Capítulo 30
- Você não tinha que se meter onde não foi chamado, seu idiota! - Dylan gritou para Noah, que revirou os olhos para crise que o mais novo fazia.
- Que eu saiba o idiota aqui é você. - O ruivo retrucou ao que ficava cara a cara com o irmão. - Você está em prisão domiciliar, sabe o que isso significa? Sabe o que acontece se você sair sem supervisão? - Noah deu um passo à frente, seu rosto a poucos centímetros do de Dylan, os olhos faiscando de raiva. - Você se acha muito esperto, mas não entende nada! - Noah rosnou, a voz baixa e ameaçadora. - Eu estou tentando te proteger, mas você só pensa em si mesmo! - Pontuou incrédulo.
Dylan cruzou os braços, o rosto vermelho de fúria.
- Proteger? - Ele zombou sem disfarces. - Você não lava nem seu próprio saco sozinho e quer vir pra cima de mim com esse papinho de proteção? - Dylan sorriu, um sorriso inacreditado.
Noah balançou a cabeça em descrença, frustrado e atingido com o que o irmão estava falando.
- E você lava o seu por acaso? - O menino mais velho sabia que não. Da mesma forma que sabia que caso Dylan realmente fugisse, poderia dar adeus a tudo que tinha naquela casa, a sua liberdade, pois iria voltar para a prisão.
- Cala a boca! - Ele gritou entre dentes. - Você está falando igual a louca da sua mãe! - Acusou de boca cheia e Noah sentiu o rosto queimar de raiva, ainda cara a cara com o loiro de atitude imbecil.
- Não ouse abrir a boca para falar mal da minha mãe.- Avisou erguendo o dedo indicador até ficar poucos centimetros do nariz do mais novo. - Tudo que ela fez até hoje, foi por cuidado, por carinho e proteção! E é assim que você retribui? - Noah fez uma pausa, indignado com o comportamento hostil do menino.
- Eu falo o que eu bem entender! Ela é uma louca sim! - Exclamou para quem quisesse ouvir.
Noah sentiu o sangue ferver dentro de si e, sem pensar duas vezes, empurrou Dylan para trás, fazendo-o tropeçar em seus próprios pés ao cambalear para trás.
- Você não tem o direito de falar assim dela! - Noah gritou, a voz tremendo de raiva. - Ela colocou a mão no fogo por você, coisa que ninguém foi capaz de fazer e é assim que você agradece? Como se nada disso importasse?
Dylan recuperou o equilíbrio e avançou novamente na direção do ruivo que tinha o rosto em chamas, contorcido de fúria.
- E você acha que eu não sei disso? - Ele rebateu, a voz carregada de sarcasmo e irritação. - Mas isso não dá o direito dela me tratar como bem quiser! - Noah balançou a cabeça, incrédulo.
- Ela só quer que você fique seguro, Dylan. - Ele disse, a voz mais baixa, mas ainda cheia de intensidade. - Você não entende o que está em jogo aqui. - Pontuou novamente.
Dylan suspirou alto, a frustração transbordando.
- Eu entendo muito bem! - Ele gritou. - Mas eu não posso viver assim, Noah! Eu preciso de espaço, de liberdade! - "Não viver em uma ditadura".
Noah respirou fundo, tentando controlar seu bumor, sabendo que embora não convincete, dylan também tinha um ponto.
- É melhor viver e ser livre aqui, do que ser preso! - Ele respondeu, a voz firme, enfatizando a parte do "preso".
- Isso não é estar livre Noah!
- Se você não consegue ver isso, então talvez você seja mais idiota do que eu pensava. - Noah sentiu um aperto no peito ao ouvir as palavras de Dylan, mas não podia deixar que a raiva o dominasse. - Você acha que isso é fácil para mim? - Perguntou, a voz tremendo de emoção. - Eu também quero que você tenha liberdade, mas não posso simplesmente ignorar os riscos! O FBI está na sua cola, nossa mãe é uma agente! Tem o dever e a responsabilidade de cuidar e proteger você. Como acha que a reputação dela vai ficar se você fugir? - Questionou, encarando Dylan, os olhos cheios de frustração.
- Ela não é minha mãe e eu não sou a droga de uma criança. - Pontuou, a voz mais baixa, mas ainda carregada de emoção. - Eu sei o que estou fazendo.- Afirmou, a ideia a fuga realmente tomando conta de seus pensamentos.
Noah balançou a cabeça, desesperado.
- Não, você não sabe. - Ele respondeu, a voz firme. - Você está agindo por impulso, sem pensar nas consequências, que vão ser desastrosas se você sair daqui. - Noah certamente era a voz da razão daquela discussão, mas Dylan estava tão atordoado que não queria escutar mais nada.
- Eu não me importo com as consequências. - Dylan começou a andar novamente em direção a porta do quarto, que rapidamente foi barrada pelo corpo alto e magro de Noah. - Sai da minha frente! - Ordenou o mais novo irritado.
- Não! Daqui você não sai! - Noah determinou em tom firme e viu Dylan avançar em sua direção. - E não ouse me encostar a mão, eu estou avisando.
Dylan estava à beira de um colapso. Por fora, mantinha a postura rígida, com o queixo erguido e o olhar firme, tentando transmitir confiança e uma falsa sensação de controle. Mas, por dentro, a confusão e o medo se entrelaçavam numa espiral incontrolável. Cada palavra de Noah parecia uma nova facada, não porque fossem mentiras, mas porque eram verdades que Dylan se recusava a aceitar. A menção à mãe, ao FBI, à responsabilidade, tudo o fazia se sentir sufocado, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. Ele odiava essa sensação.
Por um lado, havia o desejo intenso de liberdade, de se desvencilhar de todas aquelas regras e expectativas. Mas esse desejo não era apenas um grito por autonomia, era também uma fuga desesperada do medo que ele sentia. Medo de não estar à altura das expectativas de sua mãe, de Noah, de todos ao seu redor. Medo de que, se ficasse, ele desmoronaria de vez, que não conseguiria enfrentar o que estava por vir. Fugir parecia mais fácil. Fugir era a única opção que ele via para não ser consumido pela culpa e pelas consequências.
Quando ele afirmou que sabia o que estava fazendo, uma parte de si sabia que era mentira. Ele não tinha ideia do que viria pela frente, não conseguia enxergar nada além do caos que estava prestes a desabar sobre ele. Mas admitir isso, admitir que estava perdido e aterrorizado, era algo que Dylan simplesmente não conseguia fazer. Seria o mesmo que se render, e render-se significaria deixar Noah e a mãe terem razão. E isso o enchia de uma raiva surda, uma frustração que ele não sabia como lidar.
O impulso de avançar para a porta era tanto um reflexo de sua vontade de escapar quanto um grito silencioso de que ele não podia mais suportar aquilo. A cada passo, ele tentava convencer a si mesmo de que estava tomando a decisão certa, que a fuga resolveria seus problemas. No entanto, no fundo de seu ser, sabia que estava apenas se enfiando em um buraco mais profundo. Quando Noah bloqueou sua passagem, a frustração transbordou em forma de fúria.
O desejo de empurrar Noah para longe, de gritar e de brigar, era forte. Mas, ao mesmo tempo, havia um temor de que, se ele cruzasse essa linha, não haveria volta. Ele não queria ferir Noah, mas não sabia como lidar com a pressão, com as vozes internas que o atormentavam. Ele estava preso entre dois mundos: o do dever e da responsabilidade, e o da liberdade caótica que ele tanto almejava, mas que, no fundo, o aterrorizava.
Cada palavra de Noah, por mais que fosse dita com calma e razão, era como um espelho que Dylan se recusava a olhar. Noah estava certo. Ele sabia disso. Mas reconhecer isso significava abrir mão da única coisa que ele ainda sentia que tinha controle: a fuga. E ele não podia fazer isso. Não quando tudo dentro dele gritava por uma saída, por mais que fosse uma saída errada.
- Sai, Noah! - O menino gritou, semicerrando os punhos, tentando controlar a onda de desespero que subia pelo seu peito, ameaçando transbordar. Seu corpo inteiro estava tenso, como uma corda prestes a se romper. Ele queria acreditar que era capaz de manter o controle, de ser forte o suficiente para seguir com seu plano, mas a presença de Noah, sempre tão calmo e sensato, era como uma muralha que o impedia de se enganar completamente.
- Eu não vou sair. - Noah afirmou com ríspidez, algo que nem em seu sonho mais maluco já havia ousado fazer. - Daqui você não sai! - Reforçou.
Dylan sentiu o calor subir pelo rosto, o coração martelando no peito. Sua vontade era gritar mais, empurrar Noah com toda a força que tinha e sair correndo, desaparecer. Mas o olhar firme e sereno de seu irmão o prendia, o forçava a confrontar o que ele mais temia: que talvez não estivesse pronto. Que talvez fosse apenas uma criança, como Noah insinuava, agindo por impulso.
O silêncio que se seguiu à sua explosão foi ensurdecedor. Ele podia ouvir a própria respiração, ofegante, descompassada. O suor escorria pela sua testa, e ele apertava os punhos com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. Noah não disse nada, apenas continuou ali, bloqueando a saída, a voz da razão silenciosa, mas imponente.
Por dentro, Dylan estava à beira de um abismo. Ele queria que Noah o entendesse, que soubesse o quanto ele estava perdido e com medo, mas, ao mesmo tempo, odiava a ideia de mostrar fraqueza. Porque se ele deixasse Noah ver o que realmente sentia, seria o fim. Ele teria que admitir que não tinha controle, que estava fugindo, não apenas da mãe, do FBI, mas de si mesmo. Do peso de suas próprias decisões.
E era isso que ele não podia fazer. Porque se admitisse, se abaixasse a guarda, toda a fachada que ele tinha construído desmoronaria. E então, o que restaria? Um garoto assustado e impotente, preso em uma teia de expectativas que ele nunca pediu para enfrentar. Ele não queria ser esse garoto.
- Eu não sou uma criança, Noah - repetiu, a voz mais baixa, mas ainda carregada de dor. Seus punhos tremiam. Ele queria acreditar naquelas palavras, mas, no fundo, já começava a sentir o desmoronamento iminente.
Noah observava Dylan em silêncio, com o peito apertado pela dor de ver seu irmão mais novo tão perdido, tão dominado pelas próprias emoções. Ele podia sentir a tensão no ar, o conflito interno de Dylan transparecendo em cada palavra cuspida com raiva e cada movimento frustrado de seus punhos cerrados. Mas, apesar de todo o caos que transbordava de Dylan, Noah sabia que não podia ceder, que não podia deixar a situação escalar ainda mais.
Ele inspirou fundo, mantendo a voz controlada e firme, mesmo que por dentro sentisse seu próprio desespero crescendo. A cada palavra de Dylan, era como se ele estivesse assistindo a um afogamento em câmera lenta, querendo desesperadamente jogar uma boia, mas sabendo que seu irmão não estava pronto para agarrá-la.
- Dylan... - Noah começou, escolhendo as palavras com cuidado. – Eu sei que você está com raiva. Sei que você sente que está preso, que ninguém te entende. – Ele deu um passo à frente, sem deixar que Dylan passasse. – Mas fugir não vai te dar o controle que você acha que vai. Isso vai só te levar para mais longe de tudo que importa. Noah inclinou a cabeça levemente, tentando estabelecer uma conexão com os olhos de Dylan, que pareciam evitar qualquer confronto direto. O mais novo estava à beira de explodir, e Noah sabia que qualquer palavra errada poderia empurrá-lo para um caminho sem volta. Mas ele também sabia que não podia suavizar a verdade. - Eu entendo que você não quer ser tratado como uma criança – Continuou, sua voz agora um pouco mais suave, mas ainda carregada de uma urgência que ele tentava conter. – Acredite, eu também não quero. Mas as consequências que vêm com essa fuga, Dylan, são muito maiores do que você está imaginando. Não é só sobre o que vai acontecer com você... É sobre o que isso vai fazer com todos nós.- Ele viu Dylan vacilar, ainda que por um segundo. Aquele vislumbre de hesitação era o que Noah precisava. - Eu não estou aqui pra te segurar como se você não fosse capaz. Estou aqui porque você é capaz, mas você está cometendo um erro que vai te destruir, e eu não posso simplesmente assistir isso acontecer. – Noah deu mais um passo à frente, agora encarando o irmão de perto. – Eu sou seu irmão, Dylan, mesmo que sem querer. E você não está sozinho nisso. Mas você precisa parar de agir como se estivesse. - O silêncio que seguiu era quase insuportável, e Noah pôde ver a batalha interna que Dylan travava. O corpo tenso de seu irmão parecia à beira de ceder, mas ao mesmo tempo, ainda havia aquela resistência teimosa. Noah sabia que não podia forçar Dylan a entender, mas ele também não podia deixar que ele cruzasse aquela porta. - Se você fugir agora, nunca mais vai conseguir voltar. Não desse jeito. – Noah finalmente disse, sua voz agora cheia de emoção, sem tentar esconder o quanto aquilo o afetava. – Eu só quero que você pense, por favor. Não me faz ficar aqui me perguntando pra sempre se eu poderia ter feito mais pra te impedir.
Ele viu os punhos de Dylan tremerem ainda mais, e esperou. Não havia mais o que dizer.
Dylan sentiu o sangue ferver, cada palavra de Noah ecoando em sua mente como uma verdade cruel que ele não queria, e não podia, aceitar. A sensação de estar encurralado o fez perder o controle por um instante. A raiva, misturada com o desespero, borbulhava em seu interior, e ele já não aguentava mais.
- Eu não vou ficar aqui! – Gritou, empurrando Noah com toda a força que tinha.
Noah, surpreendido, tropeçou para trás, o impacto o fazendo perder momentaneamente o equilíbrio. Dylan não perdeu tempo. Sentiu uma onda de adrenalina percorrer seu corpo e, com o coração martelando no peito, disparou em direção à porta. Tudo o que ele queria naquele momento era sair daquele lugar sufocante, escapar das palavras de seu irmão e das responsabilidades que o cercavam como uma prisão invisível.
Ele correu pelo corredor com o som de seus próprios passos reverberando, os olhos fixos na escada que levava ao hall de entrada. A fuga parecia finalmente ao seu alcance, um último suspiro de liberdade antes de tudo desabar. Antes que pudesse chegar ao topo da escada, sentiu uma mão forte agarrar seu braço. Noah o alcançara. O toque firme e desesperado de seu irmão o puxou para trás com força, quase o fazendo perder o equilíbrio. Dylan tentou se soltar, lutando contra o aperto de Noah, mas a raiva e a frustração nublavam seu julgamento. Ele não conseguia pensar direito, só queria se libertar daquela sensação de sufocamento.
- Me solta! – Gritou, girando o corpo para se desvencilhar.
Mas Noah não cedeu.
Agarrava-o com força, usando todo o peso do seu corpo para impedir que Dylan avançasse. O coração de Noah estava acelerado, tanto quanto o de seu irmão, mas ele sabia que não podia deixá-lo ir. Não podia perder Dylan para aquele impulso destrutivo.
- Dylan, para! – Noah gritou, sua voz transbordando desespero. – Não vai ser assim que vai fugir de tudo isso!
Dylan continuou lutando, puxando o braço com força, mas o aperto de Noah não afrouxava. Ele sabia que, se continuasse resistindo, ambos poderiam se machucar. Mas a raiva era maior que o medo naquele momento. Era tudo ou nada. Sem opções, Noah fez algo que nunca imaginou que seria necessário. Ele sabia que Dylan era forte, mas sua altura lhe dava uma vantagem. Agarrando o irmão com ainda mais firmeza, Noah, com um movimento brusco, usou seu peso para desequilibrar Dylan. O corpo mais leve do irmão foi puxado para trás, e, antes que ele pudesse reagir, Noah praticamente o arrastou em direção ao sofá da sala. O impacto foi desajeitado. Noah caiu sobre o sofá com Dylan ainda preso em seus braços, o corpo do irmão mais novo debatendo-se por alguns instantes antes de perder o fôlego. Dylan gritou de frustração, tentando mais uma vez se soltar, mas estava preso debaixo do peso de Noah, que, apesar da exaustão, se recusava a ceder. Irritado pela insistência do irmão, o ruivo estava decidido a dar um basta em tudo aquilo. Noah, ergueu sua mão livre e deixou cair com força no traseiro teimoso do irmão; que gritou com o impacto, surpreso com a situação.
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