Eu não era sua amiga
"Ele foi embora uma vez, e vai embora de novo. Não dependa de alguém que vai te decepcionar."
-Dr. House
Atualmente, 2018.
Antes de descer do carro, Carlyn se olhou no espelho para ajeitar seus cabelos bagunçados por conta dos puxões que Charlie deu enquanto buscava mais o contato dos lábios da garota em seu membro.
—Sabe que não precisa me acompanhar até o carro, certo?—ela perguntou enquanto atravessavam o campus em direção ao estacionamento que só é permitido para alunos.
—Eu sei mas a próxima vez que te verei será em quatro dias então estou apreciando o máximo possível a visão dessa sua bunda maravilhosa.—ele respondeu enquanto andava atrás dela, a risada alta de Carlyn alcançou seu ouvido.
Por onde passavam, eles atraíam olhares, a maioria sendo de garotas. Era um dos lados negativos de ser amiga de Charlie Hawley, o cara chama atenção por onde passa. Um dos motivos é por sua presença e aparência, Charlie tem o corpo com músculos bastante distribuídos, não que seu corpo seja bastante malhado até porque ele não tem tempo para frequentar a academia, o homem de vinte e quatro anos não tem um abdômen de tirar o fôlego, ele é magro porém sem gomuinhos. Carlyn o considera um dos homens mais bonitos que já viu, o homem é mais bonito do que muitos atores de cinema e todos que lhe veem concordam com isso.
Charlie estava usando uma calça social preta e um terno da mesma cor por cima de uma camiseta rosa pink, esse era seu diferencial, quando ele ia para a empresa nunca usava ternos comuns, sempre tinha uma cor diferente ou algum detalhe, a maioria sendo desenhados por Carlyn. Ele andava por cima da grama de uma forma elegante, fixando seu olhar penetrante no traseiro de Carlyn que se mexia de um lado ao outro de acordo com que ela andava e sua mão ajeitava o paletó tentando fechar os botões, esse simples ato fazia as garotas que passavam por ele lhe lançar sorrisos que logo eram correspondidos. Outro motivo é por Charlie ser conhecido por grande parte de Toronto, ou seja, todos os alunos que estudam Ciência da Computação e Análise e Desenvolvimento de Sistemas babam ovo para ele toda vez que o homem aparece na Universidade, muitas garotas e alguns caras já foram parar na cama dele esperando uma oportunidade dentro de sua empresa.
Os dois finalmente chegaram no carro de Carlyn e ambos se apoiaram no mesmo pois Zoe ainda não havia chegado e ela estava com as chaves.
—Mal acredito que vou ficar um mês sem ver a cara desse povo mesquinho.—ela sempre dizia isso no último dia de aula do ano e Charlie sempre ria.
—Qual é...aqui tem bastante pessoa interessante.—ele comentou enquanto acompanhava com o olhar uma mulher negra com o corpo alto e cheio de curvas.
—Não é você que precisa conviver com eles.—Carlyn reclamou cruzando os braços. Sua feição estava fechada e Charlie não perdeu a oportunidade para cutucar sua bochecha com o dedo apenas para irritá-la mais.—Se você não parar com isso eu vou quebrar esse seu dedo e só paro quando você estiver gritando de dor.
—Eu prefiro gritar de prazer.—ele comenta sarcasticamente fazendo a morena revirar os olhos.—Okay zangado...o que o pobre mundo fez para você está com essa cara?—ele fez uma careta de tédio enquanto ela continuou com seu olhar acompanhado a movimentação no campus.
—Não é nada.
—Suas palavras me levam a crer que é algo, pode ir contando bonitinha.—ele gesticulou com a mão para ela prosseguir, Carlyn soltou um suspiro sabendo que ele não deixaria de insistir até ela contar.
—Shawn.—ela disse simplesmente e Charlie riu baixinho.
—Ainda estamos nisso? Por que não perdoa logo o cara?! ele era seu melhor amigo, te machucou, perdoa e siga em frente, vocês vão passar três meses juntos, você não pode ficar o tempo todo com essa careta de quem teve uma transa horrível.—Charlie tentou lhe aconselhar.—E afinal....você não estava tentando ser budista? Achei que budistas perdoassem com facilidade.
—Vai se foder, estou tentando porém não quer dizer que já sou uma alma super evoluída.—seu tom saiu irritado fazendo Charlie rir mais, adorava vê-la assim.
—Pensei que budistas também gostavam de se manterem calmos.—ele brincou novamente.
—E eu não vou perdoar o Shawn. Eu vi ele ontem e pensei que sentiria mais raiva ao vê-lo mas isso não aconteceu porém continuo não conseguindo perdoar ele. E precisarei ver ele por quatro meses.—ao ver a feição confusa de Charlie, Carlyn resolve esclarecer.
—Ele está de férias, só irá embora em março quando começar uma turnê.
—Você não pode ficar sem perdoar ele pra sempre. Mas se você não ficou com tanta raiva ao vê-lo, por que está toda irritada?!
—Porque esse mês vai ser uma merda. Quando nos falamos ontem foi horrível, um clima mais pesado do que a minha mão na cara do seu pai quando o conheci, e tem o Brian...sempre detestei ele, ele é divertido as vezes mas não tenho paciência para suas piadinhas e para piorar minha prima Karolina resolveu passar o natal e o ano novo conosco, eu não sei se te contei mas a garota é o cúmulo, ela tem inveja de mim porque sou a preferida da nonna, ela não consegue passar um segundo do dia sem tentar me provocar com algo. Eu já te falei da vez em que eu tinha dezessete anos e fui passar duas semanas na Itália na casa da nonna?! Então...lá eu conheci um amigo dela e o cara logo se interessou por mim, eu ia sair em um encontro com ele mas não fui porque a vagabunda contou para toda a família que eu estava fazendo sexo com o cara quando todos iam dormir, ela tirou a minha virgindade perante toda a minha família!—a garota explodiu enquanto gesticulava escandalosamente com as mãos. Charlie logo desatou a rir pela forma que ela falava sem parar, Carlyn sempre teve isso de começar a falar e não parar mais quando estava irritada.
—Okay...respira.—ele disse segurando os ombros da garota e logo a garota fez o que ele pediu se acalmando mais.
—Vamos por tópicos, qual o problema com Brian?
—Ele fica fazendo piadinhas insolentes, comentários escrotos e o cara é machista, sem falar que é um pervertido e não do jeito bom. A um tempo atrás nos encontramos em uma boate em Toronto e eu estava beijando uma garota, foi como ele descobriu que eu sou bissexual, você acredita que ele passou a festa inteira tentando convencer eu e a garota a irmos pra cama com ele? mesmo nós duas dizendo que isso não aconteceria. O cara não sabe a hora de parar.—a garota explicou tentando não elevar seu tom.
—É só ignorar o cara, pelo que entendi é aqueles cachorros que late e não morde. Não dê atenção à ele, ok?—Carlyn confirmou decidindo que seguiria o conselho dele.—E Karolina...primeiramente, ela é gostosa?
—Ah faça-me o favor Charlie! A garota tem dezessete anos.—ela bateu no ombro do homem. Odiava imaginar Karolina chegando perto de qualquer pessoa importante pra ela.
—Só tenta colocar ela no seu devido lugar. Se ela está tentando de afetar com algo, apenas finja que não está acontecendo e saia por cima igual a madame que você é.—ele sugeriu, sabia que Carlyn conseguia ser a pessoa mais fria do mundo se quisesse, as vezes ele se pergunta se a garota tem coração porque ela se mostra tão insensível e era isso que Karolina precisava.
Carlyn confirmou como se fosse levar aquilo em consideração pois não queria se rebaixar no nível de sua prima porém as vezes é difícil.—E Shawn...perdoa o cara.
—Isso está fora de questão.—Carlyn disse de imediato enquanto tratava seu maxilar.
—Ok, então tente tratá-lo como...como você trata seus primos distantes. Não precisa ser melhor amiga dele novamente mas também não precisa tratá-lo como se o coitado fosse uma praga. Seja gentil, trate ele normalmente.—o tom de Charlie é paciente como se ele fosse um psicólogo conversando com sua paciente.
—Eu tenho medo de me apegar à ele.—Carlyn confessa seu medo que até então era existente apenas em sua cabeça, não havia falado isso nem mesmo com Zoe ou Aaliya.
—Você não fará isso até perdoá-lo, não tema isso...se você perdoar ele aí talvez você se apegue novamente.—isso tranquilizou a garota pois ela sabia que não conseguiria perdoar Shawn com facilidade.—Quando você vai me apresentar ele? O cara é muito gostoso.—Charlie diz com um sorriso malicioso.
—Até onde eu sei, ele é totalmente hétero.—a morena esclarece.
—Você não tem contato com ele a quatro anos e até onde ele saiba você também é totalmente hétero. E esses artistas da atualidade todos são gays ou bissexuais porém a mídia não divulga.—Carlyn não responde, pois sabia que Charlie estava certo.
Por alguma razão desconhecida a garota se sentiu tensa, até a última vez que Carlyn e Shawn conversaram como amigos ela ainda era hétero, nunca havia beijado uma garota para descobrir se gostava. Um receio tomou conta dela, não sabia como Shawn reagiria ao descobrir sobre sua bissexualidade, ela não o conhecia mais, pessoas mudam bastante em quatro anos, ela mesma é a prova disso, e a garota não sabe se o Shawn de agora tem algum problema com homossexuais. Ela lembra que quando eles ainda eram amigos, Shawn não era muito apoiador da causa, pra falar a verdade nem ela mesma era porém as pessoas mudam com o tempo assim como seus conceitos.
Logo em seguida ao ter esse pensamento, ela bufou em frustração, há muito tempo que ela deixou de se importar com comentários homofóbicos ou até mesmo em se preocupar com o que as pessoas achariam ao descobrirem sua atração por ambos os sexos, se sentiu idiota por estar preocupada com a opinião de Shawn, não deveria se importar com isso.
Antes que ela pensasse muito no assunto, sua atenção foi voltada para as duas garotas vindo em sua direção, o cabelo cor de rosa de Olívia voava enquanto elas viam atraindo a atenção de todos.
Olívia chamava atenção por onde passava por conta de sua aparência, suas roupas coloridas e seu cabelo cor de rosa costumam não passar despercebido. Carlyn não considera a garota uma de suas melhores amigas embora seja uma das mais próximas. Olívia é mais o tipo de amiga para você chamar quando está afim de sair para beber, o que Carlyn não faz mais a não ser que seja refrigerante ou água.
Olívia teve uma parcela de culpa no vício de Carlyn por isso Rosie detesta tanto a amiga de sua filha. Após a morte de seu irmão e da separação dos seus pais, Carlyn logo entrou para a faculdade de moda e lá conheceu Olívia que sempre foi muito festeira. Na época , elas saíam todas as noites para se divertirem e a de cabelos rosa começou a oferecer para Carlyn bebidas fortes, drogas, cigarro, tudo o que Carlyn sabia que não deveria experimentar mas mesmo assim fez. Ela estava mal com tudo acontecendo em sua vida então apenas se entregou as bebidas alcoólicas, ela não bebia dois copos e pronto, ela só parava de beber quando desmaiava.
Claro que Carlyn sabe que Olívia não foi a culpada, ela apenas ofereceu, cabia à Carlyn negar. Após a reabilitação, Carlyn não cortou só as bebidas mas também as pessoas que lhe fazia mal e infelizmente Olívia é uma dessas pessoas. Carlyn gosta da garota, ela é divertida porém não pode se manter tão próxima à ela.
Já Zoe é o oposto de Olívia. Enquanto a de cabelos rosas caminha com segurança e esbanjando um sorriso enorme, Zoe se encontra agarrando a alça de sua mochila e seu olhar está baixo olhando para seus sapatos enquanto sua bochecha ficam ruborizadas por saber que as pessoas lhe olham quando está na presença de Olívia.
Quando Carlyn entrou na reabilitação, ela precisou trancar o seu curso por um ano, de início o tratamento seria apenas por seis meses mas ela não levava a sério e dentro da clínica sempre encontrava uma forma de conseguir bebidas. Após sair da reabilitação, a garota de imediato voltou a universidade pois sua formatura já estava adiada por um ano. Um dia, ela teve uma recaída, no refeitório começou a tocar uma música de Shawn e ela sabia que era dele por sua voz, a garota escutou no máximo vinte segundos de música e saiu correndo do local, todas as memórias deles juntos lhe alcançaram e ela só conseguia sentir em como sentia a falta dele e foi quando correu para o banheiro e começou a ligar para Olívia que sempre carregava alguma bebida ou droga em sua mochila, por sorte Zoe apareceu no banheiro e mesmo não a conhecendo Carlyn entregou seu celular pra ela.
—Tira isso de perto de mim.—ela disse desesperada jogando o celular nas mãos de Zoe assim que a ligação deu início.
—O-que? Por que?—ela perguntou confusa olhando para o celular em mãos como se fosse uma bomba.
—Desliga a ligação e não me devolve pelo resto do dia.—ela explicou e assim Zoe fez.
—Ok, desliguei.—o tom de Zoe era confuso mas cauteloso ao ver Carlyn andando de um lado ao outro no banheiro enquanto parecia tentar arrancar os cabelos com suas mãos.
—Merda, merda, merda! Ele tem que estar em todo lugar...—ela disse com sua respiração descontrolada, a garota sentia seu peito pegar fogo e a essa altura não se preocupava mais em estar chorando compulsivamente na frente de uma estranha.
—Hm...você está bem? Precisa de alguma ajuda?—a loira voltou a perguntar ainda insegura.
—Não,eu não estou bem!—ela rebateu irritada na direção de Zoe.—Quando eu acho que estou bem, quando acho que superei....aquele idiota reaparece e...
—Seu namorado? Você não quer voltar com ele?—Zoe perguntou tentando entender a situação.
—Não! Meu melhor amigo...ex melhor amigo, ele é um grande idiota! Ele foi um grande idiota comigo! E o que ele ganha? O mundo todo amando aquele babaca. Arg eu detesto ele e a merda daquela voz perfeita, a propósito....ele só está aí tocando em todos os lugares por que eu motivei ele à cantar e como ele agradece? Contando meus segredos para todo mundo e sendo um grande babaca! Eu quero matar o Shawn!—as mãos em seus cabelos continuaram enquanto suas lágrimas paravam. Sempre era assim suas crises à respeito de Shawn, ela começava sentindo sua falta e de todos os momentos que tiveram mas logo ia se transformando em raiva por Shawn ter descartado sua amizade como se não valesse nada.
—Espera! Você é melhor amiga do Shawn Mendes? Ex melhor amiga...—Zoe perguntou espantada.
—Sério que você só prestou atenção nisso?!
—Não desculpa, tem razão...ele é um babaca e nem canta bem.—mentira, mentira e mentira. Zoe estava surtando internamente, Shawn Mendes era um dos melhores artistas da atualidade, ele estava começando a se tornar conhecido e a loira amava suas músicas mas no momento mentiu para acalmar Carlyn que parecia tão furiosa.
Após isso, elas passaram o dia juntas, Zoe era como a vigia do celular de Carlyn e ficou lhe monitorando para ela não ligar para nenhuma pessoa que lhe trouxesse bebidas. Após aquele dia, elas não pararam mais de se falarem e atualmente a loira é a melhor amiga de Carlyn.
—Até que em fim, estamos esperando aqui a mais de três horas!—Charlie disse em um tom tedioso assim que Zoe parou em frente à eles dando um abraço em Carlyn.
—Mentiroso.—Zoe o acusou, já conhecia Charlie tempo o suficiente para saber que o cara é dramático.
—Oi Charlie...—Olívia o saldou com um sorriso travesso. O homem já teria levado a de cabelos rosa para cama já que ela literalmente pediu à ele para fazer isso mas Charlie nunca transou com a garota por causa de Carlyn, o homem meio que culpa a de cabelo rosa por ter feito tanto mal à Carlyn mesmo a morena dizendo à ele que Olívia não tinha culpa.
—Podemos ir?—Carlyn perguntou em direção a Zoe.—Minha mãe me ligou dizendo que vai haver um jantar na casa de Karen, algo sobre comemorar toda a família junta novamente.—ela revirou os olhos.
Zoe apenas confirmou e abriu a porta do Nissan Sentra de Carlyn entrando logo em seguida enquanto a morena abraçou Olívia pois não sabia a próxima vez que veria a garota e fez o mesmo com Charlie porém um abraço mais demorado.
—Vamos fazer sexo por chamada,ok?—ele disse no ouvido da garota enquanto a abraçava e Carlyn riu alto.
—Jamais passarei essa vergonha.
—Você diz isso porque nunca experimentou.
Carlyn deixou um beijo na bochecha de Charlie antes de desmanchar o abraço e seguir para o outro lado do seu carro.
—E trate o cara normalmente.—ele a relembrou enquanto Carlyn abria a porta.
—Quem?—Olívia perguntou cariosa.
—Meu primo que eu detesto.—Carlyn respondeu antes que Charlie falasse o que não deveria. As únicas pessoas que sabia à respeito de Shawn era Zoe e Charlie, não precisava mais de ninguém sabendo disso e Olívia com certeza não seria uma das pessoas para o qual contaria, ela não sabe guardar muito bem segredo.
Antes que Carlyn arrancasse com o carro, Charlie fez uma piadinha para Zoe dizendo o quanto aquele suéter deixava seus seios maravilhosos e em resposta recebeu um dedo do meio da garota mas logo em seguida sentiu suas bochechas esquentarem e Carlyn riu disso.
—Sabe que ele é louco para te levar pra cama, né?—Carlyn perguntou enquanto dirigia pelas ruas movimentadas de Toronto.
—Eu e toda a população de Toronto, literalmente, e eu jamais transaria com um cara que transa com minha melhor amiga.—ela respondeu enquanto abria um pacote de salgadinho que havia trazido em sua bolsa.
—Se o problema for eu, paro de transar com ele, você sabe que eu e Charlie é só sexo e se você estiver interessada nele eu paro no mesmo momento.—Carlyn fez uma careta de nojo ao ver Zoe levar o que estava dentro do pacote aos lábios .—Você está comendo veneno.—ela lhe advertiu como sempre mas Zoe apenas ignorou como sempre.
—Relaxa, não estou interessada nele, nem sexualmente e nem romanticamente. No momento, o que menos preciso é de problemas com homens.—ela respondeu dando de ombros.
—Mas você precisa transar, qual é...ninguém deveria ficar tanto tempo sem sentar em alguém como você está. Você não transa desde a Maya, e isso já faz três anos.—ela gesticulava com uma mão enquanto a outra segurava o volante. Sempre teve essa mania. Como se estivesse adivinhando, o telefone de Zoe começou a tocar indicando que era sua avó e logo colocou no viva voz por seus dedos estarem sujos de corante laranja.
—Querida, Maya quer falar com você.—a avó da garota disse antes de passar o telefone para sua neta.—Mamãe, você está chegando?—a voz fina de Maya soou no telefone.
—Estou sim meu amor, Tia Carlyn está dirigindo nesse exato momento, estamos quase chegando.—ela respondeu.
—Tudo bem...trás doce pra mim.—a garota pediu e no mesmo instante Carlyn gargalhou, interesseira.
—Tudo bem, a mamãe precisa desligar.—Zoe disse antes de desligar a chamada.—E é por isso que não transo, tenho responsabilidades e uma filha para cuidar. Além de que a última e primeira vez que alguém me penetrou recebi uma criança de brinde.
—Você esqueceu da camisinha! O mais esperava?—Carlyn rebateu.
—Em minha defesa, eu era uma idiota que deixei o cara me manipular para fazermos sem proteção. Pelo menos o cachorro me deu a Maya, se eu voltasse no tempo..faria a mesma coisa.—ela respondeu e Carlyn concordou, Maya era o bem mais precioso da vida delas.
(....)
—Você poderia sair da frente do espelho?—Karolina perguntou irritada tentando empurrar Carlyn.
—Estou me arrumando.—ela respondeu mantendo seu olhar fixo em seu reflexo.
Carlyn ainda não tinha decidido se iria oficialmente se mudar para a casa de Karen pelo próximo mês. Então até então, a garota estava dormindo no sofá de sua casa o que lhe causava uma intensa dor atrás do pescoço e tinha que dividir o quatro com Karolina enquanto elas se arrumavam já que suas roupas e maquiagens se encontravam no quarto.
—Não pode fazer isso no banheiro?!—a morena rebateu tentando passar o rímel no espelho porém não tinha espaço já que Carlyn também estava terminado sua maquiagem na frente dele.
—Que eu saiba o quarto é meu.—Carlyn respondeu não dando tanto atenção para a garota.
Karolina bufou de raiva e seguiu para o banheiro rezando para que não estivesse ocupado pois na casa só havia dois banheiros para oito pessoas e Carlyn sorriu se sentiu vitoriosa. O conselho de Charlie estava funcionando de não dar tanta atenção para a garota.
Carlyn se olhou no espelho uma última vez e saiu para ir até a casa de Karen já que seus familiares já estavam tudo lá por terem se arrumado cedo.A garota não se arrumou tanto, afinal era apenas um jantar em família.
Quando chegou na casa de Karen foi quase impossível não sorrir, sentia falta de estar junto com toda a sua família. A sala estava repleto de pessoas circulando assim como a cozinha. Havia sua família, a família de Karen e Manny e amigos de Aaliyah e Shawn. Carlyn também convidou Zoe.
—Até que em fim você apareceu.—Carlyn disse indo até sua irmã mais nova que se encontrava apoiada em uma parede no canto da sala enquanto todos interagiam.
—Não seja dramática.—ela revirou os olhos levando o copo até os lábios.
—Isso é vinho? A mamãe sabe?—a mais velha perguntou até porque sua irmã tem apenas quinze anos.
—Vai procurar o que fazer, Carlyn.—ela rebateu irritada, humor comum de Taila.
—Zoe ainda não chegou e estou sem paciência para ir cumprimentar todas essas pessoas, o que me sobra é encher o seu saco.—ela respondeu se apoiando na parede junto com ela. Taila soltou uma risadinha mas logo voltou para sua expressão séria.—Onde você estava mesmo?
É raro Carlyn ver Taila já que a garota nunca se encontra em casa, principalmente quando tem visitas circulando em sua casa. A garota prefere ambientes tranquilos então acaba por optar por ficar na casa de seus amigos.
—Estava na casa da Kaila, não tenho paciência para ficar dividindo banheiro com mais sete pessoas.
—Você nunca tem paciência.—Carlyn disse enquanto varria o local com seu olhar em busca de alguém que não fosse seus tios, avós e os irmãos de Karen.
—Não mesmo e nesse momento você está me irritando então por que não vai procurar alguém pra encher o saco?—o tom da mais nova era impaciente, ela só queria ficar encostada em sua parede e beber enquanto esperava a noite acabar.
—Também te amo.—Carlyn deixou um beijo estalado na bochecha de Taila que logo fez uma careta de nojo e limpou o gloss de sua irmã de seu rosto.
Carlyn logo avistou Timera e Camila sentadas ao lado de Aaliyah e seguiu até elas o mais rápido possível antes que alguém lhe parasse para conversar com ela. Mas logo se arrependeu ao ver que Shawn também estava sentado no sofá, uma das pessoas que têm evitado durante o jantar.
—Até que em fim! Isso aqui estava um tédio sem você.—Timera disse se levantando do sofá assim que Carlyn apareceu em seu ponto de vista e todos do sofá olharam para a garota e colocaram sorrisos nos rostos menos Shawn que abaixou seu olhar.
—Estou dividindo o quarto com minha prima, ela deixou o meu quarto uma bagunça então foi quase impossível encontrar minhas roupas lá.—ela explica correspondendo o abraço de Timera.
—Sua prima é uma saco.—Aaliyah revira os olhos, já havia conhecido a garota mais cedo e não gostou nada da forma que ela pareceu ignorar toda a família e fixou sua atenção em Shawn. A garota se levantou do sofá e logo em seguida abraçou Carlyn assim como Camila.
Quando todas voltaram a sentar, os olhares das garotas caíram em Shawn e Carlyn esperando algum comprimento. Shawn sentiu os olhares nele e ergueu seu olhar até Carlyn sem saber ao certo o que deveria fazer. Levantar e abraçar ela? Ou ficar no sofá e acenar? O garoto não fez nada disso. Apenas estendeu a mão em direção à morena que juntou as sobrancelhas não entendendo o que aquilo significava. Comprimento de mãos?! Quem ainda fazia isso?! Shawn não fazia mas parece que seu cérebro não funcionou direito. Carlyn deixou claro a confusão em seu olhar, suas sobrancelhas estavam juntas e um sorriso debochado havia se formado em seus lábios.
—Que merda é essa?!—Timera perguntou olhando pra mão estendida de Shawn e riu em seguida. Carlyn deixou escapar uma risadinha enquanto Shawn recolhia sua mão constrangido.
—Oi Shawn.—Carlyn estendeu sua mão com um sorriso zombeteiro em seus lábios. Shawn lhe lançou um sorriso tímido e apertou sua mão. A respiração de Carlyn parou por breves segundos ao sentir a pele dele contra a sua, era o primeiro contato físico deles em quatro anos.
—Vocês são hilários.—Camila comentou rindo assim como Aaliyah, todas as garotas estavam achando engraçado o gesto de Shawn enquanto o garoto sentia seu rosto esquentar.
(....)
Shawn estava na cozinha colocando whiskey em seu copo quando avistou Carlyn pela porta dos fundos que dava ao quintal, ela estava sentada no balanço/banco que havia embaixo da árvore do quintal, ela mexia em seu celular enquanto impulsionava o balanço com o pé.
—Deveria ir falar com ela.—Karen disse entrando na cozinha e vendo que seu filho observava a garota com o copo parado no ar.
—Meu deus mãe! Que susto!—o garoto saltou do local ao ouvir a voz de sua mãe, Karen riu pela feição assustada que havia no rosto de seu filho.
—Vai logo, vocês precisam resolver logo essa intriga.—ela o aconselhou e Shawn suspirou. Sua mãe não tinha noção do quanto seria difícil Carlyn perdoar ele.
Shawn resolveu fazer o que sua mãe disse e pegou mais um copo no armário colocando o líquido marrom nele. Em seguida partiu para o quintal com os dois copos em mão e fechou a porta da cozinha que dava acesso ao quintal com os pés, conhecia sua mãe o suficiente para saber que naquele momento estava dizendo para toda a família que eles teriam uma conversa séria, ela era capaz de até tirar fotos dos dois e amostrar para todos em como eles estavam se resolvendo.
Carlyn soube que tinha companhia quando os pés de Shawn fizeram barulho contra a grama molhada por conta da chuva de mais cedo e no mesmo instante ergueu seu olhar avistando o garoto alto vindo em sua direção.
—Não quero companhia.—ela disse no mesmo instante.
—Apenas vim trazer whisky para você, parecia com sede.—ele mentiu se sentando ao lado dela e oferecendo um dos copos em sua direção, Carlyn apenas negou.
—Eu não bebo.—ela esclareceu fugindo daquele cheiro forte de bebida alcoólica.
—Desde quando?—ele arqueou a sobrancelha curioso enquanto deixava o copo de Carlyn ao seu lado e levava o seu aos seus lábios.
—Não importa.—ela deu de ombros mantendo seu olhar fixo na piscina à sua frente. Aparentemente,Shawn não sabia que ela havia ido para a reabilitação e quanto menos ele soubesse de sua vida melhor.
—Carlyn...eu...sinto muito por...—Carlyn nem ao menos deixou o garoto terminar. Sabia que Shawn tentaria se desculpar pelo que fez e ele esperaria o perdão da garota e naquele momento, Carlyn ainda não estava preparada para perdoá-lo então era melhor ele nem tentar pedir desculpas.
—Não quero ouvir suas desculpas.—ela disse apressada ainda sem olhá-lo.
—Mas farei mesmo assim.—ele esclareceu. Estava cansado de conviver com seus erros, sem ter a oportunidade de apenas pedir desculpa mesmo que ela não o perdoasse. Carlyn se levantou do banco pois não ouviria aquilo e tomou a iniciativa de se retirar do quintal mas Shawn foi mais rápido se levantando também e entrando em sua frente.—Eu fui um babaca, ok? E não tenho desculpas para isso.—ele começou dizendo, a garota tentou passar por ele mas Shawn segurou seus ombros e Carlyn logo bufou em frustração.—Te machuquei, contei algo importante de você que cabia apenas à você contar e nunca vou me perdoar por isso. Eu estraguei aquela noite e no dia seguinte fui embora, você era minha melhor amiga e...—novamente Carlyn o interrompeu com seus olhos se enchendo de lágrimas.
—Não! Não tenha a cara de pau de dizer que eu era sua melhor amiga, por que eu não era!—ela esbravejou batendo o seu dedo no peitoral dele.
—Se você me considerasse mesmo sua amiga teria me contato, por Deus Shawn! Você foi embora e não me contou, disse à todos menos a mim! Você...me tirou a oportunidade de ao menos me despedir.—Shawn pressionou seus lábios um contra o outro ao ver a garota em sua frente chorando. Carlyn derramava lágrimas porém em nenhum momento abandonou sua postura rígida.
—Vocês acham que eles vão se resolver?—Aaliyah perguntou olhando pelo pequeno espaço da porta da cozinha.
—Acho difícil, ela odeia seu irmão.—Taila respondeu observando os dois conversando algo que não dava para ouvir.
—Eles estão próximos, queria que eles se beijassem.—Timera acrescentou.
—É mais fácil ela socar a cara dele do que beija-lo.—Camila disse.
—Seria estranho ver eles se beijarem, eles são tipo meus irmãos.—Aaliyah disse o restante das garotas concordaram.
Carlyn passava a mão por seu cabelo em um ato frustado enquanto Shawn tinha seu maxilar rígido e seu olhar estava fixo em algo que não fosse o rosto dela.
—Você nunca vai entender.—Shawn respondeu e a garota deixou escapar uma risada amargurada.
—É claro que eu nunca vou entender o motivo pelo qual fez aquilo! Você contou à todos que eu tinha anorexia, era para mim contar. Você sabia o quanto aquilo me machucava, sabia como eu tinha vergonha de ter aquilo. E então você foi um grande babaca durante toda a noite, e depois foi embora sem se despedir. Sem ter me contato que havia recebido uma proposta para cantar pelo mundo todo. E quando eu te liguei...meu deus, eu nunca vou esquecer o que você me disse, suas palavras...como você foi capaz de me dizer aquelas coisas? Você era meu melhor amigo desde os meus sete anos de idade e então você simplesmente...resolveu jogar nossa amizade no lixo como se não valasse nada, como se eu não fosse importante.—as palavras da garota alcançaram Shawn e ele começou a sentir um caroço em sua garganta.
—Eu queria te afastar...—ele disse quase em um sussurro.
—Por que?
—Porque...você era perfeita, e não importava o quanto eu fosse um babaca você sempre iria me perdoar. Quando eu recebi a proposta de participar da Magcon, eu não sabia por quanto tempo eu ficaria longe e se eu te contasse você iria me apoiar como sempre e iria me esperar. Você era a pessoa mais importante da minha vida Carlyn e eu não suportaria viver com a sensação de que você estava me esperando voltar enquanto deveria estar vivendo sua vida. Não era justo com você.—ela desabafou metade da verdade, jamais contaria o real motivo de ter afastado a garota dele.
—Cabia a mim decidir se eu ficaria te esperando ou não.—as palavras de Carlyn soaram tranquilas, ela havia parado de chorar.
—Eu sei que agi errado quando fui embora.
—Não....você não agiu errado quando foi embora, você agiu errado quando foi e resolveu me excluir de sua vida como se a nossa amizade de anos fosse algo descartável. Eu não importaria se você fosse viajar por seis meses, um ano ou sua vida inteira...desde que não tivesse decidido sozinho o melhor para nossa amizade. Em algum momento você pensou em me perguntar o que eu queria? Se eu me importava em te esperar voltar? Deus...como você disse, eu sempre te apoiei, por que acha que não apoiaria você estar indo atrás de seu sonho mesmo que significasse ficar do outro lado do mundo?—Shawn não respondeu suas perguntas, não havia uma resposta para aquilo.
—Eu sei...e jamais serei capaz de me perdoar pelo que fiz.—ele disse sem olhá-la.
—Então como você vem até mim pedindo desculpas se nem você consegue se perdoar?Por que acha que eu conseguiria fazer isso?—ela perguntou. Shawn não respondeu.
Carlyn mordeu seus lábios sem saber ao certo o que fazer, levou suas mãos até o rosto e o limpou por conta das lágrimas que o molharam. Shawn colocou suas mãos dentro dos seus jeans e finalmente voltou seu olhar para o rosto dela que o olhava sem medo.
—Não vou te perdoar, Shawn. Mas também não quero te odiar mais, não quero que os próximos quatro meses seja um inferno porque a Karen não merece isso. Só vamos esquecer.—Carlyn disse calmamente.
—Estou cansado de fingirmos que coisas não aconteceram entre nós.—Carlyn sabia o que aquilo significava mas nunca pensou que ele tocaria no assunto novamente, ela nem ao menos se lembrava mais.
—Tenha uma boa noite, Shawn.—ela se aproximou dele e deixou um beijo suave em seu rosto o que fez Timera pular do outro lado da porta pensando que quando ela se aproximou dele seria um beijo na boca.
E foi assim que terminou a noite para os dois.
Carlyn desejando não odiá-lo mais.
E Shawn desejando que as coisas voltassem a ser como eram.
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Chegamos ao fim da maratona, espero que gostem e nos vemos na quarta 💗🌚
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