Capítulo 08
Noah Ackson
EUA. Washington. 19:16. Quinta-feira.
Após sair de um banho longo e demorado, ando para o andar de baixo de minha casa, mais relaxado. E também, decidido a contar para minha mãe, sobre a proposta do diretor Wray.
Imagina eu trabalhando para o FBI! Que legal não seria... Eu hackeando sistemas de quase impossível acesso. Controlando qualquer câmera ativa, ajudando a deter criminosos, com apenas um clique! Com tecnologia de ponta!
É fascinante pensar assim!
Passo pela sala de estar, e sigo direto para a cozinha, guiado pelo cheiro de comida, que está espalhado pelo ambiente. Não sei o lance que minha mãe tem com comida... Ela ama cozinhar, e odeia quando me falta apetite. Nunca cheguei a perguntar o real motivo para tal "obsessão", mas acho que isso deve estar relacionado com a vida difícil que a mesma levava antigamente. Assim que adentro o cômodo, sinto minha barriga roncar com o cheiro mais próximo de mim.
Observo o local familiar, e vejo mamãe mexendo nas panelas. Enquanto, um pouco mais afastado, Dylan está sentado em um dos bancos altos da bancada, com os cabelos molhados e rosto vermelho de choro recente.
Parece que ele já foi submetido ao meu estilo de vida... Coitado.
- Como foi o banho meu amor?- Escuto mamãe perguntar e sorrio para sua forma doce de falar.
Ela pode ser insana, mandona e até mesmo chata as vezes, mas Katherine Ackson tem seus momentos de carinho.
- Foi bom, relaxante.- Respondo sorrindo.- O que a senhora está fazendo de bom?- Pergunto me referindo a comida, e me sento próximo a Dylan, na bancada.
- Arroz, feijão, brócolis cozido, frango assado e uma saladinha de alface com tomate. Nada de mais.- Ela se vira sorrindo e caminha até a geladeira, tirando de lá uma jarra de suco de laranja.
Estou enjoado de suco, mas mamãe não me deixa tomar refrigerante, pois segundo ela... faz mal para o organismo humano. Kate não me deixa nem ao menos tomar café. Fico imaginando o que aconteceria comigo caso colocasse álcool na boca... Com toda certeza apanharia da mesma.
- Mamãe, será que posso falar com você um minuto?- Pergunto com calma, e vejo a mesma largar a colher que sustentava nas mãos em cima da pia, para me encarar preocupada.
- Claro meu bem, você sabe que sim. Aconteceu alguma coisa?- Ela se aproxima de mim, e sem pedir permissão, começa a procurar machucados em meu corpo. Chegando a subir minha camiseta um pouco.
- Calma mamãe, eu estou bem ok?- Sorrio achando graça de sua reação.
- Então o que foi filho?- Sua preocupação é evidente, e isso me deixa ainda mais nervoso para o que vou dizer.
Ela pode não deixar e ainda surtar com a idéia.
- Ah... eu... sabe eu...- Tento falar, mas minha falta de jeito não me ajuda, o que colabora para me deixar mais nervoso ainda.
- Calma meu amor, respire e me diga o que está acontecendo, sim?- Pergunta com doçura, e faço exatamente o que ela pede.
Respiro fundo, e me preparo para soltar a bomba.
Não pode ser tão ruim...
- O diretor Wray me ofereceu uma vaga de trabalho, para ser o hacker fixo do FBI.- Disparo sem calma e vejo sua expressão mudar para surpresa ao me ouvir.
Com toda certeza a mesma não estava esperando por isso.
- E o que você disse a ele?- Quis saber com calma na voz, e respiro mais aliviado ao saber que a mesma não está irritada, nem nada do tipo.
Isso me parece bom.
- Eu disse que precisava pedir a você primeiro, mamãe, e ele está esperando por minha resposta.- Digo com espectativa contida.
Vai que ela deixa...
- Entendo.- Diz simples e se vira novamente para as panelas no fogo.
Só isso...?
Não vai dizer mais nada mamãe?
- Então... O que a senhora decide?- Pergunto com curiosidade.
- Decido que irei pensar.- Diz desligando as chamas do fogão elétrico, sem ao menos me olhar.
Há não vai não, a senhora não vai me matar de curiosidade não.
- Pensar? Você nunca pensa mãe!- Falo bravo com a mesma.
- Que tom de voz é esse Noah Ackson?- Pergunta ao se virar e me encarar com seriedade.
Há nem vem...
- É o tom de uma pessoa que está de saco cheio de ser pau mandado da mãe! Você nunca deixa eu fazer nada, porra!- Grito com raiva da situação, me colocando de pé.- Toda vez você que decide! Tudo é você que decide!- Sinto minha respiração ficar acelerada por causa da irritação mas não me calo.- Eu tenho 18 anos, você sabe disso, não sabe? Então pelo amor de Deus, me deixa tomar minhas próprias decisões! É um trabalho digno, honesto! Não tô te pedindo para sair vendendo drogas na rua, e nem nada dessa natureza! Então fala de uma vez que você deixa mãe, que saco!- Solto todas palavras rapidamente, e mamãe apenas me espera terminar, enquanto me encara com os braços cruzados.
- Acabou?- Pergunta calmamente e suspiro bravo.
- Sim.- Olho para o chão, não querendo encara-la agora.
O jeito que ela controla minha vida me irrita.
_________________FBI__________________
Katherine Ackson
EUA. Washington. 19:25. Quinta-feira.
Encaro meu filho por longos segundos, segurando-me para conter a vontade de curva-lo contra minhas coxas e esquentar esse traseiro malcriado. Sei que o mesmo só está emotivo com tudo o que está acontecendo hoje, e por mais que eu não aprove sua atitude, entendo o porquê dele estar assim.
Sei que não sou fácil de engolir, sei que é difícil obedecer todas as regras que imponho. Mas também sei que tudo o que faço é para mantê-lo vivo, bem e em segurança. E por mais que eu tenha lhe isso explicado várias e várias vezes no decorrer dos anos, também sei que isso não soa convincente para Noah.
Mas não preciso convencê-lo.
Enquanto ele estiver obedecendo... Tudo bem o mesmo não entender o porquê que faço tudo isso com ele. Tudo bem... Ele estando bem é o que realmente importa.
- Eu disse que preciso pensar, meu filho. Então eu realmente preciso pensar sobre o que você acabou de me dizer. Não posso tomar uma decisão dessas em um minuto.- Digo com paciência, vendo que o mesmo encara apenas o chão no momento.- Amanhã lhe darei minha resposta, e não quero que fique bravo comigo independente de qual seja a mesma.- Explico com calma, e o mesmo ergue a cabeça para me encarar com as sombrancelhas franzidas.
- Significa que você não vai deixar... não é mesmo Katherine?- Suspiro ao ouvir que o mesmo me chama pelo nome.
- Mamãe. Para você rapazinho, é mamãe. No máximo mãe. Está entendendo?- Pergunto agora um pouco mais rígida, e Noah concorda rapidamente com lágrimas nos olhos.
Bom menino.
- Por que nunca deixa eu fazer nada? Toda vez que tenho a oportunidade de provar que posso me virar sozinho, você não me deixa fazer! Toda vez mamãe!- Seu tom passa a ser choroso e por um instante desvio minha atenção para Dylan, que está encarando tudo em silêncio até agora.
- Eu disse que vou pensar meu amor, não precisa desse chorinho.- Respondo com carinho ao perceber que seus sentimentos estão a flor da pele.
- Mas você vai dizer não!- Acusa deixando lágrimas grossas lhe escaparem por entre os olhos.
- Você não sabe, eu posso até dizer sim. Mas tenho que avaliar com clareza, os prós e os contras nisso tudo, meu bem. Preciso de um pouco de tempo, você consegue esperar a mamãe meu amor? Só até amanhã.- Digo com carinho, começando a me aproximar do mesmo.
- Uhum...- Responde baixinho e mesmo querendo escutar um "sim" saindo de sua boca, me contento e sorrio para meu filhote.
- Então já chega de chorar, meu anjo.- Falo com amor.- Deixa a mamãe secar seu rostinho, vem cá, vem.- Chamo, mesmo sendo eu que estou a me aproximar. Então, quando estou perto o bastante, pego na barra de sua camiseta mesmo, e levo a mesma até sua face molhada, secando tudo, desde seus olhos, até perto de seu nariz.- Prontinho campeão.- Beijo seus lábios com carinho e vejo Noah sorrir envergonhado, para meu gesto de afeto.
Faço isso desde que o mesmo era apenas um pequeno bebê. Bons tempos...
- A gente já pode comer?- Rio ao escutar a pergunta de Dylan, e Noah revira os olhos sorrindo também.
- Sim meu bebê. Vem lavar as mãozinhas.- Ofereço, direcionando minha atenção para o mesmo, e noto sua frustração ao me escutar.
Sei que o mesmo ainda está chateado pelo banho.
Lá em cima, no quarto, o mesmo armou o maior berreiro ao entrar na banheira. Chorou horrores, tanto que sua voz está até um pouco rouca pelos gritos. Confesso que fiquei a um passo de lhe descer a mão na bunda, mas ainda bem que tive paciência com o mesmo.
Ver essa carinha de choro está me matando por dentro.
Mas sei que tudo o que tive que fazer naquele quarto, foi necessário. Consegui medica-lo com um remédio forte para dor muscular, chamado mionevrix. Espero que o mesmo funcione, pois não gosto da idéia de ter Dylan sentindo dor. Mas amanhã, assim que chegarmos em meu trabalho, irei tirar o raio-x de seu tórax e ver se o estrago é grande. Terei que examiná-lo de novo, mas ao menos agora o mesmo sabe como funcionam as coisas comigo.
Não foi fácil explicar as regras, ele surtou, gritou comigo, chorou quando o repreendi. E me fez perceber o que eu já sabia... Ele não é uma pessoa ruim, não passa de um garotinho que nunca teve alguém para com ele. Que nunca recebeu cuidados, amor ou qualquer outro tipo de carinho. Não conheceu limites, nem mesmo na cadeia, pois li seu histórico de cima para baixo mais de cinco vezes, e para ele... A vida sempre fora uma confusão, que não valia a pena de ser resolvida.
Dylan se levanta com cuidado, e vem até mim, ainda com o rosto vermelho pelo choro recente. Levo meu bebê até a pia do banheiro mais próximo, aqui no andar de baixo mesmo, e assim que ele lava suas mãozinhas, vejo Noah adentrar o banheiro e fazer o mesmo. Espero meu ruivinho terminar, e aproveito para higienizar as minhas também.
Volto para a cozinha, sendo seguida por dois adolescentes de rostos vermelhos e mesmo sem querer, acabo achando a cena fofa. Coloco toda comida rapidamente sobre a mesa, e faço meu bebê se sentar próximo a mim, para que eu possa garantir que o mesmo coma tudo, sem desperdício, enquanto também como feliz.
Feliz por finalmente me sentir completa, com meus dois filhos ao meu lado. Mesmo que eu saiba que Dylan dará trabalho... Tenho fé que o mesmo entrará na linha. Nem que para isso, eu tenha que ser rígida com o mesmo de vez em quando.
Espero que amanhã o dia seja menos turbulento.
Mas por hoje, estou satisfeita com os resultados. Com toda certeza irei conversar com Wray sobre oferecer um emprego ao meu filho sem antes me comunicar. Aquele diretor tem muito o que escutar de mim hoje a noite.
Há se tem.
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