença de poder é assustadora, e mais uma vez, sou obrigado a encarar a realidade de que ainda sou fraco demais.
A dor ainda lateja no meu peito e na perna, mas é um lembrete de que estou vivo. E enquanto eu estiver vivo, ainda há uma chance de melhorar. Ainda há uma chance de lutar de novo. Mas agora, a escuridão toma conta, e eu me entrego ao sono, sabendo que o caminho para o poder está apenas começando.
[...]
Abro os olhos lentamente, sentindo a suavidade da maca contra meu corpo cansado. O tecido branco da tenda reflete a luz suave que se filtra pelo topo, criando uma atmosfera calma e reconfortante. Meus dedos tocam instintivamente o local onde as flechas flamejantes me perfuraram, mas tudo o que encontro é pele lisa. Nem uma marca, nem uma cicatriz. A dor, que antes era insuportável, desapareceu completamente, como se nunca tivesse existido. Solto um suspiro pesado, aliviado.
Ao meu lado, Bia está sentada em silêncio. Quando percebe que estou acordado, ela se inclina para mais perto, um sorriso de alívio suave iluminando seu rosto.
— Ainda bem que você está bem. Achei que tivesse te perdido...
Diz ela, a voz embargada de preocupação.
Sua mão desliza delicadamente pelos meus cabelos, e o toque suave acalma minha mente, como uma brisa refrescante após uma tempestade.
— Sinto muito por te preocupar... Fui fraco, falhei de novo...
Murmuro, minha voz baixa, cheia de decepção e frustração.
Bia não hesita em responder, tentando afastar meus pensamentos sombrios.
— Jon, ele era um capitão. O nível de magia deles é outro patamar... São insanos.
A sinceridade em suas palavras tenta me consolar, mas a sombra do fracasso ainda paira sobre mim.
— E eu achando que a luta contra Gray foi difícil...
Murmuro, lembrando de como havia acreditado que aquele confronto fosse o ápice de minhas dificuldades.
Bia sorri, tentando injetar um pouco de confiança em mim.
— Daqui a pouco, você vai estar forte o suficiente para derrubar esses capitães como se fosse brincadeira de criança. É só continuar treinando e evoluindo.
O sorriso dela deveria levantar meu ânimo, mas minha mente já está ocupada com outra preocupação. Hoje seria o último dia de Bia como minha guia, e a ideia de perdê-la, mesmo que por um tempo, pesa em meu peito.
— Por quanto tempo eu fiquei fora?
Pergunto, tentando entender quanto tempo havia passado desde a batalha.
— Umas quatro horas.
A resposta dela é tranquila, mas o tempo parece ter escapado por entre meus dedos.
— Já é noite, então?
Pergunto, e ela assente.
Meus pensamentos correm direto para a missão que ela estava prestes a partir. A ansiedade aperta meu peito.
— Essa missão vai demorar muito?
Minha voz sai tingida de preocupação, não consigo evitar.
— Se der tudo certo, volto em menos de uma semana. No máximo, duas.
Ela tenta me tranquilizar com um sorriso encorajador, mas isso não é suficiente para afastar o nó que se forma no meu estômago.
— Eu realmente queria ir com você...
Confesso, sabendo que não há nada que eu possa fazer para mudar isso.
— Eu sei que queria, mas dessa vez não dá, Jon. O conselho não permitiria.
O tom dela é firme, mas compreensivo.
Uma onda de ciúme passa por mim. Mesmo hesitante, não consigo evitar a pergunta:
— Quem vai com você?
— Jace, aquele que você conheceu. Sai, que domina a água, e Ed, nosso mago de cura.
A resposta vem rápida, mas isso não apazigua meu incômodo.
Ela nota minha preocupação e, com uma expressão firme, continua:
— Não precisa se preocupar, nunca falhei em uma missão, e não vai ser agora que isso vai acontecer.
A convicção nos olhos dela é sólida, e, embora relutante, acredito nela. No entanto, ela abaixa o olhar, e uma sombra de culpa cobre seu semblante.
— Desculpa por ter te levado para a ala leste... E te deixar lutar com o James. Você se machucou, por minha causa.
A dor na voz dela é palpável, e tento aliviar seu peso.
— Bia, eu quis lutar. Estava ansioso para aprender mais sobre magia. Mas agora sei que uma distração pode ser fatal... Preciso ficar mais forte.
Minhas palavras são sinceras, mas, no fundo, a sensação de culpa ainda me atormenta.
A entrada da tenda se abre, revelando James, com seu sorriso irritante de sempre. Ele caminha até nós com seu ar casual.
— Que bom que você ainda está vivo, Jon. Você é mesmo formidável.
Ele comenta, o tom provocador me incomodando.
— Não parece, já que você tentou me matar há pouco.
Retruco, apontando para onde fui atingido pelas flechas.
Ele leva a mão ao queixo, pensativo, sem perder a tranquilidade.
— Se eu quisesse te matar, você estaria morto. Peguei leve.
Ele diz, com uma tranquilidade que só aumenta minha raiva.
— Pegou leve?
Minha paciência começa a esgotar.
— Sim. Aquilo nem foi 50% da minha magia. Se tivesse usado tudo, não estaríamos conversando agora. E as flechas? Não atingiram nenhum órgão vital porque eu não quis.
Suas palavras, ditas com tanta frieza, me deixam paralisado por um momento. Se ele estiver falando a verdade, o nível dos capitães é realmente muito além do que eu posso imaginar. Isso só reforça a necessidade de me tornar mais forte, e rápido.
— Já posso sair daqui?
Pergunto, impaciente, querendo escapar dessa situação.
Bia me olha, preocupada.
— Está sentindo alguma dor?
— Nenhuma.
Respondo, ainda surpreso com a rapidez da cura.
Ela sorri, visivelmente aliviada.
De repente, um portal se abre, e Joseph, o homem que ajudou Gray, aparece do outro lado, com um sorriso caloroso.
— Oi, Jon! Que bom que você está bem.
James, com o mesmo tom provocador de antes, comenta:
— Eu disse que ele era forte, Joseph.
— Já posso ir embora?
Pergunto, virando-me para Joseph.
— Se você não está sentindo dor, pode sim. As flechas não atingiram nada vital.
Ele responde satisfeito.
— Obrigado por me ajudar.
Digo, genuinamente grato.
— Sempre que precisar.
Joseph responde, solícito.
Bia se aproxima e pede a ele:
— Joseph, pode nos levar para a Ala Norte? O quarto do Jon fica lá.
Joseph gesticula e, em instantes, outro portal se abre. Passo por ele, mas assim que o atravesso, uma dor aguda atravessa meu corpo, quase me derrubando. Bia me segura rapidamente, me ajudando a continuar.
Assim que chegamos à entrada do meu quarto, Joseph se despede com um aceno antes de desaparecer. Bia me ajuda a deitar na cama com cuidado, e enquanto ela ajeita as cobertas ao meu redor, comenta com um sorriso leve:
— Você e sua habilidade de atrair problemas...
Solto um sorriso cansado.
— Nada disso, eles é que vêm até mim.
Repito a frase que dissera para Eduardo, arrancando um sorriso dela.
— Fica aí, vou buscar algo para você comer.
Ela se levanta.
— Eu consigo pegar sozinho.
Protesto.
— Não quero que esses babacas do ar te vejam assim...
Ela diz com um olhar triste.
— Sendo assim, minha ruiva, aceito.
Respondo sorrindo.
Ela sorri satisfeita e deixa o quarto, enquanto eu, exausto, deito a cabeça no travesseiro e deixo escapar um suspiro, o corpo relaxando enquanto o cansaço toma conta. Mas, mesmo assim, minha mente não desliga. Fico imaginando o que Bia vai encontrar lá fora, o que Joseph e James podem estar tramando ou conversando. Talvez sobre a batalha, talvez sobre mim.
Sorrio ao pensar no cuidado dela em me proteger, em manter os "babacas do ar" longe. A preocupação dela é genuína, e, apesar do orgulho me fazer querer ser independente, não posso negar que é bom ter alguém assim ao meu lado.
Queria ser uma mosca e ver o que aqueles dois estão comentando. Penso, abrindo os olhos por um segundo, o desejo de espiar sendo quase irresistível
"Isso é possível... Não virar uma mosca, que seria nojento! Mas é possível estar em um lugar sem seu corpo físico, é como se sua consciência saísse do seu corpo, mas é perigoso ficar fora do seu corpo por muito tempo, quer tentar?"
A voz que sempre me auxilia diz.
— Tudo bem, ancestral, o que preciso fazer?
"Na teoria é semelhante à travessia, mas ao invés de pensar no lugar, você deve visualizar a pessoa que quer encontrar e o local onde quer aparecer, mas não atravesse a porta quando ela surgir, e a magia fará o resto, por favor tente."
Me concentro no rosto dele, e no lugar onde estávamos. Fecho os olhos, e imediatamente, algo se acende dentro de mim. Sinto uma onda de calor subindo pela minha espinha, como se a memória de outra pessoa estivesse sendo despertada. O ar ao meu redor parece tremer levemente, e uma porta surge em minha mente, semelhante à que vejo na Travessia, mas dessa vez, é diferente. A porta não é apenas um caminho para outro lugar... Ela é uma conexão.
Não abro a porta, mas minha consciência já começa a se projetar para o lugar onde eles estão. A sensação é de leveza, quase como flutuar sobre o próprio corpo. Minhas pernas já não sentem o chão, meus braços parecem desaparecer, e, no lugar deles, apenas pensamentos flutuam, livres.
Quando minha mente se fixa no local, vejo a cena como se estivesse lá: ele está conversando com Joseph, o mesmo tom de voz casual de sempre, mas com uma tensão subjacente. Eu posso ouvir claramente o que dizem, ver cada movimento, mas não estou realmente lá. Estou suspenso entre o aqui e o agora, como uma sombra invisível que presencia tudo. O poder é avassalador, mas sinto uma leve pressão em minha cabeça, como se meu corpo estivesse ciente da distância crescente entre nós.
— Você poderia ter matado ele, James.
A voz de Joseph soou carregada de preocupação, seus olhos estreitos avaliando a expressão relaxada de James.
— O garoto é durão.
James rebateu, um sorriso despontando nos lábios.
— Você acredita que ele conseguiu combinar os elementos por pura intuição? O primeiro a fazer isso foi Richard, o primeiro Agente Oculto. Tenho uma sensação de que Jon pode ficar tão forte quanto ele foi.
— Mas isso não vai acontecer se você matá-lo antes da hora.
Joseph retrucou, cruzando os braços.
— Preciso te lembrar que precisamos dele para o que está por vir?
James deu de ombros, como se a ameaça que Joseph sugeria fosse irrelevante.
— Não, eu só quis testar se ele é realmente o Agente Oculto. Se eu quisesse matá-lo, ele não teria saído vivo da Prisão Infernal da Morte. Ele é o primeiro a escapar de lá.
Joseph suspirou, a tensão esvaindo-se de seus ombros.
— Sendo assim, ele vai ser de grande valia para nossa causa.
A imagem à minha frente começou a borrar, como tinta dissolvendo na água. Primeiro, as bordas ficaram distorcidas, depois as figuras se desfizeram, até sumirem completamente. Tudo o que eu via era uma névoa turva e indistinta, escorrendo para fora da minha mente. E então, em um piscar de olhos, fui puxado de volta. Minha cabeça latejava com uma dor aguda. Abri os olhos lentamente, sentindo o peso do meu corpo como se eu estivesse carregando uma armadura invisível. A sala ao meu redor parecia distante e opaca, como se parte de mim ainda estivesse presa naquele lugar onde minha consciência havia viajado.
Procurei pela minha magia, tentando sentir qualquer vestígio dela. Nada. Nenhum resquício de poder vibrando nas minhas veias, nenhuma conexão. Era como se eu tivesse sido drenado, exaurido. O ancestral havia me avisado, mas a sensação de vulnerabilidade agora era real. Estar fora do corpo por tanto tempo deixava um vazio incômodo, como se uma parte minha não tivesse voltado completamente.
Que droga, justo na melhor parte minha magia acaba.
Murmurei, ainda irritado com a exaustão mágica.
O som da maçaneta girando fez meu corpo enrijecer por um instante, mas logo relaxei ao ver Bia entrando no quarto, carregando uma bandeja repleta de comidas variadas. Seu sorriso ao se aproximar dissipou qualquer tensão restante.
— Não sabia o que você gostava, então trouxe várias opções.
Ela disse, pousando a bandeja sobre a cama.
Mudei de posição, sentando-me para observar o banquete diante de mim.
— Assim vou acabar mal acostumado.
Comentei, sentindo um sorriso involuntário se formar.
— Essa é a intenção!
Bia respondeu com um brilho divertido nos olhos.
Peguei uma torta, reconhecendo a mesma que ela havia experimentado mais cedo. Ao morder, o sabor intenso preencheu minha boca de uma forma surreal, e quase instantaneamente, senti algo diferente. Minha magia, até então adormecida, começava a despertar, fluindo aos poucos e revitalizando meu corpo.
— Essa comida mágica é inacreditável.
Comentei, saboreando cada pedaço.
— Eu te falei que você ia amar!
Ela respondeu, mordendo outra torta com um sorriso de satisfação.
Havia algo cativante em Bia. Mesmo em seus gestos mais simples, ela tinha uma naturalidade que tornava o ambiente mais leve, mais fácil de lidar.
— Sabe, quando eu puder sair daqui, quero te levar para comer um hambúrguer no meu mundo, pizza...
Falei, tentando conter a empolgação.
— Não é tão bom quanto essa comida mágica, mas acho que você vai gostar.
Ela riu suavemente, aquele som suave que eu estava começando a apreciar.
— Ia ser incrível. E tem aquele negócio que eu ouvi falar... um tal de cinematic?
Sorri, corrigindo-a:
— Cinema.
— Isso aí. Dizem que é bem interessante.
— Vamos combinar uma coisa então: você me apresenta as coisas daqui, e depois eu te mostro tudo no meu mundo. Combinado?
Ela arregalou os olhos, animada.
— Sério? Isso seria incrível, Jon!
Seu sorriso iluminou ainda mais o quarto, e eu não pude evitar sorrir de volta. Conforme comíamos em silêncio, meus olhos sempre acabavam voltando para ela. O jeito despreocupado com que Bia sorria fazia meu peito apertar de uma forma quase incontrolável. As covinhas que surgiam em seu rosto pareciam acender algo dentro de mim, como se tudo ao redor ganhasse um novo brilho, uma nova clareza.
Mas por trás de toda essa leveza, algo dentro de mim estava inquieto. O mundo ao redor parecia estar em constante movimento, com segredos, missões e responsabilidades me cercando a cada passo. E, mesmo com toda essa distração, eu não conseguia deixar de pensar no que aquele sorriso... Aquele sorriso dela, estava despertando em mim.
Bia era linda, sem dúvida, mas era mais do que isso. Ela tinha uma força que me atraía, como se estivesse sempre pronta para encarar o que viesse, sem hesitar. E, justamente por isso, o pensamento dela indo para aquela missão com outros três homens, em uma situação que podia durar dias, ou pior, semanas, me incomodava mais do que eu queria admitir. Parte de mim queria estar lá com ela, protegê-la, mas sabia que não era assim tão simples.
Eu queria passar mais tempo com ela. Queria tê-la por perto, todos os dias. Talvez por isso, a ideia de vê-la partir para algo tão perigoso me causava um nó crescente no estômago, apertando como se minhas entranhas soubessem de algo que minha mente se recusava a aceitar. O medo de perdê-la rondava meus pensamentos como uma sombra, mesmo que eu tentasse afastá-lo. E se ela não voltasse? Esse pensamento, silencioso e implacável, cravava suas garras em mim desde o momento em que soube da missão.
Meus olhos a seguiram enquanto ela ria despreocupada, brincando com uma mecha de cabelo. Bia parecia tão à vontade, tão viva, que doía pensar em uma realidade onde eu não a visse novamente.
Ela percebeu meu olhar, os olhos curiosos se estreitando um pouco, e um sorriso leve curvou seus lábios, criando aquelas covinhas que eu adorava.
— O que foi?
Sua voz quebrou o silêncio, suave como sempre, mas com aquele toque de diversão que me desarmava. Enquanto ela enrolava distraidamente uma mecha de cabelo no dedo, minha mente disparava. Eu deveria disfarçar o que estava sentindo, mas ao invés disso, a pergunta saiu sem que eu tivesse tempo de pensar.
— Você namora alguém?
A tensão no meu peito aumentou assim que as palavras escaparam. Não era o que eu pretendia dizer, mas agora era tarde demais. Meu coração batia acelerado, torcendo desesperadamente por uma resposta que pudesse aliviar a pressão interna.
Ela me encarou por um segundo, surpresa. Então, um sorriso apareceu, mais largo, e aquelas malditas covinhas surgiram de novo.
— Por quê? Está interessado?
Seus olhos brilhavam de diversão, mas havia algo a mais ali. Um desafio, talvez. Ou talvez fosse só minha imaginação.
Sim, claro que estou. Você é a mulher mais incrível que eu já conheci, pensei. Mas as palavras ficaram presas na garganta, e, hesitante, eu respondi simplesmente:
— Sim.
O sorriso dela mudou, tornou-se mais íntimo, como se ela soubesse exatamente o efeito que causava em mim.
— Sendo assim, a resposta é não, Jon!
Disse ela, inclinando-se um pouco mais para frente.
— E o que você vai fazer com essa informação?
Havia uma provocação em seus olhos, algo que fez meu coração saltar uma batida. O ar entre nós parecia mais denso, carregado de uma tensão que eu não sabia se estava pronto para lidar. Mas a vontade de estar perto dela era mais forte do que qualquer hesitação. Removi a bandeja que estava sobre a cama, criando um espaço entre nós. Em um movimento suave, quase inconsciente, estendi a mão e a puxei delicadamente para perto de mim.
Ela se deixou levar com uma facilidade que me desarmou, movendo-se com a confiança de alguém que já sabia o que ia acontecer. Nossos corpos quase se tocavam, e eu podia sentir o calor dela irradiando, tornando o ar à nossa volta mais íntimo. Cada pequena respiração dela me deixava mais ciente de sua proximidade, e isso fazia meu corpo inteiro reagir.
Uma mecha de cabelo caía sobre os olhos dela, e, sem pensar, levei a mão até lá, afastando o fio rebelde e colocando-o atrás de sua orelha com uma ternura que eu não sabia que possuía. Meu toque parecia mais lento, como se quisesse prolongar cada segundo desse momento.
Ela não se afastou, ao contrário, inclinou-se mais. Seus olhos, agora fixos nos meus, eram intensos, como se estivessem me estudando, tentando decifrar algo. Minhas mãos ainda estavam perto de seu rosto, meus dedos roçando sua pele de leve. A eletricidade entre nós era palpável, como se cada pequeno movimento nos aproximasse de um ponto sem retorno.
Minha respiração se tornou mais pesada, e minha cabeça se inclinou em direção à dela, nossos lábios agora a milímetros de distância. A proximidade era torturante, mas de um jeito que eu não queria que terminasse. O desejo de sentir seus lábios nos meus era quase irresistível, mas mesmo assim, me forcei a perguntar, com a voz baixa e rouca:
— Posso te beijar?
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