Capítulo 21
— Olha Sky hoje lhe darei um presente que você não vai esquecer nunca mais. — Natasha sorri.
Estamos no que eu imagino ser um coliseu, um vasto anfiteatro de pedra com arquibancadas que se erguem em camadas, cercadas por bandeiras do reino de Treeland tremulando ao vento. Eu, Natasha, Ivan e mais quatro homens estamos presentes. O lugar, tem uma estrutura monumental, é um campo de batalha colossal, usado tanto para treinamentos intensivos quanto para o entretenimento da realeza e seus súditos. Este lugar ecoa histórias de glória e tragédia, onde prisioneiros são forçados a lutar até a morte, sob os olhares ávidos de uma multidão sedenta por sangue e espetáculo. Localizado acima das masmorras escuras e das prisões sombrias, o coliseu oferece um contraste marcante: enquanto abaixo reina a escuridão e o desespero, aqui em cima, a arena é banhada pela luz do sol ou iluminada por tochas durante a noite, destacando o palco onde as vidas são transformadas em mero entretenimento.
As paredes são marcadas pelo tempo, com inscrições e símbolos que contam histórias de batalhas passadas. No centro da arena, o chão de areia está manchado pelo sangue de incontáveis combatentes que pereceram em lutas ferozes. Cada grão de areia parece carregar o peso das almas que ali se foram, tornando o ambiente ainda mais carregado. Ao redor da arena, os assentos estão dispostos de maneira a proporcionar a melhor visão possível do combate, permitindo que a realeza e os espectadores desfrutem de cada movimento, de cada golpe desferido. Acima de nós, as tribunas da nobreza são adornadas com tapeçarias ricas e luxuosas, refletindo o poder e a opulência daqueles que governam.
— E eu gostaria de te apresentar aos seus amigos antes que eles partam. — Ela estende os braços na direção deles.
Ivan ri.
Todos que vieram comigo para esta jornada estão no centro de um círculo formado por guardas armados, com expressões severas. Suas mãos estão algemadas e seus rostos refletem uma mistura de frustração e apreensão. Ivy está usando uma corrente idêntica à minha, que prende suas mãos de maneira firme e desconfortável. Ao seu lado, Lucious está ainda mais restrito, com correntes semelhantes amarrando seus pulsos e tornozelos, dificultando seus movimentos. Os guardas mantêm uma postura rígida, prontos para agir ao menor sinal de resistência. Eu me pergunto o que eles poderiam ter tentado fazer para acabar nessa situação. Será que tentaram escapar? Ou talvez planejaram algo mais audacioso? O mistério do que aconteceu paira no ar, aumentando a sensação de incerteza e perigo.
— Antes de mais nada, quero deixar claro que sou uma rainha muito exigente e cheia de manias. Quando digo para alguém sentar, espero ser obedecida. Quando digo para rolar, espero ser obedecida. E quando digo para se ajoelhar perante mim, eu espero ser obedecida imediatamente. — Ela fala, gesticulando energicamente enquanto anda de um lado para o outro. — Sou o tipo de rainha que não tolera que outros reinos apareçam em meu palácio e me desrespeitem na frente de meus guardas, meus criados e meus súditos. Não estou certa, Ivan?
— Mas é claro, minha rainha. — Ele responde prontamente.
— Hoje, vou te dar uma lição que você nunca mais esquecerá. Acho que até me agradecerá depois. Meninos! — Ela grita, sua voz ressoando pela arena.
Os guardas se aproximam de mim e me prendem em um trambolho arquitetônico estranho em formato de "A", suas mãos habilidosas trabalhando rapidamente. Eles removem meu robe, deixando-me apenas com um vestido de dormir de tecido fino que mal oferece cobertura ou proteção ao meu corpo. Sinto o frio do ar contra minha pele exposta. Fico de costas para Natasha e seus guardas, e de frente para o meu grupo, cercado. As correntes metálicas rangem enquanto os guardas prendem meus braços, um de cada lado, esticando-os até que mal posso me mover. Meu coração acelera e um calafrio percorre minha espinha. "Céus, que não seja o que estou pensando." Mas sei exatamente o que me acontecerá nesse momento. A sensação de vulnerabilidade e a incerteza de como vou suportar o que está por vir tornam o momento quase insuportável.
— Meninos! Toquem para mim! — Ordena ela, sua voz reverberando pelo coliseu.
O som inconfundível de chicotes estalando no ar ecoa imediatamente após seu comando, criando um barulho aterrorizante e macabro que ressoa pela arena. Cada estalo é como um trovão, aumentando o medo no ambiente.
— Um! — Conta um dos guardas, sua voz firme e impiedosa.
O chicote corta o ar e atinge minhas costas com uma força brutal, provocando uma dor tão intensa que parece penetrar até minha alma. A sensação é uma mistura insuportável de queimação e desespero. Do outro lado, Erik leva um soco violento enquanto tenta se soltar, suas tentativas frustradas o fazendo cambalear e ceder. Áries, com lágrimas escorrendo pelo rosto, também luta para se libertar, mas os guardas a mantêm firmemente restrita, sem lhe dar chance. O ato de meus primos Klaus e Vlad é ainda mais desesperador de se assistir. Eu gostaria de poder apagar essa visão de suas mentes, desejando que eles não vissem o que está acontecendo. "Por favor, não olhem para mim neste estado lastimável", eu queria gritar, mas as palavras não saem. O sofrimento de Pétrus toma toda a minha atenção, impedindo-me de focar nos demais. A cena é tão angustiante que não consigo desviar o olhar; a dor de Pétrus, sua luta e o tratamento cruel que ele recebe são o único foco da minha visão turva e desolada. Pétrus, em um ato de desespero, soca dois guardas com uma força feroz e avança em minha direção. No entanto, sua coragem é rapidamente contida quando uma avalanche de guardas o ataca. Eles o derrubam no chão com força brutal, imobilizando-o de maneira hedionda. Enquanto observo a cena, minha visão começa a ficar embaçada pela dor incessante. Vejo, a uma distância turva, uma lágrima escorrendo pelo rosto de Pétrus, um reflexo de sua dor e frustração. O guarda que o capturou não perde tempo e pisa com firmeza sobre seu rosto, pressionando-o contra a areia da arena. A cena é um retrato sombrio do que ainda pode vir a acontecer.
— Dois! — Grita ele, exibindo um sorriso cruel e satisfeito. Posso sentir a intensidade do prazer em sua voz.
O chicote se abate novamente sobre minhas costas, forçando-me a me curvar para trás. Tento fechar as mãos para controlar a dor, mas é em vão. A agonia é esmagadora mas eu me recuso a soltar um ruído se quer de dor.
— Isso é maravilhoso! — Natasha ri, seu riso ecoando com um tom de sadismo.
Leonidas. Minha mente viaja. Natasha é Leonidas.
— Três! — Grita mais uma vez, a voz carregada de uma satisfação perturbadora.
Mais uma chicotada ressoa pelas minhas costas, e um grito desesperado escapa de meus lábios. A dor é tão intensa que sinto como se meu corpo estivesse se despedaçando. Tento me soltar, mas as correntes me mantêm firmemente restrita, sem qualquer esperança de escape. Em um último esforço, chamo minhas chamas, sentindo a energia fervente e vibrante dentro de mim. Elas tentam se manifestar, se contorcendo e lutando para sair, mas a força das correntes e a fraqueza do meu ser parecem abafá-las, impedindo qualquer reação significativa. Enquanto isso, meus amigos, desesperados, tentam de todas as maneiras se libertar para me ajudar. Eles se debatem e lutam contra seus próprios grilhões, suas expressões de pânico e frustração evidentes. Apesar de seus esforços heroicos, eles não são páreo para o número de guardas da tropa de Natasha.
— Para! Para! — Ouço gritos desesperados.
— Você vai matá-la! — A voz de Magia é carregada de pânico.
— Calma, faltam só mais três. — Natasha reverbera com um tom implacável.
— Quatro! — Natasha grita, acompanhada pelo guarda que continua a me açoitar, sua voz quase sobrepondo o som do chicote.
A dor é excruciante. Mordo meus lábios com força e torço meus dedos, tentando de todas as maneiras diminuir a intensidade da dor, mas é em vão. Com dificuldade, e a visão ainda mais turva pela agonia, consigo encontrar os olhos de Pétrus.
— Cinco! — A contagem de Natasha faz meu olhar se desviar de Pétrus, a agonia e a tristeza em seus olhos se tornando um borrão enquanto a dor domina meus sentidos.
Não consigo mais gritar. A dor nas minhas costas é tão intensa que sinto como se meu corpo inteiro estivesse anestesiado. Cada chicotada faz com que minha consciência se estreite, minha visão embaçada quase não consegue distinguir o que está ao meu redor. A vontade de chorar é avassaladora, e, na verdade, eu choro. Choro como um bebê, com lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto e se misturando com o suor. Entre os soluços e a visão turva, vejo, por entre as lágrimas, o olhar de Erik fixo em mim. Seus olhos estão cheios de desespero e angústia, e eles não se desgrudam de mim, mesmo enquanto a cena ao nosso redor continua a se desenrolar com crueldade implacável. O contato visual com Erik é um breve alívio.
— Eu vejo... — Consigo ler seus lábios. — O poder correr em suas veias.
— Seis! — Grita o guarda, sua voz soando alto ao final.
A última chicotada vem com uma força devastadora. Ivan e outro guarda, cuja identidade não consigo discernir, se apressam para me soltar. Sem forças para sustentar meu corpo ferido, eu caio no chão, sentindo a dor como uma onda interminável. Ao meu lado, vejo uma poça de sangue, e então a escuridão me consome. Quando volto à consciência, estou em um lugar desconhecido. A única certeza é o desconforto intenso em minhas costas. Celeste está ao meu lado, e sua presença é uma pequena luz em meio à agonia. Lentamente, ela passa um pano molhado sobre minhas costas, limpando o sangue com uma delicadeza cuidadosa. Em seguida, aplica um líquido ácido semelhante a aguardente sobre as feridas, sua ação é meticulosa e profissional. Celeste sussurra algo sobre evitar possíveis infecções e auxiliar na cicatrização, mas a dor é tão esmagadora que mal consigo prestar atenção às suas palavras. Tudo o que posso fazer é focar no líquido forte queimando em minha pele. O ardor é insuportável, e um grito involuntário escapa de meus lábios. Então, o mundo volta a desvanecer para mim e eu apago novamente.
— Acorda! — Natasha grita, sua voz cortante interrompendo meu torpor. Sou abruptamente despertada por um balde cheio de água gelada, que se derrama sobre mim. Natasha, como sempre, está deslumbrante, sua beleza contrastando com a crueldade em seus olhos.
— Leonidas. — Sussurro, a mente ainda turva pela dor.
— O quê? — Ela se abaixa, inclinando-se para ouvir melhor.
— Leonidas Castablanca. — Repeti, com mais firmeza.
— Leonidas Castablanca morreu há muito tempo, minha querida. — Debocha, o sorriso sarcástico nunca saindo de seu rosto.
— Não morreu. Você é ele. É a reencarnação por magia negra. — Com esforço, me sento, tentando manter a compostura.
— Não sei se você está louca, mas eu não sou Leonidas. Ele está morto! Entendeu agora? — Ela se irrita, sua voz cheia de desprezo.
— Meu tio Joseph... — Sussurro com um fio de esperança. — Sempre dizia que monstros são mais perigosos quando estão com medo.
O sorriso de Natasha se desvanece, e uma sombra de desconforto passa por seu rosto.
— Você acha que eu tenho medo de você? — Ela diz, sua confiança vacilando momentaneamente antes de recuperar a postura.
— É claro que tem. — Respondo com determinação, soltando uma risada dolorida.
— Não seja estupida! — Ela grita, a raiva evidente em suas palavras.
— Vadia. — Digo, o medo substituído por uma coragem feroz.
Natasha soca meu rosto com uma força irredutível, e a pancada é tão violenta que me faz cair de lado. O impacto é tão intenso que cuspo no chão, e uma bolha enorme de sangue se forma, salpicando ao meu redor. Com dificuldade, tento me sentar novamente, cada movimento me causando dores agudas que parecem percorrer todos os meus ossos. A dor é excruciante, mas de alguma forma, um sorriso começa a se formar em meu rosto. Esse sorriso logo se transforma em uma gargalhada alta e incontrolável. Os risos escapam de mim, um som que parece quase selvagem. A ironia da situação, o contraste entre o sofrimento físico e a euforia quase insana, me faz rir ainda mais. A gargalhada ecoa pelo ambiente, uma expressão de desespero misturado com uma estranha sensação de libertação. É um momento de profundo paradoxo, e a dor, de alguma forma, se transforma em uma fonte inesperada de alívio.
— Vamos ver se você continuará a dar gargalhadas depois de receber seu segundo castigo. — Natasha diz, antes de se afastar. Ivan me acompanha e me leva atrás dela.
Ivan me coloca em uma carroça que mais se parece com uma jaula grotesca. Em vez de barras de ferro ou madeira, a estrutura é feita de arames farpados, e cada balançar dos cavalos, me empurra contra esses fios cortantes, causando uma dor aguda e rasgando minha pele. A sensação de ser constantemente picada é quase insuportável, cada movimento agravando a ferida. A luz do sol que entra pela abertura da carroça faz meus olhos arderem, e vejo que estamos indo em direção à cidade de Treeland. À medida que passamos pelas ruas, chamamos a atenção de todos. Natasha viaja em uma carruagem pomposa e aberta, destacando-se em contraste com a minha condição deplorável. Ela se posiciona à frente da carroça, como se estivesse em uma exibição triunfante.
Quando paramos no centro da cidade, a multidão começa a se formar rapidamente, e o tamanho do amontoado cresce mais rápido do que eu poderia imaginar. Estou em uma condição deplorável: meus cabelos estão molhados e soltos, cobrindo parcialmente meu rosto; minha boca e dentes estão manchados de sangue seco, e minhas mãos estão imobilizadas, parecendo mais as de um animal capturado do que as de uma princesa. O contraste entre minha aparência e o que eu costumava representar é tormentoso. Se alguém dissesse a esse povo que sou a princesa mais poderosa, eles ririam até não poder mais. Agora, eles me encaram com uma mistura de repulsa e curiosidade, como se eu fosse uma besta selvagem prestes a atacar. A sensação de ser reduzida a um objeto de escárnio e espetáculo é devastadora, e o olhar da multidão pesa pesadamente sobre mim.
— Meu maravilhoso reino de Treeland! — Natasha grita, fazendo a carroça parar abruptamente.
Ela se ergue em pé na sua carruagem luxuosa e aberta, com um ar imponente que captura a atenção de todos. A multidão se silencia, aguardando o que a grande rainha tem a dizer.
— Infelizmente, trago más notícias. Esta jovem traiu nosso reino ! — Natasha declara com um tom de falsa piedade.
Um som sincronizado e quase ensaiado de "Ôhhh!" se eleva da multidão, uma reação calculada para demonstrar choque e compaixão forçada. Eu beijo três dos meus dedos e os levanto para cima depois deposito sobre meu peito ao lado do coração, um gesto que provoca um espanto coletivo entre os seus súditos.
— E por isso, ela terá o castigo que merece como uma lição por ter nos enganado, depois de abrirmos os portões de nosso reino para ela! — Natasha finaliza com uma raiva evidente, seu desdém pelo que considera minha petulância, ao fazer o sinal de meu reino, não disfarçado.
A raiva dos súditos cresce ao ver minha postura desafiadora e zombeteira em frente a eles. Sinto a tensão aumentando, mas o sentimento de desdém por Natasha, que na verdade é Leonidas, me faz querer rir sem parar. E é exatamente isso que faço, minha gargalhada ressoando no meio da multidão. Natasha, furiosa, me lança um olhar assassino, mas rapidamente volta sua atenção para o povo.
— Mas ela é herdeira de Madark, filha das chamas! Ele virá atrás de nós para se vingar! — Alerta um homem da multidão, seu medo evidente.
— Isso mesmo! Vocês acham que ele não virá atrás da própria cria? Todos já ouviram do que Nicolay é capaz de fazer. Se Treeland for responsável pela morte da herdeira dele e de Meredith a grande e eterna rainha solar, decretaremos a nossa ruína e a aniquilação de nossos filhos! — Uma mulher se une ao clamor.
— Se fosse minha filha, eu viria atrás dela! — Uma senhora próxima à mulher também grita, sua preocupação clara.
— Não queremos morrer! — Alguém na multidão que não vejo clama desesperadamente.
— Éhhh! — A multidão irrompe em uníssono, concordando com a ideia de que a situação é perigosa.
Natasha, tentando acalmar os ânimos, clama de volta:
— Sky está sem seus poderes, e Madark não tem chance contra nós! Além disso, ela agora é nossa propriedade, pois está em nosso reino!
Ouvir a voz de Natasha, que na verdade é Leonidas, me faz sentir uma vontade incontrolável de rir. Continuo a gargalhar, mesmo diante do olhar furioso de Natasha.
— Bem, como ela é nossa propriedade, darei a vocês a chance de tê-la como escrava! — Natasha anuncia com um tom triunfante e cruel.
A loucura da situação me atinge em cheio, e só posso pensar que estou vivendo um pesadelo.
— Faremos um leilão! Quem der mais, fica com ela! — Natasha diz, esboçando um sorriso cruel e calculado.
Por um momento, imaginei que a multidão se dispersaria em pânico. Afinal, sou a herdeira de Madark, e eles não teriam coragem suficiente para participar de um leilão público para me ter como escrava. Mas, para minha surpresa, a cena segue adiante com uma frieza perturbadora.
— Eu dou cinco siclos! — Grita um homem, e sua oferta é recebida com uma onda de risadas desdenhosas. A multidão parece se divertir com a situação, achando graça na falta de respeito pelo meu status.
— Dou dois mil siclos por ela! Vamos ver se ela sabe botar fogo em outras coisas! — Grita outro homem, sua voz cheia de sarcasmo e perversidade. Suas palavras provocam um novo estalo de risadas e zombarias da multidão, que está claramente entretida.
— Dez mil siclos e fechado! — Outro homem intervém, com uma oferta alta e confiante. Todos ao redor parecem ansiosos para ver quem sairá vitorioso.
Então, um som familiar chega aos meus ouvidos:
— Eu compro pelo dobro de todos os lances dados. — A voz é inconfundivelmente de Pétrus. Só pode ser dele. Não consigo vê-lo mas sua oferta interrompe o tumulto com uma nova onda de murmúrios.
Mas antes que o caos possa se instalar completamente, um homem estonteante, montado em um cavalo saudável e majestoso, se destaca na multidão.
— Na verdade, ninguém dará mais nenhum lance. Ela é minha, ficará comigo. — Sua postura atingiu a todos com uma autoridade que não deixa espaço para contestação. E sua voz ressoa com um tom definitivo, e a maneira como se posiciona mostra que ele não está disposto a negociar.
Levanto meu rosto, e a visão que se revela é de um homem extraordinariamente formidável. Ele é extremamente belo, com traços marcantes que irradiam uma presença poderosa. A barba bem feita acentua sua masculinidade, e seus lábios avermelhados parecem ser esculpidos com perfeição. As roupas que veste são de um homem de alta posição, adornadas com detalhes refinados e dignos de seu status. O que mais me surpreende, porém, é a coroa que repousa sobre sua cabeça. É uma coroa magnífica, intricadamente trabalhada, que brilha sob a luz do sol. O brilho da coroa e a maneira como ele a usa com naturalidade indicam que ele não é apenas um homem de importância, mas alguém de grande poder e autoridade. Todos os presentes se curvam perante ele, uma demonstração clara de respeito e submissão. A cena é um espetáculo de reverência e admiração, com a multidão inclinando-se em um gesto de respeito absoluto. O contraste entre o homem majestoso e a minha condição desesperadora é um choque visual e emocional, e a magnitude de sua presença é impossível de ignorar.
— Recebam Derek Malik, o rei de Treeland! — Anuncia Ivan gaguejando, sua voz carregada de respeito e reverência.
Por um momento, sinto uma onda de confusão e tormento. A revelação de que Natasha não é a rainha de Treeland me atinge com força. Eu tinha assumido que ela era a soberana, mas agora, ao ver Derek Malik se apresentar com tanta autoridade, minhas certezas são abaladas. Ivan, visivelmente desconcertado, não desvia o olhar de Natasha, cuja expressão de surpresa é evidente. Seus olhos estão arregalados, claramente chocada com a súbita presença de Derek Malik. A maneira como ela reage revela que este momento não era esperado e que a sua confiança anterior está abalada.
A presença de Derek Malik, com sua postura e coroa reluzente, sugere que ele é a figura de maior autoridade em Treeland. A dúvida se instala em minha mente: se Derek Malik é realmente o rei, isso implica que Natasha, que eu inicialmente tomei como rainha, pode ser sua esposa ou ter algum outro papel de destaque em seu governo? A complexidade da situação só aumenta a sensação de confusão e incerteza que sinto.
— Derek, o que faz aqui? — Natasha pergunta, claramente desconfortável.
— Eu é que te pergunto, Natasha, o que você está fazendo aqui? — Derek Malik mantém o olhar fixo em mim.
— Bom, eu estou dando uma lição nesta garota que...
— Ela não se rendeu aos seus caprichos? — Derek interrompe, com um tom de escárnio, que sugere que tal ato vindo de Natasha não é uma surpresa para ele.
— Eu não me ajoelhei diante dela. — Sussurro, dirigindo minhas palavras diretamente a Derek, enquanto minha voz é carregada de um desafiador desdém.
Com um esforço doloroso, me ajoelho e seguro com as duas mãos o arame farpado, inclinando minha cabeça contra minhas mãos. Não sinto o sangue escorrendo dos meus pulsos até meus braços e pingando no chão, pois a dor já é um sentimento distante.
— Maldita. — Solto, minha voz carregada de raiva ensandecida. — Pode me chicotear quantas vezes quiser, mas não me ajoelho novamente diante de ti. — Dou um sorriso desafiador para Natasha, um gesto de sarcasmo e força que contrasta com minha situação desesperadora.
Meu ato de resistência, embora doloroso, foi apenas um meio para libertar meus amigos da situação em que nos encontramos. A decisão foi feita com a intenção de mostrar que, apesar de tudo, eu não seria subjugada.
— Sua... — Natasha avança furiosa em minha direção, mas é detida abruptamente por Derek.
— Encoste nela e eu te mato, Natasha! — Derek ameaça com um tom de voz inclemente, ainda mantendo seu olhar fixo em mim. Sua autoridade é indiscutível, e a ameaça em suas palavras é clara, um reflexo de sua obstinação em proteger sua dignidade e manter o controle da situação.
Natasha para abruptamente, sua expressão revelando uma mistura de revolta e incredulidade diante das palavras do rei de Treeland. O ódio e a descrença estão evidentes em seu rosto, enquanto ela tenta processar a inesperada intervenção de Derek. A multidão, agora em um estado de fascínio, observa a cena como se fosse um espetáculo. Seus olhares se movem incessantemente, ora focando em mim, ora em Natasha, e às vezes em Derek.
— Qual é o seu nome? — Ele pergunta, seu tom de voz agora suave e inquisitivo.
— Alinna Sky Madark. — Respondo, meu orgulho evidentes nas palavras.
— É um prazer finalmente conhecê-la, Alinna... — Ele começa, mas eu o interrompo antes que possa continuar.
— Prefiro que me chamem de Sky, majestade. — Digo com firmeza, estabelecendo minha preferência.
— Mas eu prefiro Alinna, combina mais com sua beleza. — Ele insiste com um tom gentil e resoluto. — Você pode se considerar minha protegida, Alinna.
— Me tire daqui, por favor. — Peço, minha voz carregada de uma súplica sincera.
— Farei o que você me pedir, minha querida. — Derek me oferece um sorriso deslumbrante.
Em troca respondo com um sorriso e um olhar agradecido, aliviada pela promessa de ajuda.
Derek Malik não delega a tarefa a nenhum guarda; ele mesmo se dirige até a jaula de arame farpado e abre com um gesto elegante e decisivo. Suas roupas são imaculadamente brancas e impecáveis, o que me causa um leve receio quando ele estende os braços para me pegar. Enquanto ele se aproxima, não posso deixar de me preocupar com o estado das suas roupas. Minha situação está longe de ser limpa, e a ideia de manchar seu traje perfeitamente limpo me faz hesitar. Olho para ele, temendo que qualquer contato possa desfigurar sua aparência impecável.
— Sou rei, Alinna, posso ter quantas vestes quiser. — Ele observa meu olhar preocupado com suas roupas e sorri.
Dou um sorriso aliviado e me deixo cair em seus braços. Derek me segura com firmeza e me leva até seu cavalo. Quando me sinto sendo erguida, ele sobe atrás de mim, mantendo um aperto seguro.
— Creio que vocês têm mais o que fazer, então voltem aos seus afazeres. Não há mais nada para ver aqui! — Derek ordena com autoridade, e a multidão se dispersa rapidamente, retornando apressadamente às suas atividades.
— Achei que Natasha fosse a rainha de Treeland.
— Natasha é minha irmã por parte de pai, mas não é rainha. Ela é uma princesa. — Derek explica, com um tom de desdém sutil.
— Mas o que ela estava fazendo no trono? — Questiono, perplexa.
— Essa é exatamente a questão que eu gostaria de esclarecer. — Derek murmura, sua expressão mostrando uma mistura de frustração e curiosidade.
Enquanto ele se inclina para ajustar sua posição, sinto uma aguda onda de dor nas costas. As chicotadas ainda queimam intensamente, e sei que levará muito tempo para que as feridas cicatrizem.
— O que foi? — Derek começa a perguntar, mas para abruptamente.
Só agora ele parece perceber que meu vestido de dormir está ensanguentado e colado às minhas costas. A visão de meu estado deplorável faz com que ele fique sem palavras.
— Se quer saber, não doeu. — Quebro o silêncio com um tom brincalhão, tentando aliviar a tensão, enquanto vejo Derek ficar sem reação.
— Natasha fez isso? — Ele pergunta, sua indignação é notória.
Não preciso responder; meu olhar já diz tudo. O silêncio se estabelece enquanto seguimos em direção ao palácio real. Assim que coloco os pés no chão do palácio, a coceira em minha mão e meu pulso que estava adormecida volta com intensidade, mas não consigo coçar por causa das correntes que me prendem.
— Onde você estava? — Derek pergunta de imediato.
— Ãhm? — Indago, confusa com a pergunta de Derek.
— Em qual aposento você estava? — Ele repete, sua voz agora carregada de urgência.
— No segundo andar, eu acho. — Respondo, um pouco distraída, minha atenção sendo dominada pela dor latejante nas costas. Agora que a adrenalina cessou consigo sentir novamente cada resultado dos castigos que levei.
— Hugo, chame Celeste, rápido! Rápido! — Derek ordena, sua voz ecoando pelo corredor.
"Hugo"
Com um movimento ágil, ele me pega no colo e começa a subir as escadas. A dor em minhas costas intensifica-se a cada passo, e minha visão começa a escurecer.
— Você precisa manter os olhos abertos! — Derek instrui, sua preocupação clara.
— Talvez eu não queira manter os olhos abertos. — Sussurro, a exaustão e o sofrimento se misturando em minha voz.
— Mas você precisa! Não vou deixar você morrer em meu reino. — Derek fala com uma determinação inabalável, sem sinal de cansaço.
Ele continua correndo, mantendo-me no colo, sua resistência impressionante. Entramos no quarto, onde Celeste já está à espera.
— Me chamou, majestade? — Celeste se curva respeitosamente.
— Sim, preciso que você cuide da senhorita Alinna. Ela precisa de um banho e de cuidados urgentes. — Derek me deita delicadamente na cama.
A dor é intensificada apenas pelo contato com o colchão, e um gemido involuntário escapa de mim.
— Vire-a de bruço, por favor. — Celeste instrui com uma firmeza que demonstra sua experiência.
Derek me vira com cuidado, e um leve alívio surge ao encontrar uma posição mais confortável.
— Ela está extremamente suja e coberta de sangue. Não consigo identificar todos os ferimentos além das chicotadas, mas parece que ela tem lesões na testa, nas mãos, pulsos, e alguns arranhões nas pernas. — Derek me examina atentamente.
— Eu cuidarei disso, senhor.. — Ela sorri, mostrando um profissionalismo acolhedor.
— Mantenha tudo confortável para ela. Se precisar de algo, chame um dos meus homens imediatamente. Eu irei lidar com Natasha. Ela ultrapassou todos os limites.
— Sim, senhor. — Celeste se curva novamente, pronta para cumprir suas ordens
Diferente da última vez, Celeste agora me trata com um cuidado impecável. Sem utilizar nenhum líquido estranho, ela começa por remover meu vestido de dormir com delicadeza, me ajuda a levantar e me conduz até a sala de banhos. A banheira está cheia com uma água quente e reconfortante, que imediatamente me proporciona uma sensação de alívio. Celeste me coloca na água com suavidade, começando a me banhar. Ela limpa meticulosamente cada parte do meu corpo: meus cabelos, que estavam embaraçados e sujos, os machucados que foram infligidos por Natasha, e o sangue seco que havia se acumulado em minha pele. Com um toque gentil, ela lava minhas costas e cuida dos ferimentos com uma atenção que contrasta fortemente com o sofrimento que experimentei anteriormente.
Após o banho, Celeste me veste com uma roupa fina e delicada, projetada para não incomodar meus ferimentos e proporcionar um pouco de conforto. A sensação de estar limpa e vestida adequadamente, embora ainda dolorida, é um alívio imenso. Nunca imaginei que passaria por uma situação tão humilhante como ser chicoteada na frente de meus amigos e exposta em praça pública. Enquanto me recupero, minha mente vagueia para os meus amigos. Onde estarão agora? Juro ter ouvido a voz de Pétrus na multidão, mas a quantidade de pessoas era tão grande que não consegui localizá-lo. A confusão e o tormento que senti tornaram difícil distinguir se estava completamente lúcida. Celeste, com um cuidado meticuloso, me deita de volta na cama. Ela puxa uma cadeira, pega alguns retalhos de tecido e se senta para começar a costurar. Enquanto trabalha, ela cantarola uma melodia suave, seu tom ajudando a acalmar a agitação que ainda sinto. Eu fecho os olhos lentamente, tentando encontrar um pouco de paz, e quando os abro novamente, o ambiente ao meu redor parece um pouco mais tolerável.
— Oi. — Derek se abaixa ao meu lado com um sorriso gentil.
— Ãhm? Onde estou? — Pergunto, sentindo-me um pouco agoniada com a visão ainda turva.
— Você está em meu reino, Treeland. — Ele responde com um tom reconfortante.
— Onde está Celeste? Ela estava aqui há pouco. — Procuro ao redor do quarto, mas não a vejo.
— Celeste não veio até seu quarto hoje. — Derek faz uma expressão confusa. — Parece que você dormiu por dois dias. Estava bastante cansada.
— Ah, entendo. — Tento processar a informação.
— Suas costas melhoraram mais rapidamente do que eu esperava. Não estão perfeitas, mas a dor deve ser bem mais suportável agora. — Ele pega minha mão, oferecendo um gesto de apoio.
— Que bom. — Deixo escapar um sorriso fraco, ainda um pouco atordoada.
— Só que você ficará com cicatrizes, e elas serão bastante visíveis. — Avisa com um tom de preocupado.
— Tudo bem. Não há muito o que fazer a não ser aceitar, certo? — Tento manter a calma, embora um sentimento de desconforto ainda me incomode.
— Peço desculpas pelo comportamento de Natasha. Não sei o que se passou com ela. — Derek expressa um sincero pedido de desculpas.
— Eu acho que ela está fora de si. Não roubei nada de seu palácio, eu juro. — Tento transmitir a sinceridade em minha voz.
— Eu sei que não, conheço Natasha bem. Às vezes ela age de forma autoritária e descontrolada, mas já resolvi a situação com ela. Em breve, ela pedirá as devidas desculpas. — Derek garante, tentando me tranquilizar.
— Desculpe, mas eu realmente não quero ver sua irmã tão cedo. Não sei como reagiria se ela aparecesse na minha frente agora. E, sinceramente, acredito que palavras não seriam suficientes para compensar tudo o que ela me fez passar. — Falo com um tom de frustração, tentando expressar o quanto a experiência me afetou.
— Sem problemas. Você está certa eu... — Ele para repentinamente. — O que está fazendo? — Pergunta, fixando o olhar no meu pulso.
— Acho que estou com alergia ou algo assim, há um tempo não para de coçar. — Tento tirar minha mão de seu campo de visão.
— Deixe-me ver. — Ele se aproxima e examina meu braço. "Minha tentativa fracassou miseravelmente." — Nossa, que bracelete lindo.
Ele desvia a atenção do meu pulso para observar o bracelete.
— Com as marcas das correntes que estavam em minhas mãos, não está mais tão bonito assim. — Respondo com um tom resignado.
— Eu entendo. — Ele abaixa o olhar, parecendo pensativo.
— Derek, você sabe onde estão meus amigos? Pedi a Natasha que os deixasse ir, mas não tenho certeza se ela realmente fez isso.
Um medo repentino me assola. Natasha parece completamente desequilibrada, muito mais do que eu poderia imaginar. Ela poderia ter prometido soltá-los e, na verdade, ainda mantê-los presos. Preciso saber a verdade.
— Sim, eles foram soltos. Mandei Ivan me informar sobre tudo o que aconteceu. Mas fique tranquila, eles voltarão para te buscar. Se você não estivesse tão machucada, eu...
— Deixe-me ficar aqui por um tempo, por favor? — O interrompo, pedindo com urgência.
Ainda não consegui encontrar a flecha de ouro, e isso tem me deixado bastante inquieta. Estou com um receio constante de perguntar sobre ela, temendo que a flecha possa ter um valor muito maior para eles quanto é para mim. A ideia de que algo que eu estou buscando com tanta determinação possa ser mais importante para os habitantes de Treeland do que para mim é um pensamento perturbador. Neste momento, não posso simplesmente ir embora e deixar tudo para trás, especialmente quando estive tão perto de encontrar a flecha. A busca tem sido árdua e desafiadora, e cada dia que passa sem sucesso só aumenta minha frustração. No entanto, a situação também exige um pouco mais de paciência e estratégia.
A opção mais sensata agora parece ser permanecer aqui, fingindo que estou apenas desfrutando de alguns dias de folga. Não me custa nada adotar essa abordagem, e me dar esse tempo extra pode ser exatamente o que eu preciso. Além disso, minhas costas ainda estão machucadas, o que torna inviável viajar para os dois reinos neste momento. A ideia de ficar aqui pode parecer uma solução conveniente, mas também tenho que lidar com a presença inquietante de Natasha e o olhar constante do rei desconhecido que parece estar me espreitando a todo momento. Mesmo assim, a possibilidade de encontrar a flecha de ouro e alcançar meus objetivos torna o tempo que estou passando em Treeland mais tolerável. Portanto, enquanto tento me adaptar à situação e buscar a solução que tanto desejo, a permanência em Treeland pode ser a melhor alternativa para garantir que eu não perca a oportunidade de encontrar a flecha.
— Mas é claro. Minhas portas estão sempre abertas para você. Sinta-se à vontade para ficar o tempo que precisar. Você é muito bem-vinda, Alinna. — Ele sorri, e o brilho em seu sorriso é encantador.
Que sorriso lindo, pelos deuses.
— Obrigada, Derek. Você tem sido extremamente gentil e tem me ajudado de tantas maneiras desde que chegou. Não sei como agradecer, mas farei o possível para retribuir sua generosidade. — Eu digo com sinceridade.
— Não se preocupe com isso, Alinna. Apenas sua presença aqui já faz meu palácio mais belo. Esse é o maior agradecimento que eu poderia pedir. E depois de tudo que minha irmã fez, nada mais justo que lhe conceder um pedido tão simples. — Ele beija minha mão com um gesto elegante, faz uma reverência e se retira.
Pronto, decidi que vou permanecer em Treeland por mais alguns dias. Este tempo extra será crucial para mim, pois finalmente terei a chance de concretizar minha vingança. Sinto que o destino está conspirando a meu favor, com a flecha de ouro e Leonidas estando aqui, tão próximos. A oportunidade de acertar contas com Leonidas está ao meu alcance, e não posso deixá-la passar. Estou convencida de que a reencarnação de Leonidas é Natasha. Embora ela tente me enganar e mantenha uma fachada, estou certa de que é ela. Seus comportamentos e características são suspeitos demais para serem meras coincidências. Magia já me alertou que Leonidas poderia se manifestar em qualquer pessoa, inclusive em uma mulher. Pois bem, se é para ser assim, então que seja. Desta vez, Leonidas, não escapará de mim. Vou usar este tempo para observar e me preparar. A chance de eliminar dois Clevan com uma estaca só é um golpe perfeito e simbólico para a minha vingança. Acredito que tudo está se alinhando para o momento certo. Assim que eu estiver pronta, não hesitarei em confrontar Natasha e, finalmente, obter a justiça que busco há tanto tempo.
O destino parece ter me dado uma segunda chance, e eu não vou deixar passar.
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