Penúltimo Capítulo
Meu pai, tio Kedra, Koan, e o rei Richard uniram forças comigo para colocar um fim definitivo na guerra. Foi uma batalha intensa e sangrenta, onde muitos homens deram suas vidas para que eu pudesse, finalmente, derrotar Leonidas. Cada golpe desferido e cada sacrifício feito me aproximaram desse momento, onde não havia mais retorno possível. Lembro-me das palavras de meu pai: "Alguns devem morrer para que outros possam viver." Hoje, essas palavras se concretizaram de forma brutal e irrevogável. O campo de batalha estava coberto de corpos, cada um representando um sacrifício necessário, uma vida dada em nome de um futuro melhor. Quando finalmente enfrentei Leonidas, sabia que não havia espaço para hesitação. O peso de tantas vidas perdidas estava sobre meus ombros, e a responsabilidade de dar um fim a essa tirania era minha. O confronto foi feroz, mas no final, com o apoio daqueles que acreditaram em mim, consegui abatê-lo. Agora, a guerra acabou, mas as cicatrizes permanecerão. As vidas que se foram não voltarão, e o mundo que conhecíamos mudou para sempre. Mas, assim como meu pai disse, essas mortes não foram em vão. Elas abriram caminho para um novo começo, para a possibilidade de uma paz duradoura. Hoje, me despeço de Leonidas, sabendo que não há mais retorno. O mal foi extirpado, mas a um custo que nunca poderei esquecer.
— Sky? — Estremeço, mal acreditando no que vejo diante de mim.
— Erik! — Grito, correndo para os seus braços com todo o desespero acumulado.
Ele me envolve em um abraço apertado, como se nunca fosse me soltar.
— Você não tem noção do quanto senti sua falta. — Sussurra em meu ouvido, sua voz carregada de emoção.
— Pelos deuses, você está vivo! — Mal consigo acreditar. Passo as mãos por seus ombros, como se precisasse sentir sua presença para ter certeza de que é real. Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto sorrio, misturando o alívio com a alegria. — Você está aqui... Está...
— Eu sei. Eu sei. — Diz, tentando acalmar meu coração acelerado. Erik sorri, um sorriso que é um bálsamo para minha alma. — Então, senhora CastaBlanca? Ou seria Malik agora?
— Ei! Foi um mal necessário. — Dou um leve tapa em seu braço, rindo da provocação, mas meu sorriso vacila ao pensar nas consequências de minhas escolhas.
Erik percebe a mudança em minha expressão, mas tenta animar o clima. — Fiquei sabendo que agora você tem novos poderes. — Muda de assunto, com um brilho de entusiasmo nos olhos.
— É, eu tenho. — Respondo com um ar de superioridade brincalhona, erguendo o queixo. — Mas... — Faço uma pausa, minha expressão se torna mais séria. — Não posso usar muito. É perigoso, não só para a vítima, mas para mim também.
— Bom... Foi ótimo te ver de novo, mas... — Ele começa a recuar dando um passo para trás, com as mãos levantadas em um gesto cômico de quem está prestes a fugir. Fingindo exageradamente medo e receio, o que arranca de mim uma gargalhada inesperada.
— Você é ridículo! — Digo, rindo tanto que mal consigo me segurar.
A atmosfera entre nós é leve, quase como nos velhos tempos, e por um breve momento, esqueço de todas as sombras que nos cercam. Erik se aproxima novamente, ainda rindo, e me envolve em outro abraço caloroso. Sinto seu corpo firme contra o meu, e o calor do momento é tão real que afasta qualquer dúvida remanescente. Preciso confirmar que tudo isso é verdade, que Erik realmente está aqui comigo, vivo e inteiro. Fecho os olhos e suspiro fundo, puxando todo o seu perfume para dentro de mim. É o cheiro inconfundível de alguém que acabou de sair de uma batalha, uma mistura de suor e terra, com um toque sutil do couro de sua armadura. Apesar da aspereza, para mim, continua sendo o melhor cheiro do mundo, um aroma que me traz uma sensação de segurança e familiaridade. Esse perfume é o próprio Erik — forte, determinado, e agora, surpreendentemente, aqui ao meu lado. Enquanto me perco nesse momento, uma onda de alívio me invade. Contra todas as probabilidades, ele está vivo, e esse simples fato faz com que tudo pareça um pouco mais suportável.
— Senti falta desse sorriso. — Digo, segurando o rosto de Erik com ambas as mãos, absorvendo cada detalhe de sua expressão, como se quisesse gravá-lo na memória para sempre.
Erik se inclina para mais perto, e por um instante, o mundo parece parar. Mas antes que qualquer coisa aconteça, um grito interrompe o momento.
— Alinna? — A voz de Pétrus ecoa, alta e enérgica.
Erik se afasta, sorrindo, divertindo-se com a situação. Seus olhos brilham com aquela diversão despreocupada que sempre me fez rir.
— Pétrus! — Exclamo, correndo em sua direção. Ele me envolve em um abraço apertado e, com uma risada alegre, me gira no ar.
— Céus, como é bom te tocar novamente! — Diz, enquanto me coloca de volta no chão. Seus olhos brilham de felicidade, mas ele logo acrescenta com uma expressão brincalhona: — Mas devo dizer, você engordou um pouco.
— Era exatamente isso que eu queria ouvir agora, Pétrus. — Respondo, cruzando os braços e fingindo irritação, embora um sorriso travesso escape dos meus lábios.
— Parece que tudo voltou ao normal, não é mesmo? — Erik se aproxima novamente, desta vez com os braços cruzados e uma postura desleixada, mas com um sorriso que não consegue esconder.
Olho para os dois, sentindo uma onda de nostalgia misturada com alívio. — Parece que voltou. — Respondo, alternando meu olhar entre eles, sentindo o calor familiar dessa camaradagem.
Pétrus percebe a hesitação em meu olhar e se apressa em tranquilizar-me. — Fica tranquila. — diz, com um sorriso confiante. — Não nos matamos em Vhigor, e não será aqui que vamos nos matar.
Minha testa se franze em confusão, enquanto encaro os dois com mais intensidade.
— Dividimos o quarto em Vhigor. — Erik, se adianta com uma explicação casual.
— Oh! — Exclamo, surpresa, compreendendo finalmente a situação. — Agora tudo faz sentido.
Os dois sorriem, e por um breve momento, sinto que tudo está certo no mundo. Então, simultaneamente, estendem as mãos para mim, como se convidassem para voltar para casa, para a normalidade que tanto desejamos.
— E agora? Vamos para casa? — Perguntam em uníssono, suas vozes cheias de esperança e expectativa.
Olho para eles, a resposta na ponta da língua, mas sinto o peso de uma missão inacabada. Dou de ombros, tentando esconder a seriedade do que estou prestes a dizer.
— Agora não! Tenho que fazer algo antes.
Eles trocam olhares curiosos e preocupados.
— O quê? — Perguntam ao mesmo tempo mais uma vez, seus rostos agora mais sérios.
— Buscar Meredith! — Digo, determinada, sabendo que essa é a única coisa que resta antes de podermos realmente seguir em frente.
Assim que retornamos a Treeland, a realidade da batalha com o reino de Vhigor se revelou com uma clareza brutal. A dimensão da guerra se estendeu muito além do que eu poderia imaginar, e as consequências dos resultados finais começaram a pesar sobre meus ombros. À medida que percorremos as ruas, os sinais da batalha estavam por toda parte — rostos sombrios, e um silêncio que carregava o luto por aqueles que nunca mais voltariam. Foi então que recebi a notícia: tio Heitor, Dilan e Kevin estavam entre os mortos. Seus corpos foram perdidos no caos, misturados entre os inúmeros caídos no campo de batalha. Quando ouvi isso, uma estranha sensação de vazio tomou conta de mim. Não sabia como reagir — deveria sentir tristeza pela perda de homens tão próximos a mim, ou alívio por finalmente termos alcançado a vitória que tanto almejávamos? Depois de horas de reflexões silenciosas e corações pesados, finalmente colocamos os pés na estrada de volta para Treeland. O caminho de volta foi longo, e cada passo trazia a consciência do que me aguardava. Agora que estou aqui, na segurança de meu reino, percebo a magnitude da tarefa que tenho pela frente. Como rainha, preciso administrar toda a situação. Treeland precisa de uma liderança firme, alguém capaz de guiar o reino através dessa nova era de reconstrução. A guerra trouxe cicatrizes profundas, e cabe a mim, agora, assegurar que nosso povo não apenas sobreviva, mas prospere. As perdas são muitas, mas a responsabilidade é maior ainda. E apesar de tudo, sei que tenho que seguir em frente — por aqueles que se foram, e por aqueles que ainda estão aqui, confiando em mim para liderá-los.
— Pai? — Chamo com uma voz suave, hesitante.
— Sim, minha filha? — Ele responde, voltando sua atenção completamente para mim.
— Eu gostaria de fazer um velório para Derek. — Digo, enquanto meu olhar se fixa na aliança, que antes repousava em meu dedo, e agora repousa na corrente que Koan fizera para mim, o brilho metálico refletindo os pensamentos que turbilhonam em minha mente.
Ele me encara por um momento, tentando entender a profundidade do meu pedido. — Para Derek ou para Leonidas? — Sua pergunta é direta, mas o tom é gentil, compreendendo o conflito dentro de mim.
— O povo precisa ver o rei sendo velado com dignidade. — Explico, tentando encontrar as palavras certas e tentando camuflar o meu pesar mesmo sabendo que não conseguiria esconder meus sentimentos de meu próprio pai. — E Meredith também. Eles não sabiam de Leonidas... Pelo menos, não a maioria. — Dou de ombros, sentindo o peso dessa decisão.
Ele me observa por um instante antes de se aproximar e colocar a mão firme em meu ombro, um gesto de apoio incondicional. — Você é a rainha, minha boneca. Faça o que achar necessário. Estarei ao seu lado, em tudo.
A sinceridade em sua voz traz um breve alívio ao meu coração.
— Obrigada, pai. — Digo com um sorriso agradecido, enquanto ele pisca para mim, o que me traz um calor familiar e reconfortante, mesmo em meio a toda a incerteza.
Quando chegamos em Treeland, o clima estava carregado, refletindo o peso das perdas que sofremos na guerra. Havíamos perdido muitos homens valiosos, e a tristeza era palpável em cada esquina do reino. Como rainha, uma das minhas primeiras tarefas foi enviar cartas de condolências e pêsames para as famílias dos caídos. A natureza, como que em sintonia com nosso luto coletivo, se mostrou sombria. Os céus escureceram, e pequenos raios serpenteavam nas nuvens pesadas, mas a chuva teimava em não cair. Parecia que até mesmo o céu aguardava, preso em uma tensão dolorosa. Por todo o reino, os sons do sofrimento ecoavam: choros abafados, lamentações e gritos de dor ressoavam nas ruas. A tristeza se espalhou como uma sombra, envolvendo a todos. Na parte da manhã, realizamos os velórios dos corpos dos homens que conseguimos recuperar do campo de batalha. Foi um evento marcado por profunda tristeza e respeito, cada família se despedindo de seus heróis com um amor e uma dor que só eles poderiam compreender. Mas o momento mais solene veio na tarde, quando foi a vez de velar o grande e majestoso rei Derek Malik. Muitos presentes não sabiam que Derek não era realmente Derek, e eu escolhi manter essa verdade oculta. Não queria desmanchar a imagem do rei protetor e corajoso que, apesar de seus traços tirânicos, conseguia transmitir segurança ao seu povo, colocando a riqueza e o bem-estar do reino acima de tudo. De que adiantaria revelar a verdade agora? Leonidas estava morto, e com ele, a figura de Derek Malik também se fora. No fundo, eu sabia que Derek não sobreviveria à reencarnação de Leonidas, mas uma parte de mim ainda alimentava uma esperança silenciosa.
Após a cerimônia em homenagem a Derek, o enterramos com todo o respeito que ele merecia. Os súditos acenderam velas enquanto o caixão descia à terra, e, em um coro uníssono, começaram a cantar o hino de Treeland — o reino do ouro, o reino da riqueza. As vozes carregavam um pesar tão profundo que intensificava o clima sombrio e tenebroso do momento. Era como se o próprio solo de Treeland estivesse de luto, absorvendo a dor de seu povo. Enquanto a cerimônia prosseguia, fui cumprimentada, abraçada e beijada por muitos, todos tentando compartilhar um pouco do peso que eu carregava. Meredith, agora vista como a filha de Derek e a princesa do reino, também recebeu o mesmo tratamento. A aceitação dela como parte da família real já estava firmemente estabelecida no coração do povo. Minha família, infelizmente, não pôde estar presente para me apoiar nesses momentos difíceis. Tive que enfrentar tudo sozinha, carregar o fardo do luto e a responsabilidade de ser a rainha, mesmo quando tudo dentro de mim desejava sucumbir à tristeza. Mas, de alguma forma, encontrei forças para continuar, para honrar a memória daqueles que se foram e para guiar meu povo através da escuridão que nos envolvia.
— Sentirei saudades do papai. — Meredith cochicha para mim, sua voz suave carregando o peso da tristeza.
— Eu também sentirei, meu amor. — Respondo, sentindo um aperto no coração ao vê-la tão abatida. A dor dela amplifica a minha, tornando o momento ainda mais difícil.
Meredith puxa levemente meu vestido, procurando conforto. — Mamãe? — Sua voz está cheia de inocência e confusão.
— Sim, querida? — Inclino-me para ela, olhando diretamente em seus olhos cheios de lágrimas.
— Por que todos os meus papais morrem? — Sua pergunta é como uma lâmina atravessando meu coração. O peso de sua dor é quase insuportável, e por um instante, fico sem palavras.
Respirando fundo, tento encontrar a força para consolá-la. — Não fique assim, minha princesa. — Digo suavemente, enquanto enxugo as lágrimas que escorrem por suas bochechas. — Mamãe tem uma surpresa que vai te deixar muito feliz. Mas você precisa me prometer que não pensará mais nisso, ok?
— Prometo, mamãe! — Meredith faz um esforço para sorrir, tentando encontrar um pouco de alegria em meio à tristeza.
Acaricio seu rosto delicadamente, tentando transmitir todo o amor e segurança que ela precisa.
— E saiba, querida, que onde quer que o papai Leonidas esteja, ele sempre vai amar você. Assim como seu papai biológico. E o mais importante, eu estou aqui e sempre estarei ao seu lado, meu amor. — Tento assegurar-lhe, sabendo que as palavras, por mais sinceras que sejam, nunca serão suficientes para preencher o vazio que ela sente.
Meredith, com uma força inesperada, segura meu rosto com suas pequenas mãos e repete uma frase que minha mãe costumava dizer: — Lute como uma mulher.
As palavras dela me comovem profundamente. Sem conseguir dizer mais nada, puxo-a para um abraço apertado, tentando proteger aquele pequeno ser de todo o mal que o mundo possa oferecer.
— Majestade? — Uma voz firme interrompe o momento. Viro-me e me deparo com Rocha, Ethan e Warner todos em uma postura respeitosa, mas com uma seriedade que denota a urgência da situação.
— Senhores. — Respondo, recuperando minha postura de rainha, e os cumprimento com um aceno sutil da cabeça.
Rocha, sempre o mais solene, se ajoelha diante de mim. Sua espada crava no chão com um som seco, e ele se apoia nela, curvando a cabeça em um gesto de lealdade absoluta. Warner faz o mesmo, em uma demonstração de respeito. Permaneço em silêncio por um momento, observando-os atentamente, avaliando a sinceridade em suas ações. A postura deles, embora rígida, revela um misto de ansiedade e devoção. Rocha levanta a cabeça levemente, seus olhos encontrando os meus com um olhar de súplica silenciosa, quase desesperado.
— Levantem-se! — Ordeno com firmeza, e eles obedecem prontamente, erguendo-se com uma agilidade que revela seu treinamento e disciplina.
— Nos perdoe por... — Rocha começa a falar, mas eu o interrompo.
— Será um prazer tê-los como meus homens, oficialmente. — Declaro, com um leve sorriso. As palavras saem com autoridade, mas também com gratidão. A expressão de alívio no rosto de Rocha é palpável, e vejo Warner e Ethan trocando olhares de satisfação.
— Muito obrigado, Majestade. — Warner diz com entusiasmo, ajoelhando-se novamente para beijar minhas mãos em um gesto de reverência.
— Ok, ok. Chega! — Digo, rindo um pouco da situação. Não consigo evitar achar graça na seriedade com que eles me tratam. Afinal, somos mais do que apenas soberana e súditos; somos companheiros de batalha, unidos pelo sangue e pelo sacrifício.
— Faremos tudo que for preciso, Majestade. — Ethan afirma, com um brilho de determinação nos olhos.
Ergo uma sobrancelha, assumindo uma expressão levemente desafiadora. — Mas é claro que vão. — Respondo, deixando claro que o compromisso deles será testado em breve.
...
— Está pronta, Meredith? — Pergunto, tampando seus olhos delicadamente com minhas mãos.
— Sim, mamãe! — Ela responde animada, dando pequenos pulinhos de expectativa.
— Agora pode abrir os olhos. — Com um sorriso, retiro minhas mãos, revelando a surpresa.
Meredith obedece e, ao ver o que está diante dela, seu rosto se ilumina de surpresa e alegria. Nossa família inteira está reunida ali, viva e bem. A expressão de Meredith muda de pura incredulidade para uma felicidade radiante. Seus olhos se arregalam, e ela leva as mãozinhas ao queixo, chocada, incapaz de acreditar no que está vendo.
Por um instante, ela parece congelada, mas então, com um grito de felicidade, ela corre na direção deles. — Vovô!
— Vem cá, minha pirralhinha! — Papai se ajoelha, os braços abertos para recebê-la em um abraço caloroso.
— Tio Erik! Tia Al! — Ela grita, alternando os abraços e distribuindo sorrisos para todos.
Enquanto Meredith se envolve nos abraços e beijos da família, eu me aproximo de outra parte do grupo, sentindo uma onda de alívio e alegria ao ver rostos tão queridos.
— É bom ver vocês novamente. — Digo, com um sorriso caloroso, ao me aproximar de tia Helena e tia Catarina.
— É ótimo ver que está bem, mesmo depois de tudo que passou. — Helena me abraça, e sinto o afeto genuíno em seu toque, um amor quase materno que preenche cada canto do grande salão. — Fiquei muito preocupada e senti sua falta.
Antes que eu possa responder, tia Catarina intervém com um ar de ironia afetuosa. — Esposa de Leonidas CastaBlanca? Sério, Sky? — Ela balança a cabeça, pensativa. — Isso é o que eu chamo de coragem. Sua mãe teria enlouquecido se estivesse aqui, e eu, sem dúvida, já estaria morta! — Ela conclui, abrindo os braços para me envolver em um abraço.
— Catarina! — Tia Helena a repreende suavemente, mas com um sorriso, dando-lhe um leve tapa no braço.
— O que foi? Não estou mentindo, estou? — Catarina se defende, erguendo as mãos em um gesto de rendição, mas com um brilho travesso nos olhos.
— Não, tia Catarina, você não está mentindo. Tenho certeza de que, se ela estivesse aqui, a senhora estaria em maus lençóis. — Dou uma risadinha e retribuo o abraço de Catarina. Minha voz carrega um tom de brincadeira, mas também de reconhecimento pela verdade nas palavras dela. — Mas me diga, causei muito prejuízo?
Tia Catarina sorri enquanto acaricia meus cabelos, uma ternura inesperada em seus olhos.
— Nada que não possamos reverter. — Ela responde, e por um momento, seu olhar se torna pensativo. — Mas sabe, você trouxe algo de bom para nós.
Eu e tia Helena trocamos olhares confusos, sem entender a que ela se refere.
— O que você quer dizer? — Pergunto, a curiosidade evidente na minha voz.
— Tivemos algo pelo que lutar. — Ela responde, sua voz firme e cheia de orgulho. — Já estava ficando enferrujada sem usar minhas habilidades de batalha por tanto tempo. Você nos deu uma razão para nos unirmos novamente, para lembrar quem realmente somos.
Nesse momento, Kedra, meu tio, se aproxima. Ele parece cansado, mas há um brilho de contentamento em seus olhos.
— Estou ficando velho. Essa foi minha última aventura, sem dúvidas. — Diz, com um sorriso exausto, mas satisfeito.
— Espero que cumpra o que está dizendo desta vez. — Tia Helena o abraça, apertando-o com carinho.
— Com certeza ele não vai cumprir, tia Helena. — Digo, sorrindo para Kedra, sabendo que ele nunca conseguiria ficar longe da ação por muito tempo. É parte da sua essência, e é isso que o torna tão especial para todos nós.
— Obrigado pela confiança. — Ele responde, carregando um tom de sarcasmo.
— Olha só quem está aqui. O seu tio mais legal! — Lucky exclama enquanto escorrega pelo piso brilhantemente encerado, quase perdendo o equilíbrio, mas recuperando-se com uma pose exagerada.
— Pelos deuses, Lucky, você realmente nunca muda, não é? — Gerad revira os olhos, tentando conter um sorriso.
— Vamos, Gerad, você acha mesmo que esse imbecil algum dia vai mudar? — Rixon solta uma gargalhada, suas risadas ecoando pelo salão.
— Talvez! Quem sabe ele não encontre uma mulher que consiga colocar juízo na cabeça dele. — Brinco, entrando no meio da conversa com um sorriso travesso. — É bom vê-los novamente!
— É bom vê-la também, Sky. Estamos felizes que esteja bem. — Rixon me puxa para um abraço apertado, transmitindo um caloroso afeto inesperado.
Gerad, com um olhar desafiador, brinca: — Se você, querida sobrinha, conseguir arranjar uma mulher para Lucky, agradeceríamos pelo resto de nossas vidas.
— Então podem começar a me agradecer desde já, tio Gerad. — Digo, sorrindo maliciosamente, com uma faísca de travessura nos olhos. — Celeste?
— O quê? — Lucky arregala os olhos, surpreso e confuso, enquanto procura desesperadamente por uma saída.
Celeste surge com a elegância de sempre, movendo-se com graça.
— Me chamou, Sky? — Sua voz é suave, mas carregada de curiosidade.
— Celeste, quero te apresentar meu tio Lucky. — Digo, gesticulando em direção a ele com um sorriso de satisfação. — Tio Lucky, esta é Celeste. — Completo a apresentação, observando a reação de ambos.
Por um momento, o tempo parece parar enquanto Lucky e Celeste trocam olhares. Há algo manifesto no ar, uma mistura de curiosidade e interesse mútuo que nenhum dos dois consegue disfarçar.
— Olá, meu bem. Tudo bem com você? — Lucky recupera sua compostura, lançando seu charme habitual, mas com uma leve hesitação que não passa despercebida.
— Tudo bem comigo, e com você? — Celeste responde com um sorriso sutil, mas seus olhos brilham de uma forma que raramente se vê.
— Então, vamos deixar esses dois a sós para se conhecerem melhor? — Sugiro, lançando um olhar cúmplice para Gerad e Rixon. — Tenho uma adega de vinhos maravilhosa, as uvas de toda Aksum parecem de outro mundo. Podemos pegar uma garrafa para comemorar.
— Olha só que beleza! — Gerad exclama, batendo palmas com entusiasmo. — Um bom vinho é sempre uma boa ideia.
Enquanto nos afastamos, deixando Lucky e Celeste para trás, não consigo evitar um sorriso de satisfação. Acredito que, de alguma forma, talvez tenha dado início a algo especial entre os dois. Gerad e Rixon, por sua vez, continuam a brincar e fazer piadas sobre Lucky, mas há um tom de esperança em suas vozes.
— Maravilha, adoro vinhos! — Exclama tio Rixon, já se movendo em direção à porta, empolgado com a ideia de degustar um bom vinho.
— Então, vamos logo! — Digo, liderando o grupo com passos determinados.
Antes que possamos sair completamente, ouço uma voz familiar se levantar com entusiasmo.
— Opa, adoro vinhos também! — Tio Lucky grita, apressando-se para nos acompanhar.
— Eu também adoro... — Começa Celeste, sua voz suave, quase tímida, quando decido interrompê-la.
— Não! — Corto, minha voz firme, deixando claro que essa não é uma discussão. — Vocês dois ficam.
— Exatamente. Vocês ficam. — Tio Gerad ecoa, apoiando minha decisão com um aceno decidido.
Celeste dá de ombros, aceitando a ordem sem resistência.
— Tudo bem então. — Ela responde, resignada, com um leve suspiro, talvez meio desapontada, mas conformada.
Quando nos afastamos de Celeste e Lucky, Tio Rixon se aproxima, sua expressão um misto de fascínio e diversão.
— Você acha que Lucky dará certo com Celeste? — Ele pergunta, mantendo a voz baixa para que os dois não ouçam.
Dou uma risada leve, compartilhando o momento.
— Eu espero que sim. — Respondo, a risada escapando de meus lábios com mais força, contagiando tio Rixon.
...
— Vamos lá! Todos prontos? — A voz de meu pai ressoa com autoridade, enquanto ele verifica se o grupo está completo.
— Sim, meu irmão, tudo pronto. — Tio Kedra responde com firmeza, confirmando que estamos todos prontos para partir.
Meu pai então se volta para mim, seus olhos buscando os meus em busca da confirmação final.
— Sky? — Ele indaga, esperando minha aprovação para seguir adiante.
Com um aceno confiante, dou minha resposta, sentindo a familiar sensação de responsabilidade e comando pulsar em minhas veias.
— Estamos prontos. Vamos em frente. — E assim, seguimos.
Olho para trás e encaro o vasto e majestoso reino de Treeland, sentindo uma onda de emoções conflitantes me envolver. Muitas coisas aconteceram aqui — eventos que marcaram profundamente minha jornada e moldaram quem sou agora. Deixá-lo para trás neste momento me causa um frio na espinha, um arrepio que corre pela minha pele, pois, apesar de tudo, sempre senti uma conexão inexplicavelmente forte com este reino. Enquanto revivo mentalmente os desafios e triunfos que enfrentei em Treeland, um sorriso silencioso curva meus lábios. Lembro-me de cada batalha, cada sacrifício, e cada momento de dúvida que passei aqui. Minha família — meus companheiros de luta — estão apenas aguardando meus comandos, confiando em minha liderança. Com um suspiro profundo, ajusto minha postura no cavalo, sentindo a firmeza das rédeas em minhas mãos. Me endireito, e fixo o olhar à frente, no horizonte. O lugar que sempre devo mirar, o futuro que me aguarda, está diante de mim. Deixo para trás as memórias, mas levo comigo a força que este reino me deu. Agora, o caminho à frente é o único que importa. Mas isso não é um adeus; ainda sou a rainha deste belo reino. A mensagem que levo em meu coração é de um sincero "até breve".
— Vamos. Vamos voltar para casa!
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