Talvez seja apenas insegurança
"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar."
-William Shakespeare
Atualmente,2018.
(CARLYN)
Obverso o líquido amarelado no fundo do copo e a espuma branca que acaba por ficar envolta da boca de Shawn toda vez que ele bebe mas logo é eliminada por sua língua percorrendo o local. Estou concentrada nas pequenas bolinhas que se mexem no fundo do copo e em como elas parecem zombar de mim.
"Você sabe que quer beber"
"Você ainda é uma viciada"
Aparto meus olhos em uma tentativa de afastar meus próprios pensamentos.
—Você está bem?—Shawn que antes estava conversando com Brian no outro lado do balcão me olha juntando suas duas sobrancelhas. Coloco um sorriso em meu rosto e balanço três vezes minha cabeça em confirmação, mas logo me arrependo, talvez tenha sido exagerado de mais. Ele continua me olhando com uma expressão confusa mas assenti e volta a conversar com Brian.
Para tentar escapar das duas cervejas à minha frente me retiro da cozinha de Shawn e vou para a sala procurando algo para me entreter que não seja espumas de cervejas. Encontro Jon e uma amiga de Brian conversando no sofá, acabo por me sentar na poltrona pois seria nada educado apenas me sentar no sofá junto com eles até porque não sei se algo está rolando e não quero ser estraga prazer. Jon me lança um sorriso em cumprimento e apenas retribuo com um sorriso sem mostrar os dentes, a garota com o cabelo pintado de loiro até tenta me introduzir no assunto deles falando em como se tornou amiga de Brian e então amiga também de todos os outros rapazes, ela tenta saber em como fui parar nessa pequena festa mas lhe poupo de uma longa explicação e apenas digo "conheço Shawn desde pequena" isso pareceu lhe animar pois ela me aborda com perguntas, tento ser breve com as respostas e quando Jon entra no assunto dizendo que Matt e os garotos lhe falavam o quanto éramos amigos, aproveito para me retirar da conversa e deixar eles conversarem sozinhos.
Jogo minha cabeça para trás apoiando nas costas da poltrona e puxando o ar para meus pulmões, fecho meus olhos por alguns segundos tentando fazer com que essa sensação esquisita vá embora. Ao abrir vejo Matt despejando o líquido de uma garrafa de vodca nos copos de Jon e da garota loira. O cheiro de imediato alcança minhas narinas e o franzo tentando afastar a sensação de parecer que a bebida está tão próxima do meu corpo.
Volto a fechar meus olhos para me concentrar em algo que não seja o cheiro da vodca e só volto a abrir quando sinto uma mão se entrelaçar com a minha me puxando da poltrona forçando-me a levantar. Antes que eu pudesse perguntar o que está acontecendo, Shawn continua andando rapidamente na direção do corredor me levando junto, é difícil acompanhar seu ritmo fazendo com que eu tivesse que dar uma rápida corridinha.
Mendes me leva para o fim do
corredor e a porta que ele abre, imagino ser seu quarto já que é o último do corredor e o único da parede. Assim que entramos ele fecha a porta atrás de nós e sua mão solta-se da minha indo até meu rosto onde ele segura com suas duas mãos e começa a apalpar minha pele como se estivesse me checando.
—O que você tem? Está se sentindo bem?—Shawn percorre seu olhar rapidamente por todo meu corpo enquanto continua a verificar se eu estou quente o que claramente ele não encontra nenhum sinal porque não me sinto doente apenas....agitada e em pânico.
—Estou bem, relaxa.—tento o tranquilizar.
—Você não está. Você estava tremendo no balcão e depois saiu para a sala e quando fui te ver você estava pálida e aparentemente nervosa.
Eu estava?
—Não, relaxa.—repito forçando um sorriso. Mas a feição de Shawm não tranquiliza como eu pensava, ele continua preocupado.
—Por que está tentando mentir pra mim?
—Eu..eu não estou.—Shawn respira fundo e solta a respiração.
—Tudo bem, se você sentir algo me avise.—sorrio e dessa vez verdadeiramente, agradecida por ela acreditar que estou bem.
—Na verdade...eu posso ficar aqui um pouco? Ou no quarto de hóspedes? Não estou muito afim de socializar hoje.—sou sincera com ele, não aguento mais ficar olhando bebidas e minha cabeça dando ideias para mim que podem arruinar minha vida novamente. Ele confirma com a cabeça e sorri carinhosamente.
—Você quer que eu prepare a cama pra você deitar?
—Não precisa.—garanto pois eu poderia muito bem fazer isso.
—Tudo bem, eu vou te deixar sozinha.—Shawn vem até mim e deixa um beijo demorado em minha testa que me fez sorrir em sua direção. Após se afastar de mim ele sorri e se retira do quarto me deixando sozinha no enorme quarto escuro em um silêncio total, apenas é possível escutar a música eletrônica que percorre o apartamento mas está sendo abafada pela porta fechada.
Suspiro indo até o banheiro pois havia bebido bastante água em uma tentativa de me deixar longe das bebidas alcoólicas e o uso rapidamente pois me sinto invasiva de mais usando o banheiro de Shawn. Logo em seguida volto para o quarto mas ao invés de me deitar na cama, vou até a parede de vidro do quarto dele onde tenho a vista perfeita de Toronto e dos prédios iluminados por conta da noite.
(...)
Sinto como se eu não tivesse de fato superado o álcool. Passei pela reabilitação e sei como é ter a sensação de querer morrer. Eu costumava beber três garrafas de vodca ou whisky por dia então quando Gwen foi transferida eles reiniciaram o tratamento e dessa vez eu não tinha meu próprio estoque de bebidas, na reabilitação, diminuiriam a quantidade para apenas três copos no dia e embora fosse desesperador ansiar por mais, não foi a pior fase lá dentro. Os primeiros dias que cortaram de uma vez por toda o álcool do meu organismo foi uns dos piores dias da minha vida, eu de fato pensei que morreria. Quando Shawn foi embora eu pensei por muito tempo que não aguentaria a dor que sentia mas sabia que no fundo iria sobreviver e o mesmo foi com Apólo mas quando passei pela desintoxicação pela primeira vez pensei que de fato iria morrer e que não suportaria passar por aquilo. Meu organismo gritou com o corte súbito do álcool, meu corpo inteiro tremia, eu passava literalmente toda a noite acordava, cheguei a ficar quatro noites seguidas sem fechar os olhos, minhas mãos e pés não ficavam quietos por conta da agitação, tive diarreia, comecei a soar frio o que lembro-me que foi um dos piores efeitos pois acabei por delirar. Eu não conseguia focar no que acontecia em minha volta, era como se as pessoas em minha volta não tivessem rostos e as vozes soavam distantes e incompreensíveis da mesma forma que a música eletrônica está tocando agora sendo abafada pelas paredes. Mas passou e quase um mês depois a sensação de alívio foi me atingindo e eu não sentia mais os sintomas da abstinência, a lucidez me atingiu o que eu não sentia a um bom tempo, senti como se meu cérebro processe melhor o que estava acontecendo em minha volta, me senti absolutamente lúcida.
Sou grata por ter conseguido deixar de consumir o álcool. Quando saí da reabilitação minha família ficou tão feliz, direcionando-me palavras carregadas de orgulho, radiantes por eu ter superado o álcool. Mas uma dúvida começou a me atingir. Eu realmente superei?
Quando eu fui embora, os doutores na clínica disseram que estavam orgulhosos por eu ter vencido ao alcoolismo mas eu não venci. Desde que fui liberada da reabilitação não ingeri bebidas alcoólicas, bebo vinho sem-álcool o que na verdade possuiu 0,4% de álcool o que é quase nada todavia sinto como se eu apenas fosse superar o álcool quando for capaz de colocar o real álcool nos lábios e ser capaz de parar. Sinto que superei apenas uma das fases que é me manter distante do álcool porém como posso dizer se de fato superei se nunca tentei beber novamente?
Comecei a pensar nisso à duas semanas atrás após assistir um filme onde um ex alcoólatra volta a beber e consegue parar, confesso que não é recomendável mas eu estava com insônia e passando pelo catálogo da Netflix em busca de um filme encontrei esse e a sinopse mexeu com a minha cabeça.
Fiz minhas pesquisas e descobri que apenas 2 a 4% dos alcoólatras conseguem voltar a beber controladamente. Eles até conseguem diminuir a quantidade consumida por semanas ou até mesmo meses mas em algum momento você vai perder o controle e então voltar a beber com desequilíbrio de forma que prejudique sua vida, como aconteceu comigo que quase perdi o emprego e a vaga na universidade e em casos mais extremos afete seus órgãos. Fico me questionando se eu faria parte desses 4% que conseguem parar ao beber.
Estou a quase 2 anos sóbria e na época eu bebia para tentar esquecer meus problemas, não sentir a dor que eu sentia por conta da morte de Apólo. Mas agora eu estou bem, meus sentimentos não estão me consumindo e não tenho a desanimação que antes tinha para sair da cama, então...se eu bebesse, eu conseguiria parar?
Pessoas com alcoolismo por causas da genética é quase impossível conseguir voltar a beber com controle mas esse não é o meu caso, ninguém da minha família sofre dessa doença. Me tornei uma alcoólatra porque comecei a beber todos os dias para fazer com que eu me sentisse menos...triste, eu acho. Mas não me sinto mais assim então não consigo parar de me perguntar se eu conseguiria parar.
Não que eu sinta falta do álcool, pelo menos o vinho sem álcool não permite que eu me sinta assim. Eu bebia para me sentir mais feliz e energética e com o decorrer dos anos consegui essas sensações sem estar sob efeito do álcool. Mas eu me sinto meio hipócrita, como se fosse uma farsa, aceitando elogios por ter me recuperando sendo que quando sinto o cheiro de álcool sinto uma vontade de consumir, me lembrar como é o gosto da vodca. É como refrigerante, é muito bom ao ponto de não querer parar de beber mas em algum momento você para por vontade própria e é isso que quero com o álcool.
Ver Brian, Jon e Shawn bebendo e se divertindo mas a qualquer momento que eles decidirem parar eles param e no dia seguinte ao acordar a primeira coisa que fazem não é ir consumir novamente, isso me faz ter inveja deles.
Eu não sei quantos minutos se passaram desde que entrei no quarto de Shawn e não busquei olhar o horário em meu telefone mas sei que não deve ter se passado mais de meia hora quando ele adentra no quarto sorrateiramente. Só noto que ele está presente por conta da claridade ter entrado no quarto devido a porta ser aberta mas não houve o som da porta abrindo e muito menos dos tênis dele fazendo barulho contra o piso. Sorrio com a imagem dele entrando na pontas dos pés e fechando a porta cuidadosamente logo após entrar.
Shawn dar um passo na direção da cama mas então para e junta suas sobrancelhas como se algo o deixasse confuso, suspeito que são seus próprios pensamentos. Ergo meu corpo ficando sentada na cama com as costas apoiada nos travesseiros intensamente macios e espero ele dizer algo pois o mesmo abre os lábios e em seguida os fecha novamente.
—Eu posso me deitar com você?—não é possível ver a cor que suas bochechas estão por conta da luz já que no regulador deixei a luz baixa mas sei que pela sua expressão e o tom de voz ele se encontra tímido. Parece inseguro com a pergunta como se não soubesse se deveria de fato perguntar, acabo por sorrir sem mostrar os dentes para lhe tranquilizar.
—Levando em fato que o quarto em que estamos é seu, não seria nada legal eu negar.—meu tom sai brincalhão embora minha voz esteja fraca. Ele continua com a testa enrugada como se minha brincadeira não tivesse lhe feito relaxar.
—Não quero que me permita deitar do seu lado só pelo quarto ser meu. Se você quiser ficar sozinha eu apenas saio e volto para a sala com os rapazes, respeito seu espaço e se você não estiver bem entendo até porque saiu de lá porque não queria socializar, eu não quero te pressionar a ter minha companhia ou..—ele faz novamente aquela coisa de começar a falar muito e rapidamente, transparecendo seu nervosismo o que é simplesmente fofo me fazendo rir baixinho.
—Deita logo.—meu tom sai mais como ordem embora eu esteja brincando. Deslizo meu corpo que estava no meio da cama para o lado lhe dando total espaço até porque sua cama é simplesmente enorme.
Vejo um sorriso sem mostrar os dentes se formar em seu rosto e então ele caminha calmamente até a beirada da cama, para por alguns segundos me deixando confusa mas em seguida escuto o barulho dos tênis sendo tirados. Shawn caminha até o criado-mudo onde fica o abajur e deixa seu celular sob a superfície do móvel, logo em seguida retira o casaco de lã que usa o jogando no tapete ficando apenas com uma camiseta branca com a estampa do que me parece a foto de algum artista antigo em preto e branco.
É praticamente impossível não notar seus músculos se contraindo quando ele passa uma de suas mãos por seu cabelo que está com os fios compridos o jogando para trás em uma tentativa das mechas não caírem em sua testa. Meu olhar percorre para baixo quando ele põe um dos joelhos na cama para se deitar, noto seu abdômen marcado por conta do tecido fino justo e seu peitoral malhado por conta da musculação.
—Está bem?—ele pergunta enquanto deita sua cabeça no travesseiro ao meu lado.
—Sim.—ele assenti mas vejo em seu rosto que essa não era a resposta que queria.—Não precisa se preocupar, Shawn. Estou bem, apenas me sentindo inquieta e um pouco pensativa.
—Algo que vá te prejudicar?
Possivelmente.
Olhando para seu rosto sereno sinto o mesmo sentimento que antes sentia quando estava com ele. Quando algo em minha vida acontecia ou quando desconfiava de algum sentimento meu e o contava antes mesmo deu ter certeza porque eu sabia que ele me diria a coisa certa a se fazer ou na maioria das vezes ele apenas dava sua opinião e ficava me escutando desabafar.
—Posso te perguntar algo?—me ajeito na cama voltando a ficar sentada com as costas apoiadas no travesseiro já que tinha deitado por completo quando ele se deitou. Shawn parece se animar notando que eu me abriria e fica na mesma posição que eu apoiando sua cabeça na cabeceira da cama e vira seu rosto em minha direção para me olhar.
—Pode.
—Se eu bebesse você me faria companhia para caso eu perder o controle você me parar?—antes que eu termine minha pergunta ele já se encontra com as sobrancelhas juntas em confusão.
—Eu..eu não entendi.
—Estou a 2 anos escutando as pessoas me parabenizarem por ter superado o alcoolismo e tudo mais. Mas eu não sinto com se tivesse de fato superado, sinto que apenas serei capaz de superar quando ingerir o álcool e conseguir parar por vontade própria.
—E o que você quer fazer?
—Quero beber e tentar parar sozinha.
—Onde eu entro nisso?
—Você seria o plano B, caso eu não conseguisse parar você me pararia.
—E o que acontece se você não parar e eu tiver que te impedir?—noto em seu olhar a preocupação, deveria mentir para tranquiliza-lo mas não farei.
—Volto para a reabilitação.
—Não, não. Sem chance, não farei parte disso.—ele começa a negar freneticamente.
—Shawn...—tento começar mas ele me impede.
—Desde quando você está pensando em beber? Está tendo uma recaída?
—A algumas semanas e eu não estou tendo uma recaída, não quero beber por gostar, quero beber porque me sinto uma farsa.
—Uma farsa?
—Imagine, você acaba comprando uma música de outro artista mas coloca seu nome lá na composição como se você tivesse a feito e então se torna um dos seus maiores sucessos e todo mundo fica te parabenizando pela música mas no fundo você se sente culpado pois sabe que não é merecedor porque estão te parabenizando por algo que você não merece o mérito.—tento usar um exemplo que se encaixe na vida dele para entender o que sinto.
—Sim mas se eu gravei a música então parte dos méritos são meus da mesma forma que você está 2 anos sóbria e sem ter nenhuma recaída, isso não é ser uma farsa, você teve esforços.—torço meus lábios pensando em suas palavras.
Ele provavelmente está certo mas por que não me sinto como deveria?.
—O que houve Carlyn? Por que começou a pensar que você não superou? Isso não pode ter vindo do nada.
Fecho meus olhos logo após desviar meu olhar do dele, não quero que ele veja que tenho uma resposta para sua pergunta. Essa minha dúvida se me recuperei de fato, não surgiu exatamente após assistir o filme. Começou quando estava tendo uma das minhas pequenas discussões com Karolina onde nos provocamos e ela me ofendeu chamando-me de "viciada" mesmo sabendo que não tenho mais vício e foi isso que disse à ela então a mesma me provocou perguntando se eu havia bebido bebidas alcoólicas depois que sai da clínica e neguei, ela disse que isso automaticamente me tornava uma viciada, já que no fundo eu sabia que se bebesse eu não conseguiria parar.
Quando mais nova eu era uma pessoa que me sentia bastante influenciada pelas pessoas pois me importava com as opiniões alheias mas depois que entrei na faculdade eu me soltei mais, melhorei minha autoestima, passei a me sentir sexy e confiante e isso foi por conta da bebida o que na época era um dos motivos de não querer deixar de beber pois temia que a garota confiante fosse embora quando o álcool saísse do meu organismo mas o álcool não nos transforma em outra pessoa, ele apenas trás à tona o que somos de verdade e que temos medo de sermos. E agora estou a anos sóbria e continuo me olhando no espelho e sentindo-me bem com minha aparência e se quero algo vou atrás, não tenho medo da rejeição, ninguém deveria ter. A questão é que não deixo-me mais me importar com a opinião negativa das pessoas todavia Karolina plantou uma sementinha de dúvida em minha cabeça e após assistir ao filme uma sugestão do que deveria fazer apareceu. Pensei que talvez ela estivesse certa, talvez eu continuo uma viciada.
—Não quero ser covarde, quero enfrentar meus medos. Quero enfrentá-los e seguir minha vida sabendo que consegui vencê-los.—sussurro em resposta não me concentrando muito em suas perguntas anteriores.
—As vezes pensamos ter medos que na verdade não temos. São apenas inseguranças o que é comum, hoje eu posso estar extremante inseguro com uma parte do meu corpo e amanhã eu posso estar amando ela, da mesma forma que posso odiá-la por semanas seguidas. Insegurança é temporária ou pode ser permanente, depende de você. Então Carlyn...você quer beber para não se sentir uma farsa ou quer beber por que sente falta do gosto?
Eu não sei. Eu realmente não sei.
—Tudo bem às vezes sentir falta, não precisa se sentir culpada por isso. Muita das vezes sentimos falta de algo que nos faz mal.
—Talvez eu sinta falta.—confesso ao me lembrar que minutos atrás pensei que gostaria de sentir o gosto da vodca novamente, não quero ficar bêbada com ela, apenas quero me lembrar de como é.
—Qual foi a última vez que bebeu vinho sem álcool?—forço minha memória. Acho que foi na última noite em que estive aqui, quando Shawn me beijou.
—Quando vim aqui pela última vez.—digo não querendo tocar no assunto do beijo.
—Isso já faz uma semana. Você disse que sempre bebe pelo menos duas vezes na semana, certo?—confirmo.
—Há uma possibilidade de você estar se sentindo confusa assim por não ter bebido o vinho durante essa semana? Alguma vez você ficou tanto tempo assim sem beber o vinho sem álcool desde que saiu da reabilitação?—nego, os doutores disseram que eu poderia beber bebidas sem álcool mas que era recomendável eu me apegar a apenas uma delas e escolhi o vinho. Eles disseram também que como tem uma pequena quantidade de álcool, eu só poderia passar a ingerir quando estivesse bem psicologicamente pois caso contrária iria em busca de bebidas com álcool que me fizesse esquecer dos problemas o que obviamente o vinho sem álcool não faria.
—Talvez.—sussurro.
Volto meu olhar em sua direção o encontrando me olhando. Seus olhos se encontram extremamente castanhos e com as pupilas levemente dilatadas por conta do álcool que ele ingeriu, agora mais de perto vejo suas bochechas rosas talvez pela cerveja ter esquentado seu corpo ou simplesmente por conta do aquecedor do apartamento, seus lábios também estão intensamente avermelhados e ele os torna mais ainda quando morde o canto do lábio inferior com os dentes.
Deus.
Eu não sei se algum dia iria deixar de me surpreender com o quanto ele está bonito, sua pele perfeitamente uniforme e suave exceto pelas duas espinhas em sua testa próximas a sobrancelha, suspeito que ele faça algum tratamento ou pelo menos opto por acreditar nisso pois não é justo eu ter que usar milhares de produtos de maquiagens para cobrir as minhas espinhas e manchas enquanto as dele passam despercebidas. Acho que nunca tinha notado o quanto os lábios dele são carnudos quando não está sorrindo e se tornam ainda maiores quando estão entreabertos o que é o caso.
—Você bebeu algo além de cerveja, hoje?—pergunto curiosa sabendo que talvez em breve me arrependa.
—Sim, Gim e dois copos de vodca.
Só pode estar brincando comigo.
—Vodca?—pergunto para ter certeza, minha voz sai cortada por conta do nervosismo. Shawn confirma.
Respiro fundo e ergo minha mão direita na direção de seu rosto que já está próximo de mim então não tive muito esforço, meus dedos percorrem por seu maxilar bem desenhado. A expressão dele primeiramente é confusa enrugando sua testa mas quando me movimento na cama indo em sua direção para ficar mais perto o peito dele começa a se movimentar.
Sei que estou ultrapassando totalmente a área segura de estar perto dele e jogando nossa conversa do carro a quatro dias atrás no lixo mas espero que ele não me afaste pois realmente quero fazer isso.
—Posso experimentar?—minha voz sai em um sussurro enquanto nossos narizes se acariciam e tenho minha testa encostada na dele.
—Eu não me incomodaria.
Sua resposta fez um pequeno sorriso surgir em meu rosto, eu tinha seu consentimento.
Entreabro meus lábios e os encaixo nos seus que já estão no mesmo estado, seus dois lábios seguraram o meu lábio superior formando um selinho simples enquanto o meu inferior faz pressão contra o seu. Deslizo minha mão para sua nuca ao mesmo tempo em que ele abre sua boca me fazendo introduzir minha língua em busca do sabor de vodca, aprofundo meus em seus fios da nuca.
Sinto meu coração bater forte como nunca antes e não sei se é por estar o beijando ou se é por saber que em questão de segundos terei o sabor da vodca contra minha língua, temo querer mais, e o pior é que nem sei se estou me referindo ao beijo ou à vodca.
Sinto a mão dele segurar minha cintura e dar um apertão massageando o local o que me fez automaticamente suspirar contra sua boca, em seguida ele me puxa contra seu corpo acabando que eu não precise mais me esforçar para não cair sob seu peitoral pois ele mesmo me trouxe para si.
Afundo minha língua em sua boca buscando o sabor e o sinto quando ele encontra minha língua com a sua as entrelaçando, o gosto da vodca é quase inexistente mas ainda sim está lá. Sei que usei a bebida como desculpa para o beijar e quando eu sentisse simplesmente deveria encerrar mas agora apenas quero aproveitar a sensação de tê-lo aqui. Vou deixar para me preocupar com o que vai acontecer depois.
A mão dele em minha cintura continua me puxando na direção de seu corpo mas simplesmente não entendo o que ele quer pois meus seios já estão pressionados contra seu peitoral com tamanha aproximação.
—O que você quer?—pergunto entre o beijo.
—Você, em cima de mim.
Oh Deus. Foi questão de segundos para sentir todo meu corpo esquentar, sinto como se a região do meu ventre estivesse pegando fogo, minha respiração se acelera ao ouvir sua voz grave que sai arrastada e a forma que ele está ofegante.
Acabo por levar minha outra mão para seu pescoço e o uso como apoio ao passar minha perna direita por cima do seu corpo fazendo com que sentasse em cima do seu colo, é quase impossível não senti-lo embaixo de mim e propositalmente me mexo em cima dele como se estivesse me acomodando.Vejo pelo seu rosto que ele aprova pois o mesmo segura o lábio inferior com seus dentes.
—Você não pode fazer isso.—ele diz como se fosse um aviso o que me fez sorrir maliciosamente. Como se ele não tivesse gostado.
—Você pediu que eu sentasse em você, o que mais queria a não ser isso?—sussurro em seu ouvido, por fim chupando seu lóbulo o que o faz logo reagir levando as mãos até meu quadril o apertando.
Não tenho uma resposta pois as mãos de Mendes abandonam meu quadril e vão até meu rosto o segurando de forma carinhosa, ele me puxa em sua direção de uma forma que faz meus lábios reencontrarem os seus iniciando um beijo acelerado. Seu polegar se esfrega contra minha pele da bochecha em um ato que de certa forma ajudou a acalmar meu coração batendo de forma louca mas ainda consigo sentir o coração dele no mesmo ritmo que eu estava, resolvo fazer o mesmo que ele e começou a percorrer minhas mãos por cima do seu peitoral fazendo um movimento para cima e para baixo, aos poucos seus batimentos vão se desacelerando embora eu sinta que a carícia em seu peitoral fez sua pele esquentar mais.
Shawn desce uma de suas mãos para meu pescoço enquanto chupa meu lábios inferior prendendo em seus dentes logo em seguida e a outra vai até minha cintura onde ele aperta região e então me puxa em sua direção fazendo com que eu me mova em cima do seu corpo. Jogo meus cabelos para o lado ao mesmo tempo que deixo minha postura mais ereta, afasto minha boca da sua e então percorro minha língua por entre seus lábios o fazendo deixar mais um apertão em minha cintura que me faz ter a conclusão que ele gostou.
Embora ele pareça ter gostado da carícia da minha língua em seus lábios o mesmo não prolonga o jogo de sedução pois toma minha boca pra si introduzindo sua língua dentro da minha boca de uma vez por todas.
Durante o beijo começo a me mexer em cima dele calmamente apenas para ser algo sútil e aumentar nossa excitação.
As mãos de Shawn que antes estavam apenas em minha cintura começam a tomar outros rumos, uma de suas mãos sobe pela minha cintura adentrando em minha blusa, fazendo assim seus dedos acariciarem minha pele descoberta e é automático todo meu corpo arrepiar em ter sua mão contra minha pele. Sua outra mão é mais ousada e começa a subir lentamente até chegar em meus seios que já não estão tão cobertos por conta do decote da blusa, meu seio pequeno encaixa-se perfeitamente na mão dele e o mesmo o massageia com cuidado. Embora seja uma sensação boa e sútil eu não tenho os seios tão sensíveis como a maioria das garotas e ele precisa saber disso.
—Se quer me deixar excitada coloque suas mãos em outro lugar.—o oriento parando o beijo com selinhos.
—Me diga onde você gosta.—descubro que sua voz após um beijo é um dos melhores sons que já escutei, é grave e rouca me deixando com mais tesão ainda.
Em resposta a ele, retiro minhas mãos de seu pescoço levando elas até cada um dos seus pulsos e os guio até suas duas mãos estarem sob meu traseiro, um local que ainda não tinham estado, talvez por timidez, pois quando posiciono suas mãos em minha bunda vejo suas bochechas ficarem mais rosadas. Deixo um selinho em seus lábios antes de perguntar:
—Onde você prefere que eu coloque minhas mãos?—pergunto pois gosto de saber os locais sensíveis das pessoas com que me relaciono.
—Em qualquer lugar.—sussurra contra meus lábios o que me fez sorrir.
Deixo mais um beijo rápido em seus lábios inchados e em seguida deixo um beijo no canto de sua boca, logo depois em sua bochecha e então em seu queixo.
—Estou querendo fazer isso a um bom tempo.—confesso descendo os beijos para seu maxilar.
Não tenho resposta e apenas o vejo fechar os olhos enquanto continuo distribuindo beijos suaves e molhados pela região de sua maxilar no qual simplesmente me causa um tesão. As mãos de Shawn apertam minha bunda quando percorro minha língua pela linha do seu maxilar. Estava pronta para chupar a pele dele quando escuto o barulho da porta se abrindo e no mesmo instante ambos olhamos ainda sem reação, eu olho para trás encontrando uma garota morena que nunca havia visto na minha vida, talvez tivesse chegado agora para a festa.
—Oh..me desculpe..e-eu estava procurando o banheiro e...—ela se auto interrompe saindo do quarto na mesma rapidez que entrou e ainda parecendo chocada por eu estar em cima do Shawn e ter as mãos dele postas em meu traseiro.
Volto meu olhar para o rapaz a minha frente e Shawn joga sua cabeça para trás encostando na cabeceira novamente pois havia retirado para ver quem tinha entrado no quarto, seu semblante parece cansado e decepcionado. Talvez eu esteja da mesma forma, pelo menos é como me sinto por dentro pela garota ter estragado todo o clima que havia no quarto.
—Eu não conheço ela então...preciso ir lá antes que comente sobre isso na internet.—ele diz e pelo seu tom noto que ele não quer fazer isso de fato mas é necessário. Confirmo com a cabeça e me retiro de cima do seu corpo voltando a cair sentada na cama.
Shawn se levanta da cama com cuidado e fica de pé ao lado da cama de costas para mim, vejo sua mão se mover na frente de seu corpo e um sorriso escapa dos meus lábios ao saber exatamente o que ele está arrumando. Ele vai até seu armário e veste um moletom azul que fica maior em seu corpo, certeza que foi intencional pois quando ele se vira na direção de porta noto que o moletom cobre seu volume.
—Você vai voltar?—pergunto antes que ele se retire do quarto. Shawn para e não me olha, apenas fixa seu olhar em seus pés descalços.
Reformulando a pergunta "você vai voltar para continuarmos de onde paramos?"
—Acho melhor não, há cobertas na parte de cima do guarda-roupa, vou dormir no quarto de hóspedes.—ele diz por fim se retirando do quarto sem ao menos me olhar.
O que?
Não sei por quantos minutos fico encarando a porta perplexa ainda surpresa com sua atitude. Não é que que eu não aceite um rejeição bem embora machuque o ego de qualquer um. O que me deixa decepcionada é estarmos no maior amasso que aparentemente ambos estávamos gostando e então ele simplesmente decidir que não queria mais sendo que eu claramente sugeri que continuássemos pois queria. Ele confessou que sentia-se atraído por mim e agora que estou disposta a ficar com ele, o mesmo não quer mais?
Ok então.
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