Capítulo 32
Enquanto caminhamos pelo palácio, Leonidas me gira a cada passo, como se estivéssemos em uma dança improvisada.
— Você acha mesmo que é um novo poder? — Pergunto, com um sorriso malicioso.
— Mas é claro que acho. O que mais poderia ser? — Ele me segura com firmeza após a última volta e me dá um beijo rápido. — Sem contar que é um poder incrível.
— Talvez devêssemos testar esse meu novo poder mais uma vez, só para termos certeza, o que acha? — Sugiro, segurando seu queixo antes de beijá-lo de novo, dessa vez com mais intensidade.
— Você é esperta, minha rainha. — Leonidas sorri orgulhoso. — Em quem vamos testar primeiro?
Penso por um momento, mas já sei exatamente em quem tentar.
— Em um de seus guardas! — Respondo, sem hesitar.
Leonidas parece surpreso e um pouco desconfortável com a minha escolha, mas cede.
— Como desejar. — Ele concorda, relutante.
Corremos para nosso quarto, onde rapidamente me troco, ainda usando camisola e roupão. Leonidas espera pacientemente e, uma vez pronta, seguimos juntos para a área de treinamento, onde seus homens estão treinando. Quando chegamos, todos os olhos se voltam para mim, mas ignoramos as reações; estamos ansiosos demais para isso.
— Homens, em formação! — Leonidas ordena em alto e bom som, enquanto ainda caminhamos em direção a eles.
Os guardas rapidamente se alinham, atentos às palavras de seu rei e sua rainha.
— Minha mulher quer realizar um teste, e espero que vocês aceitem sem questionar. — Leonidas decreta, soltando minha mão e me deixando no controle.
— Antes de começarmos, quero deixar claro que não é minha intenção machucá-los! — Digo, com um tom irônico que mal disfarça minha verdadeira intenção.
Leonidas explode em gargalhadas, divertindo-se com minha ironia. Sabia que ele apreciaria a sátira. Enquanto ele se diverte, examino os guardas alinhados à minha frente, buscando o alvo perfeito. Meus olhos encontram o escolhido, e começo a contar em voz alta, caminhando na frente de cada homem, criando tensão a cada passo.
— Um, dois, três, quatro... — Vou contando com calma, sentindo a expectativa aumentar. — Cinco e seis!
Paro diante do homem à minha frente, Cirus, lendo o nome em seu crachá.
— Número seis... Que coincidência, não é, Cirus?
Ele engole em seco, visivelmente nervoso. Com um aceno de cabeça, faço um gesto para que ele me siga até o centro do campo de treinamento. Ele obedece, seus passos hesitantes e pesados.
— Sabe, Cirus, eu tenho uma memória excelente, muito boa mesmo. — Minha voz é calma, mas há um fio de aço nela. — Então, decidi ser boazinha com você. Sabe por quê?
— Não, minha rainha, não sei. — Ele responde com a cabeça baixa, sem ousar me olhar nos olhos.
— Porque o castigo que lhe darei hoje não deixará cicatrizes, ao contrário dos seus chicotes em mim. — Minha voz baixa, mas o peso das palavras é como um golpe. Seus olhos se arregalam de pavor.
— A morte não costuma deixar rastros, não é mesmo? — A pergunta é retórica, um prelúdio ao que está por vir.
Cirus não tem tempo de responder. Em um movimento rápido e preciso, agarro seu queixo, forçando-o a me encarar. Seus olhos, antes assustados, se enchem de terror enquanto encontro seu olhar. Com um profundo e sombrio poder, sugo toda a sua vida. Uma fumaça branca, semelhante à que vi sair de Ivan, emana de Cirus e se dirige para mim. Seus olhos permanecem abertos, mas a vida neles desaparece, deixando um corpo sem alma. Sinto uma onda de poder e vitalidade me preencher novamente. O corpo de Cirus, agora sem vida, cai ao chão como uma marionete com os fios cortados. Olho para os outros guardas, que observam em estado de choque, suas bocas entreabertas em incredulidade.
— Podem continuar com o que estavam fazendo! — Ordeno com autoridade, minha voz cortando o silêncio que se seguiu à morte de Cirus.
Os homens, ainda atordoados, rapidamente se apressam para remover o corpo de Cirus e retomar o treinamento, temendo serem os próximos a experimentar meu novo poder. Viro-me para Leonidas, que me observa com um olhar que mistura admiração e desejo.
— E você... — Me dirijo a ele, minha voz carregada de intensidade. — Quero você no quarto, agora!
— E por que devo ir? — Leonidas pergunta, cruzando os braços e arqueando uma sobrancelha.
— Porque estou com fome! — Respondo, piscando para ele com um sorriso provocante.
— Como desejar minha rainha. — Ele responde, um largo sorriso se espalhando em seu rosto enquanto descruza os braços, pronto para me seguir.
O palácio está em plena movimentação, preparando-se para uma semana intensa. Os parentes mais distantes de Derek, que não puderam comparecer ao casamento, estão chegando um após o outro, ansiosos para me conhecer. O ambiente está carregado de expectativas, e sinto o peso delas sobre meus ombros. A família Malik é notoriamente exigente. Cada detalhe deve ser impecável, desde a decoração das grandes salas até a apresentação dos banquetes luxuosos. Os criados correm de um lado para o outro, ajustando cada cortina, polindo cada superfície e garantindo que cada flor esteja no lugar perfeito. É como se o próprio palácio estivesse sendo moldado para atender às altas expectativas de uma família que parece não aceitar nada menos que a perfeição. Mas a pressão não se limita apenas ao ambiente ao meu redor. Também sou parte desse espetáculo. Preciso ser a rainha perfeita — elegante, graciosa, e absolutamente impecável em todos os aspectos. A sensação de estar sendo observada e avaliada a cada momento é inegável. Cada olhar, cada comentário sussurrado ao meu redor reforça a ideia de que, para a família Malik, tudo deve estar em perfeita harmonia. E isso inclui, acima de tudo, eu mesma.
— Papai, este vestido está me apertando! — Meredith reclama, franzindo a testa enquanto puxa a saia desconfortavelmente.
— Eu sei, minha princesa, mas aguente só mais um pouquinho. — Leonidas se abaixa até a altura dela, ajeita cuidadosamente o vestido e lhe dá um sorriso reconfortante antes de se levantar.
— Isso mesmo, meu amor, só mais um pouquinho. — Digo suavemente, ajustando delicadamente a tiara em sua cabeça, tentando acalmá-la.
Estamos na entrada do palácio, observando à distância as carruagens luxuosas da família real Malik se aproximarem lentamente. O brilho das carroças douradas contrasta com o céu alaranjado do entardecer, criando uma cena que parece saída de um conto de fadas. Por um breve momento, me sinto aliviada ao lembrar que eles ficarão em Treeland por apenas uma noite. Parece uma viagem longa e exaustiva para algo tão breve, quase como se fosse um esforço desperdiçado, mas talvez seja exatamente o que basta. Conforme as carruagens param diante de nós, os lacaios se apressam em abrir as portas e ajudar os ilustres convidados a descer. A família Malik começa a sair uma a uma, com toda a pompa e circunstância que eu esperava. Cada membro da família atravessa o portal com passos calculados, ostentando sorrisos largos e impecáveis. Elogios fluem em nossa direção como uma correnteza — "Que honra conhecê-los!", "O palácio é magnífico!", "Você está deslumbrante, minha querida!" — todos acompanhados de olhares aprovadores e reverências sutis. Enquanto eles passam por nós, cada gesto e expressão parece cuidadosamente ensaiado. A perfeição na postura, o brilho nos olhos, e até mesmo o tom caloroso das palavras me fazem pensar se não passaram toda a viagem praticando esse teatro de elegância e simpatia. É como se estivessem representando um papel, encenando a perfeição que tanto valorizam, tornando a noite em Treeland um breve, mas calculado espetáculo.
— Tio Clôude! Como está? — Leonidas exclamou, avançando para recepcionar seu tio com um abraço caloroso.
— Estou bem, meu filho. — Clôude respondeu com um sorriso genuíno, antes de desviar o olhar para mim. — E quem é esta bela mulher? — Ele esticou os braços em minha direção, seus olhos brilhando de curiosidade.
— Esta é Alinna Sky, meu tio. Minha mulher, minha rainha. — Leonidas me apresentou com orgulho.
— Um encanto, de fato. — Clôude segurou minha mão e a beijou com galanteria. Aproximando-se mais, ele sussurrou com um sorriso cúmplice: — Você deve ser uma garota muito especial; Derek não se apaixona tão facilmente.
— Acho que sou mesmo uma garota especial. — Sussurrei de volta, acompanhando suas palavras com um sorriso encantador.
— Gostei de você, minha cara! — Ele apontou para mim de forma brincalhona, rindo com entusiasmo.
— Digo o mesmo, tio Clôude. — Respondi, minha voz carregada de simpatia.
— Mas não deixe o velho Heitor saber disso, ele é muito ciumento. — Clôude riu alto, com uma gargalhada contagiante que me fez sorrir também.
— Tio Clôude! Tia Virgínia! Esta é Meredith, nossa filha. — Leonidas pegou Meredith nos braços, erguendo-a para que todos pudessem vê-la. — Diga oi, minha princesa.
— Oi, tio Clôude! Oi, tia Virgínia! — Disse Meredith, timidamente, escondendo parcialmente o rosto no peito de Leonidas.
— Oi! Mas que coisinha mais linda você é! — Tio Clôude e tia Virgínia exclamaram em uníssono, completamente encantados por Meredith.
— Se soubesse da existência de minha sobrinha-neta, teria trago presentes melhores! — Tia Virgínia brincou, fazendo cócegas em Meredith.
— Creio que teremos muitas oportunidades para isso, tia Virgínia. — Disse para ela, com um sorriso acolhedor.
— Mas é claro, minha querida. — Ela respondeu com um sorriso caloroso.
— Olá! Eu estou aqui também! — Natasha resmungou, impaciente por atenção.
— Minha sobrinha linda, venha cá! — Tio Clôude exclamou, abrindo os braços para Natasha com alegria. Mas então, ele parou abruptamente, recuando um pouco e examinando seu rosto com preocupação. — Espere, o que aconteceu com seu rosto?
Natasha imediatamente lançou um olhar afiado na minha direção, suas intenções claras, embora não ditas.
— Nada de importante, é uma longa história. — Natasha respondeu, desviando o assunto rapidamente.
Além de tio Clôude e tia Virgínia, chegaram também três primas excêntricas de Derek — Verona, Milânia e Liz — cada uma com uma presença peculiar que parece preencher o ambiente de forma desconcertante. Acompanhando-as, veio o avô Elieu, um homem já muito idoso, com a saúde bastante debilitada, quase à beira da morte. Apesar de sua fragilidade, o respeito que todos demonstram por ele é evidente. Junto com eles, uma escolta de guardas armados foi designada para garantir a segurança durante a viagem, acrescentando um toque de solenidade à chegada da família. Enquanto trocávamos cumprimentos e nos apresentávamos formalmente, senti olhos fixos em mim, um peso invisível que me deixou ligeiramente desconfortável. Disfarçadamente, tentei identificar a origem desses olhares. No início, pensei que fossem as primas de Derek, mas ao investigar mais atentamente, percebi que dois dos guardas estavam me observando de maneira estranha, com um certo fascínio nos olhos. Assim que notaram que eu os havia visto, desviaram o olhar rapidamente, fingindo concentrar-se em seus deveres. Escolhi ignorar o incidente, focando novamente na família do meu rei que estava presente. O palácio, graças aos deuses, está impecável um reflexo de semanas de preparativos meticulosos. Eu mesma supervisionei cada detalhe, com a ajuda incansável de Celeste e Ananda. O trabalho árduo finalmente se concretizou, com cada canto do palácio exalando uma perfeição digna da família real Malik.
— Essa codorna está divina! — Elogiou tia Virgínia, saboreando a comida com um sorriso de satisfação.
— Muito obrigada, tia Virgínia. Foi feita pelo melhor cozinheiro do palácio. — Respondi, sentindo-me satisfeita com o elogio.
De repente, Natasha interrompeu nossa conversa com uma pergunta inesperada.
— O que acharam do palácio agora com uma nova rainha no comando?
— Eu achei esplêndido. — Tio Clôude elogiou, seu olhar de aprovação iluminando seu rosto.
— Poderia estar melhor. — Comentou Verona, uma das primas de Derek, com uma nota de desdém.
— Não seja tola, menina! Este palácio nunca esteve tão vibrante quanto agora. Alinna e Meredith trazem cor e vida a ele. — Vovô Elieu, que até então havia permanecido em silêncio, falou pela primeira vez, sua voz carregada de uma sabedoria silenciosa.
— Como pode o palácio estar sem vida e sem cor se há ouro por todos os lados, meu caro avô? — Liz debochou, seu tom cortante visível.
— Nem tudo nesta vida se resume às riquezas que possuímos. Vocês ainda têm muito a aprender com Alinna. — Ele concluiu pausadamente, seu tom ofegante revelando a fraqueza de sua saúde.
— Obrigada, vovô. — Agradeci, tocada pela sua defesa.
— Não diga asneiras, vovô. — Natasha bufou, claramente desafiando a opinião de Elieu.
— Cuidado com o que diz, Natasha! — Tio Clôude a repreendeu, sua voz carregada de firmeza e autoridade.
Natasha parecia mais uma criança mimada, sempre pronta para implicar com qualquer coisa, e seu comportamento durante o jantar não era exceção. Até mesmo Meredith, com seus modos gentis e educados, parecia mais comportada ao lado dela. Depois do jantar, decidimos nos retirar para a sala principal do palácio. Minha primeira escolha foi a saleta íntima, um espaço aconchegante e acolhedor que costumamos usar para receber amigos e familiares mais próximos. Ultimamente, Leonidas, Meredith e eu havíamos feito dessa saleta nosso refúgio para jantares tranquilos e momentos de conversa. Infelizmente, o espaço era pequeno demais para acomodar toda a família Malik, e, de certa forma, isso se revelou uma bênção disfarçada. Nos acomodamos confortavelmente, servindo um bom vinho que já havia sido preparado para a ocasião. Milânia, a mais sensata e atenciosa das irmãs, se abaixou no chão e começou a brincar com Meredith, envolvendo-a em jogos e risadas. Era um alívio ver que, pelo menos uma das primas estava genuinamente interessada em se conectar com nossa filha. Enquanto isso, Verona, Liz e Natasha não perderam a oportunidade de cochichar entre si, seus olhares e murmúrios carregados de críticas sutis sobre mim. Seus sussurros eram quase imperceptíveis, mas a tensão no ar era palpável. No entanto, eu decidi ignorar as provocações e me concentrei nas histórias encantadoras que tio Clôude e tia Virgínia estavam compartilhando. A voz de tio Clôude, cheia de vivacidade e humor, e o olhar carinhoso de tia Virgínia, tornavam as histórias ainda mais cativantes. A atmosfera, embora carregada de críticas silenciosas, era suavizada pelo calor da conversa e pelo conforto do lugar, criando um ambiente onde as preocupações eram momentaneamente esquecidas e os laços familiares, ainda que complexos, se revelavam em suas formas mais genuínas.
— Elas parecem bem amigas, não? — Sussurrei para tia Virgínia, observando as primas de Derek interagindo de forma aparentemente amigável com Natasha.
— Que piada! — Tia Virgínia riu com desdém. — Na verdade, elas se odeiam.
— Então por que parecem tão próximas? — Perguntei, intrigada.
— Acredito que agora elas compartilham um sentimento em comum, e uma ameaça maior. — Tia Virgínia sorveu um pouco do chá que havia escolhido em vez do vinho.
— Ameaça? — Levantei uma sobrancelha, interessada.
— Sim. Você é a novidade no cenário. Conquistou o coração do rei e a coroa em muito pouco tempo. Elas podem se detestar, mas uniram-se pelo simples fato de que elas te odeiam ainda mais. — Explicou, com um tom que misturava compreensão e um toque de ironia.
Fiquei em silêncio, refletindo sobre o que tia Virgínia havia dito. Era evidente que ela tinha uma percepção aguçada das dinâmicas familiares, e suas observações revelavam uma sabedoria que eu apreciava. Enquanto ponderava sobre a situação, voltei minha atenção para as histórias intermináveis e fascinantes que tio Clôude continuava a narrar. Seu entusiasmo e o brilho nos olhos tornavam suas histórias cativantes, e, apesar das intrigas ao nosso redor, não pude deixar de me envolver na magia de suas palavras. Leonidas estava sentado ao meu lado, sua presença reconfortante. Nossos dedos estavam entrelaçados, e eu senti um calor suave irradiar de sua mão. Sem perceber, ele começou a apertar minha mão com uma força crescente.
— Você está apertando minha mão, querido. — Sussurro em seu ouvido, com um sorriso gentil.
Sem dizer uma palavra, Leonidas gradualmente soltou minha mão, o movimento suave revelando uma tensão que não havia percebido. Foi então que notei a expressão de fúria que ele tentava esconder com dificuldade. Seu olhar, carregado de uma raiva silenciosa, estava fixo nos dois guardas que ainda me observavam com aquele fascínio inquietante. Leonidas estava com a outra mão apoiada no queixo, um gesto inconsciente que refletia seu esforço para manter a calma. Seus olhos, no entanto, queimavam com uma intensidade quase visível, como se estivesse tentando atravessar a distância que nos separava dos guardas com seu olhar penetrante. Os dois homens, tão absorvidos na observação de mim, estavam completamente alheios à vigilância severa que Leonidas exercia sobre eles. Era evidente que ele estava lutando para não avançar contra os guardas, sua contenção manifesto a cada movimento que fazia.
— Derek, meu filho, está tudo bem? — Pergunta tio Clôude, com uma expressão de preocupação.
— Já chega! — Leonidas explode, a voz cheia de frustração.
— O que está acontecendo? — Natasha vira seu olhar rapidamente, sua curiosidade transbordando pela sua reação.
— Rocha! Dilan! Warner! — Grita Leonidas, com agitação.
Todos na sala se levantam, tentando entender a situação. Rapidamente, nossos homens se posicionam na entrada da sala, prontos para agir.
— Vocês são nojentos! — Leonidas avança em direção aos dois guardas, que recuam rapidamente.
— Alguém pode explicar o que está acontecendo? — Liz grita dramaticamente, sua expressão cheia de espanto.
Naquele momento, me atirei na frente de Leonidas, bem quando ele estava prestes a atacar os guardas novamente.
— Não faça isso. — Ordeno baixo. — Não vê que Meredith está aqui? — Digo com um tom de urgência e raiva.
— Me desculpe, meu amor. — Leonidas tenta se acalmar, sua raiva ainda aparente.
— Isso, primo, fique calmo. — Verona fala com uma voz serena, tentando acalmá-lo.
Natasha, percebendo seu erro, dá uma cotovelada em Verona.
— Ai! — Verona exclamou, desconfortável.
— Acho melhor vocês irem. Já conheceram Alinna, já conheceram Meredith. Está ótimo! — Leonidas tenta recuperar o controle da situação, respirando fundo.
— Sim, nós já estamos indo, meu querido. — Tia Virgínia puxa tio Clôude para fora.
— Mas nós...
— Sem "mas", Verona, vamos. — Tio Clôude insiste, puxando a esposa e incentivando as filhas a seguirem seus passos.
— Tchau, tio, foi um prazer vê-lo. — Leonidas se despede, ainda com uma ponta de raiva.
— É! Você realmente é especial. — Tio Clôude sussurra quando chega a minha vez de ser abraçada por ele.
— Vão com os senhores e deuses de Sky! — Deixo escapar sem querer.
Arregalei os olhos, mas tio Clôude sorriu compreensivo.
— Eu sei quem você é, filha das chamas! Não precisa se preocupar. — Ele me assegura, com um olhar de entendimento.
— Espero vê-los novamente. — Apenas sorri, tentando manter a calma.
— Também esperamos. — O casal responde, ainda sorrindo.
— Esperem! Vocês vão, mas eles ficam. — Leonidas aponta para os dois guardas com um olhar determinado.
— O quê? — Liz pergunta, confusa.
— Ninguém olha para minha mulher com desejo na minha frente e sai impune. — Leonidas conclui, sua voz cheia de autoridade.
— Não seja ridículo, Leon... Derek! — Natasha quase engasga com as palavras.
Pelo visto, essa parte da família não está ciente da verdadeira natureza de Leonidas.
— Senhor! — Os guardas clamam a tio Clôude, visivelmente apavorados.
— Se fosse minha Virgínia, faria o mesmo. Vamos, meninas! Warner, pegue a cadeira do vovô. Até mais, meu filho. Filha. — Tio Clôude se dirige a mim.
Aceno para ele, um pouco aliviada por finalmente ver a saída dos convidados.
— O que vocês farão conosco? — Pergunta um dos guardas, com uma expressão de medo crescente.
— Irei matá-los, é óbvio! — Responde Leonidas, com um tom debochado e decidido.
— Só porque admiramos a beleza da rainha? — Indaga o outro guarda, ainda incrédulo.
— E você ainda diz "só"? — Leonidas parece atônito com a pergunta. — É claro que é por isso! Dilan, Rocha! Levem-nos! — Ordena, esbravejando seu comando.
Os guardas, agora visivelmente apavorados, se retiram com os dois homens enquanto Leonidas e eu permanecemos na sala. Depois que todos saem, me viro para Leonidas, ainda processando o que acabou de acontecer.
— Você é impressionante e louco, Leonidas. — Digo, envolvendo meus braços ao redor do seu pescoço e ficando na ponta dos pés para um beijo.
— Eu já disse, não divido o que é meu. Não quero que olhem para você dessa maneira, não quero que se aproximem de você, não quero que eles sequer respirem perto de você. Você é minha e de mais ninguém. — Ele me dá um beijo quente, intenso e cheio de possessividade.
— E isso serve para você também, Meri. Enquanto eu existir, ninguém mexe com vocês. — Leonidas se vira para Meredith, que está brincando com sua bonequinha.
Na manhã seguinte, Leonidas fez um pronunciamento diante de seus guardas, deixando claro que suas ordens não eram para ser questionadas. A mensagem era simples, mas carregada de autoridade: nenhum deles tinha permissão para se aproximar de mim, a menos que fosse uma questão de extrema necessidade. E mesmo nesses casos, o contato deveria ser mínimo e formal. Estava estritamente proibido qualquer olhar direto em meus olhos; o respeito e a distância seriam mantidos a todo custo. A intimidade não teria espaço aqui — as únicas respostas aceitáveis seriam um firme "Sim, Majestade!" ou "Não, Majestade." Qualquer desvio dessas regras resultaria em uma morte lenta e dolorosa, um aviso que ecoou no salão com o peso de uma sentença inevitável.
— Isso é sério? Está tentando me isolar do mundo? — Questiono, minha voz carregada de incredulidade.
— Estou apenas cuidando do que é meu. — Leonidas responde, sem desviar o olhar de sua espada, que afia com uma precisão quase obsessiva.
— Você realmente acredita que algum desses guardas pode se apaixonar por mim? Realmente acredita que chegariam nesse ponto comigo? Isso é ridículo! — Dou uma risada debochada, cruzando os braços enquanto o observo concentrado em sua arma.
— Hugo, quando voltou de Sunfifth, me disse que você era bastante cobiçada. Havia muitos aos seus pés. Disse que seu magnetismo era quase tão arrebatador quanto o canto de uma sereia. — Ele comenta, a voz grave e carregada de um ciúme mal disfarçado.
— Mas isso não tem nada a ver agora! Não estamos em Sunfifth. — Rebato, franzindo a testa.
— Não me interessa. Não quero que nenhum dos meus guardas fique te desejando. — Resmunga, parecendo mais um garoto mimado, embora com um toque perturbador de ciúme possessivo.
— Os de ontem só estavam apreciando minha beleza, Leonidas. — Provoco com uma risada, tentando aliviar o clima tenso.
— É assim que começa. Primeiro, apreciam sua beleza, depois se apaixonam. E eu sei bem o que o amor é capaz de fazer a um homem. — Ele finalmente ergue os olhos, encontrando os meus com uma intensidade ardente.
— Ah, é mesmo? E o que o amor é capaz de fazer com um homem? — O provoco, inclinando-me um pouco mais para perto.
Leonidas morde os lábios, um gesto cheio de intenções.
— Muitas coisas que eu prefiro não imaginar. Sei exatamente o que eles pensam em fazer quando olham para você. — Ele se irrita só de imaginar os guardas fantasiando comigo.
— E o que eles pensam em fazer comigo? — Indago com um tom inocente, fazendo-me de desentendida.
— A mesma coisa que eu penso em fazer toda vez que te olho. — Ele pisca para mim, um sorriso predatório brincando nos lábios.
— Ok! Mas lá fora está cheio de homens. Você não pode obrigá-los a ficar longe de mim só porque quer. Você é o rei mas não tem controle de absolutamente tudo. — Digo, ainda irritada com sua atitude.
— Isso não se aplica aos meus súditos lá fora. — Volta sua atenção à espada, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— E por quê não? — Pergunto, confusa.
— Porque eles não vivem sob o mesmo teto que você. Já os guardas, sim. — Ele responde com uma simplicidade desconcertante.
— Você tem bons argumentos. — Reconheço, apreciando a lógica distorcida de meu marido.
— Eu sei. — Ele dá de ombros, visivelmente satisfeito consigo mesmo.
— Sabe, meu rei, você deveria dar essa ordem para Natasha também. Às vezes, ela consegue ser bem irritante e atrevida. — Me aproximo e o envolvo num abraço por trás, sentindo o calor de seu corpo enquanto me aninho contra ele.
— Você realmente não gosta dela, não é? — Leonidas ri, claramente divertido.
— Leonidas, ela me fez ser chicoteada. Como eu poderia gostar dela? Às vezes, sinto vontade de te encurralar e dizer a frase mais clichê do mundo: "Ou ela, ou eu!" — Reclamo, bufando com irritação.
— Você sabe qual seria a minha resposta.
— Ela? — Faço uma pergunta provocativa, mas Leonidas se vira para mim com uma expressão de surpresa.
— Se ela te irrita tanto assim, dê um fim a isso. — Ele dá de ombros com uma despreocupação assustadora.
— Não me provoque. — Respondo, afastando-me um pouco.
— Bem, é isso que eu faria. — Ele pisca para mim, um brilho travesso nos olhos.
Depois daquela conversa com Leonidas, passei semanas imersa em pensamentos sobre a possibilidade de finalmente dar um fim em Natasha. O sentimento me parecia estranho no início, como uma chama recém-acendida, mas a vontade cresceu tanto que se transformou em uma obsessão constante. Eu me pegava, diversas vezes, imaginando o desfecho ideal para ela. Poderia ser um veneno insidioso, que corroesse suas entranhas lentamente, ou talvez a corda da forca apertando seu pescoço, tirando-lhe o último suspiro. Também considerei uma flechada certeira no peito, uma punição rápida e definitiva. Ou, talvez, pudesse usar meus poderes recém-recuperados, queimando-a viva até que suas cinzas se misturassem com o vento. Havia ainda o meu novo poder, capaz de sugar a vida de alguém até restar apenas uma casca vazia. No entanto, nenhuma dessas ideias me satisfez completamente. Eu queria algo mais... algo que a fizesse sofrer não apenas fisicamente, mas também em sua alma. Algo que a destruísse de dentro para fora, lentamente, da mesma forma que ela não teve piedade ao tentar me destruir. Eu ansiava por vê-la se contorcer em agonia, saboreando cada momento de sua queda. E quanto mais eu pensava, mais esse desejo me consumia, até que não restava espaço para mais nada em minha mente. Eu queria vingança, mas não qualquer vingança. Eu queria que Natasha pagasse por cada golpe, cada humilhação, de uma forma que ela jamais esqueceria. Natasha apareceu de repente enquanto eu estava treinando, com seu tom de voz sempre repleto de veneno.
— Você deveria tomar mais cuidado com o seu projetinho de monstro que vive correndo pelo palácio. — Ela escorou em uma pilastra, com os braços cruzados me observando treinar de longe. — Alguma coisa pode acontecer a ela, sabe como é. Ultimamente, o palácio anda muito perigoso.
A raiva borbulhou dentro de mim, mas mantive a calma enquanto atirava flechas no alvo. No entanto, sua provocação conseguiu me desestabilizar. Parei, virando-me lentamente para encará-la, com o suor escorrendo pela testa.
— O que você disse? — Indaguei, tentando manter o tom controlado.
Natasha deu um passo à frente, um sorriso pérfido surgindo em seus lábios.
— O que estou querendo dizer, minha querida, é que deixar uma menininha tão frágil solta por aí não parece uma boa ideia. — Suas palavras estavam carregadas de ameaça.
Limpei o suor do meu rosto, tentando manter o foco. Minha visão já estava escurecendo pelo ódio.
— Você está ameaçando Meredith, Natasha? — Interroguei, a raiva começando a tomar conta. Quero que repita, olhando em meus olhos.
Ela riu, um som cruel e vazio.
— Eu não sou de ameaças, você sabe disso. — Respondeu, como se fosse uma chacota.
— Então o que está querendo dizer? — Tentei ignorar a onda de fúria que subia dentro de mim, me concentrando no alvo.
— Que ultimamente tenho pensado seriamente em pegar aquela coisinha horrorosa e jogá-la do penhasco mais alto que existe em Treeland. — Cada palavra escorrendo com malícia. — Tem certeza de que ela não saiu de você? Porque ela é tão irritante quanto a mãe. — E então, riu alto, uma gargalhada que reverberou pelo campo de treino.
Meu sangue ferve. A ideia de arrancar seu pescoço me pareceu tentadora, mas me controlei, cerrando os dentes.
— Se eu fosse você, Natasha, ficaria bem longe dela. Não me tente, não me provoque e não ouse tocar em um fio de cabelo dela. — Alertei, com a voz baixa e ameaçadora, voltando ao meu treino, forçando-me a focar no alvo à minha frente. Tentei bloquear a presença dela, mas a tentação de fazer algo drástico era quase insuportável.
Natasha, contudo, não estava satisfeita em apenas me provocar. Ela se aproximou ainda mais, entrando no meu campo de visão, posicionando-se bem na frente do alvo.
— Ou você vai fazer o quê? — Provocou, o desafio claro em seus olhos.
Minha mão segura firme a arma, ainda apontada para o alvo, agora obscurecido pela presença de Natasha. Minha mente grita para atirar, para acabar com essa situação de uma vez por todas.
— Saia da minha frente. — Ordenei, a voz baixa e carregada de ameaça.
Natasha inclinou-se ligeiramente, um sorriso arrogante se espalhando por seu rosto.
— Venha me tirar. — Ela sussurrou, desafiando-me, suas palavras penetrando fundo na minha paciência já desgastada.
Natasha está praticamente implorando pela própria morte. Era como se ela soubesse exatamente o que eu queria fazer. A fúria me cegou. Sem pensar duas vezes, deixei cair tudo o que segurava, meu coração batendo tão rápido que parecia prestes a explodir. Natasha não deveria me provocar dessa maneira, mas agora era tarde demais para ela. Em um instante, avancei sobre ela com uma velocidade que surpreendeu até a mim mesma. Em vez de agarrá-la pelos cabelos, como meu instinto inicial sugeria, meus dedos buscaram algo muito mais profundo. Com um movimento feroz, cravei minhas unhas em seu peito, rasgando sua pele como se fosse papel. Natasha soltou um grito tão agudo e desesperado que ecoou por todo o palácio, chamando a atenção de todos. O som de passos apressados reverberava aos arredores enquanto Ananda, Celeste, Koan, que estava um pouco afastado, Dilan, Kevin, Warner, Rocha, Ethan, e Leonidas se aproximavam. Até mesmo o tio Heitor, que acabara de chegar ao palácio, e Juliete, junto com algumas damas da corte que vinham para um chá após o meu treino, foram atraídos pelo caos. Criados e guardas se reuniram, curiosos e chocados, tentando entender o que estava acontecendo. Mas eu estava além de qualquer explicação. Meus dedos afundaram ainda mais na carne de Natasha, e eu podia sentir a resistência de sua pele se desintegrar sob a força da minha ira. Um formigamento começou a percorrer meus dedos, algo estranho e poderoso se manifestando dentro de mim. Por um momento, pensei que fosse o calor das minhas chamas retornando, mas logo percebi que estava errada. O poder que emergia de mim não era fogo. Era algo gélido, cruel e implacável. A fúria que queimava dentro de mim se transformou em uma força fria, que parecia sugar a própria essência de Natasha. Ela começou a se contorcer violentamente, o pânico estampado em seus olhos enquanto seus gritos ficavam cada vez mais desesperados. Eu podia sentir a vida dela escorrendo por entre meus dedos, cada segundo trazendo um alívio amargo. A energia que fluía dela para mim era uma sensação de poder indescritível, algo que eu nunca havia experimentado antes. Natasha continuava a se debater, mas suas forças estavam se esvaindo rapidamente. O medo que ela havia tentado instigar em mim agora estava estampado em seu rosto, enquanto percebia que seu fim estava próximo. Eu não conseguia parar. A raiva e o poder que fluíam por mim eram viciantes, e eu queria que ela sofresse tanto quanto possível. Cada segundo que se passava, sua dor parecia intensificar meu prazer, até que finalmente ela caiu no chão, exausta, quase sem vida.
— Deseja que removamos Natasha de lá, meu senhor? Ainda há tempo de... — Koan começou a sugerir, a hesitação evidente em sua voz.
— Não. — Leonidas interrompeu com firmeza, sua voz cortante como uma lâmina. — Deixe que minha mulher faça o que ela faz de melhor.
O olhar de Leonidas era de uma admiração estranhamente confortadora; nunca o vi tão fascinado quanto ao assistir aquela cena. Seus olhos brilhavam intensamente, refletindo um orgulho perturbador. Enquanto eu continuava a pressionar minhas mãos contra o peito de Natasha, algo inesperado começou a acontecer: ela começou a congelar de dentro para fora. Gelo? A cada momento que eu investia mais força, seu corpo se transformava lentamente em uma estátua de gelo, rígida e grotesca. Natasha, que antes se contorcia de dor, foi se petrificando até ficar completamente imóvel, com os olhos arregalados e a boca aberta, paralisada no grito que nunca terminou. Seu corpo curvado para trás parecia uma escultura macabra, um reflexo do tormento que sofreu. Quando percebi que tudo havia terminado, agarrei suas unhas no que restava de seu peito congelado, e com um movimento decidido, arranquei seu coração para fora, deixando um buraco profundo cercado por rachaduras. Olhei para o que segurava em minhas mãos, mas o que vi não era um coração pulsante, e sim uma pedra fria, dura e branca como a neve, mais semelhante a um diamante do que a um órgão vital. Não senti remorso, apenas um alívio avassalador, uma alegria triunfante ao saber que dominava mais de dois poderes. Um sentimento de poder absoluto tomou conta de mim, multiplicando minha força por cem. Ao meu redor, ninguém ousou dizer uma palavra. Todos, desde os guardas até as damas da corte, observavam em silêncio, tentando compreender o que acabara de acontecer. E no fundo de seus olhos, algo se destacou claramente: medo, um medo profundo e incontestável.
— Você é realmente incrível, meu...
— Quero que você conquiste Lós para mim! — Interrompo Leonidas, a determinação fervendo em meu peito.
Com esse poder recém-descoberto, senti uma onda de energia e um desejo irresistível de retomar o que comecei anos atrás.
— Você quer que eu tome Lós? — Ele pergunta, surpreso.
— Sim. Lós está sem Dempsey, e o governador atual é uma piada. Seria uma vitória fácil para você e seus homens. — Respondo, obcecada pela ideia.
— Gostaria de saber como Dempsey conseguiu morrer... ele era tão forte...
— Eu o matei! — Cortei-o novamente, sentindo uma eletricidade percorrer meu corpo.
— Mas como você...
— Não importa agora, aquele verme teve o que merecia. Agora me diga, vai fazer isso por mim ou não? — O encaro, determinada.
— Faço o que você quiser, minha rainha. Por você, tomarei Lós e quantos reinos forem necessários. E farei melhor. Trarei a cabeça do governador para você. — Promete com um sorriso maligno.
— Você será o rei mais respeitado e poderoso de toda Aksum se fizer isso. — Abraço-o com força, sentindo a antecipação tomar conta de mim.
— Homens! — Leonidas grita ao finalmente se soltar de meu abraço. — Preparem-se! Temos um reino para dominar para a nossa rainha.
Os homens de Leonidas explodem em gritos de alegria, me deixando extremamente surpresa. Faz tempo que ansiavam por uma batalha que realmente valesse a pena, e a ideia de conquistar mais um reino os revigorava.
— O que você está fazendo, Sky? — Koan pergunta, desesperado.
— Fale apenas quando eu ordenar. — Respondo ríspida. — E a partir de agora, você será meu conselheiro real.
— Para quê? Você nunca me escuta! — Ele questiona, exasperado.
— Está me questionando, Koan? — Alcanço-lhe com um olhar severo, deixo clara minha posição.
— Não, minha rainha. — Ele abaixa a cabeça, submisso.
— Foi o que pensei. — Pego o coração congelado de Natasha e coloco nas mãos de Koan.
— Aqui, um presente. Faça o que quiser com ele.
Meu marido está fora há mais de uma semana, e o tempo parece se arrastar com uma lentidão insuportável. A única distração que encontro é Meredith, minha pequena boneca, que a cada dia que passa cresce mais. Tornou-se um ritual diário passar horas em frente à grande janela do meu quarto, observando o mundo lá fora, ou na sacada à frente, como se a visão do horizonte pudesse trazer algum alívio para a minha inquietação. A ausência de Leonidas deixou um vazio profundo. Não consigo mais dormir sozinha; a cama parece fria e desolada, e o ambiente ao meu redor é opaco e sem vida. "Será que algo aconteceu? Por que a demora?" Essas perguntas incessantes me corroem por dentro, alimentando uma ansiedade crescente. A necessidade de ter minha família completa aqui, ao meu lado, é uma sensação avassaladora. Cada dia sem ele é um desafio, uma prova de paciência e resistência que eu temo não conseguir suportar por muito mais tempo.
— Precisamos mostrar algo a você, Majestade! — Celeste e Koan entram em meu quarto sem qualquer aviso.
— Perderam completamente o juízo? O que estão fazendo aqui? E por que entraram sem bater? — A minha irritação é evidente.
— Temos algo importante para lhe mostrar, minha rainha. — Koan tira uma chave do bolso e avança em direção à porta que Leonidas odeia que até mesmo eu abra.
— O que pensam que estão fazendo? — Tento detê-los, mas é em vão. Koan já está abrindo a porta, revelando um espaço que se assemelha a um santuário.
— O que acha disso? — Celeste pergunta, sua voz carregada de uma mistura de curiosidade e apreensão.
Dentro da saleta, as paredes estão completamente cobertas por uma colagem de pinturas minhas e de minha mãe, como se tivessem sido coladas com uma obsessiva dedicação. As imagens estão dispostas de maneira desordenada e caótica, formando um mosaico perturbador que cobre cada centímetro do espaço. A luz das velas espalhadas pelo ambiente lança sombras dançantes sobre os quadros, criando uma atmosfera inquietante e quase surreal. Algumas de nossas antiguidades e pertences pessoais estão dispostos de maneira cuidadosamente desordenada, como se fossem relíquias preciosas. O cheiro das velas é forte e penetrante, misturado com um toque de cera derretida, o que faz pensar que o ambiente está a um passo de se tornar um inferno de chamas. Penso para mim mesma: "Como esse lugar ainda não pegou fogo?" O ambiente está carregado de uma sensação opressiva, um testemunho da obsessão que foi dedicada a criar este espaço sombrio e perturbador. A combinação de elementos pessoais e a iluminação fraca contribuem para um cenário que parece tirar a paz de qualquer um que o veja.
— Obsessivo. — Celeste murmura, um toque de desgosto na voz.
— Você encontrou o que veio procurar, Alinna? — Koan aponta para o centro da sala e lá estava ela disposta no centro como um troféu. "Estava aqui esse tempo todo." — Você tem o poder de acabar com tudo isso.
— Fechem a porta! — Ordeno com firmeza, sem humor.
— O que? — Celeste parece incrédula.
— Vocês têm que entender que meu lugar agora é ao lado de Leonidas, meu marido! — Minha voz é firme e cheia de determinação.
— Mas Sky...
— Eu mandei fechar a porta! — Minha exasperação é palpável. — Fechem a porta, trancam-na e guardem a chave onde a encontraram.
— Mas... — Tentam protestar novamente.
— Para vocês, é majestade, e se não quiserem enfrentar as consequências, saiam daqui imediatamente! — Minha voz é fria e imperativa.
— Sim, senhora. — Respondem em uníssono, saindo rapidamente do quarto.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro