Capítulo 27
— Extremamente louca! Você é extremamente louca, Alinna! — Koan continua atrás de mim, enchendo minha cabeça com suas críticas.
— Koan, será que você pode parar? — Respondo, cansada.
— Por acaso você está querendo se prejudicar? — Ele insiste.
— Koan, já te disse que sei o que estou fazendo! — Repito, frustrada.
— Não! Você não sabe. Casar com Leonidas é uma loucura; você está se metendo em algo do qual não vai conseguir sair. — Ele afirma com convicção.
— Você teve alguma visão sobre isso? — Paro no corredor e o encaro, exigindo uma resposta.
— Não vi, mas...
— Leonidas é a pedra, não é? — Interrompo-o, pressionando.
— O quê? — Ele faz uma expressão de dúvida.
— Na sua visão, você falou sobre uma destruição iminente se eu escolhesse errado. Erik é o espinho, e Leonidas é a pedra, certo? — Pergunto novamente.
— Erik é o quê? Quem é Erik? — Koan parece confuso.
— Não importa, o espinho está morto. Agora, resta-me lidar com a pedra. E, sério, Koan, eu sei exatamente o que estou fazendo. — Digo pela última vez, virando-me e deixando-o para trás.
Decido ir para o jardim, onde Meredith está brincando com Celeste, cercada por um grupo de guardas. A presença constante dos guardas pode parecer um exagero, e talvez não seja o melhor para ela, mas espero que minha presença possa trazer algum alívio à situação. Ao passar pelas portas da sala do trono, ouço uma parte da conversa entre Leonidas e Hugo. A voz de Leonidas é grave e autoritária, mas há um tom de frustração que não consigo ignorar. Hugo, por sua vez, parece tentar acalmá-lo, respondendo com paciência e respeito. A conversa é entrecortada por murmúrios e palavras não muito claras, mas consigo captar o clima tenso. Enquanto me aproximo, tento ouvir mais detalhes, mas o som das palavras se mistura com o ambiente externo.
— Você nunca foi bom com mentiras. — Ouço Leonidas dizer com um tom de acusação.
— Não estou mentindo. — Hugo responde defensivamente.
— Ah, é? — Leonidas expressa ceticismo. — Entre, Alinna!
Como assim? As portas estão fechadas, e eu tenho certeza de que não fiz nenhum barulho ao me aproximar. Não seria possível que ele tivesse percebido minha presença. Com cuidado, abro uma das portas e entro na sala.
— Ãhm... Eu estava passando e...
— Resolveu ouvir atrás da porta, minha querida? — Leonidas sugere com uma leve ironia.
— Eu... — Gaguejo, sem saber o que dizer.
— Não se preocupe. Tudo aqui será seu, e você pode entrar onde quiser. Na verdade, sua chegada é oportuna, pois Hugo e eu estamos lidando com um dilema bastante interessante. — Leonidas se levanta do trono e se aproxima de Hugo, com um gesto que parece indicar um problema complexo à frente.
— É mesmo? — Pergunto com um toque de hesitação, mas me atrevo. — E que dilema é esse, querido?
Olho para Hugo e depois para Leonidas, sentindo um clima pesado no ar. Sinto que não foi uma boa ideia aparecer agora. Engulo em seco e me esforço para manter a calma.
— O dilema é se Hugo está ou não apaixonado por você. — Leonidas ri com uma expressão que mistura diversão e curiosidade.
— O quê? — Meus olhos se arregalam, surpresos.
— Leon, isso é ridículo. — Hugo coça as têmporas, visivelmente desconfortável.
— Shhh! Deixe-me falar. — Leonidas o repreende com um gesto impaciente. — E você, querida, o que acha?
— Acho que você está divagando em pensamentos absurdos. — Quase engasgo com a resposta, tentando disfarçar meu desconforto.
— Mas ouvi dizer que vocês se beijaram na noite do seu aniversário, quando mandei Hugo para lhe buscar. — Leonidas fala, com uma expressão severa.
Sua presença é intimidante, e mentir para ele parece quase impossível. Observo Leonidas atentamente e vejo, nas linhas de seu rosto e no brilho frio de seus olhos, o ódio que ele sente ao saber desse breve acontecimento. A intensidade de sua reação é bem aparente; é como se cada palavra e cada gesto fossem carregados de um ressentimento profundo e perturbador. Sua possessividade às vezes me assusta, me deixando no escuro sobre o que ele pode ser capaz de fazer, movido por sua obsessão. É como se o ar ao nosso redor estivesse carregado de uma energia ameaçadora, e eu sinto um frio na espinha, temendo as possíveis consequências dessa conversa. A forma como ele observa Hugo e a maneira como se dirige a mim revelam um desejo de controle que é tanto fascinante quanto aterrorizante.
— Foi apenas parte do plano. — Hugo se adianta, visivelmente exausto com as insinuações de Leonidas.
— Parte do plano? — Repito, quase em um sussurro, enquanto absorvo a revelação.
— Será mesmo? — Leonidas pergunta com uma expressão cética, seu tom carregado de desconfiança.
Leonidas avança com passos decididos até me alcançar, e em um movimento tão rápido que mal tive tempo de reagir, ele retira uma faca do bolso. A lâmina fria e reluzente é imediatamente pressionada contra a minha garganta. Fico paralisada, sem entender a razão de sua atitude. Foi tão repentino que pisquei, e, no instante seguinte, Leonidas já estava sobre mim, a faca pressionando meu pescoço com uma precisão assustadora. Ele mantém o olhar fixo em Hugo e, em seguida, volta seus olhos para mim. Hugo permanece imóvel, sem fazer o menor esforço para intervir. Leonidas, com uma frieza inquietante, aumenta a pressão da faca. O corte é superficial, mas suficiente para arrancar um fio de sangue que começa a escorrer lentamente pelo meu pescoço, traçando um caminho vermelho que desce até o meu colo. Leonidas observa o sangue com um olhar de satisfação cruel, e o ambiente ao nosso redor parece congelar por um momento. A lâmina ainda pressiona minha pele, e sinto o calor do sangue escorrendo, misturando-se com o tecido do vestido e criando uma visão horrível e humilhante.
— Pare, Leonidas! — Hugo se aproxima, sua voz carregada de raiva e desespero.
Leonidas, em contraste, ri de forma sarcástica, sua gargalhada ecoando pelo ambiente. Ele tira um lenço do bolso e me entrega para limpar o sangue que mancha meu vestido, enquanto usa outro lenço para limpar a lâmina da faca com um gesto de desdém.
— Você é ridículo. — Leonidas diz, com um tom de desdém.
— Leonidas, eu...
— Fique quieto! Estou falando agora. — Ele interrompe Hugo com uma frieza cortante. — Você é fraco!
Mantenho o silêncio, temendo que minha presença apenas adicione mais combustível à sua fúria. Não era para eu estar aqui, mas já que estou, prefiro me manter na retaguarda.
— Eu não consigo acreditar que você se apaixonou por ela. Você é um imbecil!
O insulto é claro, e não posso deixar de me perguntar se estou incluída na sua tirada.
— Leon! — Hugo tenta intervir novamente.
— Eu já disse para ficar quieto. — Leonidas o interrompe com firmeza. — Eu te envio em uma missão e você se apaixona? Onde está o Hugo que eu conhecia?
— Estou aqui, Leon. — Hugo responde, a cabeça baixa em sinal de submissão.
— Sabia, Alinna, que Hugo tem sido meu braço direito desde os tempos de sua mãe? — Leonidas se dirige a mim com um tom revelador.
Olho para Hugo, tentando processar o que Leonidas está revelando.
— Ele era uma das pessoas que mais me incentivava a matá-la, depois de Dempsey, é claro! — Leonidas dá de ombros, como se fosse uma mera formalidade.
Não sinto nenhuma pena por Hugo, mas acreditava que ele tinha uma humanidade que agora parece ter desaparecido.
— Sua lealdade para comigo era tão grande que aceitou fazer a reencarnação junto comigo. A diferença é que ele pôde reaproveitar seu corpo, ao contrário de mim. — Leonidas explica com um tom de superioridade.
— Alinna, eu...
— Não! — Leonidas o interrompe novamente. — Não se atreva a se aproximar dela.
Finalmente, Leonidas faz algo que considero útil. Não quero Hugo perto de mim, e a intervenção de Leonidas parece ser o primeiro ato de sensatez que ele teve hoje.
— Leonidas, deixe-me explicar. — Hugo implora, sua voz trêmula de desespero.
— De quem é Alinna? — Leonidas pergunta, com frieza em sua voz.
— Sua. — Hugo sussurra, quase como se fosse uma confissão.
Um ódio profundo se forma em meu peito que tenho que cerrar os pulsos para não fazer algo pior. Não sou de ninguém, não pertenço a ninguém a não ser a mim mesma, mas desde que aceitei o pedido de casamento, Leonidas parece acreditar fielmente que sou sua propriedade. E, para minha infelicidade, talvez eu realmente seja.
— Não ouvi direito. De quem ela é? — Leonidas pergunta novamente, colocando a mão no ouvido como se tentasse ouvir melhor.
— Sua! — Hugo grita, a frustração evidente em sua voz.
Por um momento, sinto uma pontada de pena por Hugo. O amor pode ser traiçoeiro, e parece ter sido cruel com ele agora.
— Você me decepcionou, Hugo. — Leonidas diz com uma indiferença cortante. — E eu não sou tolo o suficiente para manter alguém assim ao lado de minha futura esposa. Não preciso mais de você nem dos seus serviços.
Ele se volta para o trono, como se a decisão estivesse tomada.
— Espera, como assim? Leon, somos amigos, lembra? — Hugo se desespera, sua voz agora é uma mistura de incredulidade e pânico.
— Se você fosse realmente meu amigo, não teria se apaixonado por Alinna. Não desejaria algo que é meu. Você sabe que não gosto de dividir o que é meu. — Leonidas o encara com uma intensidade que faz o ambiente parecer mais frio.
Sua fala sai com uma certeza perturbadora. Ele está disposto a cortar uma relação de anos, uma relação que existia antes mesmo de eu entrar em cena, apenas por minha causa. A crueldade e possessividade em sua voz deixam claro que, para ele, não há espaço para amizades ou lealdades quando se trata de algo que considera seu.
— Leonidas, você não está pensando...
— Cale a boca, Alinna! — Ele me interrompe. — Não quero ouvir uma palavra sua.
Faço o possível para me conter e não responder, pensando em Meredith lá fora, rodeada por guardas que, com um simples sinal, poderiam machucá-la.
— Rocha! — Leonidas Vocifera alto.
Após alguns minutos, Rocha aparece, cumprimentando-o com um gesto de reverência.
— Sim? — Rocha pergunta impassível.
— Leve Hugo para a forca. — Ordena Leonidas, sem voltar atrás.
— O quê? — Exclamo, surpresa e horrorizada, junto com o desespero de Hugo.
— Eu já mandei você ficar quieta, Alinna. — Leonidas repete seu aviso com um tom ameaçador.
— Mas você não pode fazer isso. Hugo não fez absolutamente nada! A penas deixe ele ir embora. — Exclamo, exausta pela situação.
— Leon, não faça isso! — Hugo implora, seu desespero evidente.
— Eu já disse e o que eu digo permanece dito. Mate-o! — Leonidas ordena, sem mostrar qualquer sinal de hesitação ou remorso.
Rocha, com sua força inigualável, agarra Hugo pelos braços, que se debatia freneticamente, tentando se soltar e escapar. No entanto, não há como fugir da força bruta de Rocha. O som das tentativas desesperadas de Hugo para se libertar ecoa na sala do trono, mas ele é incapaz de fazer frente à força quase implacável de Rocha. Sinto uma onda de choque e horror ao ver a crueldade de Leonidas, que demonstra uma frieza calculista. Se ele pode tratar um amigo que lhe serviu com lealdade durante anos dessa maneira, o que não fará comigo, se eu falhar em alguma coisa?
— Finalmente, eu tenho você, e não vou deixar ninguém te tirar de mim, meu amor. — Leonidas diz com um sorriso frio e satisfeito, seus olhos brilhando com uma possessividade ameaçadora.
Com o coração acelerado e uma sensação de urgência, me volto e saio correndo da sala do trono. Cada passo que dou é apressado e desesperado. Meus pensamentos estão focados em Meredith, minha filha, que está no jardim, cercada por guardas. Preciso mantê-la longe de Leonidas e de suas ameaças.
Meredith, exausta após o dia turbulento, dorme tranquilamente em sua cama, seu rosto sereno e inocente, contrastando com a tensão e a inquietação que me assolam. O quarto está em silêncio, com apenas o sutil som da respiração de Meredith e o ocasional farfalhar das páginas enquanto eu leio, tentando encontrar algum alívio na distração. No entanto, minha mente não consegue se desvencilhar dos acontecimentos recentes. Desde que Hugo foi levado para a forca por Leonidas, um peso sombrio e angustiante paira sobre mim. As paredes do quarto parecem se fechar ainda mais, e a sensação de estar presa — não apenas fisicamente, mas também emocionalmente — é esmagadora. Não posso deixar de me perguntar qual será o futuro de Meredith se continuarmos vivendo sob estas condições opressivas e sufocantes. Apesar de não nutrir nenhum afeto verdadeiro por Hugo, sinto um remorso inesperado. Depois de tantos anos ao lado de Leonidas, cumprindo cada desejo e ordem sem questionar, o fim de Hugo me faz refletir sobre a natureza cruel e implacável do poder. A forma como ele foi descartado e eliminado sem um pingo de compaixão é um lembrete sombrio da fragilidade da lealdade e da vida em um reino governado por tais regras. Enquanto continuo a ler, minha mente vagueia por possibilidades sombrias e por estratégias para proteger a mim e principalmente Meredith. O medo do futuro é grande, e o desejo de garantir a segurança dela me consome completamente. Tento manter a calma, mas a incerteza e o remorso estão sempre presentes, sombras que não posso ignorar.
— O que é isso? — Me levanto assustada, os olhos arregalados com a súbita invasão.
— Você precisa se arrumar! — Rocha diz com pressa, entrando no meu quarto sem aviso.
Kevin segue logo atrás dele, ignorando completamente o fato de que Meredith ainda está dormindo. Nenhum dos dois sequer se dá ao trabalho de bater na porta.
— Não sabem bater na porta não? — Me levanto da cama, sentindo a raiva borbulhar dentro de mim.
— Toc! Toc! — Rocha imita o som de uma batida de porta, sem realmente se importar. — Derek quer que você desça.
— Diga para Leonidas que não vou a lugar nenhum com ele. — O enfrento, cruzando os braços e me posicionando firmemente.
— Vista isso e desça! — Ele me joga um vestido com uma expressão séria. — Não force muito. Você vai descer de qualquer jeito, por bem ou por mal.
— E você vai fazer isso? — Jogo o vestido de volta para ele, o desafiando. — Esqueceu que acabei com você?
Rocha me olha fixamente, e seus olhos se estreitam enquanto ele se vira para Meredith, ainda adormecida na cama.
— Você pode ter me vencido aquele dia e eu não posso tocar em você, mas nela eu posso. — Ele diz, lançando o vestido novamente em minha direção.
— Já me cansei disso. — Resmungo, cansada das ameaças constantes e da sensação de impotência.
— Então faça o que você tem que fazer. Obedeça e não precisará aturar ameaças a todo momento. — Rocha, surpreendentemente, soa tão cansado quanto eu.
— Você é muito corajoso, sabia? — Digo, meus olhos cravados nos dele, tentando perfurar sua fachada.
— Por que diz isso? — Ele me encara de volta, a tensão no ar quase palpável.
— Por matar seu melhor amigo, como se ele não fosse nada. — Respondo, observando sua reação.
Rocha engasga, visivelmente nervoso. — Eu não fiz porque eu quis. Apenas cumpri ordens.
— Mesmo assim, você foi muito corajoso. Eu até te parabenizo por isso, sua inclemência me fascina. — Insisto em provocá-lo, minha voz cheia de ironia.
O silêncio que se segue é pesado.
— A culpa não foi minha, ok? — Rocha explode, a voz carregada de frustração.
— Calma, Rocha! — Kevin tenta apaziguar o amigo, colocando a mão em seu ombro.
Rocha parece prestes a explodir. Toquei em sua ferida, e ele se sente culpado pelo que foi forçado a fazer.
— Eu disse para ele todos os dias, desde o dia em que te conheceu: "Deixa de ser idiota!" "Para com isso enquanto é tempo!" "Não se intrometa!" "Não se envolva!" Mas não, ele quis enfiar a cara na merda. Então, a culpa não é minha! — Rocha desabafa aos gritos, a raiva e a dor evidente em cada palavra.
— Rocha, a Meredith está dormindo. — Kevin sussurra, tentando acalmar a situação.
— Não, tudo bem, deixa. Deixa ele desabafar! Deixa ele sentir remorso, porque ele é tão desumano quanto Leonidas. — Digo, impedindo Kevin de acalmar Rocha.
Quero que ele sinta a dor, que enfrente a verdade de suas ações.
— Você é cruel. — Rocha aponta o dedo para mim, seus olhos cheios de ressentimento.
— Eu sou cruel? — Dou uma risada amarga. — Saiam, preciso me trocar.
Rocha e Kevin saem, deixando o meu único ambiente de paz pesado. Eu os observo sair, e respiro fundo sentindo uma mistura de alívio e tristeza. Sabia que esse confronto era inevitável, mas não esperava que fosse tão intenso. Fecho a porta atrás de mim e encaro o vestido em minhas mãos e mais uma vez preciso sorrir e ser falsa. Sacrifique sua rainha. Acordei Meredith com cuidado, dando-lhe um leve beijo em sua testa. Seus olhos piscaram preguiçosamente enquanto ela se ajustava à luz do quarto.
— Hora de acordar, querida. — Sussurrei suavemente, tentando não assustá-la. — Precisamos nos preparar para descer.
Meredith se espreguiçou e esfregou os olhos sonolentos antes de se sentar na cama. Enquanto ela ainda estava se ajustando, fui até a câmara de roupas e escolhi um vestido vermelhinho para ela em um dos vários baús presentes ali, da mesma cor que o meu. Queria que estivéssemos coordenadas, mostrando uma unidade e força visual.
— Olha só, escolhi um vestido igual ao meu para você. — Disse, mostrando-lhe o vestido.
Seus olhos se iluminaram um pouco ao ver o vestido. Levei-a a sala de banhos para lavar o seu rosto, ajudando-a a se despertar completamente. Enquanto ela fazia isso, preparei um pente e uma pequena jarra de água morna para pentear seus cabelos delicadamente. De volta ao quarto, ajudei Meredith a vestir o vestido vermelho, ajustando os laços e botões com cuidado para que ficasse perfeito. Ela parecia uma pequena princesa, e sorriu timidamente ao se ver no espelho. Dispensei as criadas por hoje, queria por um momento ter um espaço só para nós duas. Queria por um momento ser a mãe que eu gostaria de ter tido caso a minha não houvesse falecido. Cuidando de Meredith fico imaginando como seria se eu pudesse ter crescido com a minha própria mãe ao meu lado, teria sido realmente incrível. Levanto meus olhos para o teto por um instante para impedir que as lágrimas escorressem pelo meu rosto.
— Está linda, Meredith. — Elogiei, acariciando seu cabelo.
Peguei uma escova e comecei a pentear seus cabelos, trançando-os delicadamente em uma trança que caía sobre seu ombro. Adicionei um pequeno laço vermelho na ponta para combinar com o vestido. Ela estava adorável e, mais importante, preparada para o que quer que viesse. Quanto ao meu próprio vestido, coloquei-o rapidamente, mas com atenção aos detalhes. Ajustei-o no corpo, certificando-me de que estava impecável. Coloquei meus cabelos de um jeito simples, mas elegante, para combinar com a ocasião.
— Pronta, Meredith? — Perguntei, pegando sua mão. Ela assentiu, segurando a minha firmemente.
...
— Sério? Vermelho provocante, justo, todo aberto atrás e com decote na frente? — Digo ao encontrar Leonidas perto das escadas, minha voz carregada de sarcasmo.
— Você sabe que tenho um relacionamento muito forte com a cor vermelha. Você está simplesmente divina. — Ele responde, sorrindo de canto.
"Meu pai também tinha!", penso, sentindo um arrepio de lembrança.
— Eu sei. — Respondo secamente. — Você tem algum casaco?
— Por que quer um casaco? — Ele pergunta, intrigado.
Dou uma olhada por cima do ombro, observando minhas costas refletidas no espelho do corredor. As cicatrizes que marcam minha pele ainda são visíveis, lembranças dolorosas do passado.
— Todos vão ficar encarando minhas cicatrizes, e eu não estou nem um pouco entusiasmada para ouvir perguntas estupidas como "Céus, o que diabos aconteceu em suas costas?" — Imito uma voz irritante, enfatizando meu ponto.
— Ninguém vai perguntar sobre suas cicatrizes Alinna. — Leonidas tenta tranquilizar.
— É claro que vão! — Reviro os olhos, já imaginando os olhares curiosos e as perguntas invasivas.
— Eu acho que você está linda. — Ele elogia, tentando quebrar a tensão.
— Eu estou horrível. — Respondo, revirando os olhos novamente, descontente.
— Pare de revirar os olhos. — Ele se irrita, sua voz mais severa. — Não deveria se importar.
— Mas eu me importo. Com isso, eu me importo. — Respondo, mais firme. A verdade é que as cicatrizes são um lembrete constante da dor que senti ao ser humilhada por Natasha, e a ideia de exibi-las para estranhos me incomoda profundamente.
Leonidas suspira, percebendo minha resistência. O vestido vermelho, apesar de bonito, expõe mais do que eu gostaria. O casaco seria uma pequena proteção contra os olhares curiosos, um escudo para minha vulnerabilidade. Ajeito meu vestido e encaro o vazio à minha frente, ainda sem entender por que estou vestida assim.
— Você está deslumbrante, Alinna, a coisa mais linda que já vi na vida depois de sua mãe. Sabe o que essas cicatrizes representam?
Não respondi, apenas o encarei em silêncio.
— Elas mostram que você é uma mulher forte, corajosa e destemida. Essas cicatrizes são a prova de que você não abaixa a cabeça e não se deixa intimidar por ninguém. Aliás, quem seria capaz de defender os seus com um símbolo que para nós é uma audácia? — Ele olha para mim com intensidade, e eu mantenho o olhar.
Mantenho meu silêncio.
— Não vou te dar nenhum casaco. — Ele estende o braço para mim.
Quando sinto seu braço, percebo que ele treme, mas não sei por quê. Descemos as escadas e caminhamos lentamente em direção ao salão de festas no jardim do palácio.
— Venha, Meredith. — Digo, segurando firmemente sua mãozinha.
Leonidas olha para Meredith e sorri, um sorriso que parece genuíno, mas carrega um peso que não consigo identificar.
— Quem é você de verdade, Leonidas? — Pergunto, minha curiosidade finalmente escapando.
Ele fica em silêncio por um longo tempo. Quando penso que ele realmente não vai responder, ele finalmente fala.
— Vou ser bem sincero: meu pecado é o meu orgulho.
Ele para por um momento, depois continua.
— Sempre fui alimentado pelo ódio. Sou manipulador, mentiroso, estrategista e um pouco sádico. — Ele responde, encarando o nada, sua expressão mudando para algo mais sombrio. Ele fala de seus defeitos como se fossem uma piada amarga.
— Eu sou uma pessoa horrível. — Prossegue. — Para mim, estou acima de todos. Sou o centro do universo. Todos são inferiores a mim.
Fico calada, processando tudo o que ele está dizendo sobre si mesmo. Ele parece atormentado ao confessar essas coisas, como se fosse programado a repetir essas palavras sobre si.
— E eu não amo nada, nem ninguém. — Ele solta uma risada amarga. — Essa última parte minha mãe, ironicamente sua avó paterna, que dizia.
— E ela estava certa? — Pergunto, minha voz suave.
Leonidas olha para mim, a sombra de um sorriso desaparecendo de seus lábios. As pedras azuis e verdes de seus olhos, idênticas às minhas, parecem perfurar meu coração. Leonidas me encara profundamente, seus olhos penetrando os meus.
— Não. — Responde ele, sua voz firme.
Ficamos nos encarando por um bom tempo. Quando eu estava prestes a descobrir mais sobre quem Leonidas realmente é, ele suspira profundamente, voltando à realidade.
— Sorria, meu amor. — Ele diz, tentando parecer leve. Limpa a garganta e coloca um sorriso no rosto. — Vamos entrar.
Antes de entrarmos, apertei a mãozinha de Meredith com força, buscando a sensação reconfortante de sua presença. Ela me presenteou com um sorriso radiante, e eu retribuí com um sorriso de alívio. Sentia que, com minha âncora ao meu lado, poderia enfrentar o que estava por vir. Leonidas havia organizado uma festa para celebrarmos algum motivo especial, e o salão estava vibrando com um ar super festivo. Quando entramos, fomos recebidos com uma enxurrada de sorrisos calorosos, abraços efusivos e elogios generosos. A palavra "Obrigada" saiu da minha boca repetidamente, quase como um mantra, à medida que as pessoas se aproximavam e expressavam sua gratidão e admiração.
Com música suave e conversas animadas preenchendo o ar. O salão, localizado nos jardins de um grandioso palácio, estava decorado com drapeados de seda em tons elegantes e arranjos florais exuberantes que pareciam ter saído de um conto de fadas. As mesas, cobertas com toalhas brilhantes, estavam adornadas com iguarias deliciosas e sofisticadas, dispostas de forma exuberante. No jardim, a luz suave das velas e das lanternas penduradas nas árvores lançava um brilho dourado e mágico sobre todos os presentes. As flores noturnas e as plantas cuidadosamente dispostas criavam uma aura de festa e celebração ao redor da área. As fontes de água espalhadas pelo jardim adicionavam um toque adicional de sofisticação e festança ao cenário, enquanto o murmúrio dos convidados e o som da música se misturavam à brisa noturna, criando um ambiente verdadeiramente encantador.
— Alteza, você está deslumbrante! — Elogia a senhora que eu reconheço bem. Ela estava na multidão no dia do julgamento e era uma das mulheres que fofocavam sobre mim e Leonidas, ou melhor, Derek.
— Obrigada. — Respondo com um sorriso cortês.
— Eu sou Lúcia e esta é Josefine. — Ela apresenta sua amiga com um gesto elegante.
— Muito prazer. — Reforço meu sorriso.
Meu maxilar começa a doer de tanto forçar sorrisos.
— E quem é essa coisa linda? — Lúcia pergunta, notando Meredith, que se esconde timidamente atrás das minhas pernas.
— Minha filha. — Respondo com um orgulho palpável.
— Filha? — Lúcia quase se engasga com a bebida. — Mas quantos anos você tem? Não é jovem demais para ter uma filha? Nunca ouvi falar que a filha das chamas havia dado a luz.
— Sim, filha. — Ignoro as outras perguntas.
— E qual é o nome dela? — Pergunta Josefine, sua curiosidade evidente.
— Meredith! — Respondo mais uma vez com orgulho, meu coração se aquecendo com o nome.
— Meredith? O nome dela é Meredith? — Josefine arregala os olhos, como se o nome tivesse um significado especial. — Que nome lindo.
Ela olha para a amiga, dá um sorriso que não parece totalmente genuíno e bebe a sua bebida de um gole só, como se quisesse se livrar do desconforto.
— Venha, minha querida, quero lhe mostrar algo. — Leonidas me puxa gentilmente para o centro do salão.
Warner, com um gesto suave, bate na sua taça para chamar a atenção de todos. O som metálico ecoa pelo salão, marcando o início de um momento importante.
— Queridos amigos, súditos, família! — Leonidas ergue a taça em direção ao tio Heitor, com um sorriso de celebração. — Gostaria de fazer algo muito importante hoje.
Enquanto todos aguardam ansiosos, Leonidas solta minha mão e, com um movimento inesperado, retira algo de seu bolso. Com um gesto solene e significativo, ele se ajoelha diante de mim.
"Não!"
O salão inteiro solta um coletivo "Ôhhh!" de surpresa e admiração. O ambiente é preenchido por um misto de choque e encantamento. As mulheres nobres, visivelmente emocionadas, não conseguem conter seus suspiros e gritinhos de excitação. Seus olhares são de puro fascínio, suas roupas de luxo balançando com a agitação. Elas se entreolham, seus sorrisos ampliando em um sentimento de euforia, outras nem com tanta euforia assim.
— Alinna Sky Madark III, você aceita se casar comigo? — Leonidas pergunta, seu sorriso sedutor brilhando sob os olhares atentos de seus súditos.
O salão explode em um coro uníssono de gritos entusiásticos: "Aceita! Aceita! Aceita!" A empolgação de todos me constrange, como se a decisão fosse uma formalidade inevitável. Eu sei que, independentemente da minha resposta, ele me forçaria a aceitar, e suas ameaças seriam inevitáveis. Respiro fundo, me esforçando para manter a compostura. Percebo que, pela segunda vez, estou sendo obrigada a cumprir um destino que não escolhi. Com um sorriso amarelo e forçado, que mal esconde minha resignação, respondo:
— Aceito.
A palavra sai com um misto de cansaço e conformidade, enquanto o salão se enche de aplausos e celebrações. A pompa e circunstância do momento não podem apagar a sensação de inevitabilidade que paira sobre mim.
Leonidas se levanta, radiante com a resposta. Com um gesto elegante, coloca o anel — um deslumbrante e aparentemente valioso diamante — em meu dedo. Em um movimento surpreendente, ele me beija profundamente, um beijo inesperado que deixa todos ao redor em êxtase. O salão se enche de aplausos entusiásticos, exceto por Natasha e Charlotte, que permanecem em silêncio, observando com expressões carrancudas. Após o pedido de casamento, a atmosfera se transforma em uma cena de celebração vibrante. Todos se dirigem à mesa de jantar, uma obra-prima de requinte. Uma mesa enorme e elegantemente posta, repleta de pratos deliciosos que eu, sem saber, escolhi anteriormente. Os convidados se servem, rindo e conversando animadamente, enquanto o aroma das iguarias exóticas se mistura ao som alegre da festa. Logo depois do jantar, o clima muda para algo mais relaxado e sofisticado. A música lenta preenche o ambiente, criando um ambiente suave e íntimo. Os convidados, com seus trajes de gala e copos de cristal, conversam em grupos discretos, enquanto desfrutam de suas bebidas finas.
Várias mulheres, fascinadas pelo anel reluzente em meu dedo, se aproximam para me cumprimentar. Cada uma delas, com um brilho de curiosidade em seus olhos, pede para ver meu anel de perto. Elas examinam o anel com admiração, suas mãos elegantemente adornadas movendo-se com delicadeza. Sinto o peso das suas observações e a pressão para manter uma postura impecável, enquanto a noite continua cheia de elogios e olhares interessados.
— O meu anel de noivado custou mais de um milhão de siclos — Se gabou uma delas para mim, seu tom exultante.
— Que maravilha. — Respondo, tentando manter um semblante de interesse, embora a conversa me entedie.
— Mas o dela parece ser bem mais valioso. Afinal ela é a futura rainha e noiva do rei Derek, tenho certeza de que não custou menos de três bilhões de siclos. — Disse Josefine, com a certeza de quem acertou um grande palpite.
— Leonidas... Derek! — Corrijo-me rapidamente, tentando manter a etiqueta. — É muito generoso.
— Com certeza ele é. — Concorda Natasha, com uma expressão que mistura luto e resignação.
— O que estão falando, senhoras? — Leonidas aparece ao lado de Heitor e Dilan, interrompendo a conversa.
— O quanto Sky é sortuda. — Natasha diz com um sorriso forçado, vira sua taça e se retira com uma ligeira cambaleada. Parece que ela está um pouco bêbada.
— É um prazer conhecê-la. — Diz uma nova mulher, aproximando-se com um sorriso cordial.
— O prazer é todo meu. — Respondo com entusiasmo.
A mulher começa a conversar com um ritmo frenético, e, enquanto ouço apenas de forma vaga, meus olhos se distraem com o colar que brilha em seu pescoço. É uma peça realmente deslumbrante.
— Que colar maravilhoso! É muito belo. Ainda não me acostumei com as joias exuberantes de Treeland. — Faço um elogio, tentando mudar o rumo da conversa para algo mais interessante.
— Dê-o para ela. — Ordena Leonidas, sua voz firme e cheia de autoridade mas com um tom formal e casual ao mesmo tempo.
— O quê? Leon... Derek, não é necessário. — Exclamo, surpresa com a repentina generosidade.
— Não, tudo bem, pode ficar com ele. É seu! — A mulher diz, começando a tirar o colar do pescoço.
— Não, por favor! Não faça isso! — Arregalo os olhos, chocada com a oferta inesperada.
Eles são loucos? Todos loucos?
— Eu tenho vários desses! Aceite como um presente de casamento. — A mulher insiste com um sorriso caloroso, enquanto coloca o colar em minhas mãos.
— O que a rainha quer, a rainha tem. — Leonidas murmura para mim, seu tom cheio de confiança.
— Ãhm... Obrigada. — Respondo, um pouco sem graça com a atenção inesperada.
— Mamãe? — Meredith puxa meu vestido com um olhar triste.
— Diga, meu amor. O que foi? — Me agacho para ficar na altura dela.
— Eu quero ir para casa. — Ela resmunga, claramente infeliz.
— Oh, meu amor. Esta é a nossa casa agora. — Tento explicar, com um tom suave e reconfortante.
— É? — Ela pergunta, com uma expressão confusa.
— Sim. Mas saiba de uma coisa muito importante: nossa casa é onde estivermos juntas. Se eu tenho você e você tem a mim, qualquer lugar pode se tornar nossa casa. — Pisco para ela, tentando transmitir a sensação de segurança.
Apesar de sua pouca idade, faço o meu melhor para explicar. Ela pode não compreender tudo agora, mas quero que ela sinta o carinho e a estabilidade que desejo oferecer.
— Sempre seja forte, minha boneca, e lute como uma mulher. — Digo, alisando seus cabelos e empurrando-os para trás da orelha.
Estou dizendo essas palavras para ela, mas, no fundo, estou me lembrando delas para mim mesma. Lutar como uma mulher, lutar como uma mulher! Mesmo diante das adversidades, preciso lembrar-me de manter minha força e dignidade.
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