Como ela se sente
(SHAWN)
Chego na lanchonete antes que Alessia, eu já imaginava que isso aconteceria. Ela está bastante ocupada com um ensaio fotográfico que estava fazendo até alguns minutos atrás, por isso acabamos por combinarmos de nos encontrar em um estabelecimento próximo ao estúdio em que está para compormos enquanto almoçamos, já que em duas horas ela terá que voltar para responder algumas perguntas à revista que está lhe fotografando.
Eu sei que poderíamos terminar essa composição enquanto viajamos durante a turnê mas é uma letra bastante pessoal pra mim então quero compor agora que o sentimento ainda está presente e mais vívido tanto em meu coração quanto em minha cabeça. Sei que demorará um tempo para curar a ferida em meu coração mas ainda assim preciso colocar logo isso pra fora de alguma forma.
Não tenho conversado com ninguém a respeito do término com Carlyn, normalmente quando acontece algo que me magoa eu costumo falar com meus pais e meus amigos, nunca fui do tipo de pessoa que guarda o sentimento mas essa situação é tão diferente. Não estou guardando os sentimentos pra mim por conta de orgulho mas sim porque simplesmente me machuca falar a respeito. Noite passada, eu desabafei com a moça do bar e no momento foi até bom pois recordei-me dos momentos com Carlyn e vi de uma forma boa mas quando cheguei em casa onde eu não precisava mais fingir estar bem, tudo desmoronou.
Sinto o ar nos meus pulmões queimarem meus órgãos por dentro. Acabo me levantando da mesa deixando o copo de água que me serviram em cima da superfície, recolho meu celular e olho em volta em busca da porta mas acabo encontrando uma porta maior que segue para uma espécie de varanda pelo que eu posso ver daqui. Sigo até o local agradecido pelo local estar desocupado e me sento num degrau.
Respiro fundo, permitindo que o ar entre em meu corpo e desacelere um pouco meus batimentos cardíacos, odeio essa ansiedade que domina todo meu corpo todas as vezes em que penso nela e no fomos ou no que poderíamos ter sido.
Levo minhas mão até meu cabelo o jogando pra trás, me sinto tão frustrado. A música em meus fones é agitada o que parece deixar meu batimentos mais acelerados ainda, por essa razão logo pego meu celular e passo a música para a próxima.
Odeio a sensação que sinto, de arrependimento e ao mesmo tempo não arrependimento, isso é tão confuso. Não queria ter terminado com ela porque a amo e quem quer estar longe da pessoa que se ama? mas ao mesmo tempo sei que fiz o certo em colocar-me em primeiro lugar, Carlyn é incrível e realmente me fazia bem mas eu não podia aceitar um relacionamento onde apenas eu estou totalmente nele.
E eu sei que a culpa não era minha porque dei tudo de mim, fiz de tudo pra ser um bom namorado e amá-la como ela merece ser amada e ainda assim não foi o suficiente pra ela dizer as palavras de volta. E tudo bem, isso não torna ela a vilã da história ou eu o vilão, aparentemente apenas não estávamos na mesma sintonia.
Começo a prestar atenção na música que toca em meus fones e suspiro ao notar o quanto a letra se encaixa nesse momento da minha vida.
O cantor já começa dizendo que tem medo de estar sozinho e não poderia ser mais verdade. Passei tantos anos sem me compromissar com alguém e havia me acostumado com aquilo, focando apenas na minha família e no meu trabalho, em crescer na indústria da música e conseguir viver com aquilo e então finalmente alcancei um ponto da minha carreira onde me sinto confortável, sem me preocupar a todo instante em fazer sucesso pois de certa forma já alcancei isso e então surgiu Carlyn em um momento em que eu pensava não estar pronto ainda pra me relacionar, estava com medo de namorar pela primeira vez após mudar totalmente a minha realidade de vida e aconteceu de uma forma que eu nem ao menos percebi. Como uma vez que ela disse, que um namoro não é pra dar dor de cabeça mas sim que tem que ser fácil e realmente foi, não estou dizendo que não foi um inferno quando toda a mídia soube do nosso relacionamento porque foi mas acabou sendo uma situação fácil porque ela estava do meu lado. E agora, estar solteiro é simplesmente...errado. Sei que irei me acostumar com isso mas tenho medo de estar sozinho e não me adaptar a isso, sem ter alguém para me apegar emocionalmente, sem alguém para confiar tudo e sem aquela pessoa que faz seu coração acelerar e suas mãos suarem de nervosismo.
A música diz que é mais difícil dizer a verdade e isso te deixa em cacos. É assim como meu sinto, quebrado em mil pedaços. Deveria doer tanto assim fazer o certo pra mim? era pra me fazer bem e não me destruir. E a verdade realmente me machuca, a verdade que eu estava tentando ignorar nos últimos dois meses. Sempre me convencendo que ela sentia o mesmo pois me recusava a acreditar que ela não estava apaixonada por mim, apenas estava evitando a verdade.
"Mas eu estive com medo de continuar" com certeza é a frase que me resumia. Estava com medo de continuar com o relacionamento em que estávamos e ir para a turnê naquela situação de limbo que de uma forma ou outra acabaria nos distanciando pois minha insegurança falaria mais alto. Um relacionamento a distância já é difícil e sem confiança é basicamente um trem correndo para o fim dos trilhos.
A voz do cantor e da minha amiga Julia Michaels cantam juntos "porque dói quando você machuca alguém" e realmente parte da minha dor é por também ter feito aquilo com Carlyn pois nem em um bilhão de anos eu desejaria machucá-la. Não sei exatamente o que ela sentia e sente por mim mas sei que também estava envolvida emocionalmente, caso contrário não estaríamos namorando. E quando eu fui até sua casa, vi a dor em seus olhos, vi as lágrimas e a forma que seus lábios tremiam segurando o choro, ela parecia apenas...quebrada. E ontem durante o almoço, também vi o olhar machucado que ela me lançava.
Lembro-me nitidamente do seu rosto em minha visão enquanto ela implorava para eu não terminar mas ao mesmo tempo estava ciente que eu faria aquilo assim que abriu a porta pra mim. Acho que uma parte sua já sabia desde o fim da viajem quando passei a estar distante.
A viajem me lembra de alguns dos nossos últimos momentos. Foi a última vez em que dormimos tanto sexualmente quanto apenas dormimos na mesma cama. Também foi a última vez em que estivemos juntos emocionalmente pra valer, desde então éramos apenas estranhos em nossos corpos. Me dói saber que a última vez em que nossos lábios se encontraram eu não estava sendo eu mesmo e tudo o que eu conseguia pensar era em terminar aquilo.
Arranco os fones das minhas orelhas quando as palavras sendo pronunciadas parecem me sufocar, sinto que estou me afogando nos meus próprios sentimentos e apenas tentando alcançar a superfície mas nunca consigo.
O celular brilha em uma notificação de Alessia informando sua chegada então logo me retiro da sacada, entrando novamente na lanchonete e agora notando que há três mesas ocupadas sendo que antes havia apenas uma.
—Hey, é ótimo ver você.—abraço o corpo baixinho de Alessia assim que ela se levanta pra me cumprimentar.
—O mesmo, você está bem?—preocupação brilha em seu rosto quando ela se afasta, estranho a pergunta que não é algo casual, seu olhar varre meu rosto me fazendo acreditar que não sou tão bom em me recuperar do que aconteceu agora a pouco na sacada.
—Estou...e você?—ponho um sorriso no rosto enquanto sento-me do outro lado da mesa.
—Estou bem também.—seu sorriso diz que ela não acredita nenhum pouco que estou realmente bem, isso faz com que eu me mexa desconfortável no banco.—Então...como está sendo o ensaio fotográfico?
Ela revira os olhos fortemente o que me faz rir. Alessia sempre odiou fotografar mas as vezes é necessário.
—A merda do fotógrafo está tentando colocar vários fru-fru em mim.
—O que diabos seria fru-fru?—seguro o riso.
—Você sabe...cílios postiços, batom forte, vestidos femininos e Deus...saltos.—a palavra "salto" sai dos seus lábios como se fosse uma palavra proibida de se dizer, gargalho.
—Isso é tão...não você.
—Eu sei! Certo, não é?
—Você aceitou essas coisas?
—Acabai fazendo a entrevista antes e em duas horas voltarei para o ensaio fotográfico, tivemos um desentendimento porque eu não queria me vestir daquela forma e o fotógrafo acabou perdendo a paciência e dizendo que precisava de um "tempo". A matéria será sobre quem sou eu e aí eles resolvem me vestir como uma diva pop? nada contra...mas essa não sou eu.
—Não, não é e você não deveria aceitar. Eles não podem te obrigar a se vestir como outra pessoa sendo que a matéria é exatamente mostrando a real Alessia Cara.
—Isso é tão fodido...—ela leva sua mão até o cabelo mostrando o quanto ela está frustrada.—As vezes odeio em como eles querem transformar nós em outras pessoas apenas porque acham que é isso que o público aceita.
Alessia tem um estilo bastante diferente das outras artistas que o público está costumado a ver. Ela não é o tipo de cantora que se veste vaidosamente e faz diversos números de dança no palco, não há nada de errado em ser assim mas não é como ela é. Querendo ou não, esse tipo de artista se destaca mais na mídia e acho que por isso Alessia não está sempre nos holofotes mesmo sendo imensamente talentosa, o que me deixa mais orgulhoso dela, pois me nenhum momento ela tentou ser aquilo que o público espera de artistas mulheres pois não se sentia confortável e ainda assim conquistou tudo o que tem sendo apenas ela.
—É importante você se impor contra isso pois caso contrário cada revista irá querer criar a própria Alessia que eles querem. E também é importante seu empresário se certificar de trabalhar com pessoas que querem a verdadeira Alessia.
—Sim, foi bem mancada dele fechar um contrato com uma revista idiota dessas, você precisava ter visto o tipo de pergunta que me fizeram. Eles basicamente queriam saber quais artistas eu prefiro ou se estou saindo com alguém.—ela respira fundo.—Em fim, você já fez seu pedido?
—Ainda não, quer pedir?
Como ela confirma, logo chamamos uma garçonete e fazemos nossos diferentes pedidos de almoço. Seu prato concentrado mais em frango e batata frita e o meu em salmão e salada.
(...)
—Okay...—Alessia diz mais pra si mesma quando termina de ler a composição em meu caderno, ela pisca fortemente parecendo incrédula pelas minhas palavras na música o que me deixa tenso.—Na música, você faz duas perguntas sendo uma delas retórica e a outra o do porquê ela estar com medo de sentir então a parte em que eu viria a cantar poderia ser respondendo a isso.—ela sugere voltando a acomodar suas costas no sofá banco.
—Tudo bem.—concordo já que a parte em que ela cantará será composto por ela e estou aqui apenas para fazer sugestões.
—Podemos colocar "não tenho medo de te amar porque já faço isso desde o momento em que você ficou ao meu lado" já que durante toda a música você diz que tudo o que quer é amar ela e ser retribuído.—estreio meus olhos desconfiado por sua sugestão como se já soubesse exatamente o que iria compor.
—Então na sua parte será uma visão onde a garota retribui?—pergunto meio confuso.
—Exatamente, a música é sobre um término onde você diz não ser correspondido mas a resposta da garota não precisa necessariamente sobre realmente não corresponder, poderia ser facilmente sobre duas formas de ver um término.—ela arqueia a sobrancelha em desafio e cruza os braços em cima da mesa, suspiro cansado. Eu não disse para Alessia sobre meu término com Carlyn mas pergunto se ela disse pois no momento ela parece querer me matar pela minha composição.
—Tudo bem então.—dou de ombros, até porque isso aqui é uma parceria que levará seu nome também na composição.
—Continuando...espera que eu anotei umas ideias.—ela liga o celular lendo algo e volta a atenção pra mim.—"Eu tinha medo de te perder e acabei perdendo".
Pego meu caderno escrevendo esse trecho dela e esperando pelo próximo.
—"Estou atrás de sua porta, você poderia abrir pra mim uma última vez?"
No exato momento que sua frase é terminada largo a caneta e olho pra mesma. Eu já estava desconfiado que sua forma de compor tinha haver com Carlyn mas agora tenho minha suspeita confirmada, a referência da porta não foi nada sútil. Vendo minha reação ela suspira se dando por vencida.
—Carlyn me disse que vocês terminaram.
—Ela contou tudo?
—Sim, digamos que tivemos uma longa noite de desabafo.—a mesma torce os lábios.—E se vamos escrever uma música sobre o término de vocês então é justo eu também saber a versão dela.
—Ela sabe que estou compondo essa música?—quase grito, ela encolhe os ombros.
—Desculpa, ok? mas eu sei que vocês tem diferentes formas de pensar sobre o término de vocês e eu sabia que a sua versão seria no que você acredita então é justo eu escrever sobre o que ela acredita.
Passo a mão por meu cabelo suspirando frustrado. Não queria que Carlyn soubesse que estou escrevendo sobre nosso término embora sei que quando eu lançar e ela escutar saberá no mesmo instante que é sobre ela. Eu não sei, apenas me sinto desconfortável com ela sabendo que estou compondo sobre nós. E ao mesmo tempo tenho medo das palavras que sairão dos lábios de Alessia pois de certo jeito é a forma que Carlyn via nós e ainda não sei se estou pronto pra saber o que ela sentia por mim.
Isso me faz pensar no primeiro trecho que Alessia sugeriu dizendo que ela não tem medo de me amar pois já faz isso desde o momento em que fiquei do seu lado, o que diabos significa isso e é apenas a forma que Alessia pensa que ela se sentia ou realmente é a forma que Carlyn se sentia?
—Ok, pode continuar.—peço agora curioso para o que ela vai compor.
Alessia sorri e se ajeita no banco deixando suas costas eretas em animação.
—Depois da pergunta que faço se você abrirá sua porta uma última vez, adiciona "estou pronta para lhe dar tudo o que você merece" e em seguida "por favor, deixe-me ficar" onde eu cantaria em uma nota alta e com mais sentimento deixando claro o quanto a pessoa está desesperada para ele lhe deixar ficar.
Não anoto de imediato o que ela diz pois simplesmente fico sem reação com suas palavras.
—Isso que está escrevendo...—começo a perguntar sentindo o ar em meus pulmões desaparecer, Alessia parece saber o que eu perguntaria pela minha expressão pois responde antes que eu termine a pergunta.
—É como ela se sente, não há nenhuma mísera parte vindo de mim, claro que sou eu que estou formulando as frases mas é o sentimento dela.
Levo minha mão até meu rosto apertando meus olhos. Sinto o nervosismo consumir meu corpo. Isso quer dizer que ela quer uma segunda chance para tentarmos novamente e que agora está pronta para dar o que eu mereço, alguém que me retribua. Não sei como me sentir em relação a isso. Se ela me quer de volta então por que ainda não veio atrás de mim ou ela está esperando que eu vá atrás dela?
—Ok, depois dessa parte poderíamos repetir o refrão .—digo após minha respiração voltar ao normal, indico a parte do refrão no caderno e ela confirma.
—E então eu cantaria " amor, deixe-me ficar. Deixe-me te amar, como você merece. Oh, deixe-me ficar" seria uma parte repetitiva para fazer transição do refrão para a parte mais tranquila que eu cantaria.
—Sim, está bom.
—"Tudo o que tenho feito é temer te amar. Eu estava com tanto medo de me machucar que acabei machucando você".
Respiro fundo enquanto escrevo o trecho pois isso é tão Carlyn. Não sou idiota e desde o mesmo em que os sentimentos começaram a crescer entre nós, eu percebia o quanto ela estava com medo daquilo. Nas primeiras vezes eu que eu demonstrava mais intensidade ela sempre se esquivava ou parecia aterrorizada com as coisas ficando intensas. E eu já suspeitava também que ela estava com medo de se machucar por isso não se permitia sentir.
—"Mas agora eu percebi. Estou pronta pra ser o que você precisa. Porque você é tudo o que eu preciso"
Meus olhos ardem e no mesmo instante desvio meu olhar para a janela mesmo sabendo que Alessia conseguirá ver. Mesmo que não seja Carlyn me dizendo isso ainda é um alívio saber que ela precisa de mim tanto quando eu preciso dela. Mas merda...se ele se sente assim porque ainda não veio atrás de mim após ter se passado dias?
—Depois você repete a parte em que canta "eu sinto falta de pequenas coisas, como segurar sua mão, mesmo que apenas nós saibamos" e em seguida eu termino a música cantando "eu sinto falta de pequenas coisas, como amar você, estou apaixonada por você, me deixe te amar?"
Enterro meu rosto em minhas mãos e antes que eu possa me controlar sinto meus olhos lacrimejando e o caroço em minha garganta se formar.
—Por que ela ainda não veio atrás de mim?—pergunto finalmente erguendo meu rosto, preciso de respostas. Alessia me olha com pena.
—Eu acho que é melhor ela te explicar isso, tudo o que sei é que ela irá.
—Ela irá?—uma pequena ponta de esperança se ascende dentro de mim.
—Ela vai.—Alessia sorri me garantindo.
Não sei se sinto um alívio dentro de mim ou minha ansiedade aumentar.
—Ela sabe que não posso esperar pra sempre, né?
—Ela sabe. Ela não queria que você ficasse esperando, na verdade eu estou sendo a enxerida em te dizer isso então...quando ela te procurar pra conversarem finja surpresa.—deixo uma risada escapar de mim com suas palavras.
Suspiro encostando minha cabeça na janela, sem saber ao certo como me sentir diante dessa situação.
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Primeiramente vamos de aviso, recomendo se equiparem com o colete para o próximo capítulo.
E vamos interagir, qual é a série do momento se vocês?
A minha é Gran Hotel, uma série de época de romance e mistério e o casal principal é TUDOOOOO pra mim, recomendo muito pocs
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