Capítulo 18
Dylan Ackson
EUA. Washington. 15:49 PM. Sexta-feira.
O caminho até em casa foi tenso, Noah chorou praticamente todo o percurso. Um choro baixo e contido. O que sem sombra de dúvidas me deixou com um sentimento horrível por ter o envolvido nisso. Katherine não estaria brava com ele se eu não tivesse pegado o celular... Eu juro que não queria vê-lo tão mal ao ponto de chorar. Sei que vou apanhar, sei que Noah vai apanhar, e tudo isso é culpa minha. Eu apenas queria as senhas dos portões e da casa para fugir, só isso. Mas o celular de Noah é muito complicado, não consegui decifrar a senha e ainda fui pego pelo mesmo.
Eu não quero apanhar novamente... E não quero que Noah pague por algo que eu cometi.
Katherine Ackson realmente não brinca quando o assunto é disciplina. Minha bunda ainda dói por culpa dos tapas que recebi hoje na enfermaria pela manhã.
Agora estamos eu, Noah e Kate no quarto de nossa "cuidadora", é visível sua irritação, realmente Katherine está brava, e com motivos. Fui pego pois nunca roubei nada, sou péssimo nisso, nunca desejei algo que já não fosse meu, nunca sequer pensei em pegar uma caneta na escola sem pedir, e a culpa de ter feito algo do tipo me destrói. Por mais que eu tenha devolvido...eu não devia ter feito isso.
- Tirem as roupas.- Manda ela ao se colocar a nossa frente e vejo que a mesma usa o restante de sua paciência para conseguir falar.
Arregalo os olhos diante sua ordem e olho para Noah que quase passa mal ao meu lado. Ele com toda certeza morre de medo das surras da mãe, e eu não fico atrás, pois a mamãe Ackson não bate fraco.
Com medo da mesma e responsabilizado por Noah estar assim, respiro fundo e penso em tomar o controle da situação, mas antes mesmo que eu possa me colocar de pé, vejo Noah respirar fundo e fazer isso por mim.
- Mãe, eu não vou obedecer dessa vez. Sei que sou obrigado... Mas eu não aguento outra surra e tenho certeza que Dylan também não.- Olho surpreso para Noah que encara Katherine com seriedade.- Sei que errei em mentir, sei que Dylan errou ao pegar meu celular... Mas a senhora também está errando conosco.- Katherine suaviza o olhar ao escutar suas palavras e em questão de segundos se aproxima do filho, devagar.- Se me bater agora não terá perdão, e saiba que não é drama de minha parte, falo sério.
- Está me desafiando Noah?- Katherine pergunta em tom surpreendentemente calmo.
- Não mamãe, a senhora sabe que eu não seria capaz.- O mesmo é sincero ao dizer, sinto isso apenas pela forma que o mesmo profere cada palavra.- Mas quero que considere a possibilidade de que desta vez está exagerando.- Noah parece temer a mãe, mas ao mesmo tempo, não consegue deixar que uma injustiça aconteça debaixo de seu nariz.
Ele tem um... "Senso" de justiça.
Katherine me encara por alguns segundos, e desvio o olhar um pouco intimidado.
O errado da história ainda sou eu, e se ela não castigar Noah, ainda posso estar incluído no sistema de correção.
- Você está certo meu filho...
Que?
- Então não irá nos castigar?- Pergunta ele gostando da idéia, um pouco incrédulo até.
- Não irei. Mas... Dylan terá que me contar qual o motivo de ter feito o que fez, e você está sem celular até que eu ache necessário que você o tenha de volta.- Noah engasga com a notícia e me olha irritado.
Levanto as mãos, como se fosse inocente e Katherine sorri para cena.
- Posso ao menos me despedir de meus amigos virtuais?- Pergunta com certa tristeza na voz e estranho o fato.
É só um celular, não precisa tanto.
- Pode sim, e enquanto isso quero que Dylan me conte sua versão da história. Eu errei em não te deixar falar filho, me desculpe.- A mesma me olha com carinho por longos segundos e quando Noah se dispõe a sair do quarto para se despedir de seu dispositivo, respiro fundo ao ver que Kate se senta ao meu lado e me puxa para encara-la.
É agora Dylan.
- Eu não quis roubar...
- Sei que não. Sinto muito ter lhe acusado disso, você é um menino bom, vejo isso, e sei que não seria capaz de cometer tal ato.- Sinto verdade em seu tom, então resolvo resolvo acreditar.- Por quê pegou o celular? Se queria ligar para alguém, por quê não pedir?- Pergunta com calma, posso ver em seu olhar que a mesma necessita de minha resposta.
Ela realmente acredita que sou um cara bom?
- Peguei o celular para ver se tinha algo nele que me ajudasse a sair daqui. Noah tem inteligência tecnológica e pensei que as senhas das portas e os portões pudessem estar no telefone dele.- Esclareço a situação, sem mentir ou ocultar nada, pois não sou bom em nenhuma dessas duas coisas.
Vejo que o olhar de Katherine sobre mim muda. Agora ela parece estar um tanto surpresa e até mesmo... Chateada (?) Com a situação.
- Bom... Eu devia esperar por isso.- Ela tenta convencer a si mesma, enquanto encara sua frente.- Você não pode sair sem permissão Dylan, sem estar acompanhando por alguém confiável. Sei que é chato não poder fazer o que quer, quando quer, eu sei. Mas se você tentar fugir de mim o FBI não vai gostar, vão ficar na sua cola, no meu pé. Eu não quero isso Dylan, não quero que você se sinta preso mas vamos encarar os fatos, você está... E eu não posso fazer nada quanto a isso, o que posso fazer é cuidar de você, então me diz Dylan, por que quer fugir? Foi a surra? Os banhos? É isso?- Pergunta tentando obter respostas e me sinto culpado por chatea-la ao ponto.
Eu não esperava essa reação...
- Não Katherine... Eu estou preso desde que nasci, nessa vida horrível que sempre tive. Na escola sofria assédio, na rua era espancado, e em casa... Nem sei se posso chamar aquilo de casa, pois o sistema me mudava de orfanato a cada ano que se passava... Eu nunca tive ninguém Katherine! Eu sempre fui sozinho, só eu comigo mesmo, é difícil aceitar você e tudo que te acompanha... É difícil te tratar como mãe, pois nunca tive uma. É difícil aceitar todos os banhos, trocas de roupas e suas regras idiotas porque nunca fui submetido a nada assim! Então pelo amor de Deus só tenta entender... Dúvido que se fosse você em meu lugar iria aceitar tudo isso de bom grado.- Descarrego minhas mágoas em sua cara, e quando acabo, percebo que estou ofegante.
Katherine parece triste com minhas palavras e fico sem o que dizer ao sentir seus braços em torno de meu corpo de maneira afetiva, carinhosa e até mesmo materna. Relaxo um pouco e me permito sentir seu apertado abraço enquanto retribuo o gesto.
- Não fuja de mim. Meu jeito de cuidar é estranho e possessivo, sei disso. Você agora é meu filho, e sinto muito por tudo que tenha passado em seus 16 anos de vida... Mas agora que está comigo e eu prometo recompensar. Confesso que estou sendo dura, minha intenção não é ruim e prometo que de agora em diante tomarei as rédeas da situação, não me deixarei ser ruim a você.- Seus lábios tocam minhas bochechas, em um ato de carinho ao encerrar nosso aperto, e por alguns segundos sinto meu peito aquecer por algo bom, mas que ao mesmo tempo me deixa... Aterrorizado.
- Obrigada por entender meus motivos e por não me bater, mas agora... Por que não me explica o motivo dos banhos?- Pergunto com a intenção de mudar de assunto.
- Confiança.- Diz simples e franzo a testa.
- Confiança? Onde que me ver pelado trás confiança?- Reviro os olhos, isso é besteira.
- Não gosto de segredos, não gosto de mentiras, e dentro desta casa o controle me pertence. Cuidar de você e de seu irmão me dá controle sobre vocês, sei que posso parecer uma psicopata, mas esse é meu modo de ser. Peguei Noah pequenino, nem sempre fui tão super protetora assim, deixava ele sair direto com minha irmã mais nova e alguns amigos da família.- Explica deixando aparecer um sorriso de lado em seu rosto.- Mas quando o mesmo completou 10 anos, um criminoso que ajudei a colocar na prisão fugiu, e adivinha de quem ele veio atrás?- Temo por sua pergunta, pois posso assimilar qual será a resposta.- Isso mesmo... Ele veio atrás de mim. Invadiu minha casa, mas naquele dia eu fiquei até mais tarde no trabalho. O bandido encontrou April e meu bebê, ele rendeu os dois e quando cheguei em casa me deparei com a cena de um homem apontando uma arma para dois membros de minha família. Eu entrei em pânico. Tudo bem me ferir, tudo bem me fazer mal, mas envolver minha família nisso? Na minha vida profissional... Não é algo aceitável. No dia consegui converter a situação e o infeliz levou um tiro de minha pistola, mas Noah não chega perto de armas até hoje. Meu filho é traumatizado por minha culpa, porque não pude protegê-lo. Então se não posso proteger quem amo... O que estou fazendo no FBI? Eu não gosto de prender ele dentro de casa Dylan e nem quero fazer isso com você, mas tenho inimigos em todo o mundo, e minha vida particular infelizmente é pública. Preciso proteger vocês.- Explica com calma, e desta vez sou eu que sinto vontade de abraça-la, então apenas o faço.
Puxo Katherine para outro abraço e afundo minha cabeça em seu ombro, deixando que a mesma sinta um pouco de meu lado afetuoso.
Sei que para toda atitude existe um porquê... E o porquê da agente do FBI me convenceu.
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