Naquela noite, assim que Elio caiu no sono, me esgueirei até a cômoda próxima da janela e tomei o cuidado de não derrubar nenhuma das pedras coloridas de sua coleção. Com o verão se aproximando, a temperatura estava começando a subir e as chuvas torrenciais logo se tornariam frequentes. Saindo com facilidade pelo vidro aberto, torci para que não começasse a chover.
Me arrependi de não ter ido de carro logo que desci do bondinho a uma quadra de distância da minha própria casa. Havia começado a chover, sem nenhum aviso prévio além de uma pesada gota bem na minha testa e mais mil no resto do corpo.
Quando cheguei na esquina a chuva deu uma trégua, mas já estava completamente encharcada. Consegui ver Wade sentado nos degraus da escadaria em frente à porta principal, estava usando uma camisa social branca de manga comprida um pouco colada no corpo por causa de todo aquele aguaceiro e um blazer preto em cima das pernas esticadas na calçada.
ㅡ Seu primeiro nome é Benjamin? ㅡ estreitei os olhos para ler o crachá pendurado em seu pescoço ao me aproximar.
ㅡ AI CARALHO! Caraca, como é que você consegue ser tão silenciosa?! ㅡ gritou levando uma das mãos ao peito para esconder o crachá. Provavelmente tinha esquecido que estava usando quando saiu da agência.
ㅡ Você não devia ser tão distraído desse jeito, ainda mais tarde da noite na rua ㅡ eu disse enfiando as mãos no meio dos arbustos para encontrar as chaves de casa enterradas na terra do meu canteiro de azaléias. ㅡ Como é que você não ouviu os meus passos com toda essa água na calçada?
Wade abriu a boca para falar, mas se levantou em silêncio e torceu o paletó inutilmente.
Preciso lembrar de esconder essa chave em outro lugar, pensei ao passar por ele para destrancar a porta.
ㅡ Prometo não sair por aí falando que já fui na sua casa duas vezes no mesmo dia e sei onde você esconde as chaves da porta da frente ㅡ ele ergueu uma das mãos em juramento.
ㅡ Bom menino ㅡ pisquei, dando espaço para que saísse do relento. ㅡ Mas não vou arriscar guardando ela ali de novo. E tira os sapatos, não quero meu carpete sujo.
ㅡ Certo, certo...ㅡ Wade murmura ao pendurar o blazer no cabideiro próximo à porta. Parece mais relaxado e à vontade ao caminhar até o meu sofá, à vontade demais. ㅡ Eu não tive muito tempo pra me aprofundar em pesquisas sobre a carreira da Ludovica e afins, mas descobri o nome do laboratório em que ela trabalha e o endereço!
ㅡ Você falou isso tudo tão empolgado que eu teria medo de você se revirar a vida das pessoas não fosse literalmente o nosso trabalho ㅡ gesticulei ao sentar do lado dele no sofá, grata por ter escolhido couro sintético preto em vez de veludo.
ㅡ Isso foi uma piada? ㅡ ele riu.
ㅡ Não.
Na verdade foi, mas o Wade se parece tanto com um Golden Retriever que é satisfatório falar coisas que o desanimam para ver o brilho sumindo de seus olhos.
ㅡ Bom, eu fiz a minha parte e li as revistas que o Masato deixa na mesa de cabeceira dele ㅡ bocejei e espreguicei para tentar espantar o sono. ㅡ Ele precisa da Rossi para conseguir o novo soro por causa de uma pesquisa que parece coisa de quadrinho da Marvel. O trabalho dela é bem parecido com o princípio do que a Dra. D'Luca estava desenvolvendo antes das coisas darem errado com o AN1-24.
ㅡ Você não disse que o erro fez do soro o que é hoje? ㅡ ele bocejou logo em seguida.
ㅡ Sim, mas ainda foi um erro pra pesquisa dela.
ㅡ E eu aposto que a Ludovica ta dando continuidade ao que a Josephine não conseguiu terminar ㅡ fitei-o pelo canto dos olhos e balancei a cabeça concordando. ㅡ Me empresta seu computador, vou baixar a planta do laboratório dela!
Por um instante, fiquei surpresa com o pedido de Wade e encarei o pendrive que tirou do bolso da camisa com incredulidade, mas apenas por causa da forma empolgada como ele disse. O que passou logo depois que começou a tagarelar sobre como precisou driblar o supervisor para conseguir fazer a pesquisa.
ㅡ Ah, e papel e caneta também. Tenho um plano em mente para invadirmos o prédio e investigar com nossos próprios olhos o que a Ludovica realmente está desenvolvendo.
ㅡ Olha só, você até que é bem útil, passarinho ㅡ eu disse ao levantar e mancar um pouco para pegar o notebook no armário.
Quando voltei para o sofá, Wade tinha um sorriso orgulhoso estampado nos lábios que eu adoraria arrancar fora.
ㅡ Espero que você não coloque um vírus no meu computador ㅡ ameacei depois de digitar a senha.
ㅡ Ou? ㅡ ele se aproximou de mim ainda sorrindo para inserir o pendrive no computador, o perfume parecia mais forte mesmo depois de ter tomado chuva.
ㅡ Vou garantir que todo o seu progresso como agente de escritório desapareça e aí vai ter que trabalhar ainda mais pra recuperar tudo ㅡ sussurrei, os dentes cerrados com força.
ㅡ Que bom que não tem nenhum vírus então ㅡ ele se afastou logo que abriu o arquivo com as plantas de cada andar do prédio. ㅡ E já que você não tem papel, o jeito vai ser usar o PowerPoint.
Wade pegou o notebook e colocou no próprio colo para conseguir rabiscar alguns pontos.
ㅡ Eu não consegui descobrir o andar do laboratório dela, mas o almoxarifado fica aqui ㅡ ele apontou para um ponto verde em um quadrado e circulou uma porta não muito distante ㅡ e bem aqui é uma saída pro beco onde devem estar as lixeiras deles. Um de nós vai precisar entrar no prédio, chegar no almoxarifado e abrir essa porta pro outro. Juntos, fantasiados de faxineiros, nós conseguiremos andar pelo prédio sem problemas.
ㅡ Até que é um bom plano. Por acaso as suas missões sempre deram errado porque não foram planejadas por você?
ㅡ Você não sabe elogiar, né?
Deixei um meio sorriso vazar e balancei a cabeça negativamente.
ㅡ Ninguém me deixa fazer planos porque sou horrível em seguir ordens e acham que não vou saber seguir um plano direito, que dirá desenvolver.
A sinceridade com que ele disse aquilo por cima do tom brincalhão me pegou desprevenida, mas não ao ponto de deixar passar a mudança sutil em seu olhar e na forma como seu corpo todo pareceu se retrair.
ㅡ Bom, dessa vez nós vamos seguir o seu plano, então esteja preparado amanhã.
ㅡ Eu sou bom mesmo e sabia que você não ia reclamar do meu plano ㅡ ele uniu as mãos em cima da cabeça com as palmas viradas para o teto e esticou bem os braços. ㅡ Tem nada pra comer de novo, né? Topa pedir uma pizza?
ㅡ Ah, mas eu vou reclamar se ele der errado. Nós estamos trabalhando juntos, mas eu sou a agente mais experiente, então eu dito as ordens ㅡ foi o suficiente para apagar de novo aquele brilho nos olhos dele. ㅡ Escolhe a pizzaria, vou tomar um banho e trocar essas roupas molhadas. Se quiser, tem algumas do Pedro na lavanderia.
Desliguei o computador e me levantei sentindo um osso da coluna estalar no processo. Espero que não tenha sido um estalo tão alto, ou daqui a pouco o Wade vai me chamar de vovó.
ㅡ Por que sempre tem algo desse cara aqui? Vocês namoram?
A risada que soltei foi tão sincera que ele se assustou.
ㅡ Eu e o Pedro? Ata! ㅡ suspirei e limpei uma lágrima que escorreu no cantinho dos olhos. ㅡ Ele é meu melhor amigo e tem lavado a roupa suja aqui porque a máquina dele está quebrada. Além disso...ele é homossexual.
Wade não disse mais nada, então eu subi as escadas até o meu quarto. Quando voltei depois do banho, ele estava usando uma das calças de pijama do namorado do Pedro e uma camiseta do Guns N Roses que na verdade era minha.
𓃠 𖧷 Esse é provavelmente o capítulo mais curto de um pov da Natalie, o 1ue provavelmente não compensa o teeeempo que vocês tiveram que esperar, mas acho que valeu os momentos dela sendo má com o Wade kskskskskks
𓃠 𖧷 Isso me faz lembrar de um meme...
(Foi noite, mas releva pelo conceito do meme)
𓃠 𖧷 Não tenho muito o que falar não, só que senti falta de vocês pirando. Mas não se preocupem, depois do ENEM vem a compensação.
𓃠 𖧷 Deixa o votinho maroto e comenta o que tá achando da história até aqui, as teorias (se é que esse micro capítulo rendeu alguma teoria), respondo tudo quando ter.
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