Ruínas
— E então? Gostaria de ir ao baile comigo? - olho para ela, aparentemente está séria.
— Não posso ir, não posso ficar no meio dos humanos. - ela me olha e sua seriedade parece querer disfarçar uma profunda tristeza. Olho para ela confuso - Vem, permita-me mostrar lhe um lugar. - ela segura minha mão, me puxando para uma caminhada.
Após alguns minutos caminhando em silêncio, chegamos em um lugar, onde aparentemente havia uma vila, agora toda tomada pela mata, árvores entrando pelas janelas, há alguns pratos no chão, marcas de fogo na parede, sangue seco no chão de muito tempo.
— Eu morava aqui - ela aponta para uma casa - eu, minha mãe, meu pai e meus dois irmãos, eu era a mais velha, havia um pequeno bebê recém nascido e meu outro irmãozinho estava aprendendo a falar - ela começa a andar pela vila e eu a sigo em silêncio - Meu pai me ensinou a atirar com um arco naquela árvore - ela aponta para uma árvore com alguns arranhões, mas bem finos como se fosse feito a muito tempo - minha mãe, estava cuidando da casa naquele dia, eu estava com ela, quando ouvimos um barulho muito alto de cavalos se aproximando, eram mais de cinquenta homens, levavam um estandarte de um leão dourado em um fundo vermelho. - ela aponta para um estandarte rasgado, mas dava de ver que era o símbolo da minha família - minha mãe se agarrou ao bebê, e deixou o meu outro irmão aos meus cuidados, alguns elfos tentaram lutar - ela chuta uma ponta de flecha enferrujada - mas era em vão, eles eram mais fortes, mais bem treinados, não éramos uma vila hostil, não atacavámos ninguém, nós usamos arcos somente para caçar nossa comida, mas mesmo assim os humanos atacaram, eu peguei meu arco e meu irmão no colo saindo correndo, no meio do caminho, vi elfos sendo esquartejados, vi elfos queimados vivos, vi meu pai sendo morto com uma espada enfiada no coração tentando me defender, vi minha mãe tentando defender o pequeno bebê - ela respira fundo com os olhos cheios de lágrimas - e morrer, vi eles... Eles - algumas lágrimas rolam no seu rosto - Jogarem o bebê, Ethan... O bebê no fogo - ela olha nos meus olhos - Tudo isso por que? O que tínhamos feito? Nada, apenas nascido. Os humanos resolveram nos matar, torturar apenas por sermos de uma raça diferente, o que eu e você temos de diferente?
— E-eu - eu simplesmente não sei o que dizer, tudo aquilo era tão cruel, tão repugnante - eu não sei, não sei o que dizer...
— Desde a aquele dia eu jurei, nunca me envolveria com humanos, iria proteger meu irmão, e voltar para o reino elfico, onde os elfos do Sol estão. - ela olha para o céu - mas teve um dia, um fatídico dia, que algo aconteceu e mudou todos os meus planos.
— O que aconteceu? - olho para ela preocupado, ela olha para mim com os olhos vermelhos de ter chorado, o vento sopra seus cabelos.
— Eu conheci você - ela sorri e eu sinto minhas bochechas ficarem quentes - você durante todo esse tempo, poderia ter me matado, ter feito coisas horríveis comigo, mas não fez, mesmo que no nosso primeiro encontro você tenha colocado a espada em minha garganta, você não me matou, homens estavam a sua procura e você os afastou, você me deixou curiosa, foi isso que me motivou continuar vendo você, você é honesto, humilde, corajoso, e assim como eu daria sua vida pelos seus irmãos, não… Você daria a vida por quem ama, é justo e verdadeiro.
— Chega - desvio o olhar para o chão - assim você vai alimentar meu ego - sorrio sem graça - Ashryn, tudo que você me contou, dou a minha palavra, que nunca tinha ouvido falar, eu não vou mentir para você e dizer que os humanos são todos bondosos, há sim humanos cruéis, perversos, assim como também há elfos maldosos. Mas assim como eu há humanos bons, justos e honestos, meus irmãos, meu pai são a prova disso - olho para ela com firmeza - venha ao baile comigo e eu te mostrarei. - estendo a mão para ela.
— Eu vou pensar - ela limpa umas lágrimas secas - bom... Acho que você tem que ir, está ficando tarde, e eu preciso voltar. Nos vemos amanhã, e eu direi minha resposta. - ela começa a caminhar para dentro da floresta dando um tchau de costas.
Volto ao rio, pegando meu cavalo tentando não pensar em tudo que ela me disse sobre os humanos, ao chegar ao palácio vejo uma silhueta me encarando pela janela, mas quando eu pisco os olhos ela já havia partido, talvez seja somente impressão minha. A mesa de jantar eu mal toco na comida, mal olho para meu pai também, ainda estava com raiva, mas há uma pessoa que não para de me encarar, Edilaine, ela me olha como se tivesse pronta para me destruir com lógica e argumentos, mas ela com certeza não faria isso na frente dos irmãos, meu pai também come pouco, logo se saindo.
— Ah, mas que droga! Mal comi - Blair reclama enquanto as servas tiravam a mesa- espera, espera! - ela tenta roubar comida de uma das bandejas.
— Blair... - Hadley, sentada como uma verdadeira dama, olha para Blair com desprezo - Tenha modos, você parece uma morta de fome!
— Hadley! Minha irmãzinha querida - Blair sorri pegando seu suco - toma conta da sua vida, medíocre que eu tomo conta da minha - Blair estava para virar o suco na Hadley.
— Chega Blair - Edilaine se põe de pé elevando o tom da sua voz e todos a encara - Todos para seus quartos, sem re-cla-mar - ela olha para todos, dividindo a palavra, reclamar, em sílabas para dar mais ênfase.
— Tsc - Blair coloca o copo de volta a mesa, saindo da sala.
Todos acabam por sair da sala, quando eu estava de saída sinto uma mão no meu ombro.
— Você, vem comigo - ouço a voz da Edilaine sua mão era firme em cima do meu ombro, me conduzindo para fora, da sala para a biblioteca seu habitat natural.
O teto da biblioteca era feito de vidro, o que permitia ter uma vista panorâmica do céu, a única iluminação que havia no local era a lua. Edilaine se senta permanecendo em silêncio enquanto me encara, exatamente como meu pai faz.
— Bom... - olho para ela confuso - O que você gostaria de falar comigo?
— Me diga você - ela apoia a cabeça em suas mãos entrelaçadas - o que você gostaria de me falar? Você nunca foi muito bom de esconder o que sente, principalmente de mim.
— Como você pode ser tão... Fria? Nosso pai praticamente nos vendeu, e você aceitou? Não tem orgulho ou sei lá, sonhos? Desejos? Planos?
Ela sorri olhando para os livros.
— Isso não é importante, nada disso é importante - ela faz carinho em um livro - o que importa, é o que temos que fazer? O que nascemos para fazer. Você nasceu para governar esse reino, eu nasci para servir a esse reino.
— Edilaine... Você... Já pensou em algo além disso? - eu olho para ela - não sei, em querer sair desse mundo, ir para outro lugar, novas experiências?
— Eu já viajei para outros mundos, ouvi muitas histórias de vários lugares - ela se levanta colocando um livro em minha mão - através da leitura, eu não preciso de mais nada. Você nasceu com um dever - ela olha em meus olhos - de todas as pessoas que eu conheço você é a única capaz disso.
Eu olho para o livro em minhas mãos, esse era o modo dela escapar da realidade? Tornar essa vida suportável? Ler? Apesar de tudo ela mesmo assim queria escapar ao seu modo.
— Capaz de? Governar? Fui treinado para isso não é?
— Auto sacrifício! Nada importa para nós, a guerra contra os clãs do norte agora é eminente, se não nos armamos agora, como poderemos ajudar o povo? Os nobres sob a responsabilidade do rei - ela segura minha mão - nossos irmãos? Mesmo que eu tenha que sacrificar meu coração, estarei disposta a isso, além do mais eu conversei com nosso pai, ele ficou um pouco chocado e chateado com sua atitude infantil, mas eu sugeri que nossos pretendentes ficassem na coorte após o baile, para nós os conhecermos melhor, e ele concordou, então não vamos nos casar com uma pessoa estranha. - ela pega o livro de volta colocando na prateleira - a questão é se você está disposto a sacrificar seu sonho, e seus desejos pelo seu dever para com o povo?
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Olá, emy aqui!
Vim anunciar os capítulos novos vão sair toda quinta, sexta e sábado.
Fiquem ligados 😉
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