Capítulo 06 - O preço da ambição
A sala de treinamento com tecnologia de simulação de ambientes e situações havia sido reservada exclusivamente para Magni Tømmerass naquele dia. Antes de se dirigirem para lá, Tatiane montou uma pequena mesa esterilizada ao lado de uma cadeira disposta em um dos cantos do pequeno laboratório onde ainda trabalhavam, mesmo depois dos avanços realizados, e se preparou para injetar a última versão do AN1-24 ㅡ que deveria ter sido de Judite Piaf se a jovem não tivesse desistido ㅡ, enquanto Josephine registrava todo o processo com uma filmadora e anotava freneticamente em seu diário digital.
Magni sentou-se na cadeira e prendeu as longas madeixas loiras de seu cabelo em um rabo de cavalo baixo para que Tati higienizasse a região do pescoço onde faria a aplicação.
ㅡ Está nervoso? ㅡ ela perguntou, encarando-o timidamente ao perceber que a veia de seu pescoço saltou com a pulsação aumentando quando o tocou com o algodão molhado pelo álcool.
O agente em treinamento lançou a ela um olhar de soslaio e sorriu levemente ao inclinar o pescoço um pouco para o lado.
ㅡ Nem um pouco ㅡ sua voz soou grave e calma, carregada por seu sotaque distinto de quem não falava inglês fluentemente.
Tati pigarreou, virando-se para pegar a injeção.
ㅡ Vou…quer dizer, você vai sentir uma picadinha de leve ㅡ avisou ao perfurá-lo, apesar de ter dito uma mentira, porque sabia que doeria. Mas Magni não se moveu e nem estremeceu e ela pressionou seu pescoço com um pedaço de algodão limpo por alguns segundos antes de se afastar.
ㅡ Como está se sentindo, Magni? ㅡ perguntou Josephine, aproximando-se de onde estavam.
Magni endireitou seu corpo grande e musculoso franzindo os lábios em um bico entediado, depois deu de ombros.
ㅡ Como se nada tivesse mudado.
Josephine assentiu, fez algumas anotações e então pediu que ele se levantasse da cadeira.
ㅡ Imagine que você está encolhendo e que seu corpo está mudando, queira que ele mude, pense em uma cauda e queira que uma cresça em você.
O jovem obedeceu, se levantou da cadeira e fechou os olhos, forçando a própria mente a fazer o que Josephine pedia e a mudança começou a acontecer lentamente diante dos olhos das cientistas. Primeiro, sua pele se cobriu de pequenas escamas esverdeadas, depois veio a cauda e então Magni sentiu que estava ficando cada vez menor, até que abriu os olhos e encarou o mundo muito maior do que estava acostumado a ver.
ㅡ Puta merda! ㅡ Tati praticamente gritou.
ㅡ Eu estou gravando isso, doutora Tatiane ㅡ avisou Jo, sem tirar os olhos do tablet.
Tatiane murmurou um pedido de desculpas.
ㅡ Certo, Magni. Agora precisamos que você volte à forma humana. Imagine que está crescendo de novo, que sua pele não tem mais escamas e que sua cauda está diminuindo até não existir mais.
O Camaleão Tømmerass piscou lentamente e nada mudou. O coração da Dra. D’Luca pareceu errar uma batida antes de acelerar mais do que acreditava ser normal.
ㅡ Ele não está voltando ㅡ afirmou Tatiane, como se não fosse óbvio. ㅡ Por que ele não está voltando?
Josephine suspirou, seu maior impulso era se virar e gritar que não sabia porque ele não estava voltando. Chegou até a pensar em perguntar se Tati realmente havia injetado a versão correta do soro. Em vez disso, respirou fundo, massageou a têmpora e contou até três mentalmente.
ㅡ Magni, consegue me ouvir? ㅡ perguntou, esperando que sua voz não tivesse soado tão desesperada quanto estava se sentindo e que ele realmente estivesse a ouvindo, assim como Judite teoricamente também conseguia. ㅡ Mantenha a calma e se concentre, queira…
Parecia hipocrisia da parte dela pedir que o agente em treinamento mantivesse a calma quando ela mesma já não sabia para onde a dela havia ido. Então, quando menos esperava, suas próprias palavras morreram quando Magni se materializou em sua frente, humano novamente.
ㅡ Desculpe, eu me distraí vendo como o mundo ficava maneiro na visão de um camaleão ㅡ ele justificou com o esboço de um sorriso.
Tatiane soltou um riso aliviado e sentou-se na cadeira onde o agente em treinamento estivera antes.
ㅡ Ótimo…ㅡ sussurrou Jo. ㅡ Agora precisamos que você domine um pouco mais a habilidade de mutação antes de nos encontrarmos com os outros na sala de treinamento.
ㅡUé…eu…pensei…que…a…sala…estava reservada…exclusivamente…pra mim…hoje ㅡ a voz soando entrecortada por todos os segundos que ele passava como um camaleão antes de continuar falando.
Josephine se lembrava muito bem de como os resultados de Magni eram antes de ser selecionado para fazer parte do antigo Programa Fantasma. Haviam sido tão ruins que foi eliminado em menos de um mês depois de começar. Isso fazia dele a primeira opção para os testes em humanos, porque poderia ser descartado e não faria falta. Mas naquele momento, assistindo-o transformar-se em camaleão e voltar a forma humana com um sorriso determinado repetidas vezes até que Tatiane o mandou parar, fez com que Jo ficasse aliviada por tê-lo deixado em segundo plano. Era como uma recompensa pela desistência de Judite.
ㅡ Vocês estão planejando trabalhar em soros para transmorfos de outros animais, certo? ㅡ questionou Magni. Josephine assentiu e ele não esperou que dissesse mais alguma coisa antes de continuar. ㅡ Eu não gostaria de continuar como um camaleão. Então…sei lá…será que não posso esperar um soro próprio pra eu mesmo antes de começar o novo treinamento.
ㅡ Nós gostaríamos de ver o que alguém com as habilidades de um camaleão é capaz, pra deixar no banco de dados ㅡ começou a dizer Tati.
Jo a interrompeu com um abanar de mãos nada discreto, seus olhos brilhavam animadamente com o entusiasmo de Magni e com o domínio que ela não esperava da parte dele.
ㅡ Na verdade, ele tem toda a razão. Se outro agente decidir se transformar em um camaleão, que descubra por conta própria o que consegue fazer. Magni tem potencial para ser um dos melhores agentes, seja lá qual animal escolher e deveríamos dar essa vantagem a ele por ter prontamente se voluntariado para nossa nova fase.
Se Tatiane discordava disso, escolheu não se manifestar e apenas concordou com Josephine.
ㅡ Então me diga, Tømmerass, no que você gostaria de se transformar? ㅡ questionou, tentando não deixar a decepção de ter sido silenciada daquela forma transparecer em sua voz.
ㅡ Sabe aquele urso negro grandão daquele filme de princesa da Disney?
As duas cientistas concordaram com um balanço de cabeça quase ao mesmo instante.
ㅡ Quero me transformar em um desses.
A reserva da sala de treinamento foi cancelada. Tatiane preparou a extração do soro de camaleão do organismo de Magni e o dispensou pelo resto do dia. Elas trabalharam até uma hora depois do horário de expediente, mas Josephine não parou quando chegou em casa.
ㅡ Amor, o jantar tá pronto ㅡ disse Oliver, aparecendo na porta de seu laboratório secando as mãos em um avental de cozinha rosa choque que dizia The ingredient is secret, there’s no point asking Jo e ficava apertado em seu largo peitoral.
ㅡ Já vou ㅡ ela murmurou, sem tirar os olhos da tela do computador.
Normalmente ele apenas iria para a cozinha, beberia um pouco de vinho tinto enquanto conversava com o bebê e tentava fazê-lo comer o arroz amassado com algum legume e pedaços de carne ou frango até que a comida esfriasse ou Josephine finalmente aparecesse. Mas não conseguiu ignorar o que ela estava vendo no monitor, muito menos o béquer com uma coloração e cheiro esquisitos demais em uma mesa no canto do cômodo.
Oliver parou em silêncio bem atrás da esposa, seus olhos indo de uma tela onde o simulador científico desenvolvido por Tatiane mostrava dados promissores e outra tela onde Jo parecia ler sobre ursos.
ㅡ Pensei que vocês não iriam trabalhar com animais selvagens ㅡ disse, apertando firmemente o encosto da cadeira giratória da cientista.
ㅡ Na verdade, nunca falamos nada sobre não trabalhar ㅡ ela retrucou distraída com as anotações que fazia em um bloco de notas de papel amarelado.
Oliver suspirou e girou a cadeira com força, fazendo com que Jo ficasse de frente para ele.
ㅡ Pode ser perigoso, você não sabe como vai ser o autocontrole de cada agente.
ㅡ Tati e eu estamos tomando o cuidado de reprimir os instintos de caça e hostilidade ㅡ afirmou, sem encará-lo.
Josephine virou o rosto para olhar de relance a tela do monitor à sua esquerda e fez novas anotações no bloco de notas. Oliver segurou seu rosto com cuidado, as mãos levemente trêmulas, e a fez olhar para ele.
ㅡ Dois meses atrás você disse que tinha medo de me perder e apesar de eu não verbalizar isso com tanta frequência, esperava que o fato de você saber do meu passado fosse o suficiente pra saber que eu lido com esse mesmo medo todos os dias da minha vida desde que te conheci ㅡ Oliver praticamente não piscou enquanto encarava as íris esverdeadas dos olhos da mulher. ㅡ Josephine…eu não posso te perder. Não sei o que seria da minha vida se perdesse você e sei que não vou estar sempre por perto, porque os nossos trabalhos são bem diferentes. Mas por favor, Jo…
ㅡ Acha que toda vez que você sai pela nossa porta da frente eu não fico me perguntando se vou voltar a te ver entrando em casa de novo, Oliver? Eu morro de medo! ㅡ ela choramingou, lágrimas brotando de seus olhos, ameaçando transbordar em uma cachoeira por suas bochechas. ㅡ Mas alguma vez já implorei pra você não ir pro trabalho? Acha que não estou trabalhando nesse soro por você também? Pra ter uma chance, mesmo que mínima, de saber que não vai ser fácil derrotarem o meu marido.
Josephine esperou Oliver falar alguma coisa, então deixou as últimas palavras entaladas em sua garganta escaparem em vez de morrerem ali.
ㅡ Mas acho que esse medo de que os outros agentes se rebelem e se transformem em monstros na verdade é a sua própria desculpa pra não tomar o soro. Porque você é quem tem medo do que pode se tornar. Então talvez eu devesse sim continuar com o meu trabalho e você com o seu, mas sem o AN1-24 correndo pelas suas veias!
Quando Oliver desviou o olhar e soltou seu rosto ao se afastar, seus olhos negros pareceram mais sombrios do que Josephine esperaria encarar um dia e o arrependimento se acomodou em seu peito tão rápido quanto o frio que sentiu pela falta do toque do marido.
ㅡ Desculpa ㅡ sua voz não passou de um sussurro rouco e desesperado, as lágrimas molharam seu rosto enquanto esperava que o marido dissesse alguma coisa, mas ele se ajoelhou no meio de suas pernas e a puxou para perto, secando cada uma das lágrima com beijos castos e delicados.
4* O ingrediente é secreto nem adianta perguntar pra Jo.
𓃠 𖧷 É, eu sei... a atualização não saiu no dia que eu falei pra deixar marcado. Aposto que tinha gente na quarta esperando assim:
𓃠 𖧷 Eu realmente ia publicar na quarta, mas ai aconteceu que o google simplesmente bugou. Não consegui editar o que estava sendo revisado pelo celular e nem logar pelo computador para tentar resolver. Estava até meio triste por talvez só conseguir atualizar na semana que vem. Enfim, deu tudo certo e cá estamos hoje.
𓃠 𖧷 Não vou mentir não...chorei escrevendo esse final SIM KAKAKAKAKAKAKAK (ainda mais porque foi acompanhada de The Scientist do Coldplay, uma das músicas que estão lá na playlist e que combina muito com a história deles).
𓃠 𖧷 Não sei nem o que eu falo sobre esse capítulo, então rola a tela aí pro próximo e não me matem.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro