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Capítulo 23

Noah Ackson

EUA. Washington. 12:30 AM. Sábado.

    Observo Dylan beber o vinho de uma só vez, sem engasgar ou ao menos fazer careta, como se já estivesse acostumado a fazer isso. Coisa que certamente não me surpreende, pois, com o histórico do mesmo... Dylan ser alcoólatra é o de menos.

    - Pare com isso agora mesmo!- Ordeno em tom firme, sabendo perfeitamente que mamãe ficará brava. Dylan me encara sorrindo, como se estivesse debochando de mim em seus pensamentos; deixando claro que realmente não me leva a sério.

    - Você é mesmo um filhinho da mamãe, não é?- Questiona em tom de gozação, voltando a virar o bico da garrafa contra a boca.- Te desafio a beber!

    - Eu não vou fazer isso, sei que está implicando comigo Dylan.- Tento tomar a bebida de suas mãos, mas, o mesmo é mais rápido e se afasta sorrindo.

    - Não seja marica!- Provoca já ganhando hálito de bêbado.- Se você não contar, eu também não vou, não precisa ter medo.- Garante tentando me passar confiança, apontando a garrafa para meu rosto, e reviro os olhos ao pegar o objeto de vidro de suas mãos.

    - Só um gole.- Aviso já me arrependendo antes de fazer.

    - Se você diz...- Concorda sorrindo de lado, esperando que eu tome atitude.

    Ok... É agora.

    Levo a garrafa de vidro verde até meus lábios e assim que sinto o gosto adocicado do vinho descendo por minha garganta, sorrio com o gosto bom da bebida. Jamais havia provado, e por mais que eu deteste admitir, não é tão ruim... Na verdade, é muito bom.

    - Eu gostei.- Admito para o loiro que sorri de orelha a orelha, como se tivesse acabado de ganhar na loteria.- Entretanto, isso não muda o fato que não podemos beber. Se mamãe nos pega com isso em mãos...- Levanto a garrafa até a altura de seus olhos.- Ela nos arrebenta.- Afirmo tomando mais um pouco.

    - Não era só um gole?- Pergunta ele com sarcasmo na voz e reviro os olhos dando de ombros.

    - Era, mas, já que você fez o favor de abrir a garrafa, se deixarmos ela de volta na geladeira, mamãe pode notar que mexemos nela.- Uso meu raciocínio lógico.

   - E se ela notar a falta dela gênio?- Debocha tomando novamente a garrafa para si e dou de ombros mais uma vez.

    - Daí digo que você foi pegar suco na geladeira e acabou esbarrando na garrafa, que quebrou, virando milhões de pedacinhos.- Noto seu olhar surpreso diante minhas palavras e volto a revirar os olhos.- Ok... Não sou tão santinho assim.- Admito sorrindo de lado, vendo o mesmo novamente virar a garrafa contra seus lábios rosados.

    - O vinho que meu companheiro de cela fazia, não chega nem aos pés dessa divindade.- Elogia de forma engraçada, olhando para o vinho como se o mesmo fosse uma bela mulher.

    O que Dylan diz me faz ficar curioso... Como será que é viver na cadeia? Não ter mamãe para cuidar de mim, não ter uma cama confortável para dormir, ou comida decente para comer... Deve realmente ser horrível. Tomo a garrafa de suas mãos e volto a tomar mais um pouco

    - Como era lá... Na prisão? E por que foi preso?- Questiono com cuidado, por não saber o que ele passou.

    - Fui preso porque sou culpado.- Dylan sorri de lado, de forma triste, como se falar sobre o assunto lhe trouxesse lembranças ruins.- Esse mundo tem um desgraçado a menos, por minha culpa. Eu matei o diretor da minha antiga escola.- Admite de forma fria, como se não sentisse orgulho do que fez, mas também, não existia remorso algum ali.

   - E por que fez isso?- Tento saber o motivo pelo qual o mesmo acabou com uma vida, e vejo seu nervosismo crescente.

    - Ele estuprou um amigo meu.- Confessa com raiva em seu tom e olhar, me fazendo finalmente entender.- E adivinha o que o filho da puta disse quando fui confronta-lo?- Pergunta apertando os punhos com força, fazendo as veias de seus braços ficarem a mostra.- Disse que quem admite para o mundo, ser homossexual, é o mesmo que estar implorando para ser estuprado.- Sinto o ódio que o mesmo sente, simplesmente por ouvir.- Ele estuprou meu único amigo simplesmente porque ele era gay!

    - Eu sinto muito Dylan.- Abraço o mesmo com força, talvez movido pelo vinho, e o mesmo retribuí, como se também precisasse do contato.

    - Não está com medo? Digo... Agora você sabe que sou um assassino.- Indaga, parecendo estar com receio de mim ao que lhe solto de meus braços.

    Não esperava escutar o que Dylan confessou... Antes, quando o mesmo apareceu em minha vida, sem autorização alguma de minha parte, o julguei de todas as formas possíveis, para mim, ele era um criminoso desde o dia em que o vi pela primeira vez na enfermaria... Com aquelas roupas, o jeitinho de malandro... Pensei que o mesmo fosse membro de alguma gangue, não que o mesmo tivesse cometido assassinato. Mas, agora, neste exato momento me sinto um babaca por ter o odiado logo de cara. Ao matar uma pessoa, Dylan defendeu a honra de seu amigo, mesmo sabendo que aquilo acabaria com sua vida, ele simplesmente fez... Então, por mais que meu irmão tenha cometido um dos piores crimes possíveis, ainda o quero na família, e não tenho medo disso.

    - É um pouco apavorante.- Admito sorrindo de lado em tom não muito sério.- Mas, você não deixa de ser o Dylan que sai do banheiro com cara de choro.- Brinco com o mesmo, e vejo seu revirar de olhos ao mesmo tempo que suas bochechas adquirem uma tonalidade rosada.

    - Sabe... As vezes sinto que tem duas pessoas dividindo espaço no mesmo corpo.- Comenta bebendo mais um gole da bebida adocicada, e observo que a garrafa está próxima do fim.

   - Como assim?- Pergunto "roubando" o último gole para mim, ao que retiro o objeto de vidro de suas mãos, e viro contra a boca o líquido restante.

    - Existe o Dylan bonzinho, que é legal, companheiro, que gosta de dar amor e carinho. Mas, também existe o Dylan que não aceita ajuda, o impulsivo, que gosta de confusão e que cedo ou tarde, acaba magoando todos os que se importam com ele.- Explica negando com a cabeça, como se em pensamentos, estivesse alguém brigando com ele, o rebaixando de alguma forma.

    - Você falando de você mesmo como "o Dylan" fica muito fofinho.- Brinco tirando um pouco de sarro, e vejo seu sorriso voltar a aparecer.- Sabe... As vezes também me sinto divido em duas personalidades. As vezes quero simplesmente sair daqui, fugir para um lugar onde eu possa fazer o que bem entender, que possa experimentar coisas novas, fazer um pouco de merda, entende?- Questiono e vejo seu assentir de cabeça.- Mas, eu não faço isso, não sou assim, do mesmo jeito que também não sou sempre um amor de pessoa... Acho que somos a junção de nossas partes boas, com as partes ruins.- Explico realmente acreditando em minhas próprias palavras.

    - Acho que você tem razão.- Admite ele me direcionando um sorriso e me sinto feliz por termos conversado.

    - Vamos esconder essa garrafa para mamãe não suspeitar que bebemos?- Questiono levantando o objeto vazio e Dylan concorda, ao mesmo tempo que olha para trás de mim e sua feição se torna de espanto; aparentando bastante que viu um fantasma.

    - Se poupe do trabalho de me enganar, Noah Ackson.- Escuto em resposta ao que a voz feminina tão conhecida por mim se faz presente no comodo, me fazendo sentir um gelo passar pela espinha; anunciando o medo que seu tom irritado me causa. Prendendo a respiração, me coloco a olhar para trás, observando que a mesma não está sozinha... A seu lado, há uma menina, suja, com roupas rasgadas e cabelos despenteados; bastante parecida com uma mendiga. Mamãe me encara com fúria, e em seguida faz o mesmo com Dylan, que solta um "Fodeu" em sussurro. Enquanto consigo pensar em apenas uma coisa...

    Quem é essa menina?!

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