Capítulo 31
No quarto, a luz suave filtrava-se pelas cortinas, criando uma atmosfera tranquila e serena, apesar da tensão evidente no ar. A agente do FBI, com um toque cuidadoso e mãos gentis, conduziu Alissa até a cama, onde ela ficaria mais confortável durante o exame. Alissa parecia frágil, sua pele pálida e o olhar distante, como se o peso de sua condição tivesse sugado sua vitalidade. Katherine lançou um olhar rápido para Eva, a nutricionista, que já estava ali, pronta para avaliar o caso.
Eva mantinha uma postura profissional, mas seus olhos demonstravam empatia. Ela conhecia casos como o de Alissa, e sabia que uma abordagem sensível era necessária. Aproximou-se da cama com um sorriso suave, carregando sua prancheta com algumas anotações e revisões.
- Olá, Alissa. - Disse Eva, sua voz suave, mas firme e profissional. - Vou fazer algumas perguntas e avaliar seu estado para ver como podemos te ajudar da melhor forma, está bem? - Alissa apenas assentiu, sem muita energia para responder verbalmente. Katherine permaneceu ao lado dela, segurando sua mão, oferecendo o apoio silencioso. O quarto estava envolto em um silêncio quase solene, quebrado apenas pelo som suave da caneta de Eva deslizando pelo papel enquanto fazia mais anotações. - Katherine me contou um pouco sobre o que tem sentido. - Continuou Eva, mantendo o tom calmo. - Mas quero ouvir de você. Como tem sido sua alimentação? Como está se sentindo fisicamente? - Alissa respirou fundo, hesitante.
Ela sabia que precisava de ajuda, mas a vergonha e confusão interna tornavam difícil até mesmo descrever seus sintomas.
- Não tenho comido muito... - Ela foi sincera. - Nada parece ficar... E me sinto fraca o tempo todo. Tenho apetite, mas quando como, me sinto mal logo depois. - Eva anotou, inclinando-se levemente para olhar nos olhos de Alissa, sem julgamentos, apenas com compreensão.
- Entendo. - Ela respondeu com gentileza. - Vamos trabalhar juntas para mudar isso, pouco a pouco. O importante é cuidar de você com calma. Vamos começar com coisas simples, pequenos passos. E eu estarei com você em cada um deles. - Katherine apertou a mão de Alissa com suavidade, como se dissesse silenciosamente que ela também estaria a seu lado; afinal, Alyssa era sua responsabilidade agora. Eva percebeu a hesitação e fragilidade vinda de Alissa, e sabia que qualquer abordagem teria que ser delicada. O fato de Alissa ter passado tanto tempo em cativeiro antes de ser resgatada, adicionava uma camada extra de complexidade à situação. A desnutrição, o trauma físico e psicológico; tudo isso afetava o estado geral da jovem. Por isso, Eva decidiu começar com exames simples, nada muito invasivo, mas que pudessem lhe dar uma boa visão inicial sobre o estado de saúde de Alissa. - Vamos fazer tudo com calma, ok? - Eva disse, colocando um estetoscópio ao redor do pescoço.
- Ok...- A menina concordou com receio evidente, sem saber ao certo o que responder ou sequer pensar.
- Vou começar verificando sua pressão e ouvindo seu coração, depois faço alguns testes simples. Isso vai nos ajudar a entender como seu corpo está reagindo. - Alissa assentiu lentamente, ainda sem dizer muito, mas confiando no processo. Katherine ficou ao lado da cama, mantendo-se próxima, pronta para intervir caso fosse preciso. O tempo que a menina havia passado em cativeiro havia deixado marcas em seu interior, e Katherine sabia que qualquer situação de vulnerabilidade poderia despertar memórias dolorosas. Eva, com gestos suaves, enrolou a braçadeira do medidor de pressão ao redor do braço de Alissa e começou a medir a pressão arterial. Enquanto o dispositivo inflava, o quarto permaneceu em silêncio, quebrado apenas pelo som do ar sendo liberado. Eva olhou para o mostrador e, com um leve franzir de testa, fez algumas anotações. - Sua pressão está um pouco baixa, o que é esperado considerando a situação, mas nada alarmante agora. - Disse Eva, tentando tranquilizar Alissa e Katherine, que havia arregalado os olhos. - Agora, vou ouvir seu coração e pulmões, tudo bem? - Alissa fechou os olhos, permitindo que Eva posicionasse o estetoscópio sobre seu peito.
- Tudo bem...
O som rítmico do coração de Alissa era fraco, mas regular. Eva se concentrou, ouvindo atentamente qualquer irregularidade, antes de passar para os pulmões.
- Respire fundo para mim. - Pediu, com a voz suave e Alissa obedeceu, inspirando e expirando lentamente, ainda parecendo distante, mas presente o suficiente para cooperar. Eva continuou com os exames básicos, certificando-se de que o coração e os pulmões de Alissa estavam funcionando dentro do que ela considerava normal, considerando as circunstâncias. - Até agora, está tudo dentro dos conformes. Vou fazer um teste rápido de reflexos e verificar se há algum sinal de desidratação ou falta de nutrientes visível na pele e nas unhas. Tudo bem para você? - Alissa assentiu novamente, o olhar cansado, mas sem resistência.
- Tudo bem. - Concordou novamente. Até então, o exame estava sendo tranquilo.
Eva usou uma pequena lanterna para examinar os olhos de Alissa, notando a dilatação e a resposta da pupila à luz, o que indicava sinais de fadiga extrema e possível desnutrição. Ao pressionar gentilmente a pele do braço de Alissa, ela percebeu que a elasticidade estava reduzida, um sinal claro de desidratação.
- Você está desidratada. - Constatou Eva, com cuidado para não alarmar. - Mas nada que não possamos resolver com a reposição correta de líquidos e nutrientes. - Por fim, Eva verificou as unhas e a pele de Alissa, que apresentavam sinais visíveis de deficiência nutricional: unhas quebradiças, a pele seca e sem cor. Sinais esses reforçavam o que ela já suspeitava, mas a medica sabia que com cuidado e suporte adequados, Alissa iria se recuperar. Eva olhou para Katherine, que a observava ansiosa, e sorriu de maneira encorajadora para a amiga de longa data. - Alissa, o que você passou não foi fácil, e o seu corpo está mostrando sinais disso. Vamos precisar de um plano cuidadoso de recuperação, tanto em termos de alimentação quanto de hidratação, mas você está em boas mãos agora. Katherine vai te ajudar e eu estarei aqui para acompanhar esse processo. - Garantiu com gentileza e viu a menina assentir. - Vou precisar que ela faça alguns exames, ok? Quero um check-up completo. - A instrução foi direcionada a Katherine, que assentiu com o semblante sério.
- Certo. - Concordou. - Tem horário disponível para amanhã?
- Para vocês eu tenho. - A doutora concordou.
Katherine soltou um suspiro de alívio ao ouvir as palavras de sua amiga. Apesar da gravidade da situação, saber que Alissa poderia contar com o apoio de uma profissional tão cuidadosa quanto Eva, lhe deixava muito mais tranquila.
- Obrigada Eva. - Katherine agradeceu com sinceridade e viu a médica lhe dar uma piscadela. A agente já havia visto muitos casos como o de Alissa, mas jamais esteve encarregada de cuidar de fato de uma vítima desse tipo de maus-tratos.
- Como está se sentindo? A consulta foi desconfortável? - Eva quis saber, direcionando a pergunta para a menina sentada confortavelmente sobre a cama.
- Foi bem tranquila. - Alissa respondeu com sinceridade ao sorrir para Eva. - Obrigada Doutora.- Agradeceu com educação e Katherine sorriu com isso.
- Por nada querida, adoro cuidar de menininhas educadas como você. - Eva não pode evitar sorrir e viu Alissa corar com suas palavras.
Antes que qualquer uma das três figuras femininas presentes no cômodo pudesse abrir a boca, gritos de discussão foram ouvidos no andar debaixo. Katherine imediatamente colocou um dedo sobre os lábios, indicando silêncio a Alissa e Eva. Os gritos, altos e furiosos, vinham da sala principal. Ela reconheceu as vozes imediatamente, eram seus filhos, Noah e Dylan, brigando novamente. Katherine suspirou profundamente, seu instinto de mãe em alerta máximo.
- Fiquem aqui, eu volto já. - Ela murmurou para Eva, controlando sua irritação, que assentiu rapidamente, movendo-se para perto da menina.
Alissa olhou para Katherine com olhos arregalados, a preocupação evidente em seu rosto jovem. Pelo pouco que havia estado com Katherine, ela sabia que a paciência da mulher andava no limite.
- Eu volto logo, prometo. - Katherine sussurrou com um sorriso reconfortante antes de sair do quarto.
Ela caminhou em passos rápidos, irritados, os gritos ficando mais claros a cada passo. Ao chegar na sala, o que viu lhe surpreendeu.
Noah e Dylan estavam embolados no sofá, os rostos vermelhos de raiva, enquanto seu mais velho descia a mão no traseiro do mais novo.
- Eu já disse, você não vai! - Noah gritou, segurando firmemente o menino em seu colo. - Não vai!
- Me solta! - Dylan berrou em resposta, os dentes cerrados de raiva. - Me largaaa!!
O menino, embora endurecido pelo o que a situação exigia, certamente estava se segurando para não desabar e começar a chorar. Katherine se aproximou dos dois rapazes que disputavam foças, ainda absorvendo o que estava presenciando.
- Chega Noah. - Ordenou com firmeza, fazendo ambos adolescentes notarem sua presença. - O que está acontecendo aqui? - Questionou ainda sem reação.
Noah parou de imediato ao escutar a voz naturalmente autoritária da agente e abaixou a mão lentamente, soltando o aperto que segurava Dylan.
- Mamãe, eu posso explicar...
- Seu idiota, eu vou te arrebentar! - Dylan foi para cima do Ruivo ao se levantar, completamente cego pela ira da situação, mas, antes de conseguir alcançá-lo, foi segurado pela agente.
Katherine sabia que precisava agir rápido para acalmar os filhos, antes que a situação piorasse ainda mais e saísse por completo do controle.
- Calma Dylan! - Pediu em tom alto, mantendo o menino em pé e mobilizado pelo seu aperto.- Vamos resolver isso com calma.- Katherine suspirou, tentando manter a paciência.- Eu vou te soltar, mas se você for para cima do seu irmão eu juro que deixo ele continuar com o que estava fazendo.- Ela orientou ao soltar o mais novo, seu tom não deixando espaço para desobediência.
- Vai defender ele? - O menino loiro quis saber, indignado.
- Não estou defendendo ninguém. Eu quero que você se sente para que eu possa entender o que está acontecendo. - Ela foi direta e viu o mais novo se distanciar alguns passos para se sentar longe de Noah. O silêncio era quase que absoluto e Katherine pode perceber os olhos marejados de Dylan diante sua resposta.
- Mamãe, não é nada disso que a senhora está pensando. - Noah tentou argumentar e viu a mãe lhe encarar com cara de poucos amigos.
- Ah não? Então me explica Noah, porque estava batendo no seu irmão?
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