Capítulo 16
— Oi. — Erik diz, ao ver que abri os olhos.
Ele e Pétrus presenciaram um dos eventos mais estranhos que eu jamais poderia ter imaginado. Há algumas horas, vi a mesma sombra que me empurrou do penhasco semanas atrás, quando estava atrás de Costela. A sombra pairava sobre mim, como se estivesse me observando. O mais assustador é que eu morri e voltei à vida. Como isso seria possível? Depois desse incidente, Magia precisou lançar um feitiço para me acalmar, e parece que só agora estou acordando. O olhar preocupado de Erik refletia a intensidade do que testemunharam, e eu ainda sentia a inquietação do ocorrido.
— Como você está? — Erik não perdeu tempo para me examinar, levantando-se do chão onde estava deitado e sentando-se na cama ao meu lado. Ele também me ofereceu uma rosa.
Que recepção fofa! Uma linda rosa que me fez lembrar da minha mãe.
— Estou bem até demais e já cansei de ficar deitada. — Respondi, sentando-me.
Aceitei a rosa e senti seu perfume. Seus espinhos incomodaram um pouco minha mão, então a coloquei na cabeceira da cama para não me machucar mais.
— A verdadeira Sky voltou. — Comentou Erik, com um sorriso lindo.
Para quebrar o gelo, fiz uma reverência para ele.
— Você esteve aqui o tempo todo? — Questionei, agora mais séria.
— Bom, eu, ãhm, só queria... na verdade, só queria saber se...
— Se eu estava respirando? — Sorri.
— É. — Erik ficou vermelho.
Eu o abracei forte. Apesar de Erik e eu sermos pessoas completamente diferentes, com personalidades opostas e passarmos noventa por cento do tempo brigando e trocando farpas, ele sempre esteve ao meu lado e sempre me protegeu. Nesse abraço, senti a sinceridade de sua preocupação e a força de seu apoio. Foi um momento de gratidão profunda, reconhecendo que, apesar de todas as nossas diferenças e conflitos, Erik era uma constante em minha vida, alguém em quem eu podia confiar nos momentos mais difíceis.
— Você é incrível. — Disse, bagunçando seu cabelo.
Eu costumava fazer isso quando éramos pequenos; sempre tive essa mania.
— Você me assustou. — Ele murmurou, agora com um sorriso meio triste. — Tenta... não morrer, ok?
— Juro. — Prometi, beijando os dedos como um juramento. — Vou tentar ficar viva.
— Ótimo! Você é insuportável, mas ainda preciso de você. — Disse ele, bagunçando meu cabelo.
— Ei! — Fingi estar brava.
— Bom, agora que você está bem, vou dormir. Qualquer coisa, me grita...
— Espera! — Segurei seu braço. — Dorme comigo hoje.
Eu não quero ficar sozinha aqui, e a companhia de Erik me faz bem. Ele me olha com um semblante desconfiado e um sorriso levemente provocador.
— Prometo que é só dormir, mesmo. — Fiz bico, tentando parecer convincente.
— Só dormir? — Erik ergueu a sobrancelha, claramente desconfiado.
— Sim, só dormir. — Pisquei para ele, com um sorriso maroto.
Bati na cama ao meu lado, indicando para ele se deitar. Erik tirou as botas lentamente e se acomodou ao meu lado. Juntos, ficamos olhando para o teto, o silêncio confortável entre nós.
— Erik? — Chamei.
— Diga. — Ele respondeu, ainda olhando para cima.
— Lembra quando éramos pequenos e você me chamou de feia? Depois disso eu cortei seu cabelo...
— Enquanto eu dormia. — Completou, rindo. — Lembro sim. Você era muito perversa.
— O quê? — Me virei para ele, indignada. — Você também era travesso, viu? travesso e endiabrado.
— Mas isso é um insulto para mim. — Disse com uma voz engraçada, tentando soar ofendido. — Lembra do dia que você quase arrancou minha pele depois de me morder?
Ri alto ao me lembrar da cena. Erik ficou uma semana sem falar comigo depois daquele dia.
— Lembro. Tenho dentes afiados até hoje. — Passei a língua nos dentes, sentindo meus caninos pontudos.
— Ah, eu sei que você tem dentes afiados. Oh, se sei! — Debochou, provocando.
— Está querendo me lembrar do dia em que mordi seus lábios? — O encarei, desafiadora.
Erik, que ainda pouco encarava o teto, se ajeitou e virou-se para mim.
— Mas é claro. — Deu de ombros, com um sorriso travesso.
— Erik? — Chamei sua atenção novamente, meu tom mais sério.
— Sim? — Ele respondeu, olhando diretamente nos meus olhos.
— Lembra quando você jogou aquele bilhete debaixo da minha porta, no dia que eu quase te matei? — Perguntei, mantendo o olhar fixo no dele, esperando sua reação.
— Sim. — Ele ficou mais sério, o tom leve de antes desaparecendo.
— Depois você me disse que só queria me dizer algo importante. O que era? — Perguntei, a curiosidade tomando conta de mim.
— Por que você quer saber isso agora? — Ele parecia confuso com a minha pergunta.
— Porque sou curiosa e nunca tive a chance de perguntar diretamente. — Respondi, tentando esconder minha ansiedade.
— Bom, eu queria me declarar para você. — Ele soltou, ficando com as maçãs do rosto vermelhas.
Eu não esperava por isso, não mesmo. Erik voltou a encarar o teto, evitando meu olhar.
— E o que você ia me dizer? — Continuei o encarando, meu coração batendo mais rápido.
Erik colocou os braços sobre os olhos, como se estivesse tentando se esconder. Quando eu pensei que ele não ia responder, ele finalmente falou.
— Eu ia dizer que, mesmo você arrancando minha pele, mesmo atormentando todos os meus dias, e fazendo minha vida impossível, ainda sim você era a menina mais bonita e estranha que eu já tinha visto. Ia dizer que...
Ele parou de falar, hesitando.
— Que? — O incentivei a terminar, segurando a respiração.
— Que eu te amo.
Erik acabou de me dizer que me ama. "Pela segunda vez." E ele nem sequer me olha nos olhos, e eu não posso deixar de achar graça. Deve estar envergonhado ou com receio das palavras que acabou de soltar. Com um sorriso divertido, me levantei devagar e, com cuidado, me sentei sobre seus quadris. Ele ficou tenso por um momento, os músculos rígidos sob meu peso. Com as mãos, tirei os braços dele dos olhos e os segurei delicadamente ao lado de sua cabeça. Seus olhos se encontraram com os meus, um misto de surpresa e nervosismo refletido neles. Eu o observei, tentando decifrar o turbilhão de emoções que passavam por seu olhar. Seu rosto estava corado, e eu podia sentir a batida acelerada do seu coração sob minhas mãos.
— Olhe para mim, Erik. — Sussurrei, enquanto meus dedos acariciavam suavemente seus pulsos, tentando acalmá-lo.
Ele hesitou por um instante, mas finalmente levantou a cabeça para me encarar. Havia um brilho de vulnerabilidade em seus olhos, misturado com uma sinceridade que eu nunca tinha visto antes.
— Você me ama? — Minha voz quase falhou ao fazer a pergunta.
— Você já sabia, Sky. — Ele riu sem graça, um sorriso tímido nos lábios.
— Sim, eu sabia, mas eu queria ouvir isso de você mais uma vez. — Não consegui conter o sorriso que iluminava meu rosto.
— Você é uma garota má. — Ele brincou, seu tom carregado de um misto de afeto e exasperação.
Erik me empurrou para o lado com tanta rapidez que eu soltei um grito estupefato, seguido por uma risada alta. Em um movimento ágil, ele subiu sobre mim e me beijou com uma paixão ardente. Seus lábios estavam quentes e exigentes, e eu senti uma onda de emoção invadindo cada célula do meu corpo. Enquanto os beijos se intensificavam, minhas mãos se apressaram a desabotoar sua camisa, ansiosas por explorar cada centímetro da pele exposta. O calor do momento estava crescendo, e começávamos a nos perder na intensidade da nossa proximidade. De repente, a porta do quarto se abriu com um estalo alto. O som inesperado e o movimento súbito nos pegaram de surpresa. Com espanto, caímos da cama em um emaranhado de braços e pernas. O chão frio e inesperado trouxe um choque de realidade, e nós dois ficamos atônitos
— Sky? — Pétrus chamou.
Sentei-me no chão, apoiando meu corpo na cama para me mostrar a Pétrus. Ao lado dele estava Ivy. "Céus, só faltava isso," pensei, sentindo uma mistura de surpresa e frustração.
— O que vocês querem, Pétrus? — Perguntei, ajeitando o cabelo desordenado.
— Queremos saber se está tudo bem com você. — Ivy respondeu, avançando à frente de Pétrus. Seus olhos se moviam pelo quarto, examinando cada canto com uma curiosidade quase científica.
— Podem ficar tranquilos, ela está bem. — Erik se levantou, enrolado em um lençol, o que me fez soltar uma risada involuntária.
O olhar de Ivy se fixou em Erik, enquanto Pétrus dirigiu um olhar inquisitivo para mim. O clima no quarto ficou palpavelmente estranho.
— Então, vocês vão ficar aí na porta ou vão entrar? — Perguntei, tentando entender a real intenção deles.
— Eu não sabia que você estava com Erik. — Pétrus parecia desconfortável, com uma expressão estranha no rosto.
— Bom, desculpem por atrapalhar vocês. — Ivy, claramente irritada, se virou e saiu do quarto com um passo rápido.
— Eu não vou pedir desculpas. — Pétrus resmungou, ainda visivelmente desconcertado.
— Pétrus, vamos! — Ivy chamou de longe, sua voz misturando-se com o som do corredor.
Pétrus saiu do quarto, fechando a porta com um estrondo que fez a vibração ressoar no quarto. Erik se deixou cair no chão e começou a rir, lágrimas de tanto rir escorrendo pelo seu rosto. Eu me juntei a ele, rindo também.
— Eu literalmente, não esperava por isso. Você viu a cara deles? — Perguntei entre risadas, achando a situação extremamente engraçada.
— Só faltou o Brant para completar. — Erik riu de dar gargalhadas, a expressão de diversão ainda estampada no rosto. — Agora venha aqui.
— Ei! Você me fez prometer que íamos apenas dormir. — Provoquei, rindo ainda um pouco.
— Fique quieta. — Erik respondeu, tentando manter a seriedade, mas com um sorriso divertido nos lábios.
...
— Bom dia! — Saudei a todos com um sorriso alegre.
— Bom dia. — Erik respondeu, vindo logo atrás de mim.
— Hmm... Bom dia, pombinhos. — Áries sorriu de maneira travessa, sua expressão cheia de diversão.
Para aliviar o clima constrangedor, fiz uma reverência exagerada, o que fez todos rirem.
— Você está bem? — Vlad me abraçou apertado e depois de me soltar me avaliou dos pés à cabeça, como se procurando algum sinal de problema.
— Estou ótima, caro primo. — Respondi com um sorriso radiante.
— Notamos que você está ótima. — Klaus comentou, seus olhos fixos em Erik, um tanto inquisitivo.
— O que vocês fizeram para arrumar comida? — Perguntei mudando de assunto, reparando a mesa repleta de deliciosos itens de café da manhã.
Erik e eu nos juntamos a eles, sentando-nos para tomar café.
— Depois que você... — Brant hesitou, parecendo procurar as palavras certas.
— Depois que eu morri e voltei sem nenhuma explicação? — Perguntei, pegando uma maçã e mordendo-a.
— Isso mesmo. Bom, precisávamos de algo para te alimentar e ajudar a recuperar suas forças, então Erik deu um jeito. — Brant concluiu, um sorriso de alívio no rosto.
Olhei para Erik e dei um grande sorriso, tocada pelo cuidado constante dele.
— Bom, não me lembro de ter comido nada, estou faminta. — Comentei, pegando um prato e começando a servir-me.
— Está faminta, mas Pétrus te deu comida. — Ivy respondeu, atacando um pão com uma expressão um tanto emburrada.
— Pétrus, você me deu comida? Na boca e tudo mais? — Perguntei, virando-me para ele com um olhar curioso.
Pétrus nem fez questão de me responder; ele simplesmente pegou uma maçã e saiu para fora, como se nada tivesse acontecido. Sua atitude indiferente me deixou intrigada. Levantei-me imediatamente e fui atrás dele, ignorando o chamado de Erik. Quando saí, percebi que estava chovendo. A chuva caía em torrentes, mas isso não me deteve. Pétrus avançava em direção ao campo que se estendia em frente ao casebre de sua avó. Ajustei minhas botas, que já estavam molhadas, e comecei a caminhar atrás dele, o chão lamacento dificultando a caminhada.
Pétrus não diminuía o ritmo; sua determinação em ignorar o mundo ao seu redor era visível. Se não fosse pela chuva, eu teria visto claramente a fumaça de raiva saindo de suas narinas. Seus ombros estavam tensos, e sua postura rigidamente fechada demonstrava um descontentamento que a tempestade não parecia abafar. Segui-o, cada passo tornando-se mais difícil devido à chuva e ao barro. O som constante da água batendo contra o solo e o tamborilar nas árvores criavam uma sinfonia caótica, enquanto eu tentava alcançar Pétrus e entender o que estava por trás daquela atitude tão enigmática.
— Obrigada por me dar comida, foi gentil da sua parte. — Comecei, tentando suavizar a situação. Ele não respondeu, permanecendo em silêncio.
Não me dei por vencida e continuei:
— E também por nos ter cedido o casebre de sua avó. Imagino que deve ser difícil para você voltar aqui... — Reafirmei minha gratidão, procurando entender o motivo de seu comportamento.
— O QUE É QUE VOCÊ QUER? — Pétrus gritou, fazendo-me parar abruptamente. A força de sua voz ecoou na chuva, e o tom agressivo fez meu coração acelerar.
— Ei, calma aí, garanhão. O que deu em você? — Não me rebaixei, sentindo uma onda de indignação. Quem ele pensa que é para me tratar assim?
— EU NÃO QUERO VOCÊ AQUI. SAIA! — Pétrus continuou a gritar, seus olhos flamejantes de raiva.
— Olha aqui, grite comigo novamente e eu vou...
— Você vai o quê? — Ele me interrompeu, sua voz cortante e desafiadora.
— Eu vou...
— Pare de me agradecer, ok? Eu não sou seu serviçal e não estou fazendo isso só porque você quer. Estou fazendo tudo isso porque seu pai me prometeu recompensas e a minha liberdade. É isso que eu quero. — Ele despejou suas palavras com um misto de fúria e desdém, o som de sua voz sendo carregado pelo vento e pela chuva.
— Por que você está agindo assim? — Parei por um momento, tentando processar suas palavras. — Ciúmes. É isso, não é? Você está com ciúmes. Pétrus, isso é patético. Você é patético.
Pétrus agarrou meu braço com força, sua expressão carregada de raiva. No entanto, sua tentativa de intimidar não teve efeito sobre mim. Eu sou herdeira de Madark, filha da maior rainha que esse mundo já conheceu, com ancestrais que são deuses do sol e da lua. Sou a futura rainha de três reinos poderosos e possuo poderes que transcendem a maioria dos mortais. O que ele realmente pensa que pode fazer para me machucar? Enquanto o aperto de Pétrus em meu braço persistia, eu olhei para suas mãos com uma frieza calculada, observando cada músculo tenso e cada tentativa frustrada de me controlar. O toque dele era quase irrelevante para mim, como uma brisa leve que não perturba uma tempestade.
— Você acha que me conhece, mas não, estúpida. — Pétrus rugiu suas palavras, o tom carregado de raiva e desprezo.
— Estúpida? — Murmurei para mim mesma, a palavra ecoando na minha mente como um desafio.
— Eu sou louco! Você não se lembra de onde me tirou? Ou quer que eu te lembre? — Ele me lançou um olhar tenebroso, seus olhos cheios de uma fúria que parecia quase visceral.
Houve um longo e tenso silêncio, enquanto eu processava suas palavras e a intensidade da situação.
— Eu achei que você era apenas um criminoso esperto, mas você realmente é louco. Louco, desequilibrado e perturbado. É só isso que você é. Absolutamente me enganei ao cogitar que você poderia ser mais do que isso. — Com essas palavras, me soltei de suas mãos com uma determinação fria.
Comecei a caminhar de volta para o casebre, meus passos firmes e decididos, mas então senti os braços de Pétrus envolvendo minha cintura com uma força inesperada. Ele me puxou para perto dele, o contato íntimo e inesperado causando um arrepio na minha pele.
— Eu sou louco por você, idiota! Não percebeu isso? — Ele sussurrou, seu tom carregado de uma intensidade que misturava frustração e paixão.
Pétrus me apertou com uma força implacável, suas unhas quase cravando na minha cintura. Com a outra mão, ele puxou minha cabeça em direção à sua boca. Seu beijo era forte e desesperado, uma combinação de necessidade e frustração. Seus dedos se enterraram em meus cabelos molhados, e eu senti um puxão intenso, quase doloroso. No final do beijo, ele mordeu meus lábios com um ímpeto selvagem, como se tentasse marcar seu território de uma maneira brutal. Um calor me subiu imediatamente, mas o calor que se espalhou por mim não era o mesmo calor que senti ontem com Erik. Era um fogo sombrio, cheio de raiva e ira, que nenhuma chuva poderia apagar. O fogo queima com uma intensidade corrosiva, misturando ódio e indignação. Sentindo uma onda de fúria incontrolável, levantei a mão e soquei o rosto de Pétrus com toda a força que pude reunir. O impacto foi tão violento que ele cambaleou para trás, perdendo o equilíbrio e caindo de joelhos em uma poça de água que se formara na lama. A água respingou ao redor, misturando-se com a chuva e criando um borrão de movimento e confusão.
— Mas que droga! — Pétrus exclamou, levantando-se com uma mão pressionada contra o maxilar dolorido.
— Você é nojento! — Eu o lancei um olhar de desprezo antes de me virar e voltar para o casebre, meus passos firmes e decididos.
Caminhei com raiva, meus pensamentos girando em uma espiral de frustração. "Por que isso sempre acontece comigo?" murmurei para mim mesma, sentindo como se estivesse amaldiçoada. Com tantas mulheres no mundo, por que Pétrus tinha que se apaixonar logo por mim? Como se não bastasse o tormento constante de Brant, agora eu tinha que lidar com mais essa complicação. Quando me aproximei da casa, avistei Erik na porta, seu olhar fixo em mim com uma expressão de inquietação. Antes que eu pudesse reagir, olhei para trás e percebi que Pétrus estava se aproximando rapidamente. Sem pensar duas vezes, acelerei o passo, minha determinação em deixar o tumulto para trás manifestando-se em cada movimento.
— O que aconteceu? — Erik me perguntou aflito.
Sem responder, passei direto por ele, o meu foco em sair dali.
— Ela é boa de esquerda. — Pétrus comentou para Erik, ainda atrás de mim, com um tom de desdém.
— O que foi? — Lucious perguntou, confuso com a situação.
Empurrei Lucious para o lado, forçando um caminho através do grupo.
— Ei! Calma aí, esquentadinha. — Ivy defendeu o irmão, a voz carregada de uma mistura de preocupação e irritação.
— Estejam prontos amanhã cedo, pois partiremos para Treeland. — Declarei, pegando minha estrela da manhã e me dirigindo para a saída.
— Sky, onde você vai? — Áries se levantou, chamando minha atenção.
— Vou dar uma volta e não quero ninguém comigo... Pode ser? Obrigada. — Gritei rapidamente, antes de me afastar, sem esperar uma resposta.
Fechei a porta atrás de mim com um baque que ecoou na quietude do casebre. A tempestade rugia lá fora, a chuva caindo com uma intensidade implacável. Olhei para o caos do tempo, as gotas de água se transformando em cortinas de cristal sob a luz difusa das nuvens escuras. Apesar da força da tempestade, não me importava. A necessidade de sair, de clarear minha mente, era mais urgente do que qualquer desconforto que a chuva pudesse me causar. Com uma determinação silenciosa, puxei o capuz da minha capa sobre minha cabeça. A água da chuva começou a bater com força contra o tecido, mas não consegui sentir seu peso sobre mim. Em vez disso, senti um alívio crescente enquanto caminhava para fora, a chuva se tornando uma companhia reconfortante.
Cada passo era acolhido pelo som abafado da água caindo, o chão lamacento e escorregadio tornando minha caminhada um pouco mais lenta, mas ainda assim resoluta. As gotas frias da chuva atingiam minha pele, criando uma sensação de frescor e limpeza. Meus pensamentos estavam agitados: o presente enigmático de Selena, a sombra ameaçadora que parecia me caçar, e agora a confusão com Pétrus, justo no momento em que eu finalmente estava tentando me entender com Erik. No meio da minha caminhada, parei. Fechei os olhos por um momento e inclinei a cabeça para trás, permitindo que a chuva caísse livremente sobre meu rosto. Senti a água fria e revigorante descer pela minha pele, um contraste refrescante com o calor da minha raiva e fúria. As gotas da chuva se misturavam com as lágrimas que eu não deixava cair, e o som da tempestade envolvia meu ser, criando uma bolha de solidão e contemplação. A tempestade parecia compreender meu estado de espírito turbulento, sua força e caos refletindo a tempestade interna que eu carregava. Por um breve momento, a chuva ofereceu um consolo silencioso, um espaço para eu me perder e, talvez, encontrar um pouco de clareza.
— Uma delícia de chuva, não é mesmo? — A voz soou inesperadamente, interrompendo a minha tranquilidade.
— CÉUS! — Reagi com um susto, o coração acelerando. — Quem é você?
Perguntei ao homem, cuja figura estava parcialmente oculta por um capuz extremamente grande. Ele tinha uma cicatriz marcante que ia da testa até a bochecha, um traço profundo que parecia contar histórias de batalhas passadas. Seus olhos, de um verde intenso e penetrante, contrastavam fortemente com a escuridão da sua pele, um tom de negro profundo e bonito. Sua aparência sugeria uma idade que não era nem jovem nem velha, um meio-termo que indicava experiência e vivência.
— Meu nome é Koan, majestade. — Ele fez uma reverência com uma elegância calculada.
— Não sou rainha, pelo menos não por enquanto. — Respondi sem rodeios.
— Mas você será. — Ele afirmou com uma convicção inabalável.
— E como você sabe que vou realmente me tornar rainha? — Questionei, uma ponta de ceticismo na voz.
— Porque eu posso ver. — Ele respondeu com um sorriso enigmático.
— Pode ver? — Minha curiosidade foi despertada.
— Você acha que só você e sua linhagem tem poderes, filha das chamas? — Ele disse com um tom de desdém, como se estivesse surpreso com a minha falta de compreensão.
— Você tem poderes? Você... vê o quê?
— Eu vejo o futuro. — Ele fez uma pausa, como se pesasse suas palavras com cuidado. — E posso dizer que em uma de minhas visões, eu já vi essa cena. — Ele se referiu ao nosso encontro.
— Está me dizendo que você viu e sabia que ia se encontrar comigo? — Perguntei, a surpresa evidente na minha voz.
— Sim. — Ele confirmou com uma serenidade imperturbável. — No começo, eu não entendi bem o motivo da visão, mas algumas semanas depois, compreendi através de outra visão.
— E o que você viu? — Minha curiosidade se transformou em uma ansiedade gigantesca.
— Você será a salvação de todos nós. — Ele sorriu, e eu me senti um pouco aliviada com suas palavras, apesar de me sentir assombrada por dentro. — Mas também poderá ser a destruição de todos nós, não somente de Sky, mas de todos os reinos existentes, um a um.
Meu coração acelerou e meu sorriso se desfez instantaneamente.
— Eu não estou entendendo. Eu...
— Você terá que escolher entre a pedra e o espinho; o que você escolher determinará seu destino e o nosso. — Koan explicou com um tom grave.
— De todos os reinos existentes? — Sussurrei, tentando absorver a magnitude de suas palavras.
— Na hora certa, se você prestar atenção, saberá fazer a escolha certa. — Ele alertou, seu olhar sério e penetrante.
— Mas e se eu escolher o errado? Como exatamente vou saber que é o certo a se fazer? Como será essa destruição que você tanto fala? — Perguntei, o medo começando a se infiltrar nas minhas palavras.
Koan ficou em silêncio por um momento, o peso de suas palavras pairando entre nós como uma sombra iminente. A chuva continuava a bater ao nosso redor, uma constante lembrança da tempestade interna que agora se instaurava em mim.
De repente, Koan estalou os dedos e desapareceu em um instante, como se tivesse se dissolvido na própria tempestade. A chuva, que antes caía com força, cessou abruptamente. O ambiente ao meu redor mudou de forma dramática. O lugar que antes estava repleto de árvores e iluminado por um céu limpo agora se transformou em um cenário desolador. Fogo consumia tudo ao meu redor, suas chamas dançando ferozmente e lançando sombras sinistras sobre as ruínas. A fumaça espessa encobria o céu, que estava agora escuro e sem vida, um manto de desolação. O que restava era um campo de devastação: milhões de pessoas estavam caídas, mortas, os corpos amontoados em um mar de destruição. Casas, palácios e reinos haviam sido reduzidos a escombros, suas estruturas desmoronadas e queimadas. Entre os escombros, o trono de meu pai estava partido ao meio, uma visão de perda irremediável. Sua coroa estava caída no chão, suja de sangue, uma mancha cruel de uma realeza obliterada.
Olhei para minha direita e encontrei um espelho em meio à ruína, seu reflexo distorcido pela fumaça e pelas chamas. No espelho, vi uma versão de mim mesma, mas não era a Sky que eu conhecia. Essa versão era diferente, quase irreconhecível. Ela usava um vestido preto, volumoso e elaborado, que parecia absorver toda a luz ao seu redor. Sua cabeça estava adornada com uma coroa chamativa, rica em detalhes macabros e em contraste com a escuridão. Em suas mãos, ela segurava a Estrela da Manhã, agora manchada de sangue, um símbolo sombrio de poder e ruína. A visão no espelho era um reflexo aterrorizante, uma mistura perturbadora de majestade e decadência, e cada detalhe parecia carregar um peso imenso e ameaçador. O caos ao redor se misturava com a imagem inquietante, criando um cenário de pura angústia e desesperança.
— Leon... Leon... Leon... — Uma voz sussurrou, ecoando de forma inquietante no ambiente.
— Foi isso que eu vi. Tudo exatamente assim. — Koan estalou os dedos novamente, seu gesto me trazendo de volta a realidade.
— Não é possível. Eu não sou ela. — Eu me referi à figura de Sky na visão, meu tom de voz carregado de incredulidade.
— Você não é ela, ainda. Mas isso não quer dizer que esse será seu destino, Sky. — Koan falou com uma calma firme. — Você ainda tem o poder de mudar o curso dos eventos e evitar que tudo isso aconteça.
— E existem mais pessoas como eu? Quero dizer, mais como nós? — Perguntei, minha mente girando em torno da revelação de Koan.
Koan segurou minha mão com a mesma firmeza que Magia, uma conexão que parecia transcender o físico. Com um gesto quase mágico, ele me conduziu a uma nova visão. Diante de mim, apareceu uma garota com os cabelos rosa, sua figura destacando-se em meio a uma multidão tumultuada, como se estivesse no centro de uma grande batalha. Ela ergueu as mãos para o céu, e uma série de raios intensos e eletricidade pura emanaram delas, iluminando o ambiente ao redor com uma energia bruta e dinâmica. Ao seu lado, um garoto com cabelos amarelos corria com uma agilidade impressionante. A velocidade com que ele se movia era quase impossível de seguir com os olhos. Em uma fração de segundo, ele desviava de ataques, sua figura borrando-se como uma sombra veloz entre as nuvens de poeira. Sua rapidez parecia desafiar as leis da física, tornando-o quase invisível àqueles que tentavam atingi-lo. A cena era uma exibição poderosa e coordenada de habilidades sobrenaturais, uma dança frenética de eletricidade e velocidade, que deixava claro que esses jovens possuíam dons extraordinários e estavam envolvidos em uma luta de proporções épicas. A visão de Koan não apenas destacava suas habilidades individuais, mas também insinuava uma conexão profunda entre esses indivíduos e os desafios que enfrentariam.
— Ivy e Lucious. — Sussurrei, soltando a mão de Koan com uma sensação de espanto.
— Eles irão te ajudar. — Koan respondeu com uma calma enigmática.
— Como? — Perguntei, ainda insaciável de informações.
— Não posso ver tudo com precisão. Descubra por si mesma, majestade. Você tem a capacidade para isso. Vida longa à rainha. — Com essas palavras, Koan desapareceu novamente, deixando-me com uma sensação de abandono.
Dessa vez, não foi uma visão passageira; ele realmente havia partido. Olhei ao redor, observando a tempestade que continuava a se desenrolar, com a chuva caindo incessantemente. O cenário era uma vastidão de água e sombras, sem sinais da presença de Koan ou qualquer outra forma de vida. Ajustei minha capa, que estava encharcada e pesando sobre meus ombros. Joguei meu cabelo molhado para trás, tentando afastar as gotas de chuva que escorriam pelo meu rosto. Voltei em direção ao casebre da avó de Pétrus, determinada a retomar minha busca. Cada passo que dava na chuva parecia intensificar a sensação de urgência. Eu preciso encontrar a flecha.
Hey After's gostaram?
Bom o que quero saber mesmo é qual shippe conquistou o coração de vocês?
Alik (Alina e Erik) ou Pelinna ( Pétrus e Alinna)? Contem para mim ❤
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