Capítulo 30
— Alinna, você poderia me dar um minuto? — Koan me detém, sua expressão séria.
Droga, estou realmente atrasada.
— Não pode deixar para depois? — Pergunto, torcendo para que ele aceite minha sugestão.
— Não! — Ele responde firmemente, sem dar margem para negociações. Imaginei que seria assim.
— Estou atrasada, Koan. Prometo que quando terminar falo com você. — Insisto, tentando continuar, mas ele bloqueia meu caminho.
— Atrasada para o quê? — Interroga, curioso e um pouco preocupado.
— Logo você vai descobrir. — Um sorriso se abre em meu rosto.
Começo a me afastar, achando que a breve conversa estava terminada. Mas Koan não desiste.
— Você se esqueceu do que realmente veio fazer aqui? — Ele me faz congelar no lugar, e giro sobre os calcanhares para encará-lo novamente.
— Esqueci o quê? — Pergunto, confusa e um pouco alarmada.
— Você não pode estar falando sério. — Seus olhos se arregalam em incredulidade.
— Não estou entendendo. — Dou a ele a oportunidade de explicar.
— A flecha, Alinna! — Koan altera seu tom de voz mas logo se recompõe , visivelmente frustrado. Mas ele logo se recompõe, olhando para os lados para ter certeza de que não havia ninguém por perto. Se lembrando do lugar onde ele está.
— Ah, sim, a flecha! Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo. — Digo, começando a me afastar novamente.
— Não! Você não sabe! — Koan me segue, determinado a não deixar passar.
E lá vamos nós de novo.
— Majestade, ande, venha depressa! — Juliete me chama, sua urgência evidente.
— Confie em mim, Koan, por favor. — Peço, enquanto me apresso, sabendo que preciso lidar com a situação o mais rápido possível.
Acelero o passo até encontrar Juliete e, ao nos encontrarmos, tomo a frente, com ela me seguindo. Avançamos em direção à sala do trono, e quando chegamos, escancaro as portas com um estrondo.
— Ora, ora, ora, o que temos aqui? — Digo, minha voz cheia de entusiasmo forçado.
Charlotte está ajoelhada, presa entre dois guardas que a mantêm imobilizada.
— Sky, eu juro que não...
— Cale-se! — Berro, interrompendo-a com firmeza.
Ela baixa a cabeça, soluçando e ficando em completo silêncio, como se se curvasse diante de sua culpa.
— Você sabe o que fazemos com traidores? — Pergunto, mas não dou tempo para resposta. — Nós mandamos matar.
— Mas eu não fiz nada, eu juro! — Charlotte implora, os olhos cheios de lágrimas.
— Não foi isso que eu ouvi. — Levanto uma sobrancelha, minha expressão desafiadora.
— Dilan! — Chamo, com um tom autoritário.
Ele se aproxima, já sabendo o que precisa fazer. Charlotte veste um robe quase idêntico ao meu, o mesmo que usei no dia em que Natasha me incriminou. Parece que temos uma cena familiar. Dilan enfia a mão nos bolsos e puxa o colar mais cobiçado do palácio.
— Pelos deuses, eu não peguei isso, Sky! Por favor, acredite em mim! — Charlotte implora, sua voz entrecortada pela agonia.
— Se não foi você, então como o colar foi parar aí? — Pergunto, com um tom irônico e implacável.
Ela hesita em me responder. Aproximo-me de Charlotte e fixo meu olhar nos profundos olhos dela.
— Eu não peguei. — Ela sussurra, a raiva evidente em sua voz.
— Eu sei. — Meu sorriso é frio. — Fui eu quem coloquei o colar aí para você.
— Eu vou gritar...
— Você tem alguma prova de que não pegou o colar? — Pergunto, sem deixar de olhar para ela. Sem resposta, continuo: — Eu te fiz uma pergunta!
— Não. — Ela abaixa a cabeça, derrotada.
— Então não há como contestar a rainha suprema de Treeland. — Aumento minha voz para que ela ouça com clareza. — Eu sei que você sempre desejou o que é meu, mas roubar um simples colar é mesquinho, até para você.
Com raiva, Charlotte tenta avançar contra mim, mas é imediatamente contida pelos guardas. Eu permaneço imóvel, ciente de que ela não conseguiria me atacar, mesmo que quisesse. Dou uma risada fria diante de sua impotência.
— Você é cruel. — Ela me olha com um brilho sanguinário nos olhos.
— Eu sou cruel? — Faço um biquinho, simulando surpresa. — Saiba, Charlotte, você pode me atacar quantas vezes quiser, mas não toque na minha cria! Isso será o suficiente para justificar sua punição.
— Pelo amor de... Aquela pirralha é adotada, Sky! — Ela grita, sua frustração transbordando.
Sem paciência, desço a mão com força sobre seu rosto. O golpe faz com que ela abaixe a cabeça, e quando volta a me olhar, seus olhos estão cheios de lágrimas.
— Você não vai morrer apenas por ter roubado um colar qualquer, mas por sua deslealdade. Não é apenas por mim, mas pela minha filha, pelo meu pai que sempre te acolheu, e por Sansalom. Seu pai deve estar se revirando no túmulo agora. — Sussurro, minha voz carregada de veneno.
— Você vai me matar? — O medo em sua voz é visível.
— Claro que não! — Respondo com um tom despreocupado, vendo-a relaxar momentaneamente. — Acha mesmo que eu iria fazer isso... e correr o risco de sujar minhas mãos? Não! Rocha vai cuidar disso por mim.
Seus olhos se arregalam com horror ao ver Rocha sorrir, o pavor se tornando evidente em seu rosto. Charlotte entra em desespero.
— Pelos santos de Sky e todos os reinos, tenha piedade, misericórdia, clemência, Sky! Eu não quero morrer! — Ela tenta beijar meus pés, suas lágrimas misturadas com súplicas desesperadas. — Por favor!
A jovem que, anos atrás, eu considerava perfeita para o cargo de princesa agora está completamente desfigurada, com os cabelos desgrenhados e os olhos inchados, ajoelhada e beijando meus pés para tentar salvar a vida que, para ela, deve parecer tão preciosa.
— Sabe, Charlotte, eu até poderia mostrar clemência, misericórdia, piedade... Mas, no meu aniversário, você usou um vestido quase idêntico ao meu. E eu não gostei. — Dou de ombros, com um tom de indiferença.
Afasto-me de Charlotte e caminho em direção ao meu trono, mas paro ao ouvir sua pergunta estúpida.
— Derek sabe que você está fazendo isso? — Charlotte me desafia com um olhar penetrante.
— Não precisa mencionar Derek, todos aqui sabem que é Leonidas. — Volto a olhar para Charlotte com um sorriso frio. — E sim, ele sabe. Mesmo que não soubesse, eu sou a rainha dele; se eu não tomasse providências, ele o faria por mim. — Dou uma gargalhada, a ironia clara em minha voz.
Charlotte parece realmente acreditar que Leonidas poderia salvá-la de mim. Pobre iludida. A hora de todos chega, e a dela já chegou.
— Você é uma cretina! — Ela grita com raiva.
— Rocha! — Chamo, pedindo que a retire dali. — Seja criativo e faça com que seja doloroso. E devagar, bem devagar.
— Você é uma vadia! — Ela continua gritando e se debatendo enquanto é carregada. — Pelo menos não fui eu que me casei com o assassino do meu pai!
— Por falar em pai, mande lembranças ao seu por mim. — Sorrio e faço um aceno de despedida para Charlotte. — Até nunca mais, cretina.
— Muito bem, majestade. — Diz Juliete, aproximando-se.
— O que eu já lhe disse sobre puxa-sacos, Juliete? — Pergunto, com um tom de cansaço.
— Que você odeia puxa-sacos. — Ela responde, repetindo o que eu sempre digo a ela.
— Isso mesmo. — Dou um sorriso de satisfação. — Onde está meu marido?
— No campo de treinamentos com Meredith, majestade. — Ela se curva respeitosamente.
— Certo. Quero que você acompanhe Rocha e assegure que ele execute o serviço corretamente. — Ordeno com firmeza.
— Sim, senhora. — Ela responde e se afasta.
Vou diretamente para o campo de treinamentos, ansiosa para ver como está Meredith. Sinto-me um pouco mais leve após me livrar de Charlotte. A satisfação de ver a traidora partir é grande, especialmente após todas as atrocidades que cometeu. A gota d'água foi, sem dúvidas, seu plano juntamente com Natasha, de envenenar Meredith para me atingir. Felizmente, tenho pessoas confiáveis para testar os alimentos antes que Meredith os consuma. A morte do criado foi rápida e direta. Leonidas ainda não sabe, mas estou me livrando aos poucos; ele nem sequer notará a ausência. Natasha sem dúvidas é a próxima de minha lista.
Ao chegar no campo de treinamentos, vejo Leonidas ensinando Meredith a manusear uma espada. A arma é consideravelmente maior do que ela, mas Meredith se esforça e se sai surpreendentemente bem. Observo de longe, notando que o treino não é tão intenso quanto poderia ser, mas parece mais uma distração para Meredith. Às vezes, me pergunto se ela se sente sozinha em meio a tudo isso, longe da sua infância. Leonidas, com um olhar de concentração, ajusta a posição da espada na mão pequena. A cena é ao mesmo tempo comovente e preocupante. Meredith está crescendo tão rápido, e a forma como se entrega ao treino mostra seu desejo de ser forte. Sigo observando, percebendo o quão bem ela se adapta, apesar das dificuldades.
— Para um demônio, ele até que leva jeito com crianças. — Koan se junta a mim.
— Não seja cruel. — Respondo com um sorriso de lado.
— Está apaixonada por ele, não está? — Koan pergunta diretamente.
— Não seja ridículo. — Reajo rapidamente.
— Ah, qual é, Alinna. — Ele ri. — Então, mate-o?
— Não! — Minha resposta é firme. — Não por enquanto.
— Está apaixonada, admita. — Koan diz com convicção.
— Olhe para Meredith! — Aponto para ela, ainda sorridente e se divertindo no campo de treinamentos. — O que você vê?
— Uma criança feliz. — Koan revira os olhos, começando a entender o que quero dizer.
— Por mais que Leonidas seja um monstro em muitos aspectos, ele está cuidando bem de Meredith, e de mim também. E não é isso que realmente importa? — Pergunto, lançando um olhar para Koan.
— Alinna... — Koan coça as têmporas, claramente pensando na situação.
— Koan, eu estou aqui para garantir o bem-estar de Meredith. Ela já perdeu seus pais, se apegou ao meu pai e ao Erik, e também os perdeu. Agora, ela encontrou em Leonidas a única figura paterna restante. Não posso tirar isso dela. — Mantenho meu olhar fixo nos dois, sorrindo pelo campo, enquanto Meredith parece feliz e protegida, mesmo que Leonidas não seja a pessoa ideal que todos esperariam.
— Mas ele é o Leonidas, seu inimigo mortal. Seu tio. O assassino da sua mãe, do seu pai...
— Eu sei, Koan! Mas... Eu cresci rodeada de pessoas, sempre tive uma família grande. Toda vez que penso na possibilidade de matar Leonidas, imagino como seria minha vida sozinha, com uma filha para criar e vários reinos para liderar. — O encaro com seriedade.
— Você não está aqui apenas por Meredith. Sei que é por você também. — Koan insiste, sem desviar o olhar.
— Talvez isso seja verdade, mas não estou apaixonada. — Deixo claro, com firmeza.
— Você sabe que ele está bloqueando minhas visões, não sabe? Não sei como, mas ele está! — Koan revela, com um tom frustrado.
— Não consegue ter visões? — Pergunto, intrigada.
— Não. Não em relação a você. Não vejo mais o seu futuro. — Responde com desânimo.
— Isso é ruim? — Questiono, curiosa.
— É claro que é, Alinna! Ele sabe de alguma coisa e está planejando algo que não quer que eu veja. — Ele diz como se fosse óbvio.
— Ele bloqueia meus poderes também, mas não sei como. — Confesso em um tom baixo.
— Você tem que matá-lo! — Koan volta ao assunto, determinado.
— Eu vou, Koan. — Digo pela milésima vez, com firmeza.
— Não, Alinna, você não vai. E eu não quero ser repetitivo, mas querendo ou não, você vai causar a destruição de todos nós. — Seu olhar se volta para o campo, pensativo.
— Eu não vou destruir ninguém. E caso isso aconteça, não se preocupe, porque irei reconstruir. — Digo com força, determinada.
— Você é confiante demais. — Koan ri, cético.
— E não deveria ser? — Olho para ele, esperando uma resposta.
— Tomara que você tenha razão, e tomara que você não se arrependa depois. — Ele se afasta, ainda preocupado.
— Eu não vou me arrepender. — Digo rápido, enquanto ele ainda está a uma distância curta.
Espero que esteja certa! — Ele grita, enquanto se afasta e caminha para dentro do palácio.
— Eu estou. — Sussurro para mim mesma, com um misto de determinação e ansiedade.
...
— Meu rei? — Digo com um tom irônico ao entrar em seu quarto.
— Entre, meu amor. — Ele responde, sem desviar o olhar de sua mesa.
O uso do "meu amor" ainda me deixa um pouco desconfortável, e embora Leonidas perceba, ele opta por não comentar de imediato. Fecho a porta atrás de mim e me aproximo.
— Você é minha mulher. Não deveria se sentir tão desconfortável com o título de meu amor. — Ele me observa com um olhar inquisitivo.
— Ainda estou me acostumando. — Respondo, tentando manter a calma. — Como foi o seu dia?
Mudo de assunto, já que a conversa atual ainda está me deixando inquieta. Hoje, terei que passar a noite aqui no mesmo quarto que Leonidas. Tio Heitor está no palácio, e, apesar de tudo, ele não tem a menor ideia de que eu tenho aversão a Leonidas. O pensamento de ter que compartilhar o quarto com ele me deixa ansiosa. Olho ao redor do quarto, notando cada detalhe novamente. O peso da situação se torna mais evidente, sabendo que terei que fingir uma convivência tranquila ao lado de alguém que representa tanto sofrimento e conflito para mim. Minha mente tenta se ajustar à ideia de que, por uma noite, eu serei forçada a viver essa falsa cordialidade, enquanto mantenho minha verdadeira intenção e sentimento escondidos.
— Foi ótimo. Fiquei sabendo que o seu foi bem divertido também. — Leonidas me observa com um sorriso curioso.
— Até que foi. — Dou uma risada leve, tentando manter a conversa descontraída.
— Rocha fez um bom estrago. — Ele comenta, evidentemente satisfeito com o desempenho do seu capanga.
— Isso só prova que ele é um capacho eficiente. — Reviro os olhos, com um tom de ironia.
— Não diga isso! — Leonidas ri, deixando os papéis que estava lendo e se aproximando de mim com uma expressão brincalhona. — Rocha pode ser um capacho, mas é leal.
— Sobre Charlotte... — Decido mudar de assunto mais uma vez. — É um problema para você?
Disse para Charlotte que Leonidas sabia exatamente o que eu tinha planejado para ela, mas a verdade é que ele não fazia ideia.
— Claro que não. Charlotte me ajudou a trazer Meredith para cá, mas nunca gostei muito dela. O que me surpreende é você ter adiado este momento. — Ele ri, com uma expressão de surpresa divertida.
— Ela estava se associando com Natasha e se achando intocável por estar ao lado dela. Eu só quis fazer com que ela se sentisse por cima por alguns dias, antes de dar o golpe final. — Dou de ombros, mantendo o tom leve.
— Muito esperta. — Leonidas volta a se sentar à mesa, claramente impressionado com minha estratégia. — Você sempre sabe como jogar o jogo.
Tiro meus sapatos e me jogo na cama, deitando de barriga para cima e deixando meu olhar vagar pelo céu que começa a escurecer do lado de fora. A vista é deslumbrante e continua a me fascinar; sinto-me apaixonada por esta janela e por esta perspectiva.
— Como você conseguiu tudo isso? — Pergunto, ainda absorta na contemplação do céu.
Leonidas solta um suspiro, evidente cansaço em seu tom.
— É uma longa história, e eu não saberia por onde começar.
— Que tal começar pelo começo? — Sugiro, olhando para ele do outro lado do quarto, onde está sentado à sua mesa, me observando com um olhar curioso.
— Bem... — Leonidas limpa a garganta, os olhos fixos em um ponto distante enquanto parece mergulhar em suas memórias. — Desde o começo, eu sabia que a morte era inevitável, especialmente após a ligação que estabeleci com sua mãe. Naquela época, com a maior feiticeira ao meu lado, eu me vi compelido a pesquisar sobre reencarnações e sobre os feitiços e magias que poderiam torná-las reais.
Ele faz uma pausa, como se pesasse cada palavra antes de continuar.
— Ouvi falar sobre isso uma vez por acaso, e algo naquelas palavras ficou gravado em meu subconsciente. Precisava saber se a reencarnação era realmente uma possibilidade ou apenas uma lenda. As histórias que eu conhecia diziam que alguém que morre deixando algo inacabado na vida anterior acaba retornando em outra existência para resolver essas pendências e então se libertar.
Leonidas se aproxima da mesa, seus dedos tocando a superfície de maneira pensativa.
— Eu me perguntei: "E se eu pudesse antecipar minha própria reencarnação?" Perguntei a Esther, a feiticeira, se isso seria possível. Ela confirmou que com magia negra, quase tudo era possível. Então, sem hesitar, pedi a ela que me preparasse para essa transição. Quando finalmente morri, já havia sido planejado para reencarnar em outra forma. Derek.
Ele se encosta na mesa, olhando para mim com uma mistura de nostalgia e determinação.
— Foi um processo complexo, mas a magia negra possui um poder que poucos compreendem completamente. E aqui estou eu, com uma nova identidade, mas com os mesmos objetivos.
Leonidas me conta tudo com uma calma inquietante, sua serenidade ao relatar os eventos me assusta. Enquanto ele narra cada detalhe com uma tranquilidade quase sobrenatural, percebo que ele parece estar viajando no tempo, revisitando memórias distantes com um desapego quase etéreo. Sua voz, suave e constante, transmite uma sensação de inevitabilidade, como se todo o drama e tumulto de suas ações passadas fossem meras marionetes em uma peça que ele já conhecia bem.
— Como você soube como seria sua reencarnação? — Pergunto, já sentada e intrigada.
Leonidas começa a contar sua história, e a tranquilidade em sua voz contrasta com a monstruosidade do que ele revela. Ele se levanta e caminha lentamente pelo quarto enquanto fala, os olhos fixos em mim, como se quisesse que eu compreendesse a profundidade de seus planos.
— Eu escolhi a forma em que viria. — Diz ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo. — O verdadeiro Derek era apenas um menino na época. Uma criança bonita, herdeiro de um reino recém-estabelecido, mas já extremamente rico. Ele era o alvo perfeito.
Ele faz uma pausa, olhando pela janela, e continua.
— Hugo me ajudou bastante nessa parte. Treeland, naquela época, era quase invisível. Poucos conheciam sua existência. Quando morri como Leonidas, Derek ainda era apenas um jovem garoto. Mas, graças ao trabalho de Esther, renasci como ele. Cresci com toda a herança e poder que ele teria, e agora estou aqui. — Ele abre os braços, mostrando-se em toda sua glória, como uma prova viva do sucesso de seu plano.
A serenidade com que ele fala, como se estivesse discutindo um feito admirável, faz meu estômago revirar. É como se estivesse exibindo uma obra-prima, um plano meticulosamente calculado e executado com precisão. Ele se move com uma confiança quase sobrenatural.
— Vivendo por anos, até hoje. Quase um imortal. — A última frase é dita com uma satisfação evidente, um toque de orgulho que me faz perceber o quanto ele realmente acredita no que fez.
Ele se vira para me olhar, e naquele momento, compreendo a extensão de sua ambição. Cada detalhe, cada passo em seu plano foi cuidadosamente orquestrado, e o resultado é o homem que está à minha frente, o homem que enganou a morte e renasceu para continuar sua busca por poder.
— E onde está o verdadeiro Derek? — Pergunto, confusa com todas essas revelações.
— Sua alma dorme, profundamente, dentro de seu próprio corpo, enquanto eu o possuo. — Leonidas responde com uma dureza que me deixa inquieta.
— E se ele acordar? — Minha voz treme um pouco, e percebo que meus olhos se arregalam involuntariamente. São tantas informações que estou me esforçando para absorver tudo.
— Ele não vai acordar. — Ele garante com uma certeza convincente.
— Então, Natasha é irmã do verdadeiro Derek? E o tio Heitor é realmente tio do Derek original? — Tento juntar as peças desse quebra-cabeça complexo.
— Sim. — Leonidas responde calmamente, como se estivesse explicando algo trivial.
— Ok, mas como Heitor e Natasha sabem que você é você e não o verdadeiro Derek?
Ele se move em direção à janela, observando o horizonte enquanto fala.
— Quando completei 15 anos pela segunda vez, contei toda a verdade para eles. Os pais de Derek morreram cedo, como é típico em histórias assim. Isso deixou apenas Heitor e Natasha como família próxima, o que facilitou as coisas. — Ele faz uma pausa, virando-se para mim com um olhar irônico. — Mas o mais interessante foi a reação deles. Quando revelei quem eu realmente era, ambos ficaram... estranhamente felizes. Eles já tinham ouvido histórias sobre mim, sobre Leonidas. E, quando provei que eu era realmente ele, ficaram fascinados.
Ele volta a caminhar pelo quarto, e o tom de sua voz revela a ironia que encontra em tudo isso.
— A possibilidade de usufruir de grande influência e poder mexe com a cabeça de qualquer um, Alinna. Eles viram em mim a oportunidade de moldar Treeland de um jeito que jamais seria possível com o verdadeiro Derek. — Ele ri, mas é um riso que carrega um tom sombrio.
Leonidas expõe essa história como se fosse um conto de triunfo, onde a manipulação e a ganância foram as chaves para alcançar o que ele queria. Cada palavra dele deixa claro que ele não vê nada de errado em seu plano, e que, para ele, o fim sempre justificará os meios.
— Por fim, já não fazia muita diferença, eles se acostumaram comigo. E, não quero te assustar, mas Natasha e tio Heitor são ainda mais diabólicos do que eu. Não foi um grande problema.
— Eu imagino. — Sinto uma pontada de medo atravessar meu corpo.
— Seu interrogatório terminou? — Ele ergue uma sobrancelha, desafiador.
— Sim. Eu acho que sim, por enquanto. — Respondo, gaguejando.
Levanto-me, tentando escapar para a sala de banhos e me recompor de toda essa história bizarra, mas há tantas portas neste quarto que acabo me confundindo.
— Não entre aí! — Leonidas esbraveja de repente.
Levo um susto e, como um reflexo, fecho a porta com força. O salto que Leonidas deu foi tão grande que ele derrubou a poltrona e quase levou a mesa junto.
— Qual é o seu problema? — Pergunto, encarando-o.
— Nunca, em hipótese alguma, abra essa porta novamente. — Ele me empurra de lado, sua expressão séria.
Leonidas rapidamente tira um colar do pescoço, que carrega uma chave, e tranca a porta com um movimento firme.
— Nunca. — Ele repete, olhando fixamente para mim.
— Sim, senhor. — Respondo automaticamente, sem perceber o que acabei de dizer.
Em vez de sair, Leonidas permanece parado à minha frente, encarando meus olhos com uma intensidade que me faz tremer por dentro.
— Uma última pergunta... seus olhos, como eles...? — Tento formular a pergunta, hesitante.
— Pedi para Esther mudar os olhos do garoto. — Ele responde rapidamente, sem hesitar.
— Você queria se parecer com meu...?
— Por favor, não termine essa frase. — Ele interrompe, sua voz carregada de raiva, mas também de algo parecido com clemência.
— Em relação a Charlotte, quando tiver filhos, você entenderá. — Solto. Por um breve momento, me esqueço de quem Leonidas realmente é e do fato de que agora sou sua mulher, sem dar muita atenção ao que acabei de dizer.
— Teremos filhos? — Ele muda de assunto e de humor tão rapidamente que quase me desconcerta. Seus olhos agora brilham.
— Ãhm... Eu não quis dizer... — Só agora percebo o peso das minhas palavras.
— Você sabe que terá que me dar um herdeiro ou até mesmo mais de um, não sabe? — Ele se encosta na mesa, dando-me um sorriso abusado.
— O quê? — Me engasgo com minha própria saliva, surpresa.
— Todo rei precisa de um herdeiro. Você é minha mulher, quem mais me daria isso? — Ele cruza os braços, observando minha reação.
Ele sabe exatamente como me deixar vermelha e desconfortável com essa conversa, mas não se importa e continua a me provocar com seu olhar.
— Bom, podemos adotar. — Tento desconversar, buscando qualquer saída.
— Adotar? — Ele solta uma risada baixa. — Já temos Meredith, isso não é suficiente? Como rei, você sabe melhor do que ninguém que preciso de um herdeiro legítimo para continuar a linhagem do trono. E quero que seja meu, de verdade, da forma tradicional. — Leonidas desencosta lentamente da mesa, aproximando-se de mim como um lobo prestes a atacar.
Sem perder tempo, me apresso em direção à porta, tentando fugir daquela conversa.
— Acho que vou descer para o jantar. — Digo enquanto abro a porta.
Antes que eu consiga sair, Leonidas, com uma rapidez assustadora, me puxa de volta, fechando a porta com força e colocando as mãos de ambos os lados, prendendo-me entre a porta e ele. Sinto sua presença esmagadora, seus braços bloqueando qualquer tentativa de fuga. Não me atrevo a me mover, mal consigo respirar.
— Estamos casados há quase três semanas. — Ele sussurra, seus lábios perigosamente próximos dos meus.
— Eu sei disso. — Minha voz sai fraca, quase inaudível.
— E ainda não consumamos nosso casamento. Não preciso dizer o que pretendo fazer, certo? — Ele murmura, seus olhos fixos nos meus lábios.
Meus pensamentos estão em caos, buscando uma saída, enquanto meu coração bate descompassado.
— Não. — Respondo, mal reconhecendo minha própria voz. "Céus o que está acontecendo comigo?"
Leonidas me empurra contra a porta com uma força que tira meu fôlego, seus lábios colidindo com os meus em um beijo feroz e possessivo. Tento me afastar, mas ele me prende com uma urgência que beira o desespero, como se seu próprio ser dependesse de mim para viver. É nesse instante que todo o meu juízo desaparece — meu corpo começa a reagir de maneira inesperada, e, para minha surpresa, começo a gostar. Minhas mãos se entrelaçam em seus cabelos com firmeza, enquanto ele, sem nenhuma paciência, começa a desamarrar as fitas do meu vestido, seus dedos ágeis desfazendo os nós com uma destreza que revela sua experiência e desejo. Antes que eu possa processar o que está acontecendo, já estamos na cama, a velocidade dos acontecimentos é vertiginosa, mas cada segundo parece durar uma eternidade. É rápido e lento ao mesmo tempo, um paradoxo de sensações que desafia qualquer explicação lógica. Minha mente, embora turva pelo desejo, tenta gritar em alerta: "Ele matou seu pai! Sua mãe! Como pode se deitar com um assassino?" Mas uma voz mais sombria dentro de mim responde: "Eu também sou uma assassina. Já tirei tantas vidas." A razão se esvai, e tudo o que resta é a ação, o instinto puro. Com mãos trêmulas, removo a última peça que ainda separa Leonidas de mim. Ele prende minhas mãos sobre a cabeça, seus olhos cravados nos meus enquanto seus lábios percorrem cada centímetro do meu corpo, deixando um rastro de fogo onde quer que toquem. Seus movimentos são deliberados, lentos no início, mas logo ele começa a acelerar, cada investida me fazendo perder o fôlego. Sinto uma batalha interna, uma parte de mim quer chutá-lo, empurrá-lo para longe, mandar este homem direto para o inferno. Mas, ao mesmo tempo, meu coração deseja estar exatamente onde estou — presa neste momento, nesta cama, com ele.
Quando finalmente acordo, o sol já está alto no céu, seus raios invadindo o quarto e iluminando meu rosto. Me espreguiço e olho ao redor, notando a desordem ao meu lado na cama — o lado de Leonidas está bagunçado, o som dos seus passos na sala de banhos ecoa pelo quarto. Meus olhos se voltam para baixo dos cobertores, e percebo que estou completamente nua. Meu Deus, que noite foi essa? Se Koan me visse agora, ele com certeza me mataria. A conversa que tive com ele reverbera em minha mente como um eco cruel:
"Está apaixonada por ele, não está?"
"Não seja ridículo."
"Qual é, Alinna. Então mate-o!"
"Não."
As palavras giram em minha cabeça, um loop vicioso que me deixa confusa e perdida, presa entre o que sinto e o que deveria fazer. A realidade da situação começa a se firmar, e um turbilhão de emoções me envolve.
Depois daquela noite, algo fundamental mudou, não apenas entre Leonidas e eu, mas dentro de mim também. Havia uma nova dinâmica, uma energia que parecia pulsar entre nós, impossível de ignorar. Leonidas revelou-se um homem de desejos intensos, quase insaciável. Sua fome por mim não conhecia limites, e logo descobri que o leito matrimonial era apenas um dos muitos lugares onde ele saciava essa ânsia. A paixão se espalhou para além dos limites da cama. Havia momentos de puro abandono na banheira, onde a água quente envolvia nossos corpos enquanto ele me puxava para mais perto, suas mãos explorando minha pele molhada. No escritório, a mesa de madeira maciça tornou-se palco de nossos encontros, documentos e mapas sendo empurrados para o lado enquanto ele me erguia, seus olhos ardendo de desejo enquanto me tomava ali mesmo. Até mesmo o tapete luxuoso do meu quarto não foi poupado — uma superfície macia que nos envolvia enquanto nos rendíamos àquele fogo avassalador, onde o mundo exterior deixava de existir. As noites se tornaram longas e intensas, e a distância entre nossos quartos tornou-se insuportável. Em menos de uma semana, passamos a compartilhar o mesmo espaço, o mesmo quarto, o mesmo leito. O que antes era uma simples obrigação matrimonial, agora parecia uma necessidade vital, como respirar. A cada noite que passava, eu me via mais enredada nessa teia de desejo e poder, algo que mudava não apenas a maneira como eu via Leonidas, mas como eu via a mim mesma.
— Nunca entrei aqui antes. — Brenda observa, deslumbrada com o ambiente.
— Dormirá aqui agora? — Celeste pergunta, claramente desanimada com a ideia.
— Sim. — Respondo sem desviar o olhar, focada no que estou fazendo.
— Bem, para hoje vossa majestade prefere um vestido azul ou um rosa claro? — Ananda pergunta, tentando ser prestativa.
— Preto. — Respondo com firmeza. — Quero um vestido preto, hoje.
— Preto? — Celeste faz uma expressão de desaprovação, seu tom carregado de sarcasmo. — Um pouco sombrio demais, não acha?
— Gosta de sua vida, Celeste? — Pergunto, olhando-a pelo espelho.
— Sim, senhora majestade. — Ela responde rapidamente, o sorriso desaparecendo de seu rosto.
— Então evite comportamentos assim no futuro. — Digo, com um tom de repreensão.
— Sim, senhora! — Ela se endireita e volta a trabalhar com um ar de obediência.
— Já vou buscar o seu vestido, Majestade. — Ananda se curva e se apressa para cumprir o pedido.
— Ah, e gostaria que, a partir de agora, vocês incluíssem mais vestidos escuros na coleção, por gentileza. Principalmente vermelhos, Leonidas adora essa cor. — Adiciono, com uma leveza na voz.
As duas trocam olhares discretos, mas eu não me importo com o que pensam. Apenas espero que elas compreendam o que desejo.
— Sim, senhora! — Respondem em uníssono, com um tom de concordância.
...
— Majestade! — Celeste me chama com uma expressão preocupada.
— Sim? — Respondo, me afastando de Meredith para ver o que acontece, assim que Celeste me chama.
— Há um homem na porta dos fundos da cozinha do palácio. Ele afirma conhecer a senhora e diz que tem algo urgente para lhe contar.
— Um homem? — Pergunto, intrigada. "Quem será?"
Deixo Meredith sob os cuidados de Ananda e sigo com Celeste até os fundos da cozinha. Quando chegamos, abro a porta e olho para Celeste, que está visivelmente confusa e inquieta.
— Céus! — Celeste exclamou, incapaz de esconder seu choque.
— Que bela tatuagem, meu...
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