10| negação e perguntas
✨Any Gabrielly✨
Havia se passado uma semana inteira que eu evitava meu vizinho, tentando miseravelmente esquecer que um dia aconteceu algo entre nós dois, mesmo que eu não me lembre exatamente o que.
Nesse meio tempo, muitas coisas mudaram já que se passou um mês, contando todas as últimas quatro semanas.
Só falta mais dois meses para meu pai poder apelar para sair da prisão e vir atrás do dinheiro que ele acha que é dele.
Sabina começou a sair com um cara que parece ser bacana, pela primeira vez depois de muito tempo.
Noah se mudou pra cá e fez uma mini reforma no antigo quartinho da bagunça, aonde agora fica um quarto incrível e espaçoso.
E eu retornei depois das minhas férias, a Colburn School, onde sou professora de canto a dois anos, e devo admitir que senti muita falta de lecionar.
E é claro, o retorno da minha ansiedade, que na verdade nunca me abandonou.
Venho tendo cada vez mais crises de pânico. E ficando cada vez mais inquieta.
Tento sempre focar nas coisas positivas e boas, me encher de tarefas durante o dia a dia mas nem isso está sendo o suficiente ultimamente.
Meus problemas estão cada vez mais se acumulando e aumentando e eu simplesmente não consigo quebrar o ciclo vicioso que é, eu ignorar e deixar pra resolver depois.
Eu estava exausta de procrastinar tanto, e resolvi começar a agir.
Me levantei da cama aonde estava deitada com Saby e vi Noah, todo torto no chão. Enquanto Dentinho estava deitado todo estirado aonde deveria ser o lugar de Noah.
Não pude deixar de rir.
Me levantei rápido e senti uma pontada na cabeça que fez minha visão ficar turva.
Maldita noite mal dormida.
Fiquei estática por alguns instantes até que minha cabeça parasse de girar.
Fui pra cozinha enquanto me espreguiçava e tentei ignorar a vontade de me deitar novamente.
Eu estou bem, eu consigo lidar.
Eu repetia pra mim mesma enquanto ia preparando o café e dando um jeito na cozinha.
A casa estava uma bagunça e o cúmulo da imundície, ou seja, logo depois de terminar o café preenchi meu tempo faxinando minha casa.
Sabina e Noah acordaram, e foram tomar o café deles, enquanto eu continuava faxinando cada cantinho da casa.
Pouco tempo depois todos nós nos juntamos e fomos faxinando juntos.
Aquele de perto foi um dos poucos dias bons pra mim.
Ou pelo menos estava sendo, até alguém começar a bater incessantemente na minha porta.
Fui andando tranquilamente até a porta e abri sem checar, mas quando percebi quem estava do outro lado quase desmaiei e fechei a porta rapidamente.
Merda, mil vezes merda.
Ele bateu na porta novamente e eu gritei para ele ir embora.
— Any, por favor! Aja como adulta e abra a porta, sim? — tentou.
— não quero — neguei com a cabeça mesmo sabendo que ele não conseguia ver.
— eu estou com algo que te pertence.
— e o que seria?
— abra a porta e veja!
— Não vou cair nessa, Joshua te enviou aqui por um acaso? — ele bufou e não respondeu.
Eu vinha conseguindo evitar Josh fazia uma semana inteira, mas ele sempre tentava vir conversar comigo, mesmo eu dando um perdido nele.
Pelo visto ele mudou a tática e mandou o amiguinho atrás de mim.
— por favor Any, ele quer falar de algo importante com você! Dê pelo menos uma oportunidade de ele se explicar...
— se explicar pra que? Não estou com raiva, eu estou é com vergonha de olhar pra ele e saber que não me lembro de nada — falo através da porta e encaro Sabina e Noah me olhando.
— então converse com ele, provavelmente ele deve saber de tudo o que aconteceu e te esclarece! Agora abra a porta e venha.
Bufei irritada, odiava me sentir pressionada a fazer qualquer coisa.
Me desencostei da porta e a abri, procurando por qualquer sinal de Joshua.
E quando vi somente Krystian ali, suspirei aliviada mas logo me lembrei que talvez isso fosse uma armadilha e dei um passo para trás.
— aqui, isso é seu! — falou me estendendo um envelope muito bonito e arrumado.
Peguei com calma e abri devagar com medo de estragar o trabalho bem feito.
Era um convite para uma festa chique na casa deles que foi aberta para a toda vizinhança, uma festa onde Joshua era o anfitrião.
Franzi o cenho e estranhei, já que quando nós nos conhecemos ele foi super rude e odiou tanto a recepção de boas vindas da vizinhança que bateu com a porta na nossa cara.
— acho estranho um cara como o Joshua, que bateu com a porta na nossa cara, estar querendo dar uma festa e levar vários estranhos para dentro da sua casa. — falei estreitando os olhos na direção de Krys. E ele por sua vez me olhou meio culpado.
— bem, ele meio que ainda não sabe que eu convidei a vizinhança mas aposto que não vai se importar muito... — eu custava muito a acreditar naquilo, mas Sabina surgiu do além e puxou o convite da minha mão e se dirigiu a Krys.
— pode deixar querido, nós vamos com certeza. — ela sorriu para ele e ambos se despediram rapidamente, assim que Krystian se afastou, eu fechei a porta e me virei para Sabina.
— eu não vou a lugar nenhum Sabina — olhei para Noah que estava distraído limpando e abaixei o tom da minha voz — esqueceu que eu estou evitando Joshua desde o leilão, exatamente porque nós dormimos juntos e eu não me lembro do que aconteceu.
Ela revirou os olhos.
— deixa de ser imatura, se você quer tanto saber o que aconteceu vá até essa festa e pergunte na cara dele. Deixe de ser uma medrosa e tome o rumo da sua vida, eu não vou deixar mais você fugir dos seus problemas. Nós vamos e ponto. — bufei quando Sabina me deu as costas, guardou o convite e voltou a limpar a casa.
Eu ainda achava aquilo uma péssima ideia.
Tentei fugir de todas as formas durante o dia, para poder arranjar a desculpa perfeita e não ir a tal festa. Mas Sabina me conhecia e nem me deu atenção, me forçando a me arrumar e ir com ela de acompanhante para a festa.
Graças a Deus, Noah estaria cantando no pub hoje e não iria a festa. Ele nem sequer deu muita atenção quando falamos com ele, e eu quase desmaiei pensando na possibilidade de ele aceitar o convite e ir com a gente para a casa do homem estranho que conseguiu o colar que gerou boa parte da confusão em sua vida no dia do leilão e ainda por cima, me levou para a cama com um consentimento duvidoso da minha parte, já que eu estava bêbada.
Sabina estava empolgadíssima com todas as possibilidades da noite, e se arrumou com afinco.
Seu vestido azul circulava seu corpo e modelava suas curvas latinas. O cabelo estava num penteado bonito mas não tão exagerado, assim como a sua maquiagem.
Ao me ver desanimada e ainda arrumando mil e uma desculpas para não sair essa noite, ela me obrigou, como uma verdadeira mãe mandona, a me arrumar. Assim, tanto eu quanto ela, estávamos nada menos do que deslumbrantes. Devo ressaltar que graças a ela, já que foi ela que me arrumou.
Saímos de nossa casa e fomos andando algumas quadras, e eu ia me encolhendo cada vez mais de vergonha.
De longe eu via a casa sinuosa acessa e bem movimentada com vários convidados chegando.
Puxei Sabina forçando ela a parar de andar e dar alguns passos para trás para me alcançar.
— eu não vou Sabina, é uma péssima ideia — meu estômago revirou de nervoso assim que vi um casal vestidos com uma roupa que deveria ser mais cara que minha casa, entrando no local.
— a mas você vai sim, nem que eu tenha que te arrastar até lá pelos cabelos Any — eu tremi um pouco com a ameaça de Sabina, ela sabia ser sinistra quando queria, e pelo o que conheço dela, sei que não está brincando.
— Saby, por favor! Veja como eu estou suando de nervoso, vamos embora. — Supliquei mais uma vez, afinal a última festa que eu fui acabou resultando numa bebedeira desenfreada da minha parte que acabou me levando ao meu destino final, a cama do meu vizinho.
Chacoalho a minha cabeça tentando me livrar de qualquer ideia que eu tente imaginar na minha mente fértil, para tentar me explicar o que houve naquela noite. Vou esperar as respostas do meu vizinho, se eu tiver coragem de encará-lo.
Podem até me chamar de irresponsável por não me lembrar de ter transado com praticamente um desconhecido mas aquilo, nunca tinha me ocorrido. Sempre que eu bebi e passei um pouco mais do ponto eu ainda assim costumava me lembrar com coerência e precisão o que aconteceu no outro dia. E eu nunca tinha dormido com um cara estando bêbada. Eu estava completamente assustada com o meu comportamento e não confiava mais em mim mesma.
Sabina ainda estava me olhando seriamente, provavelmente pensando em como arrancaria meus cabelos um a um.
— Any, eu não quero ser a chata e nem a vilã. Mas eu sei que se os papéis fossem invertidos, você faria o mesmo por mim. Sei que você não tem estado bem por esses dias desde o leilão, e isso tem a ver com a sua falta de memória com o que aconteceu aquela noite. Sei que você é completamente neurótica quando quer, mas é você mesma que está fugindo das respostas, e se você realmente quer saber o que houve, você tem que tomar uma decisão agora. — disse me dando um ultimato. — ou vai comigo e descobre tudo o que quer saber, ou volta pra casa e acumula mais um problema sem necessidade nessa sua cabeça, e acaba somatizando tanto que acaba sendo engolida. Você decide.
Eu me senti uma inútil, e abaixei minha cabeça querendo chorar.
Não por Sabina ter falado tudo na minha cara, e sim, por eu saber que ela tem razão e eu estar deixando minha ansiedade tomar conta das minhas decisões. Mais uma vez.
Respirei fundo e limpei rapidamente a lágrima que cai do meu olho. Pegando o braço dela e praticamente a arrastando em direção a festa, num lapso repentino de coragem.
Seja o que Deus quiser...
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