Tentando seguir em frente
(CARLYN)
Na manhã seguinte, não vou trabalhar. Não pela dor em meu coração pois essa parte não é suficiente para não cumprir com meu compromisso mas sim por conta da minha intensa dor de cabeça e a exaustação que há em todo meu corpo. Passei horas chorando e quando consegui finalmente pegar no sono, o dia já havia amanhecido e faltava apenas duas horas pra começar meu expediente. Juro que tentei me levantar mas a dor de cabeça era tão forte que não conseguia manter meus olhos abertos, sentia a região do meu nariz e dos meus olhos inchados. Minha mãe trouxe uma aspirina pra mim e disse para que eu voltasse a dormir pois ela ligaria para Brenna, minha chefe.
Mas hoje é outro dia e preciso levantar da cama. A dor de cabeça ainda continua pois não deixei de chorar desde ontem e o aperto que há em meu coração é quase como se eu não conseguisse respirar, não quero andar mas me obrigo a sair da cama e ir tomar um banho. Não sei quanto tempo fico em baixo do chuveiro. Quando fixo minha atenção em um determinado ponto, todas as memórias da noite retrasada me atingem e então não consigo mexer um músculo do meu corpo. Dessa vez, as lágrimas não caem mas eu preferia que isso acontecesse pois a dor em meu coração é pior do que qualquer coisa.
Pra quem nunca teve um coração partido, deixa eu explicar como mais o menos funciona. Esse nome não é em vão, quando você tem seu coração partido, você literalmente sente seu peito doendo. Não é apenas algo metafórico, onde você sente a dor na alma, você realmente sente seu coração doendo como se alguém tivesse pego uma espada e o cortado ao meio e logo em seguida tivesse juntado as partes deixando você viva mas ainda com o coração sangrando. Você sente como se estivesse morrendo, como se não houvesse ar para respirar.
Visto qualquer coisa que encontro em meu armário e desço para tomar café após pegar minha bolsa. Não irei me maquiar pois honestamente estou com zero animação pra isso, por mim eu nem gastaria energias para vestir uma roupa mas infelizmente é indispensável.
Encontro minha mãe e minha irmã na cozinha e para minha surpresa, Karen também se encontra. Todas elas se calam no instante em que entro me deixando desconfortável porém não ligo muito, sussurro um "bom dia" indo até a geladeira e pondo um pouco de suco de laranja dentro de um copo.
—Hum...você precisa de carona?—minha mãe diz parecendo que está com medo de digerir a palavra a mim, odeio isso, elas duas me tratando como uma boneca de porcelana. Também nunca precisei de carona para o trabalho até porque tenho meu carro.
—Não, não preciso, meu carro está abastecido.—respondo fechando a geladeira.
Minha mãe sussurra algo sobre ir buscar sua bolsa pois ela também precisa ir ao trabalho. A cozinha é preenchida por um silêncio desconfortável, olho para Karen vendo ela mexer em suas mãos e insegurança passando por seu rosto. Ela olha na minha direção e um sorriso constrangido surge em seus lábios, deixo o suco no balcão e vou até ela.
Apenas lhe abraço, de início não digo nada pois ela parece estar precisando de um abraço mas do que eu. Me pergunto se quem lhe contou foi minha mãe ou seu próprio filho, me pergunto se caso tenha sido ele, ele lhe explicou o motivo pelo qual terminou comigo que basicamente é porque "eu não o amo". Pergunto-me se ela me odeia por não ter retribuído os sentimentos dele, mas quando desmancho o abraço e lhe olho sei que não há nenhuma parte sua que me culpa e também não há nenhuma que culpa ele, ela parece apenas...indecisa.
—Não precisa escolher um lado, ok? Ele é seu filho.—levo minha mão até seu cabelo o acariciando.
—Eu também te considero como uma filha.
—Eu sei...—sorrio em gratidão mesmo sentindo meus olhos lacrimejarem.—Mas ele continua sendo seu filho e não tem como comparar.
Karen sorri tristonha enquanto confirma junto comigo. Não há lados nessa situação mas se for para ela ter que escolher um, quero que ela escolha o dele e a mesma sabe que eventualmente vai acabar fazendo isso porque ela pode me amar e me considerar uma filha por ter me visto crescer mas nada se compara com o amor que ela tem com seus filhos e a proteção.
—Vocês conversaram...depois que ele terminou?—ela parece insegura ao pergunta, solto um suspiro.
—Não.
—Você ainda quer conversar com ele?
Eu não sei se quero. O motivo pelo qual ele terminou comigo foi um grande mal entendido, talvez se ele tivesse me dado a oportunidade de explicar o motivo pelo qual eu não disse as três palavras, teríamos evitado isso. Mas também vi como ele se machucou com esse meu lado que não se permite sentir tudo de uma vez. E honestamente não sei se ainda estou pronta para ir atrás dele e dizer que o amo, talvez realmente devêssemos dar um tempo. Pensarmos por alguns dias sobre o que realmente queremos.
—Eu...eu não sei. Eu o machuquei muito, Karen.
—Mas ele também te machucou, não foi?
—As palavras dele machucaram, mas foram consequências das minhas atitudes, ele não tem culpa. Na verdade...—um sorriso surge em meus lábios, pela primeira vez desde então, ao pensar em algo.—Estou meio que orgulhosa dele.
—Por terminar com você? Ok, isso é algo estranho de se dizer quando leva um pé na bunda.—minha irmã sentada na mesa se introduz na conversa, Karen ri e eu até tento.
—É que pela primeira vez ele se colocou em primeiro lugar.—sorrio pensando nisso.
—E isso é algo bom?—Taila pergunta meio receosa.
—Isso é algo ótimo, querida.—Karen diz percebendo o motivo pelo qual estou orgulhosa dele.—Shawn sempre coloca as outras pessoas em primeiro lugar e é uma ótima qualidade mas isso faz com que ele se machuque muito pois ele sempre está pondo os sentimentos dos outros a sua frente.
—Exato, e dessa vez ele pôs a sua frente o que ele precisa, sei que terminar comigo não era algo que ele queria mas era algo que ele precisava fazer para o seu próprio bem. Porque eu estava o machucando, não intencionalmente, é claro, ele precisa de alguém que esteja 100% com ele e eu não estava, alguém que o ame com todo o coração e eu não estava disposta.
—E agora você está?—Karen pergunta curiosa, dou de ombros.
—Eu sempre estive.
—Então eu não entendo.
—Sempre estive 100% com ele mas não permiti que ele soubesse disso, foi onde errei.
—Então se você o ama e ele te ama, por que ainda não foi atrás dele pra voltar?—Taila pergunta sem entender.
—Estou com medo.—confesso, aperto minhas mãos em volta do mármore do balcão.
—Do que?—Karen pergunta.
—Dele estar melhor sem mim.—sussurro mais pra mim.
(...)
(SHAWN)
Pela quarta vez, peço a Geoff que façamos uma pausa e levanto do sofá deixando o violão no local e corro para a cozinha onde molho meu rosto com a água o que me refresca mais e me ajuda a respirar. Quando sinto a água em contato com minha pele, meus pulmões parecem liberar mais ar e assim a ansiedade não me consome. Bebo um copo de água e volto para a sala pondo o violão em meu colo.
—Pronto?—ele pergunta parecendo meio receoso.
—Sim, vamos continuar.
Eu precisava colocar o que estou sentindo pra fora e a única forma que consigo fazer isso é através da música, por isso chamei Geoff para vir até meu apartamento para assim compormos uma música sobre término.
Já conseguimos escrever o primeiro verso onde escrevi sobre como me sinto quando estava com Carlyn, a sensação dela me levar ao céu e o inferno em apenas alguns segundos e ambas as experiências parecerem o paraíso. E então escrevemos um pouco sobre como sinto falta dela, pequenas coisas como segurar sua mão, da forma que apenas ela sabia fazer.
Mas o que mais me faz sentir falta é da esperança pelo que viveríamos, daquela animação que tínhamos o mundo inteiro para explorar, de tantas coisas que eu pensava que poderíamos fazer e que nunca chegou a acontecer.
—O que acha de "sinto falta de pequenas coisas, mesmo aquelas que não vivemos, como vermos as estações mudando"?—pergunto e logo o compositor confirma passando para o caderno.
A parte de vermos as estações mudando é uma metáfora para o tempo passando. Gostaria de ter sido capaz de vermos tudo em nossa volta mudando e mesmo assim continuarmos juntos, vermos um ao outro evoluindo como pessoas, nos conhecendo melhor, nos vermos crescer em nossas carreiras profissionais. Há muitas situações em minha vida pelo qual gostaria de ter ela do meu lado.
Mas infelizmente isso não vai acontecer, não por minha causa porque se dependesse de eu ficaríamos juntos para sempre. Não estou culpando Carlyn, não compreendo a forma dela de sentir e não sou egoísta ao ponto de exigir que ela me amasse de volta mas tudo teria sido diferente se ela tivesse se permitido sentir.
Não sou estúpido, desde a primeira vez que nos beijamos na sacada do meu apartamento, percebi que ela lutava contra esse sentimento de se permitir sentir algo por mim. Antes era permitir que eu me aproximasse dela, depois passou a ser sobre me perdoar e então passou a ser sobre me amar. E por mim, teríamos vivido todos esses momentos que sonho acordado mas não posso, não se ela não estiver tão aberta para esse relacionamento como eu estou.
—"Por que você tem tanto medo de sentir? Quero você na minha vida, baby. Eu realmente quero, mas não posso. Não se for desse jeito."—mecho meus dedos sob o violão para as palavras que saem dos meus lábios se encaixarem com a melodia, Geoff apenas anota e não dá sugestão.
Desde que começamos a escrever essa música, todos os versos tem sido sugerido por mim e ele não interfere em nada como costuma fazer. Acho que ele percebeu que é bastante pessoal pra mim então está apenas me fazendo companhia.
Eu realmente gostaria de entrar na cabeça da Carlyn e compreender o que ela sente. Daria tudo para saber o motivo pelo qual ela não me amou de volta, eu não fui suficiente? Eu não fiz nada de errado, claro que tivemos nossas discussões como qualquer casal teria mas logo nos resolvíamos e não guardávamos rancor. A maior parte do tempo estávamos bem e eu me sentia como num conto de fadas pois tudo estava tão perfeito. Eu tentei ser o melhor namorado que ela poderia ter tido e na verdade eu não fiz muito esforço pra isso pois minhas ações eram involuntárias, eu apenas amava ela sem ter medo. Mas se isso não foi o suficiente pra ela ter se apaixonado por mim também, o que mais seria? Me pergunto se ela tinha medo de eu lhe machucar, as vezes quando eu era romântico demais, eu via ela tentando retribuir na mesma intensidade e perdi as contas de quantas vezes olhei em seus olhos e vi que ela realmente estava apaixonada por mim e então ela se afastava como se estivesse com medo daquilo.
—Mais alguma ideia?—meu amigo pergunta e só então percebo que fiquei bastante tempo em silêncio pensando.
—"Por que você tem tanto medo de sentir? Você não vê que eu não vou machucá-la?tudo o que eu quero fazer é te amar mas você não quer e tudo bem"—termino de dizer soltando um suspiro cansado.
O que mais me dói é que não há mais nada que eu possa fazer pra mudar essa situação. Eu poderia pedir pra voltar e continuarmos de onde paramos mas embora eu a ame, não é suficiente pra mim, não quero apenas metade dela mesmo que me machuque mais ficar longe dela.
Desde o início do nosso relacionamento, Carlyn sempre deixou claro que éramos apenas duas pessoas que gostavam de se beijarem passando um tempo juntos e isso era o suficiente pra ela mas não era pra mim. Eu sei que deveria ser mais compreensível com ela mas não posso simplesmente deixar de lado a minha vontade de querer que nossos sentimentos estejam no mesmo degrau. Em uma semana irei para a minha turnê e viajar com essa incerteza de que ela não me amava na mesma intensidade que eu, acabaria arruinando nosso relacionamento de uma forma ou outra pois a insegurança iria me atormentar todos os dias e não suporto mais ser inseguro. Não poderia simplesmente deixar nosso relacionamento se tornar algo tóxico.
Eu a amo e me conheço o suficiente para saber que ainda a amarei por mais um bom tempo mas talvez agora eu finalmente tenha uma chance de esquecê-la. Eu nunca de fato tentei, como eu imaginava. Depois que voltei para Pickering com a esperança de reatar nossa amizade e então ela expressou claramente que não queria mais me ter por perto, eu me afastei mas não se passou um dia sequer pelo qual não me alimentava com a esperança que um dia voltaríamos a sermos amigos e isso acabou mantendo o sentimento de ser apaixonado por ela vivo. Mas agora eu posso tentar.
—Escreva...—torço meus lábios pensando em como transformar esse meu sentimento em um verso.—"Tudo o que eu quero fazer é te amar mas você não quer e tudo bem
mas não posso ficar
Eu estou passando por esta porta em um piscar de olhos
Você ainda tem meu coração, mas eu não posso ficar"
Vejo um sorriso murcho nos lábios do Geoff enquanto ele transcreve o verso para o caderno. Conheço seu olhar e sei que ele está com pena embora não expresse isso.
Honestamente, eu estava disposto a dar tudo pra ela, já tinha dado meu coração por completo e o que ela pedisse eu estaria disposto. Gostaria de tê-la levado aos meus lugares favoritos do mundo, de ter apresentado sensações e momentos que ela nunca presenciou mas eu sabia que tinha vontade. Queria que tivéssemos feito mais primeiras vezes juntos, memórias que ficaria pra sempre marcado em nós. Gostaria de tê-la amado por mais tempo, fazer ela se sentir especial como ela realmente é. Mas eu também mereço isso, merecia ter sido amado intensamente, merecia alguém que não ficasse em silêncio toda vez que eu dizia que estava apaixonado.
—"Eu gostaria de levá-la para ver todo pôr do sol
sentir as sensações do amor
sinta-se especial, como você é
mas eu mereço também, então...
eu não posso ficar, se você não estiver disposta a me dar essas coisas"
Termino a última frase com mais dificuldade do que eu imaginava ao criar o verso em minha cabeça. Tenho convencido a mim mesmo que terminar com ela foi o certo a se fazer mas dói tanto saber que ela não estava disposta a me dar essas coisas. Eu só queria estar com ela e sentir que ela realmente me ama.
—Já volto.
Deixo o violão no sofá e saio em disparada na direção da cozinha, Geoff não diz nada e nem tem a oportunidade. Faço uma concha com minha mão pondo em baixo da torneira e então jogo em meu rosto sentindo a água refrescar minha pele. Expiro forte pelo nariz e em seguida inspiro o ar para dentro do meu corpo, faço o movimento por alguns minutos e quando percebo que estou mais calmo volto para a sala, estranhando ao ver que Geoff fechou o caderno.
—O que foi?—vejo que ele deixou o caderno de lado assim como a caneta.
—Acho que é melhor fazer uma pausa. Você sabe que não precisa necessariamente escrever uma música sobre o que está sentindo, certo? Pode conversar com alguém.—ele diz e antes que eu possa dizer algo, ele completa.—Sei que não fará isso comigo, somos amigos mas você não desabafaria comigo sobre isso então...eu acho melhor fazermos uma pausa, colocar seus pensamentos em ordem.
—Eu só quero realmente terminar essa música, acho que vou lançar.—apoio meu rosto na mão.
—Eu acho que tem potencial para vir a ser lançada. Como é uma música sobre término, acho que ficaria bem legal se fosse um dueto, com outra mulher, assim poderia cantar os dois lados do término.
—Sim, seria legal.—torço meus lábios pensando a respeito.—O que acha da Alessia? estou querendo colaborar com ela já faz um tempo e entraremos em turnê juntos então teríamos bastante tempo para produzirmos a música.
—Sim, seria bem legal, ficaria incrível na voz dela.
—O aniversário dela será no final da semana então ele virá para comemorar em Toronto, podemos aproveitar para compormos a parte que ela cantaria e alterar as partes que compus e que ela não goste.—digo já planejando, preciso focar em algo, caso contrário minhas emoções irão me sucumbir.
—Sim, fale com ela. Então, eu acho que é melhor pararmos por hoje, podemos terminar essa parte amanhã.—ele diz já se levantando do sofá e indo até a cadeira mais próxima pegando seus dois casacos e vestindo.
—Tudo bem.
—Cara...eu realmente acho que você deveria desabafar com alguém.—ele diz segurando a porta pra sair, assinto ao seu pedido então logo ele se retira do meu apartamento.
Suspiro me guiando até a parte de fora do meu apartamento onde Brian ficou fumando e me sento ao seu lado no sofá.
—Sinto a falta dela.—confesso de uma vez.
—Eu sei, cara...eu sei.—sinto seu braço cobrir meus ombros me abraçando de lado.
—Você acha que eu agi errado?
—Com toda certeza.—ele diz sem hesitar.—Não ao terminar com ela mas sim em tomar essa decisão sozinho.
—Como assim?
—Você basicamente supôs que ela não te ama e terminou em base nisso.
—Mas ela não ama.
—Alguma vez ela disse que não te ama?
—Exato, ela nunca disse que ama então...—meu melhor amigo suspira alto interrompendo meu pensamento.
—Shawn, só porque alguém não diz que sente algo, não significa que ela de fato não sinta. Você sabe disso mais do que ninguém, esteve apaixonado por ela desde os quinze anos mas ela só de fato soube disso seis anos depois.
—Então está dizendo que...
—A Olsen está apaixonada por você , ela pode não dizer isso com palavras e até tentar esconder mas todos que observam vocês sabem que os dois estão apaixonados.
—Então por que ela nunca disse?—digo frustrado.
—Nunca saberemos porque você não deu oportunidade a ela de dizer! você basicamente concluiu sozinho que ela não sente, nunca perguntou se ela sente o mesmo, terminou com ela sem saber disso.
—Tudo bem, eu posso ter agido sem pensar ao ir até a casa dela e ter terminado daquela forma. Mas não muda o fato de que ela continua ocultando seus sentimentos, eu simplesmente não posso ficar com alguém que a todo instante está omitindo seus sentimentos. Porra...eu sou um babaca por quer que ela diga em voz alta que me ama?
—Não, você está certo. Algumas pessoas podem não se importarem mas são seus sentimentos e é o que você quer, se ela não está disposta a dar isso então você fez o certo em terminar.
—Obrigada.
—Mas você sabe que nunca mais vai encontrar alguém como ela, não é?—gargalho mesmo que eu sinta meu peito doendo com isso.
—Você acha que vou conseguir esquecê-la?—o olho suplicando que confirme isso pra mim, talvez se alguém disser em voz alta eu me convença também.
—Você acha que vai conseguir?
Suspiramos juntos deixando nossas cabeças cair sob o sofá. Nós dois sabemos a resposta para minha pergunta.
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Guilherme saiu, agora o próximo é Pyong
Gente e esse projeto de barba do shawn? kkkk
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