Um dia no píer
"Não há nada como a respiração profunda depois de dar uma gargalhada. Nada no mundo se compara à barriga dolorida pelas razões certas."
-As Vantagens de Ser Invisível
Atualmente,2018.
(CARLYN)
—Maya...volta aqui.—digo andando apressada atrás da garotinha que havia corrido com o meu batom preferido. Olhei nos quartos da minha casa porém logo corri atrás dela quando vi suas pequenas pernas passando pelo corredor de quartos.—Maya! Não vá para a escada!—lhe adverti correndo atrás da mesma que foi para aonde? Escada.
Quando cheguei no topo da escada, Maya se encontrava no meio dela descendo em direção à sala.
Regra número 5) se a criança estiver em um local perigoso não lhe assuste, seja cautelosa.
Segui a regra número 5 que havia no livro de Como cuidar de uma criança no qual Zoe havia me entregado assim que passei a cuidar de Maya quando ela não se encontrava, que é a ocasião.
Zoe trabalhava todos os dias como assistente em uma clínica no centro de Toronto e a única pessoa disponível para cuidar de Maya, sua filha de 3 anos, era sua avó ou eu. Todavia, sua avó sofreu um acidente doméstico e acabou por quebrar um dos braços então Zoe teve que se mudar temporariamente para Pickering para auxiliar sua avó e isso lhe custou o emprego na clínica. A sorte é que meu pai ainda tem alguns contatos com os restaurantes que trabalhava quando ainda vivia em Pickering e quase que de imediato conseguiu um emprego para Zoe de garçonete e por incrível que pareça esse novo emprego paga melhor do que o outro, e também ela não precisa trabalhar todos os dias, apenas três vezes por semana e a única pessoa no qual está disponível para cuidar de Maya nesse curto período sou eu já que sua avó está impossibilitada até mesmo de escovar os dentes sozinha.
Quando vi Maya já havia terminado de descer as escadas com muito cuidado, como a titia aqui ensinou, e logo me apressei para correr atrás dela. Possíveis situações do que aconteceria com o meu batom se passava pela minha cabeça e nenhuma delas terminava comigo sorrindo. Eu não poderia perder aquele batom de forma alguma, maldita hora em que Maya foi vasculhar minha bolsa.
—Ok...a titia cansou de correr, por que você não para e vamos conversar igual duas adultas?—perguntei quando ela sobe no sofá e começa a pular com aquele sorriso travesso nos lábios, meu batom com a embalagem de lantejoulas roxas coladas voa pelo ar de acordo com que ela pula.
—Eu vou jogar ele...—ela ameaça sorrindo diabolicamente.
—Maya..a titia te ama, é o meu batom preferido, ele é especial pra mim.—digo me aproximando cautelosamente do sofá.—Eu prometo, que te dou quantos batons quiser se você me devolver.
—Eu não quero um batom.—ela disse entre uma gargalhada.
—Ok...o que você quer? Só me diga...—a essa altura meu tom já estava desesperado e me senti como se estivesse dentro de um filme de ação onde estou negociando a vida da minha família com um cafetão.
—Ir para o píer!—ela grita jogando seus braços pra cima em comemoração e juro que escutei meu coração parando de bater ao pensar que o batom havia voado.—Comer algodão doce, churros, correr, balões da Barbie!—ela foi dizendo. Garota manipuladora.
—Ok...nós vamos.—digo, já estava pensando nisso até porque passamos o dia quase todo sem fazermos nada.
Estendi minha mão para ela devolver meu batom mas sua atenção foi tomada pela janela ao lado da porta e em fração de segundos ela pulou do sofá e jogou meu batom para cima fazendo um grito agudo escapar dos meus lábios enquanto eu literalmente me joguei em cima do sofá para poder aparar a pequena embalagem que caía , me senti novamente na merda de um filme de ação onde a protagonista heroína precisa se jogar contra o piso sujo para poder pegar no ar o objeto que salvaria o mundo após o vilão jogá-lo sem mais nem menos. Um suspiro escapou dos meus lábios quando me encontrei deitada de barriga para baixo no sofá e com o batom em mãos, senti como se meu coração voltasse a bater novamente mas não por muito tempo.
—Titia, tem um moço bonito aqui fora.—minha atenção se voltou para Maya que está pulando no chão na tentativa de ver alguém pela janela.
1)ela não deveria saber o que "moço bonito" significa
2)ela provavelmente ouviu essa frase sair dos meus lábios e Zoe me matará se ela falar novamente
3)o único moço bonito da vizinhança se chama Shawn Mendes
A não ser que ela esteja se referindo ao Senhor Vinicius, um brasileiro de 40 anos com a pele bronzeada e uma barba tão perfeita que me faz questionar se a sua única ocupação dele do dia é fazê-la. O restante da minha vizinhança ou são homens de meia idade como o Tio Manuel e o Senhor Joe do final da rua, ou são velhos que nem ao menos saem de casa. Ou seja, o único homem sobrando para ser considerado "moço bonito" começa com a letra S.
Levanto do sofá indo em direção a janela para conferir enquanto sinto minhas pernas tremerem levemente. Tudo bem que estou no meu projeto de "não odiar Shawn Mendes" porém ainda não sei se estou preparada para vê-lo tão rapidamente, não depois da noite passada e da discussão que tivemos, com certeza foi a conversa mais longa que tivemos desde que ele voltou e grande parte dela se resumiu comigo gritando no rosto dele e querendo afundar sua cabeça na piscina.
Sim, é ele.
Quando cheguei na janela, Shawn estava prestes a bater na porta todavia seu pulso parou no ar assim que me viu pela janela e suas bochechas ganharam uma coloração rosada, ele deve estar pensando que estou o observando à horas para ter essa reação. Limpei o suor das minhas mãos na calça jeans preta que uso e fui até a porta a abrindo logo em seguida enquanto Maya vinha atrás de mim.
—Eu já disse para sua mãe colocar uma cortina nessa janela assim ninguém poderá ver se vocês estão em casa ou não, dessa forma apenas facilita o trabalho dos assaltantes.—ele disse assim que abri a porta e deixei um sorriso escapar dos meus lábios, sempre que ele dava início a uma conversa que sabia que teria um clima tenso ele começava com um assunto aleatório.
—Eu tenho certeza que cortinas não irão impedir de sermos assaltadas.—digo sorrindo de lado e sinto a mão de Maya segurar minha perna direita.
—É...provavelmente está certa.—ele disse em um tom baixo.
—Eu estou certa.—garanti e logo vi um sorriso sem dentes ser formado em seus lábios. Segui meu olhar para suas mãos que se encontram dentro dos bolsos de sua jaqueta jeans, seus pés o balançam para frente e para trás e seus olhos parecem que não sabem se deve olhar para meus olhos ou minha boca, ele está nervoso.
—Isso é...—ele começou a dizer em tom de pergunta caindo seu olhar na embalagem que eu segurava em mãos.
Merda, merda, merda.
—Você ainda tem ele.—ele disse como se tivesse tirado uma conclusão e quase que de imediato entrei em desespero. Seus olhos pareciam que havia ganhado um brilho à mais e os cantos de seus lábios se moveram formando um pequeno sorriso.
—Ah...eu estava vasculhando o sótão do meu quarto com a princesinha aqui e acabei achando em uma caixa velha.—menti forçando um sorriso nos lábios. Por sorte meu tom saiu convicto e não gaguejei em nenhum momento, quando você entra em uma reabilitação a primeira coisa que aprende é a mentir sobre estar sóbrio.
—Mentira! Eu que achei na sua bolsa.—a voz fininha de Maya alcançou meus ouvidos.
Puta merda, garota.
Shawn olhou para a garota que antes estava agarrada em minha perna e agora me olhava com uma feição furiosa como se eu tivesse roubado o seus créditos de ter encontrado o batom, ele parecia que só agora havia notado a presença da garotinha e seus olhos brilharam ao vê-la. Logo em seguida, Mendes voltou com o seu olhar em minha direção erguendo as sobrancelhas e com um sorriso estúpido e convencido nos lábios.
—Ah foi? Então você fez um ótimo trabalho.—Shawn voltou sua atenção para Maya e o mesmo ficou de joelhos no chão para ficar na altura da garota, o rosto de Maya se iluminou por finalmente ter a atenção do "moço bonito" pra si.—Posso te contar um segredo? Fui eu que dei à ela o batom.—Shawn disse sussurrando como se fosse um enorme segredo.
—Sério?! Onde você conseguiu comprar um batom com lantejoulas?—ela perguntou animada.
—Eu que colei, ela costumava gostar de glitters e lantejoulas então resolvi fazer algo diferente.—ele explicou dando de ombros e o rosto de Maya se iluminou mais ainda com a informação.
Meu coração está batendo rápido, talvez por ter as memórias frescas em minha cabeça do dia em que ele me deu aquele batom idiota após eu ter uma das minhas crises de baixo autoestima, ele disse que leu em algum lugar que maquiagem fazia algumas pessoas se sentirem melhores consigo mesmas mas que eu não poderia depender dela, maquiagem serve para realçar sua beleza e não para se esconder por trás. Acho que meio que faço isso até hoje, teve um começo que eu passei a me esconder mas depois que sai da reabilitação tudo parece ter melhorado, minha anorexia, minha baixo estima, meu problema com bebidas, tudo.
—E ela gostou quando você deu o batom?—Maya perguntou interessada. Contive a vontade de rir.
—Ela disse que parecia um carro alegórico.—ele disse com um sorriso divertido no rosto e acabei sorrindo também com a lembrança.
—Tenho certeza que ela gostou, titia disse que é o batom preferido dela e que é especial.
Oh merda,merda,merda.
—Eu não diss...—antes eu que terminasse de desmentir a língua grande de Maya me interrompeu.
—Mentir é feio titia, você disse sim.—ela me lançou um olhar como se fosse a adulta da situação repreendendo a criança que no caso sou eu. Shawn sorriu novamente, não me lembro da última vez que havia o visto colocar um sorriso tão grande no rosto, certeza que ele deve estar se controlando para não rir da minha cara.
—Você disse, Carlyn?!—ele perguntou me olhando como se achasse graça da situação. Ele quer me ouvir admitir, filho da mãe.
—Hm...por que você veio até aqui mesmo?—mudei de assunto no mesmo instante e seu sorriso pareceu se alargar em divertimento enquanto ele se retira do chão e volta a ter a mesma altura que eu.
—Minha mãe mandou eu vim pedir o livro de receita da sua mãe.—ele disse ainda com o sorriso no rosto. Ele deve estar amando isso.
—Tire esse sorriso do rosto.—o ameacei com o dedo indicador enquanto dava as costas pra ele indo em direção à cozinha. Me permiti sorrir sabendo que ele estava atrás de mim e não poderia ver mas logo parei ao ver que Maya me acompanhava logo ao meu lado e era capaz de lançar um "titia, por que está sorrindo como se tivesse visto uma borboleta?"
Ouvi a risada de Shawn assim que o ameacei mas logo foi interrompida pela porta fechando. Como imagino que ele esteja vindo atrás de mim vou logo para a cozinha.
—Pensei que o livro de receitas estivesse com a Karen dessa vez.—comento adentrando na cozinha e como de imaginar não tive respostas dele. Minha mãe e Karen tem essa coisa de compartilhar o antigo livro de receitas do meu pai, como o último jantar foi na casa dos Mendes então presumi que estava com ela, Karen sempre preferiu as receitas do meu pai e minha mãe diz que se aquele livro ficar por muito tempo em nossa casa ela vai acabar jogando no lixo como fez com todas as coisas do meu pai após o divórcio, acho que ela não fez ainda isso porque o babaca do meu pai tem ótimas receitas que não merecem serem desperdiçadas.
—Titia, quero água.—Maya choraminga entrando na cozinha junto comigo.
—Titia?! Pensei que Taila tinha 15 anos.—Shawn comentou. Deus, a voz dele está tão intensa.
—Ela tem.—ele sabe que ela tem, é impossível de esquecer já que minha irmã nasceu no mesmo ano que Aaliyah.—Maya é filha da Zoe, minha melhor amiga.—respondo enquanto vou até a geladeira com uma caneca já em mãos.
—Como é o seu nome?—a garotinha perguntou em direção ao Shawn, certeza que ela só estava esperando ele saber o nome dela para poder perguntar do jeito que é curiosa.
—Me chamo Shawn, prazer.—quando me virei na direção deles com a caneca já com água encontro Shawn apertando a pequena mãozinha de Maya como se eles estivessem selando um negócio.
—Vem.—chamo Maya após colocar a caneca em cima do balcão e a pego nos braços logo em seguida a colocando sentada na cadeira.
—Eu acho que já ouvi seu nome.—ela disse e não pude ver a reação dele pois lhe dei as costas para procurar o livro nos armários.
Ah ela já ouviu esse nome, centenas de vezes quando eu tinha meus ataques de fúria e gritava com Zoe sobre o quanto o odiava. Infelizmente, Maya conviveu com esse nome desde que ainda era um feto se formando na barriga de Zoe.
—Provavelmente já, eu sou famoso.—ele disse em um tom convencido.
—Convencido.—deixei escapar dos meus lábios e em resposta tive uma gargalhada vindo da parte dele.
—Você é tipo a Barbie?!—eu ri, eu ri muito.
Eu ri tanto que minha barriga doeu e precisei me apoiar no balcão dos armários porque perdi o fôlego. Shawn não estava muito diferente de mim, quando me virei na direção dele encontrei um Shawn vermelho e rindo com a cabeça jogada pra trás enquanto isso Maya olhava entre eu e ele como se fôssemos alienígenas.
—Eu não entendi...—Maya diz ainda confusa enquanto eu tento me recuperar do ataque de risos. A forma que a Maya perguntou se ele era tipo a Barbie foi como se ela tivesse acabado de conhecer os vingadores.
—A Barbie canta?—ele perguntou e logo Maya assentiu.—A Barbie tem um empresário?—a garotinha confirmou novamente.—Ela tem fãs?—mais uma confirmação.—Então eu sou a Barbie.—ele confirmou em um tom superior.
—Mas você não é loiro, não tem os olhos azuis e é um garoto.
—Ele é tipo...a Hannah Montana, a Hannah Montana parece com a Barbie, certo?!—perguntei em direção da minha sobrinha que confirmou ainda confusa.—E a Miley parece com o Shawn, certo?!—Maya confirmou freneticamente e com um sorriso animado como se tivesse entendido a lógica.
—Meu deus! Você é como a Hannah Montana! É por isso que não está loiro, né? Porque você não está nos palcos, titia! Ele é a Hannah Montana.—Maya disse isso de uma forma tão animada e esperançosa que eu senti uma pontada de culpa em meu peito, eu deveria contar que ele de fato não era a Hannah Montana mas não tive coragem e muito menos Shawn.
—Isso aí! Você entendeu!—ele disse admirado e logo em seguida escutei o estalo de duas mãos se batendo.
Consegui encontrar o livro de receitas do meu pai na terceira gaveta e logo o deixei em cima do balcão onde Shawn e Maya estavam sentados.
—Aqui está, Mendes.—digo empurrando o livro em sua direção.
—Você já vai?—Maya perguntou em direção à ele e vi um beicinho se formando em seus lábios e o canto dos seus olhos decaíram.
—Já sim pequena, eu vim só buscar isso.—Shawn disse já se levantando da mesa junto com o livro.
—Titia, convida ele para ir junto com nós ao píer.—Maya sugeriu animada. Com certeza não.
—A Hannah Montana aí é muito ocupada e deve...—não tive a chance de completar o meu "e deve ter algo pra fazer" pois fui interrompida.
—Na verdade, estou com a tarde inteira livre.—ele respondeu sorrindo em direção á Maya.
Merda.
(...)
E foi assim que acabei usando todas as roupas possíveis em meu corpo por conta do frio do final da tarde em Toronto e mantendo toda a minha atenção possível em Maya que a cada segundo corre para uma direção possível do píer enquanto ainda tenho que me preocupar com a presença do Mendes que está se dando super bem com Maya, a garotinha literalmente esqueceu da minha existência como se eu não tivesse sido a segunda pessoa à pegar ela no colo logo após seu nascimento .
—Ela realmente não cansa.—Shawn comenta sorrindo enquanto observa Maya correr em nossa frente.
—Experimenta passar um dia inteiro com ela.—meu tom sai bem humorado.
Estamos à apenas uma hora no píer, viemos no Jeep dele logo após ele deixar o livro de receitas com Karen cujo jurei que seus dentes rasgariam todo o seu rosto com o sorriso gigantesco que surgiu após ver eu e Maya entrando no carro dele. Não fizemos muita coisa desde que chegamos, ainda não tivemos a oportunidade de chegar na parte de alimentação ou de música já que Maya não permite pois a garota fica nos fazendo parar a cada um minuto para ver as vitrines das lojas. Shawn inclusive conseguiu um pelúcia em formato de coração amarelo que tinha alguns detalhes de glitters para ela, isso causou uma pausa de vinte minutos no píer já que eu recusava deixar ele à pagar o pelúcia. 1)eu tinha dinheiro pra isso mas não compraria porque sei que a Maya iria esquecer do brinquedo uma hora depois e seria dinheiro mal gasto 2) Zoe detesta que ela aceite presentes de estranhos, segundo ela não quer que ninguém pense que não é capaz de sustentar a própria filha.
Por fim ficamos discutindo sobre eu não deixar pagar e ele querer pagar enquanto isso Maya observava como se nós dois discutindo por ela fosse a coisa mais interessante do universo, no final das contas o vendedor se irritou com a nossa discussão e deu o pelúcia para Maya fazendo todos os três felizes, quatro se for contar com o vendedor.
—Ela é uma graça, mas...qual é a história dela?—Shawn pergunta como se adivinhasse que ela tinha uma história diferente das outras crianças. Provavelmente estava se questionado o motivo deu estar cuidando dela ao invés da mãe ou do pai.
—No meu primeiro ano de moda conheci essa garota, Zoe. Ela estava grávida, é uma história simples na verdade. Zoe sempre foi muito certinha e ela me contou que uma vez na vida resolveu se arriscar e saiu para uma boate, lá ela conheceu um cara e dormiu com ele, ela era meio ingênua e o cara a convenceu de fazer o sexo sem proteção...o resto você já pode imaginar.—fiz um pequeno resumo ainda observando Maya acenar para uma estranha com um cachorrinho.
—E o cara? Assumiu?
—Não, ela ligou pra ele mas o cara disse que não se importava. Ela estava no segundo ano de medicina então foi bem complicado pra ela, um curso que exige 24 horas do seu dia e ainda estar grávida. Quando ela teve a Maya precisou contratar uma babá pois a única pessoa disponível para cuidar dela era sua avó e eu, e eu estudo durante a amanhã assim como Zoe e trabalho a tarde assim como ela.
Mas ultimamente as coisas têm melhorado, a avó da Zoe está com um dos braços quebrados então ela está passando um tempo em Pickering e o emprego que ela conseguiu é apenas durante alguns dias por semana e eu estarei de férias do trabalho durante esse mês. Então os horários acabam se encaixando, principalmente após hoje que não teremos mais aula durante o dia, sabe...férias e tudo mais.—explico tentando não me sentir nervosa com o seu olhar em mim acompanhando o que eu falava.
—Quando a avó da sua amiga melhorar, por que não fica com a Maya ao invés de uma babá?—ele perguntou, imaginei que perguntaria.
—Ela fará isso, está pensando em se mudar oficialmente para Pickering então não teria que ficar viajando até aqui para trazer e buscar a Maya.
—Vamos para o lado da comida?—ele pergunta indicando o lado direito do píer já que estamos nos aproximando dele e logo confirmo enquanto chamo Maya para vim até nós e segurar minha mão já que o lado da comida costuma ter mais pessoas e não quero perdê-la de vista.
—Por que não resolveu chamar o Brian?—pergunto em um tom debochado e no mesmo instante ele gargalha como se soubesse bem do que eu me refiro.
—Eu não acredito que você ainda não superou a nossa primeira discussão!—ele diz entre uma gargalhada.
—Você o convidou sem o meu consentimento sabendo que eu o detestava.—rebato em um tom sério mas ele sabe que eu estou brincando. Maya parece neutra apenas olhando encantada todos os restaurantes pelo qual passamos.
—Está na hora de superar.—ele diz dando um empurrãozinho em meu ombro que me fez rir.
Logo avisto o restaurante do Giovanni, um italiano que faz uma pasta incrível, arrisco dizer que até melhor do que a do meu pai.
—Vem, você vai comer a melhor macarronada da sua vida.—digo o puxando para o pequeno estabelecimento de cor vermelha com branco.
Quase que de imediato avisto Leonora, esposa de Giovanni, do outro lado do balcão e só quando fui procurar minha mão desocupada para acenar foi que percebi que ambas estavam ocupadas, uma segurando a mão de Maya e a outra com meu dedo indicador segurando o indicador de Shawn quando o puxei para o restaurante. Puxei minha mão de uma forma brusca de mais que fez ele descer seu olhar para nossas mãos agora separadas todavia o mesmo não deixou um clima desconfortável pelo acontecimento se instalar.
—Duvido.
—Você dúvida? Eu te garanto que será a melhor.—digo no mesmo instante.
—Tem certeza que quer garantir isso com alguém que já experimentou comida dos chefes de cozinha mais famosos do mundo?!—ele pergunta em um tom zombeteiro. Se as palavras dele saíssem dos lábios de outra pessoa eu com certeza reviria os olhos e o chamaria de presunçoso porém saindo dos lábios de Shawn é tão divertido e descontraído.
—Ah ok senhor famoso...vamos ver, quando você experimentar a macarronada do Giovanni você vai desejar esquecê-la apenas para poder comer de novo.—o garanto seguindo até o balcão.
—Ciao, bella ragazza, come va?—Leonora diz em italiano já tendo o conhecimento que sou italiana.—Chi è questo bel ragazzo?—corei com o seu olhar em Shawn e mim como se sugerisse algo entre nós por isso logo me apressei para lhe responder, agradeço aos céus por Shawn nunca ter conseguido aprender italiano quando eu tenta o ensinar pois se não nesse momento estaríamos os dois constrangidos.
—Leonora, esse é o Shawn, um amigo da família e Shawn essa é a Leonora,dona do estabelecimento junto com seu esposo.—os apresentei. Mas logo me arrependi pela forma que o apresentei pois a forma que Shawn lançou um sorriso murcho para Leonora me fez sentir culpada, o que ele queria que eu fizesse?! Não vou mentir e apresentá-lo como meu amigo porque não somos mais a muito tempo.
—É um prazer.—Shawn estendeu a mão cumprimentando a mulher de cabelos pretos.
—Eu não te conheço?—ela juntou as sobrancelhas ainda com sua mão apertando a de Shawn.—Ah claro! Você é o Shawn Mendes! O cantor.—seu rosto parece ter sido tomado pela surpresa, Shawn apenas confirma com suas bochechas avermelhadas.
—Ele é a Hannah Montana.—Maya se prenuncia pela primeira vez após entrar no estabelecimento. Shawn e eu rimos enquanto a senhora de meia idade apenas nos olha confusa.
—Longa história.—gesticulo com a mão como se dissesse para deixar pra lá.
—Então, nós vamos querer duas macarronadas, uma delas sem tomates e uma porção pequena de batatas fritas.—peço me lembrando que Shawn detesta tomates e Maya não gosta de macarronada.—O que você vai beber?—pergunto me virando na direção do rapaz.
—Uma cerveja.—logo ele responde.
—Uma cerveja e uma taça de vinho branco sem álcool.—finalizo. Leonora anota o pedido e passa para seu marido na cozinha enquanto eu, Shawn e Maya seguimos para uma mesa próxima da janela e agora a única ocupada do estabelecimento.
—Pensei que não bebesse.—Shawn comenta assim que senta enquanto eu ajudo Maya a subir na cadeira.
—Eu não bebo, não álcool e não cervejas sem álcool. Eu...meio que me apeguei ao vinho sem álcool.—tento explicar de uma forma que não precise me aprofundar.
A verdade é que na reabilitação quando eu comecei a realmente querer melhorar eu parei de ir atrás de bebidas alcoólicas com as pessoas lá de dentro que conseguia escondidos.
Começaram um tratamento diferente em mim, meus médicos diziam que me tratariam com uma taça de vinho com álcool por dia enquanto eu deixava de beber todas as outras bebidas e assim foi, quando eu completei cinco meses sem álcool no organismo eles me contaram que o vinho que me davam não tinha álcool e eu acreditava que sim. Depois disso eles pararam com os vinhos mesmo sem álcool e a minha necessidade para beber algo com gosto de bebida voltou. Claro que de acordo com que o tratamento avançava eu deixei de sentir essa necessidade porém uma ou duas vezes na semana preciso tomar uma taça de vinho sem álcool apenas para sentir o gosto, caso contrário começarei a "sentir falta" do gosto de bebidas alcólicas e buscarei tomá-las novamente.
Depois que a macarronada chegou eu observei atentamente Shawn experimentar, não só eu como Maya que parecia interessada em quem ganharia daquela vez. Obviamente ganhei, quando Shawn colocou o macarrão na boca ele de imediato arregalou os olhos como se estivesse experimentando chocolate pela primeira vez. O resto do almoço foi silencioso, cada um comia seu prato exceto por Maya que estava sempre comentando sobre as pessoas que passavam pela janela ao nosso lado.
Depois do almoço, ficamos por mais um tempo no píer e tive uma crise de risos quando estávamos passando pelo caminho da música e Shawn tentou dançar uma música do Bruno Mars que tocava mas acabou fazendo uma dança desengonçada. Voltamos para casa lá pelas quatro da tarde.
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