Um bom dia e uma péssima noite
(SHAWN)
Afasto os fios de cabelo escuro que durante a dormida caíram sob seus olhos, embora talvez ela não perceba, na minha cabeça está lhe incomodando ou talvez seja apenas uma desculpa pra eu conseguir ver seu rosto nitidamente. Há uma cobertura preta embaixo dos seus olhos por conta da maquiagem da noite passada que não retirou, noto sua pálpebra se mover brevemente e sua respiração acelerar mas ela logo volta ao sono.
São pouco mais de oito da manhã e sei que tenho tempo para dormir mais um pouco. Ao acordar minha cabeça parecia que ia explodir e precisei de quase dez minutos para me recuperar a memória de tudo que aconteceu ontem à noite, para minha surpresa havia um remédio no criado-mudo junto com uma água então logo tomei e voltei a me deitar mas desde então tenho me divertido mais em vê-la dormir. Provavelmente estou parecendo um psicopata.
Contrario minhas pálpebras ao lembrar de um acontecimento da noite passada que gostaria que não houvesse acontecido. Meredith, namorada de Ziggy, que tanto trabalha comigo quanto é meu amigo, deu em cima de mim. Normalmente sou péssimo em perceber que alguém está flertando comigo mas é impossível que eu interprete "ninguém precisa saber disso, seu apartamento fica aqui perto, certo?" de uma forma diferente. Sei que a mesma estava levemente bêbada mas isso não justifica sua atitude, eu estava mais bêbado do que ela e nem por isso saí traindo minha namorada com uma das amigas dela ou com qualquer pessoa.
Estou entre contar para Ziggy o acontecimento ou não. Não acho justo ele estar apaixonado por uma mulher que é infiel pelas costas dele. Mas também tem o meu lado que não quer se meter em relacionamento alheio e ciente que corro o risco dele não acreditar em mim quando contar.
Forço-me a afastar esse pensamento nem que seja por pouco tempo. Meu celular notifica e quando abro é uma mensagem de Ziggy dizendo que o voo dele de volta para Nova York foi adiado e não teve como se despedir de mim. Suspiro e acabo por pressionar o botão inicial por alguns segundos até surgir a opção de desligar o celular, assim faço. O que menos preciso é ficar recebendo mensagens dele a todo instante e fazendo com que eu me sinta mais mal ainda. Talvez a volta dele para Nova York seja minha resposta, que agora ele e sua namorada estão longe de mim então não é mais meu problema.
Chega de pensar nisso.
Largo o celular e volto minha atenção para a linda mulher que está dormindo ao meu lado. Percorro a ponta dos meus dedos por sua bochecha em um carinho suave mas me enganei pensando que iria fazer o sono dela se aprofundar mais ainda. Ao invés disso, seus cílios começam a se mexerem como as asas de um beija-flor até ela abri-los de uma vez por todas deixando eles abertos por mais do que apenas dois segundos. Sorrio sentindo a felicidade dominar todo meu corpo.
—Bom dia, baby.
Meu tom é baixo em um sussurro justamente para não assustá-la. Carlyn fecha os olhos afundando seu rosto no travesseiro e então solta um gemido alto de frustração me fazendo rir.
—Parece que um caminhão passou por cima do meu corpo e então deu ré.—ela resmunga, levo minha mão de volta para seu rosto retirando a mecha de cabelo e a colocando atrás de sua orelha.
—Não seja exagerada. Se anime, o dia está muito bonito.
Me levanto assim que digo e vou até a janela abrindo tanto as cortinas quando a janela, logo todo o quarto está sendo iluminado pela luz solar. Carlyn grita contra o travesseiro, em seu habitual mal humor matinal.
Volto para a cama onde me apoio nos meus joelhos e seguro seu ombro para lhe motivar.
—Vamos levantar e aproveitar que é domingo, temos o dia todo.
—Sai daqui Mendes!—ela me empurra pelo ombro e continua a afundar seu rosto no travesseiro, sorrio vendo o quanto ela é adorável pela manhã.
—Agora sou Mendes? O que aconteceu com o Shawn ou baby?
—É o tratamento que você recebe quando me irrita.
—Vamos lá!
—Eu te odeioooo.
Sorrio por já ter escutado essa frase milhares de vezes assim que ela acorda, se tornou rotineiro então o dia em que ele não disser isso finalmente estranharei.
—Isso é apenas o mau humor matinal falando por você, tudo o que precisa é de café forte.
—Sabe que não gosto de café.
—Não custa tentar, um dia ainda te viciarei.
Finalmente vejo um pequeno sorriso surgir no canto dos seus lábios, aproveito a oportunidade para me abaixar e beijar seu rosto.
—Como é possível que você esteja de bom humor?—ela pergunta incrédula, dou de ombros e beijo agora sua testa.
—Eu apenas estou.
—Você bebeu como um louco ontem, não conseguia nem ficar em de pé com os próprios pés. Como é possível que você não esteja de ressaca?—beijo seu ombro por cima da minha camisa.
—Eu estou de ressaca mas o fato de querer passar o dia com você supera.
—Não seja fofo!
—O que?
—Você não tem o direito de ser fofo quando estou no meu mau humor matinal desejando odiar tudo e todos, isso inclui você.
—Eu posso ser uma exceção, pode odiar todos mas não eu. Sou seu namorado.
—Meu mau humor não está aberto para privilégios.
—Deixa disso, levante.—tento lhe animar novamente com beijos em seu rosto e um no canto de sua boca.
—Não quero.
—Tenho planos, vamos passear por Toronto.
—Eu tenho que cuidar da Maya.—ela diz finalmente se deitando com a barriga para cima e se apoia em seu cotovelo sentindo-se mais acordada.
—Mas é domingo, Zoe não trabalha.
—Não, ela não trabalha mas Charlie queria passar o dia todo com ela porém Zoe ainda não quer que eles saíam junto com Maya e me ofereci para cuidar dela, caso você não tenha percebido estou trabalhando por um bem maior.
—Então você é daquelas que quando começa a namorar quer todos em volta namorando?—ela ri e dar de ombros.
—Quero especificamente eles dois, Zoe precisa encontrar alguém pois não é saudável ter apenas uma prioridade em sua vida. Sei que a Maya é importante pra ela e deve ser mas até ela que tem menos de 6 anos está consciente que Zoe precisa viver um pouco a vida. E Charlie a tira dessa zona de conforto sem mencionar que ele realmente gosta dela.
—Por que a Zoe não quer que os dois saíam com a Maya?
—Ela está evitando que Maya se apegue ao Charlie.
Torço meus lábios compreendo a situação. Zoe sempre me pensou essa imagem de garota cautelosa que planeja cada passo do seu dia.
—Mas isso não impede de passarmos o dia juntos. Adoro Maya.—respondo honestamente mas então sinto algo murchar dentro de mim, talvez não seja apenas o seu mau humor matinal falando e talvez ela apenas não queira passar o dia comigo. Ok, acho que estou sufocando ela.—Ah certo...tudo bem, você não quer passar o dia comigo, eu entendo, eu realmente ent...
Ela não me permite terminar pois logo franze as sobrancelhas como se eu estivesse falando em grego com ela e se ergue mais da cama se aproximando de mim, sinto sua mão segurar meu rosto.
—Não seja bobo, eu quero passar o dia com você.
—Tem certeza?
—Absoluta.—deixa um rápido selinho em meus lábios, quando se afasta está com uma careta no rosto.—Mas pode ser depois do meio-dia?—a mesma se joga novamente contra o colchão e solta um grito frustrado quando começo a puxá-la pelas pernas para fora do colchão.
Depois que consigo tirar ela a força da minha cama, Carlyn vai até o banheiro que há em meu quarto e joga uma água no rosto o que me dar a perfeita imagem de sua bunda coberta apenas por uma calcinha. Ela volta quando termino de me despir e enrolo uma toalha em volta da minha cintura.
—Você viu meu celular?—ela pergunta.
—Ao lado do meu.
—Está descarregado, vou ir até minha casa por ele pra carregar e tomar um banho para irmos até a casa de Zoe buscar Maya, ok?
—Sim mas seja rápido, acho melhor tomarmos café da manhã aqui. À essa hora minha mãe já deve ter feito enquanto a sua ainda está dormindo.
Ela sorri vindo até mim e deixa um beijo rápido em meus lábios antes de sair pela porta. Vou logo atrás dela indo para o banheiro tomar um banho.
(...)
—Aali, vamos dar uma volta em Toronto, quer ir?—pergunto abraçando minha namorada por trás enquanto ela está secando a louça que minha mãe lava.
—E ficar de vela enquanto vocês se comem? Dispenso.—ela faz uma careta, ouço a risada baixinha da minha mãe.
—Pode trazer seu namoradinho.
—Ele ainda não é meu namorado, não ainda.
—Mas você sabe que ele quer.—Carlyn responde passando um prato pra minha irmã que o pega e guarda nos armários.
—Eu não sei disso, ele ainda não deu a entender que quer.—minha irmã franze a testa para Carlyn em insegurança.
—O garoto deixou um buquê de rosas na nossa porta.—ironizo incrédulo.
—Foi um ato fofo.—minha mãe entra na conversa.
—Fofo? Meio brega. Daqui uns dias ele estará cantando uma serenata embaixo de sua janela.
—Arg, você é tão irritante.—minha irmã me fuzila com os olhos. Apenas sorrio pois meu plano de fazer ela se irritar está sendo com sucesso.
—Brega? Mas não foi você que me disse que enviar flores é um gesto para fazer a pessoa se sentir amada e em seguida me enviou um buquê de rosas azuis?—Carlyn me olha por cima do ombros em deboche, coro por ter sido pego. As três mulheres riem vendo minha reação.
—E ainda compôs uma música pra você o que se equivale a uma serenata.—Aaliyah diz enquanto pega um talher da mão de Carlyn.
—Vocês são insuportáveis.—reclamo mas ainda sim deixo um beijo no ombro descoberto de Carlyn, em seguida em sua bochecha fazendo ela sorrir.
—Está vendo? É por isso que não irei com vocês.—ela aponta o dedo acusatório em nossa direção.
—Desculpa se você é contra demonstração de carinho!
—Vou ver se Taila quer ir conosco.—Carlyn sugere mas logo Aaliyah intervém:
—Ela não vai, tem treino com algumas jogadoras que estão errando as jogadas.
—Vocês estão bem próximas, hã?—sorrio pra ela.
—Vai se foder!
Gargalho da minha irmãzinha.
(...)
(CARLYN)
Me encontro limpando a boca de Maya com um guardanapo pois ela se sujou toda com o hambúrguer quando meu celular toca em cima da mesa, vejo que é um número desconhecido então acabo por rejeitar a ligação mas então ligam novamente. Estou evitando usar meu celular para aproveitar o dia, tenho o usado apenas para ver o horário então não quero atender a ligação mas aparentemente a pessoa quer mesmo falar comigo. Atendo levando o celular ao ouvido e é um choque quando reconheço a voz.
—Ei, é o número da Carlyn? Sou a Camila.
E não estamos falando da prima de Shawn mas sim a cantora que pelo que eu sei é meio que ex de Shawn.
—Um minuto.—digo ao telefone enquanto arrasto a cadeira pra trás me levantando.—Você pode ajudar a Maya a terminar de comer?—digo para Shawn que está com a cara no hambúrguer, ele apenas confirma com a cabeça pois está de boca cheia.
Me afasto um pouco das mesas do restaurante indo para próximo da janela que há.
—Oi, sim, é o número dela.—digo ao telefone.
—Eu pedi seu número para a Alessia, espero que não se importe.—noto seu tom preocupado.
—Relaxa, não me incomodo com isso. Hum...como você está?
—Estou bem e você?—consigo detectar a insegurança em sua voz deixando claro que está tão desconfortável com essa ligação quando eu, mas também estou curiosa para saber o motivo da ligação.
—Bem também.
—Então...vou logo ao ponto, eu te liguei para pedir desculpas.
—Ah...ok.—digo ainda confusa.—Se me permite perguntar, por qual motivo está me pedindo desculpas?
—Pela forma que te tratei na noite em que nos conhecemos, eu não estava sendo eu mesma. Estava com raiva e ciúmes e fui uma grande vadia e...
—Por favor, não se chame de vadia.—odeio quando mulheres titulam elas mesmas de vadia de uma forma ruim o que claramente Camila está fazendo.
—Mas é o que fui.
—Não, você não foi. Você apenas...não estava em um momento bom.—escuto ela soltar um suspiro.
—Acho que agora entendo porquê ele está apaixonado por você.—franzo minhas sobrancelhas e sinto meu coração bater mais rápido por estarmos indo para um lado da conversa mais tensa.—Você realmente é uma boa pessoa, isso faz com que eu me sinta pior ainda.
—Escute, não precisa se sentir assim pela forma que me tratou. Eu não guardo nenhum tipo de ressentimentos, todos nós já agimos como se não fôssemos nós mesmo, sendo controlado pela raiva ou o que for.
—Eu não quero pedir desculpas apenas por isso. Também quero pedir desculpas por ter dado em cima do seu namorado, não foi algo legal de se fazer.
—Está tudo bem.
—Não, não está. Eu não respeitei o fato dele ter uma namorada.
—Olha, você não fez nada de errado. Você não tentou beijá-lo ou nada do tipo. Você apenas confessou seus sentimentos por ele e lutou por alguém, não se sinta mal por apenas sentir.
—Você é realmente uma pessoa legal.—ela não diz isso de uma forma falsa mas sim como se estivesse um tanto aliviada ou até mesmo frustrada por isso.
—Você também parece ser uma, ligar pra mim com a boa intenção de pedir desculpas diz muito sobre seu caráter.
—Eu não sei como você não está me odiando, sério.—seu tom é bem humorado me fazendo rir baixinho.—Posso te perguntar algo?
—Claro.
—Como você não parece estar com raiva ou não me odeia mesmo sabendo dos meus sentimentos pelo seu namorado?
Torço os lábios sem saber o que dizer pois a resposta que tenho não é muito agradável. Pelo menos se eu estivesse no lugar dela, não gostaria de ouvir.
—Eu não sei se você vai gostar da resposta.
—Pode tentar.—suspiro.
—Porque confio nele e nos sentimentos dele por mim então...você não é muito uma ameaça, nenhuma outra pessoa é. Acho que também porque você não fez nada de errado. Não estou dizendo que não senti ciúmes naquela noite ou insegurança, porque eu senti. Realmente pensei que iríamos terminar naquela noite mas então conversamos e ele esclareceu as coisas e eu acredito e confio nele. Não posso odiar todas as garotas do mundo que tem ou terão sentimentos por ele.—ouço um leve fungar partido dela.—Desculpa.
—Não, não se preocupe. Obrigada por ter sido sincera.
—Ok.
—Sabe...tenho a sensação que seríamos amigas se tivéssemos em outras circunstâncias.—sorrio pois também desconfio disso, ela parece ser bastante divertida pela rápida conversa que tivemos.
—Eu também acho, Camila.
—Então...eu vou deslizar, só queria pedir desculpas mesmo. E saiba que estou verdadeiramente feliz por vocês, não o deixe escapar, ele é um dos bons.
—Eu sei.—sorrio observando Shawn fazendo da batata frita um avião e levando até a boca de Maya que rir alto.
—Então...tchau.
—Tchau, foi ótimo falar com você.
Desligo a ligação finalmente sentindo que posso respirar por ter voltado a minha zona de conforto. Ela realmente parece uma garota divertida e agora até entendo porquê Shawn se apaixonou por ela. Não menti quando digo que não guardo ressentimentos pois realmente não faço isso. Em nenhum momento daquela festa senti raiva dela, mas sim da situação de pensar que Shawn nutria sentimentos por ela.
Volto para a mesa me sentando no mesmo lugar de antes e pego a frase de Maya pela metade.
—...que fica horrível.
—O que fica horrível?
—Colocar ketchup no hambúrguer, tio Shawn disse que é essencial, o que significa mesmo a palavra essencial?—rio pela careta fofa que ela faz.
—Algo indispensável.—a careta de confusão em seu rosto não desaparece.—Algo necessário, que precisa ter.
—Ah...essencial. Então minha mãe é essencial pra mim? E você e o tio Shawn são essenciais um para o outro?—Shawn sorri olhando pra ela admirado enquanto apoia o rosto na mão.
—Mais o menos isso.
—Então eu acho que não é essencial ketchup no hambúrguer.—ela diz se virando na direção de Shawn, gargalho pelo tom sério dela como se discutisse algo...essencial.
—Você não sabe de nada, não tem nem idade pra discutir isso. Hambúrguer precisa de ketchup.—ele diz também no mesmo tom que ela, sorrio admirando a discussão deles.
—Titia, você concorda comigo né?
—Desculpa meu amor mas sou italiana e ele português, precisamos de ketchup nas comidas de fast-food.—um biquinho é formado em seus lábios.
—Idiotas.
—Não repita isso.—lhe advirto.—Sua mãe me mata.
—Mas eu escutei dela.
—Hum...sério?—pergunto interessada pois Zoe vive me acusando de xingar perto de Maya e ela acabar aprendendo.
—Sim, ela disse isso para o tio Charlie ontem, na festa, pareceu algo ruim então resolvi falar pra vocês.
—É claro que ela disse.
—Mas você não pode dizer, pequena. Tem algumas coisas que crianças como você não pode falar.—Shawn explica pra ela.
—Tia, eu não gosto dele.—ela diz emburrada, logo em seguida estirando a língua para Shawn o que me faz gargalhar. Meu namorado leva a mão até seu peito em uma falsa indignação.
—Você não gosta de mim? Tem certeza?—o mesmo se aproxima dela e começa a deixar vários beijos estalados por seu rosto e braços o que faz ela rir e gritar um monte de "pare!".
—Ok, talvez eu goste de você.—ela admite por fim.
—Ouviu? Ela gosta de mim.—Shawn diz com um sorriso presunçoso em minha direção, sorrio me sentindo boba.
—Não tem como não gostar.
—Own, você está sendo melosa.—ele provoca, reviro os olhos.
—Não se acostume.
—O que é melosa?—Maya pergunta desviando o olhar entre nós dois e com uma careta como se não estivesse entendendo nossa troca de olhares.
—Você explica.—jogo a bola pra ele.
(...)
(SHAWN)
—Quem era no telefone?—pergunto assim que paramos em uma sinal vermelho. Notei que enquanto ela conversava no telefone quando estávamos no restaurante, a mesma parecia meio tensa.
—Camila.—franzo a sobrancelha não entendendo porque minha prima trataria de um assunto que deixaria Carlyn tensa, vendo minha confusão ela acrescenta:—A sua amiga, não a prima.
—Ah.—entreabro os lábios em surpresa.
—Pois é. Ela queria pedir desculpas por ter me tratado daquela forma e ter dado em cima de você.
—O que você disse?—olho rapidamente para o semáforo pra checar mas vejo que ainda está vermelho, é uma avenida movimentada então provavelmente demore mais pra abrir.
—Eu disse que não havia motivos pra ela se desculpar pois ela não fez nada de errado, apenas expressou seus sentimentos. Ela parece legal.
—Ela é, mas não estava sendo tanto naquela noite.
—Certo.
Olho para trás apenas para me certificar que Maya está sentada na cadeirinha com o celular de Carlyn em mãos e com um fone de ouvido.
—Se eu te beijar agora, você acha que ela percebe?—sorrio sugestivamente para Carlyn que ri baixinho.
—Você quer me beijar?
—Você não imagina quanto. A última vez foi ao acordamos, meus lábios já estão em abstinência.
Odeio o fato de passarmos a manhã e o começo da tarde juntos e mesmo assim não poder beijá-la toda vez que me dar vontade, não por causa de Maya, mas por estarmos em público a todo instante.
Carlyn apenas se inclina em minha direção segurando-me pelo pescoço e junta nossos lábios em um selinho. Penso que ela vai se afastar mas então põe sua boca contra a minha mais uma vez e entreabre seus lábios permitindo a entrada da minha língua em sua boca. Seguro seu rosto me aproximando dela até onde o cinto de segurança me permite e movo com maior intensidade meus lábios, sinto meu coração bater forte em meu peito.
—O que vocês estão fazendo?—uma voz fininha vindo do banco de trás nos interrompe, me afasto de Carlyn enquanto ambos rimos da situação.
Logo em seguida o semáforo é aberto e logo acelero.
Deixo Carlyn e Maya no final do dia em suas respectivas casas, demoro um pouco mais na frente da casa da minha namorada pois ficamos uns bons vinte minutos contra a porta do meu carro dando uns amassos. Em seguida dou uma rápida passada na casa dos meus pais para passar um tempo com minha irmãzinha e volto para Toronto e então tudo desmorona no momento em que estou retirando o sapato com uma mão enquanto com a outra reinício meu celular.
Vejo as dezenas de mensagens e ligações perdidas de Andrew e David na barra de notificações mas como já estava entrando no Twitter resolvo ver as mensagens deles depois mas logo entendo pois a primeira coisa que aparece pra mim é o motivo do problema.
Não. Não. Não. Não.
O primeiro tweet que aparece pra mim é com todas as letras em maiúsculo e a garota dizendo que não está acreditando naquilo e em seguida acompanhado com uma foto minha beijando Carlyn na noite passada. A foto não tem uma das melhores qualidades mas é nítido que sou eu, já Carlyn não tem como confirmarem por seu rosto estar coberto pelo próprio cabelo dela. Desço mais sentindo meu coração se acelerar aos poucos. Logo vejo uma postagens onde há quatro fotos do momento. Merda. Não tem como negar isso, a última foto é de nós dois segurando o pescoço um do outro e com as testa juntas enquanto nos beijávamos. Arregalo meus olhos quando um vídeo surge deu e Carlyn nos beijando intensamente, não tem como negar que não sou eu mas Carlyn continua com seu rosto meio coberto além de que ontem ela estava usando a extensão de cabelo.
Mais fotos surgem na tela mas dessa vez é de um momento de horas atrás quando paramos no semáforo e nos beijamos, a foto é nossa dentro do carro e novamente é nítido que sou eu mas o ângulo pelo qual a foto foi tirada não mostra o rosto de Carlyn.
Respiro fundo me sentindo em pânico e largo o celular em cima da cama enquanto levo minhas mãos até minha cabeça em um ato frustrado. Não era pra ser assim. Eu e Carlyn havíamos decidido que era melhor não tornarmos isso público ainda, mesmo que muitos já desconfiassem mas não havia fatos reveladoras como agora tem. Agora todos sabem que estou com alguém e não vai demorar muito para ligarem a Carlyn. Merda.
Sem mencionar que a partir de agora minhas redes sociais estarão um horror, tudo o que os sites de fofocas devem estar falando é disso nesse momento e odeio ser notícia com esses assuntos de relacionamento. E eu tenho um contrato onde não me permite ser visto em público romanticamente sem contatar a minha gravadora. Isso faz-me lembrar das mensagens de David.
Pego novamente o celular primeiramente entrando na conversa de Andrew. A maioria das mensagens são ele perguntando onde estou e se eu vi as mais recentes fotos. Há uma mensagem dele dizendo que a situação está feia o que me faz sentir mais em pânico ainda. A única que ele me enviou é dizendo para que eu não me pronuncie a respeito nas redes sociais, ele basicamente me pede para não fazer nada.
Abro a conversa do David, presidente da minha gravadora e grande amigo. Todas as mensagens dele são apenas me pedindo para ligar então logo faço isso.
—Que merda é essa Shawn?—ele explode de primeira, não me lembro de uma única vez que ele soou assim em minha direção.
—Eu sinto muito, eu não planejei isso.
—É claro que não planejou! Essa é a questão. Eu te falei, se você quisesse anunciar um relacionamento...fizesse uma publicação ou então dissesse em uma entrevista mas nunca deixasse as pessoas saberem por fotos tiradas por outras pessoas!
—Eu sinto muito.
—Você tem noção do quanto foi descuidado? Vocês estavam em uma festa cercados por pessoas com celulares para todos os lados e acharam que era uma boa ideia se beijarem?
—Era pra ser uma festa com apenas amigos, não esperávamos que alguém seria capaz de fazer isso.
—E a desculpa para o carro? Todos que passavam na rua podiam ver.
—Não pensei que estaríamos sendo fotografados, afinal...estávamos em movimento.
—Tudo o que eu te pedi foi para você ser cuidadoso.
—Eu não entendo porque as pessoas não podem ficarem sabendo através de fotos tiradas por outras pessoas.—digo já me irritando mesmo sabendo que não estou certo na discussão.
—As duas fotos foram vendidas para sites de fofocas, isso prejudica a gravadora. Sem mencionar que seus fãs não gostam da situação de terem que saber que você está em um relacionamento por outras pessoas, eles iriam preferir que você contasse à eles.
—Eu sinto muito.
—Olha cara, como seu amigo eu realmente quero dizer que está tudo bem e que essas fotos não serão problemas mas como presidente da Island eu não posso dizer isso.
—Isso não deveria beneficiar vocês? Afinal...a imprensa agora entrarão em contato com vocês para terem mais detalhes, sem mencionar a quantidade de dinheiro que revistas irão oferecer para ter uma matéria completa comigo sobre o assunto.
—Mas também há os milhares de patrocinadores que já estão ligando para nós para cancelar a parceria por não querer seus artistas envolvidos em polêmicas. Sem mencionar os milhões de fãs que não gostaram da situação. Então se você não estiver disposto a a dar essas entrevistas para recuperamos o prejuízo, não adianta de nada.
—Não farei isso. Não irei expor mais ainda meu relacionamento e usar ele para ganhar dinheiro.
—Então é complicado.
—Quais serão as consequências?—pergunto receoso.
—Apenas a mídia que irá cair em cima de você, tudo o que precisa fazer é lidar com ela.
Ótimo. A pior parte.
—E meu relacionamento com Carlyn? Como fica?
—Você vai querer fazer uma publicação acabando com os rumores logo?
—Não sei se quero fazer isso, o que você recomenda?
—Profissionalmente falando, digo para deixar os boatos acontecerem pois assim você estará cada vez mais na mídia. Mas como seu amigo, digo para confirmar logo isso através de uma publicação ou entrevista pois até as pessoas terem uma certeza não deixarão você em paz e isso será desgastante.
—Eu realmente não quero me pronunciar sobre isso.
—Então acho que já fez sua escolha.
Desligamos o telefone me deixando sozinho com o silêncio do meu apartamento. Talvez eu queira me machucar pois fico vendo o que estão dizendo sobre as fotos na internet. Muitos estão falando que suspeitam ser Carlyn comigo na foto e em como eles odiariam isso, outros ofendem a garota que está comigo e aproveito para deixar de seguir essas pessoas.
Saio do Twitter quando meu coração parece que vai explodir e sinto a ansiedade me engolir. Carlyn liga em meu telefone mas rejeito a chamada pois no momento ainda não quero falar com ela, não sei qual foi sua reação. Minhas mãos soam então logo corro para a escrivaninha do meu quarto pegando o comprido de ansiedade na cartela e vou para o banheiro onde bebo o comprimido com a água da pia. Aproveito e entro debaixo do chuveiro para me acalmar.
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Gente eu to chocada em como está perto do fim da fanfic, passou muito rápidooooo
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