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2| sumiços e mordidas

Any Gabrielly

— Minha nossa, cadê você dentinho? — falei comigo mesma, já desesperada. Não sabia mais o que fazer para tentar encontrar meu neném.

Olhava em cada canto de casa e pela rua onde eu morava, ele não estava em lugar algum, nem sequer latia quando eu chamava.

— Dentinhoooooo — dei um grito no meio da rua e esperei. Nada de novo, quis chorar.

Vi Sabina vindo com cara de derrota e meu coração apertou, ela também não teve sucesso.

— Não achou ele ainda? Eu tive esperança que você já tivesse o encontrado quando não achei ele no parque. — falou coçando a cabeça.

— Aí Saby, eu não sei o que eu vou fazer sem ele! Isso não é nem uma opção, o dentinho é minha família — falei já chorando.

— Ei, calma! Vamos achá-lo! Que tal perguntarmos aos vizinhos se eles não viram alguma coisa? — até que a ideia não era ruim!

— Sim, pode ser! E enquanto você vai falando com alguns vizinhos, eu vou ligar pra polícia.

— Ué mas porque? Isso é exagero Any, a polícia não atende casos assim! — falou Saby bufando.

— Claro que atende, afinal é um caso de desaparecimento! — falei séria, já indo em direção a minha casa para ligar para o 911.

— Maluca! — ouvi Sabina gritar.

Entrei em casa rapidamente e fui direto na direção do meu celular, peguei e digitei o número do serviço de emergência. Comecei a roer a unha enquanto esperava o atendente.

— 911, qual a sua emergência? — falou a atendente no outro lado da linha.

— Gostaria de fazer um boletim de ocorrência sobre um desaparecimento. — falei angustiada.

— Ok, primeiro me diga o seu nome completo e seu endereço por favor.— me pediu e eu passei rapidamente.

— Quem é a pessoa que desapareceu, o nome e a idade por favor e quando foi o último contato que teve com a pessoa? — perguntou enquanto dava para ouvir no fundo o som das teclas do computador em que ela digitava.

— Ele é um cãozinho pinscher, tem apenas 1 aninho e está sem identificação! Eu tirei a coleira para dar banho e acabei esquecendo de colocar de volta. O último contato que tive com ele, foi quando o encanador veio aqui em casa prestar um serviço e acabou por deixar a porta aberta, o que deu a brecha para ele sumir. Mas um pouco antes de ver que ele fugiu percebi que ele estava agitado com o encanador!

— Senhorita deixa eu ver se eu entendi, está ligando para o serviço de emergência para anunciar o desaparecimento de um cão? — perguntou a atendente parecendo um pouco irritada. — nós não somos do abrigo de animais! Cuidamos de casos reais e sérios aqui!

— Sim, eu sei, mas também sei que a polícia investiga sim, casos de animais domésticos desaparecidos. — falei rápido antes que ela decidisse desligar.

— Só quando há indícios de que o animal foi roubado de dentro da sua residência e como esse não foi o caso, recomendo que procure outro tipo de serviço e não ocupe as linhas do serviço de emergência novamente, tenha um bom dia! — e assim, finalizou a chamada.

Me vi sem esperança e comecei a chorar novamente, estava cada vez mais difícil saber se eu iria vê-lô de novo.

Maldito encanador, sabia que ele não era boa coisa quando tentou me cobrar a mais só porque eu era mulher, ele achou que eu não sabia quanto custava a média do serviço que ele estava prestando. Quando viu que eu não iria pagar o valor absurdo que ele cobrou ficou com raiva e saiu deixando a porta aberta e o serviço pela metade.

Sei que eu estou errada por me recusar a pagar o valor, porque cada trabalhador tem seu preço de mão de obra, mas eu já tinha pesquisado o preço antes. Um vizinho meu já fez o mesmo serviço com ele! Coisa que é impossível de ele ter aumentado o preço de subitamente.

Logo após o encanador sair soltando fogo pelas ventas e me xingando de tudo quanto é nome, eu estava ocupada demais tentando conter o cano de água que ele deixou aberto para tentar me matar afogada. Nem percebi que ele havia deixado a porta aberta.

Isso se não foi ele que sequestrou o Dentinho, como algum tipo de vingança e daqui a pouco vai me ligar tentando me fazer pagar pelo serviço pra devolver meu filho. Talvez eu devesse ligar para a polícia de novo e contar sobre essa minha teoria.

Mas antes que eu tivesse a chance de tentar ligar de novo, Sabina entra correndo, chamando minha atenção.

— Acho que eu sei aonde ele está! — falou rápido.

Segui ela para fora de casa sem nem pensar duas vezes, andamos algumas quadras e logo paramos em frente ao muro da mansão do meu novo vizinho.

— Acho que ele está aí dentro! — falou Saby apontando para a casa.

— Acha que o vizinho pegou meu cachorro? — perguntei meio incrédula — sei que ele parece meio esnobe e de não gostar de gente mas roubar animais de estimação não me parece ser algo que ele faria.

— Não sei Any, mas tenho quase certeza de que ele está lá dentro!

— Como pode ter tanta certeza? — perguntei cruzando os braços — é mais capaz o Dentinho ter voado por cima do muro, do que um vizinho raptasse meu cachorro fugitivo.

— A senhora Hummel disse que mais cedo achou ter visto o Dentinho circulando por essa área, mas como tava com pressa acabou não olhando direito! Aí, comecei a procurar por aqui e ouvi o latido dele vindo daqui. Te juro!

Respirei fundo e tentei chamar de novo, dessa vez obtendo resposta com um latido finhinho do meu neném.

Eu e Sabina nós olhamos e e falamos ao mesmo tempo: — Dentinho!

Pedi para Saby se abaixar um pouco para eu conseguir pegar impulso para subir no muro ver se realmente era Dentinho ali.

— Anda logo, que essa sua bunda pesa e sua sandália tá me machucando — Sabina falou mal humorada.

Eu apenas revirei os olhos e continuei tentando escalar aquele maldito muro. Pra que ele fez esse negócio tão alto meu Deus!

Finalmente consegui subir e olhar do outro lado, vendo o meu menininho deitado num buraco dentro do jardim do vizinho, mas o que mais me chamou a atenção foi que, Dentinho estava rodeado por grades de metal, como se fosse uma jaula grandinha.

— Saby, agora eu entendi porque o Dentinho não voltou, o vizinho sequestrou meu filho! Eu vou arrebentar a cara desse homem. — falei revoltada.

Desci o mais rápido o possível e caminhei determinada a dar uns tapas naquele safado ladrãozinho de cães.

Bati o mais forte que conseguia na porta do miserável.

— ABRA ESSA PORCARIA AGORA! SEI QUE ESTÁ EM CASA NÃO ADIANTA FINGIR. — gritei e Sabina me ajudava com as batidas.

— JÁ VAI! — gritou de volta e logo abriu a porta — Mas o que diabos é isso? Vocês estão ficando malucas? — perguntou irritado.

Me confundo um pouco ao ver o homem loiro parado a minha frente, mas logo volto ao foco e irrompo.

— Eu não fiquei maluca mas tenho certeza de que você sim! — ele me encarou confuso — você roubou o meu cachorro!

— De que cachorro você tá falando? Acho que está confundindo a casa! — disse cruzando os braços.

— O meu pinscher que eu acabei de ver no seu quintal! Não tenta me enganar, que eu não sou idiota! — falei olhando bem na cara dele e me segurando pra não dar um murro no nariz do panaca.

— Ah! Você diz o diabo da Tasmânia que invadiu a minha casa, destruiu meu jardim, comeu minhas rosas, mijou no meu sofá e tentou me atacar? Esse diabo da Tasmânia? — perguntou irônico enquanto numerava as bagunças que meu filho tinha feito. Mas que droga, Dentinho!

— Esse mesmo, será que dá pra devolver meu neném? — ele bufou mas abriu passagem para entrarmos na casa, olhei pra Sabina que estava estranhamente comportada e falei: — por que está tão quieta?

— Ué, queria ver o barraco! Eu é que não ia interromper a minha diversão. — falou rindo e eu revirei os olhos.

Seguimos o homem até o quintal dos fundos da mansão dele, que devo ressaltar, é bem bonita. E lá, vi Dentinho, que quando me viu ficou agitado tentando sair da jaula improvisada para me cumprimentar.

— Porque você enjaulou meu filho? — perguntei irritada para o homem.

— Por que esse animal não parava de tentar me morder e bagunçar minhas coisas! Queria que eu colocasse ele aonde? — falou grosso.

— O único animal que eu tô vendo é você, que prendeu um bichinho que não sabe falar sem água e comida por horas! Isso sem contar que sabe se lá Deus os maus tratos que deve ter feito com elezinho. — falei apanhando Dentinho no colo e lançando meu olhar mais ameaçador pra aquele homem ranzinza.

Ele pareceu se revoltar ainda mais comigo, e disse: — deveria ser grata por eu não chamar o controle de animais para esse bicho — falou apontando o dedo diretamente na cara de Dentinho.

O que era uma péssima ideia, por que logo depois, Dentinho deu uma bocada no dedo do homem.

— Mas que merda! Esse demônio de cachorro me mordeu! — ele segurava o dedo sangrando enquanto Dentinho se tremia todo tentando se soltar para morder bem mais do que só o dedo dele.

Arregalei os olhos e soube que esse, com certeza era o momento de ir embora, antes que desse mais alguma coisa errada.

— Bem, obrigada por ter tentado cuidar do Dentinho e não tê-lo jogado na rua, até mais! — falei o mais rápido que pude e dei no pé.

Vi que ele até estava tentando falar alguma coisa mas estava mais ocupado tentando conter o pequeno sangramento da mordida.

Dentinho ainda iria fazer este homem me processar.

Olhei pra trás a tempo de ver Sabina mal aguentando andar de tanto rir e o homem nos xingando e fechando a porta da própria casa com toda a força que tinha.

Merda, agora o vizinho já me odiava.

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