
02. progresso
— Aí meu Deus.
A voz já conhecida por Isabela de Marina soou por seus ouvidos. Da mesma maneira que ela sentia o queimor de seu nariz piorar, indicando que o machucado ali estava feio.
— Meu Deus, Pedro. Presta atenção por onde anda. — continuou a mais nova.
Isabela levantou a cabeça novamente, sendo acompanhada de longe pelos olhos escuros de sua co-estrela. As mãos de Marina foram ágeis, três segundos depois já estava com papéis nas mãos, entregando para Isabela pressionar no nariz.
— O que aconteceu? — Tom Holland perguntou, ao notar as mãos de Ferraz suja de sangue.
— O Pedro.
Isabela conseguiu estancar o sangue, sentindo as narinas queimar. Marina pegou mais papel umidecido, ajudando Isabela a limpar o restante da sujeira.
Isso tudo levou em torno de dois minutos, até que todos estivessem novamente sentados na mesa. A cabeça de Isabela começara a doer loucamente, os olhos e as narinas queimavam. Sentia que a qualquer momento poderia escorrer mais sangue dali, porém estava tentando se forçar a pensar em outra coisa. Como que o dia que era para ser um recomeço em sua carreira tinha acabado daquela forma?
— Podemos começar, então? Isabela, você está bem?
A voz de Craig a puxou novamente a força para a realidade. A mais nova apenas balançou a cabeça em resposta, sentindo os olhos do seu agressor do outro lado da mesma.
Filho da puta. Pensou, ele nem pediu desculpas.
— Achei que se nós reuníssemos para assinar o contrato, ia ser uma forma melhor de tornar as gravações no set mais amigáveis. — começou a explicar — Na frente de vocês tem algumas informações que provavelmente vão os ajudar a entender mais seus personagens.
Isabela passou o dedo indicador sobre o nome da sua personagem, sentindo o alto relevo ao passar sobre o Kennedy.
— Essa semana já começaremos as publicidades. Alguns de vocês nunca trabalharam com a HBO, então não sabem como que rola a maneira como que fazemos isso. — Craig falava extremamente paciente — Indico que leiam as letrinhas miúdas do contrato.
A única do cast principal que não estava presente era a Bella Rampsey, tinha tido um problema de emergência e o vôo tinha acabado por ser cancelado.
— Teremos o evento promocional amanhã e logo começaremos as gravações de vocês dois. — Craig apontou para Tom e Isabela — Os assessores de vocês já estão cientes da agenda. A partir de agora vamos trabalhar bastante para entregar um conteúdo digno de adaptação.
Aquilo revirou em seu estômago. Isabela não soube se era por conta do machucado no nariz ou se era nervosismo por estar participando de uma coisa tão grande. Do outro lado da mesa, vez ou outra seu olhar se encontrava sem querer com Pedro Pascal. Isso revirava seu estômago com mais precisão.
Quando a reunião terminou, todos os indivíduos começaram a se mover para sair da sala, segurando alguns papéis importantes nas mãos. Tinha muita coisa para ser trabalhada e Isabela esperava que todos ali gostassem de seu desempenho, porém continuava com medo da internet.
— É bom pressionar uma compressa fria.
Marina passou a dica para a Ferraz, se aproximando.
— Desculpa pelo Pedro, ele é meio desengonçado e as vezes não presta atenção por onde anda. Mas, juro que você vai gostar de trabalhar com ele. Ele é uma boa pessoa.
Isabela cerrou os olhos, analisando a garota a sua frente. Foi então, que notou por cima de seus olhos que a razão da conversa estava parada na porta olhando para Mari. Isabela ligou os pontos e percebeu que a garota era a assessora de Pedro.
— Eu tenho certeza que sim. — a morena forçou um sorriso amarelo.
Mas por dentro desejava pegar o rosto de Pascal e acertar contra o vão da porta, pois nem uma singela desculpa o mais velho teve coragem de emitir. Era o cúmulo do absurdo.
Enquanto caminhava para fora trocou algumas palavras com Tom Holland sobre os papéis de ambos, e o mais novo disse entusiasmado que estava animado para interpretar o personagem. E de fato estava. Quando o Uber chegou, Isabela deslizou pelo banco frio, sentindo o nariz ainda queimar. Precisava fazer uma parada antes de ir para casa, seus pensamentos precisavam se aquietar.
🩸
— O quê?
A voz de Oscar soou tão incrédula, que se Pedro também tivesse ouvido o que ele acabara de dizer também não acreditaria.
— Você quer me dizer que a carreira que a gente fodeu não era da sua Isabela e sim da Isabela Ferraz?
As pupilas dilatadas de Pascal apenas comprovava que se sentia meramente na merda. A muito tempo atrás, Pedro estava bebendo em um bar qualquer acompanhado de Oscar como quase todas as noites. Na mesa do lado o Diretor Matthew falava em alto e bom som da maneira que Isabela trabalhava nos filmes de forma perspicaz e volumosa, também ressaltou milhares de vezes que a garota era extremamente atraente.
— Como que cometemos esse erro? — Oscar pensou alto — Sei que não tinha duas Isabela naquele filme... Ah, não ser...
Pedro puxou o celular do bolso jogando o nome de Isabela Ferraz no Google, os resultados foram horríveis de imediato.
— Tinha a porra de duas Isabela no filme, Isaac. — grunhiu ele, passando as mãos pelo cabelo em sinal de frustração.
Naquela noite bêbado sentado naquele mesmo bar, Pedro cambaleou até o Diretor e deu dicas de como ficar com a garota. Esperando que algo ruim acontecesse, da mesma forma que ocorreu. Porém, de outra maneira.
— A gente acabou com a carreira de outra pessoa.
A voz de Oscar soou baixa, quase completamente rouca.
— E agora ela tá escalada para fazer meu par romântico. — Pascal jogou as mãos para cima, exausto — Como isso vai dar certo?
— Você precisa manter essa garota o mais longe possível de você. — disse sério — Se ela descobrir Pedro, a carreira que vai acabar vai ser a sua. Você não pode...
— E se eu só pedir desculpas?
Pedro virou o copo de whisky de uma vez na boca.
— Pedir desculpas? Tá de sacanagem? — Oscar riu das próprias palavras, irônico — É capaz dela te colocar na justiça.
— Eu não posso quebrar o contrato...
— Não, não, claro que não. — Oscar alterou a voz — Mas, você também não pode dar nenhuma brecha para essa garota, entendeu?
Pedro balançou a cabeça em concordância, terminando de beber o líquido em seu copo, o sentindo descer com ardência.
🩸
Eles dizem que depois de algum tempo que você está no fundo do poço, começa a se acostumar com as dores ao seu redor. Porém, para Isabela não era assim que se sentia. Foi obrigada a começar a terapia, se não teria se perdido.
Não era fácil lidar com todo o ódio daquelas pessoas a sua volta, a chamando de vagabunda, interesseira e traidora. Seu relacionamento tinha acabado por conta dos rumores falsos e do assédio no set de filmagens. Ela passou meses em casa, sem sair e sem aparecer nas redes sociais. Os amigos, familiares e os fãs fiéis continuaram ali por ela, com medo de algo pior acontecer.
Isabela pensou muitas vezes se deveria continuar viva, já que tantas pessoas a odiavam e diziam para ela morrer, então por que ela simplesmente não facilitava isso?
Foi covarde demais para tomar alguma coisa, ou para cometer algo contra a própria vida. Então, ela apenas continuou vivendo com aquela dor ambígua dentro de seu peito. Depois de um certo período de tempo seu nome foi decaindo nas buscas pela internet, porém ainda assim vez ou outra tinha alguém trazendo aquele assunto à tona. E quando ela fora escalada para a série da HBO os assuntos voltaram de uma vez, ninguém conseguia acreditar que iriam contratar alguém como ela para o papel.
Talvez a razão por ter saído da reunião e ter ido direto beber, tinha sido a pressão de decepcionar todos aqueles que confiaram em si novamente.
Ela bebeu mais do que gostaria naquela noite, o suficiente para ficar tonta e seus pensamentos ficarem embaralhados. Agradeceu em silêncio um dos Deuses lá em cima por ninguém ter a reconhecido naquele estado, pois era a última coisa que precisava no momento.
Um pouco mais afastado dali, Pedro e Oscar também saiam do bar.
— Só tenta relaxar cara.
Gritou Isaac já dentro do carro, o mais velho suspirou pesadamente. Pois, se sentia extremamente perdido sem saber para onde prosseguir. O melhor amigo acelerou o carro, deixando Pascal para trás. Oscar tinha compromisso, por isso não tinha conseguido dar uma carona, mas Pedro também tão pouco se importava. Começou a andar na direção onde o sinal de internet pegava melhor, para pedir um Uber. Porém, notou o carro de Oscar voltando e parando do outro lado. A avenida estava extremamente movimentada, era o pior horário da noite para se dar uma volta.
— Pedro, você esqueceu. — gritou ao amigo.
A fila de carros atrás já estava começando a buzinar, o fazendo se sentir pressionado. Oscar jogou a carteira de Pedro, que caiu no meio da avenida.
— Fala sério, Oscar. — praguejou.
O movimento não acabava, talvez por ser aquela hora da noite e todo mundo estar desesperado para ir para casa. Ele deu um passo para fora da calçada, mas voltou instantaneamente ao quase ser atropelado. Era impossível.
Foi então que ele a viu. Os fios de cabelos escuros bagunçados, mas ainda assim bonitos. Ela andava até o objeto no chão, tão pouco se importando para os carros que buzinavam a sua volta. Era suicídio. Da posição em que estava, Pedro olhava a cena embasbacado. Normalmente é assim que as pessoas se sentem ao ver alguém cometendo um atentado a própria vida.
Isabela agachou e pegou a carteira no chão, voltando todo o percurso, recebendo buzinadas e gritos —, até estar frente a ele.
— Não precisa me olhar assim. — sua voz saiu aguda — Eu não vou morrer. Morrer é o que eu mais tenho desejado nos últimos meses e nada do que eu quero acontece.
As pupilas de Pedro estavam dilatadas. O coração acelerado, sentia que as bochechas também estavam prestes a esquentar.
— E acho que vou precisar de uma rinoplastia. — Isabela elevou o nariz, onde a marca do machucado estava.
Pedro a analisou, vários centímetros mais baixo que si. As bochechas vermelhas, o corte no nariz e o cheiro de álcool impregnado nela.
— Eu merecia pelo menos um pedido de desculpas, Senhor Estrela. — soltou um riso sarcástico de lateral — Isso aqui vai ficar para sempre.
Tudo que pairava na cabeça de Pedro era que tinha que fazer o que Oscar tinha dito, se manter o mais longe possível dela, de todas as formas. Mas, a única coisa que estava acontecendo era ter ela sendo puxada para perto de si involuntariamente.
— Nós vemos por aí. — Isabela embargou, as palavras saíram enroladas e ela deu as costas para o mais velho.
Pedro não fazia ideia de como aquelas quatro palavrinhas fariam da sua vida um inferno. Tudo estava prestes a desabar.
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