Capítulo XIV
— Pra onde você tá me levando, Aksa?
— Quero te mostrar um lugar muito importante, mas você precisa confiar em mim. - sorri e ele pareceu deixar o assunto de lado.
Nesses 8 meses de casados, muita coisa aconteceu. O lado bom é que todas as mudanças foram positivas!
Dirigi durante uns 20 minutos até parar em frente a um prédio enorme, com paredes pintadas de vermelho e amarelo, acompanhados por grafites coloridos que davam destaque à entrada.
— Chegamos! - disse quando desci do carro.
— Uau. - Rodrigo disse admirando as artes no muro - Que lindo, preta.
— É, não é?! - sorri animadamente e puxei-o pela mão - Vem, vou te mostrar lá dentro.
O interior do prédio é tão colorido quanto a parte externa e possui vários grafites de diferentes desenhos nas paredes. Havia duas escadas espaçosas que se encontravam no segundo andar, e entre elas, um elevador específico para cadeirantes.
— Bem-vindo à Fundação González, amor. - disse soltando sua mão e andando um pouco mais à frente - Uma ONG para crianças órfãs que possuem algum tipo de deficiência!
— Você fez tudo isso? - disse boquiaberto.
— Na verdade, a ideia foi do Arthur, eu amadureci o projeto e meu pai me ajudou a torná-lo realidade, mas o designer do prédio fui eu que fiz sim. - sorri apreensiva - Você gostou?
— Como assim "se eu gostei", amor? - disse sorrindo - Esse lugar tá um máximo, e o fato dele ser uma ONG fez ele se tornar ainda mais incrível! - sorri - Como você conseguiu?
— As principais patrocinadoras são a Mt' e a G-Arts, mas existem muitas outras empresas que ajudaram a tornar isso aqui realidade. - ele me ouvia com atenção - Foi fácil começar a construir já que a minha empresa é focada em arquitetura, e como a empresa do meu pai é focada em arte, deixei nas mãos dele a parte da pintura e decoração. - admirei o espaço - Só não sabia que ia ficar tão perfeito.
— A quanto tempo você tava me escondendo isso?
— Seis meses. - arregalou os olhos - Mas, foi meu pai que pediu para fazer surpresa!
— Vou aceitar só porque é uma boa causa. - sorri - Agora, me explica melhor como as coisas vão ocorrer por aqui.
— Então, a ONG vai ser inteiramente movida por doações e patrocínios, desde a alimentação receitada por um nutricionista, até os atendimentos de fisioterapia realizados por profissionais. - comecei a andar pelo local - Esse primeiro andar vai ser usado, exclusivamente, para os tratamentos médicos dos pequenos.
Mostrei cada cômodo para Rodrigo, e expliquei a função de grande parte dos aparelhos, depois disso subimos as escadas.
— Aqui em cima ficam os quartos. Optei por deixar a ala feminina separada da masculina para as crianças e os profissionais se sentirem mais confortáveis, mas pedi pro meu pai não usar azul e rosa.
Andamos mais um pouco, depois fomos para a área externa do prédio.
— Por fim, aqui é o outro playground, a única diferença é que esse é a céu a aberto. - apontei para um lugar - Ahh, e ali na frente, naquela espécie de "casa", é a piscina que também vai ser usada para tratamento. - respirei fundo e o encarei - Isso é tudo, amor!
— Deus, obrigada por me deixar casar com a mulher mais perfeita desse mundo! - disse sorrindo e veio me abraçar - Eu te amo muito, mais que qualquer coisa, e não consigo nem dizer o quanto estou orgulhoso, preta.
— Eu também te amo. - lhe dei um beijo - Agora eu vou te mostrar a segunda ONG. Vem!
Puxei Rodrigo pela mão até sairmos do imóvel, caminhamos durante uns 5 minutos e chegamos a um outro prédio, pintado e decorado com a cor verde.
Entramos no local e, de longe, deu para ouvir os latidos.
— Boa tarde, Aksa. - um jovem de cabelo escuro e pele clara me cumprimentou.
— Boa tarde, João. - deu um beijo rápido em minha bochecha - Rodrigo, esse é o João, veterinário principal. João, esse é meu marido, Rodrigo. - eles deram um aperto de mão - Eae, como vão as coisas por aqui?
— Para uma ONG inaugurada há 3 dias, estão ótimas. - sorriu - Os animais estão se adaptando muito bem!
— Vem, amor. - peguei a mão de Rodrigo - Licença, João. - sorri e saí andando - Essa é Fundação Anjos de Patas, o foco dela é abrigar e cuidar de animais em situação de abandono ou maus tratos. - expliquei enquanto brincava com alguns cachorros - Aqui existem veterinários e uma equipe de resgate disponíveis, além de zootecnistas que nos ajudam a formular uma dieta saudável pros bichinhos.
— Oi, neném. - Rodrigo se abaixou para fazer carinho em uma das fêmeas que se aproximou dele - Também foi ideia do Arthur?
— Não, a iniciativa foi minha. - sorri - Já fazia muito tempo que eu queria criar esse lugar, mas tinha medo de algo dar errado. Até que eu taquei o foda-se, aproveitei os projetos que eu já estava fazendo para a Fundação González, e criei esse aqui. - joguei a bolinha para eles irem atrás - Meu pai também me ajudou demais!
Rodrigo se aproximou, entrelaçou minha cintura com os braços e me beijou.
— Eu já disse que você é perfeita? - sorri e assenti - Pois então, vou repetir. Você é perfeita, mais do que eu achava que fosse capaz de existir!
— Obrigada por me apoiar, amor!
— Esse é meu dever. - selou nossos lábios outra vez - Vamos jantar fora hoje? - perguntou.
— Ué, pra que?
— Sei lá, preta. Só pra sair um pouco da rotina! - ri de leve.
— Tá bom.
Ficamos mais algum tempo brincando com os cachorros e com os gatos, depois eu voltei para a Mt' e o Rodrigo foi para a delegacia.
Desde que me casei, além das ONG's, formei mais três empresas, duas estão em nível micro e outra já podia ser considerada macro. Pelos meus cálculos e planos, elas serão tão grandes e bem sucedidas quanto a Mt'.
Confesso que estou muito cansada devido à quantidade de assuntos que preciso resolver, mas só de ver que tudo está saindo como planejado, já me sinto revigorada.
Decidi soltar o cabelo, tirar a camisa social e ficar somente com a regata branca, a calça jeans clara e o salto simples. Coloquei os óculos de grau, chamei o Uber e fui de encontro ao Rodrigo.
Meu marido voltou para as competições de Muay Thai, por isso depois do trabalho, ele sempre vai treinar em uma academia de luta muito conhecida aqui no Rio. Marquei de encontrá-lo lá, depois iríamos jantar.
Assim que entrei, já senti os tão pesados olhares sobre mim. Eu evito vir até aqui por me sentir muito desconfortável com tantos homens me olhando, mas nunca disse a verdade pro Rodrigo, sempre invento alguma desculpa.
Vi meu marido treinado com um cara, quase do mesmo tamanho que ele, a alguns metros à frente. Ao perceber minha presença, ele sorriu, acenou e continuou concentrado no treino que vai acabar daqui alguns minutos.
Enquanto mexia no celular para passar o tempo, escutei uma voz masculina dizendo "gostosa" atrás de mim, mas em um volume tão baixo que cheguei a duvidar se eu de fato tinha ouvido certo. Olhei para trás e vi vários homens andando, mas como eu não fazia ideia de quem havia dito, voltei minha atenção para o celular.
— Eae, preta. - Rodrigo disse ofegante ao se aproximar - Não vou te beijar porque estou todo suado!
— Tudo bem. - sorri.
— Só vou ali no vestiário para tomar um banho, depois nós vamos, tá?! - assenti - Já volto! - disse piscando para mim e eu ri.
Um tempo depois dele sair, fui até o bebedouro que ficava no mesmo corredor que os banheiros.
Enquanto enchia o copo de água, percebi alguém saindo do banheiro masculino e vindo na minha direção. Mesmo havendo espaço de sobra, por algum motivo, o homem ficou somente atrás de mim. Ele não me encostou em nenhum momento, mas me senti extremamente desconfortável.
Enquanto levava o copo aos lábios, escutei uma respiração funda acompanhada de um som meio irreconhecível vindo do homem, e preferi não me virar para ver o que era. Só consegui relaxar os músculos quando vi-o jogar o copo de plástico no lixo e voltar para o lugar dos treinos.
Respirei aliviada e só então percebi que havia algo molhado na minha perna direita. Joguei o copo descartável no lixo, passei a mão pelo tecido úmido e senti meu estômago revirar ao encarar um líquido viscoso, de coloração branca em meus dedos.
Não é possível que ele tenha feito isso.
Olhei para os lados e o cara havia desaparecido no meio daquele tanto de gente. Andei apressadamente até o banheiro, peguei papel toalha e tirei aquela coisa nojenta da minha calça.
Enquanto esfregava, senti as lágrimas pesadas molharem meu rosto. Não sei exatamente por que eu estava chorando, mas era uma mistura de nojo e raiva.
Esperei um tempo para me recompor e saí do banheiro, mas dei de cara com uma parede de músculos à minha frente.
— Te achei. - Rodrigo disse passando a toalha pelos cabelos molhados - Pensei que você estivesse lá fora!
Por impulso abracei-o com força e, sem que ele percebesse, deixei uma lágrima cair enquanto escorava a cabeça em seu peito.
— Ei, o que foi? - perguntou ao me encarar.
— Nada. - ele ia dizer algo, mas interrompi - Só quero ir embora!
Antes que ele pudesse contestar, saí andando em direção ao estacionamento. Cheguei perto do seu Mustang e entrei no lado do passageiro assim que ele destravou o alarme.
— Você vai me dizer o que aconteceu, ou não? - perguntou calmamente depois de colocar a mochila no banco de trás.
— Eu já disse que não aconteceu nada, amor.
— Então por que você saiu assustada do banheiro? Por que me abraçou daquele jeito? - ele pôs a mão sobre a minha bochecha e me deu um beijo - Me conta o que houve, preta. - respirei fundo.
— Enquanto eu tava mexendo no celular, eu escutei alguém me chamando de gostosa. - sua expressão mudou drasticamente.
— Como é que é?
— E depois, enquanto você tomava banho, eu fui beber água. Aí ...
— "Aí", o que? - perguntou sério - Fala, Aksa.
— Amor, não fica brav...
— Eu já tô bravo, agora me fala o que aconteceu. - disse com a voz grossa.
Percebi que os olhos de Rodrigo estavam em um tom mais escuro que o normal, poucas vezes vi meu marido tão nervoso daquele jeito.
— É que... - engoli seco - Um...
— Fala, caralho.
— Um cara gozou na minha perna. - disse movida pela pressão.
Minhas palavras soaram como gasolina em uma fogueira. Em milésimos de segundos Rodrigo saiu do carro, bateu à porta com força e foi em direção a academia de luta.
Saí do automóvel ainda mais rápido que entrei para ir atrás dele.
— Amor, fica calmo. - apressei os passos - Você é delegado, não pode se envolver em qualquer briga, isso vai refletir mal na sua carreira.
— Calmo? - disse alto e sorriu cinicamente - Um cara desrespeita a minha mulher, goza na perna dela e você quer que eu fique calmo?
— Mas você nem sabe quem foi.
— Eu tô pouco me fudendo, Aksa. Quebro a cara de cada um, até descobrir quem fez isso!
— Amor, espera ... - tentei alcançá-lo, mas era impossível acompanhar os passos de um cara com 1.92 de altura - Amor! - chamei, mas fui ignorada - RODRIGO, ME ESCUTA! - gritei e ele parou ainda de costas para mim - Deixa isso pra lá, por favor. Já tô me sentindo horrível por ter sido assediada, não quero ser o motivo do seu afastamento da delegacia!
— Por que você tá chorando?
— Sei lá, porque... - passei a mão pelo cabelo e deixei as lágrimas descerem - Porque eu tô cansada disso. Cansada de ser vista como propriedade pública, como um estímulo para os homens, como um objeto ou algo que nem sequer merece respeito. Eu só queria sair me sentindo bem com a minha própria roupa, sem ter medo de encontrar esse tipo de nojento por aí! - ele me encarou - Eu sei que você tá bravo, mas por favor, fica aqui comigo.
Vi ele respirar fundo e segundos depois, andou rapidamente na minha direção, me abraçando logo em seguida.
— Desculpa, preta. - beijou o alto da minha cabeça
— Eu estava tão feliz a algumas horas atrás, e agora tô aqui, chorando por causa de um escroto nojento.
— Eu sinto muito mesmo. Por tudo isso! - disse me aninhando ainda mais em seus braços - Vem, vamos para casa.
— Mas, você não queria jantar? - perguntei encarando-o.
— Eu te conheço, sei que o que você mais quer fazer é tomar um banho e dormir pra esquecer o que aconteceu. - acariciou meu rosto - Então, vamos pra casa. Outro dia a gente sai pra jantar!
Eu amo o Rodrigo por incontáveis motivos, mas o fato dele me entender sem eu nem precisar pedir, é uma das coisas que mais me deixa apaixonada por esse delegado.
*Relevem os erros, por favor.*🥺
Esse capítulo foi mais para atualizar vocês sobre as mudanças na vida do Rodrigo e da Aksa depois do casamento, por isso é menorzinho.😁 Preparem os corações que a partir daqui a história vai ficar bem interessante!
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