Atrás do amor de sua vida
(CARLYN)
Caminho determinada na direção do prédio alto, assim que o táxi estaciona do outro lado da rua. Meu carro está no concerto e minha mãe está trabalhando então não posso usar o carro dela.
Antes de entrar no prédio, olho para as paredes que refletem meu reflexo e confirmo minha roupa, meu cabelo e minha maquiagem. Minhas mãos tremem e minha garganta está seca enquanto confirmo pela milésima vez desde que sai de casa se minha aparência está boa, me sinto como uma estúpida adolescente indo direto para o primeiro encontro, exceto que o que vou fazer é bem mais significativo, vou atrás do amor da minha vida.
Estou usando uma calça jeans que cai perfeitamente bem em minha cintura, é a minha favorita da Tommy e em todas as ocasiões importante pra mim, estou usando ela. Não porque a calça me dar sorte, não acredito nisso. Mas sim porque me sinto perfeita nela e isso expande a minha confiança, quando você tem confiança a tendência das coisas terem sucesso é bem maior.
Trajo uma blusa branca simples que vai até embaixo dos meus seios deixando o espaço da minha barriga entre a calça e a blusa amostra, por cima trajo um casaco azul de seda que é suficiente para me proteger do frio de Toronto.
Passo minhas mãos pelo meu cabelo pela terceira vez mas continua me incomodando o fato de não estar como eu gostaria. Suspiro me sentindo irritada e então respiro fundo não deixando isso abalar meu humor. Vai dar tudo certo, tem que dar. Acabo por tirar um elástico do bolso e prender meu cabelo em um rabo de cavalo, logo em seguida soltando as mechas da frente deixando o penteado charmoso. Não está perfeito mas irá servir.
Puxo uma grande rajada de ar para meus pulmões, o que não é uma boa ideia por conta do frio, e entro no prédio antes que eu me arrependa.
Eu realmente gostaria de dar mais tempo para Shawn pensar no que ele realmente quer, queria que ele estivesse sem mim por um tempo para avaliar se sua vida é melhor comigo nela ou sem, parte minha teme que ele prefira sem mim, talvez por isso também estou demorando para ir atrás dele. Porque não consigo imaginar como é o sentimento que ele está sentindo em pensar que não foi retribuído por mim todo esse tempo, e eu quero ser retribuída por ele quando dizer que preciso dele em minha vida e que ela é sem sombra de dúvida melhor quando ele está nela. Só tenho esse medo dele optar ficar sem mim.
Não irei o culpar porque estou ciente que não fui boa pra ele como ele era pra mim, e talvez parte minha tema que aconteça a mesma coisa se me der outra oportunidade, o que não vai acontecer mas ainda sim não posso culpá-lo por não querer dar uma segunda chance.
Como eu disse, queria que o nosso tempo fosse um pouco mais longo porém infelizmente não é e em quatro dias ele viajará. E isso parte meu coração pois em ambas as possibilidades, de ter ele de volta ou não ter, irá me partir ao meio com sua partida. Irei continuar longe dele e temos tão pouco tempo para resolvermos isso.
Suspiro enquanto ando pelo hall me dirigindo até o porteiro atrás do balcão, sinto minha confiança indo embora aos poucos e odeio isso.
—Hum...Senhor Ja...—minha voz falha, engulo em seco e coço a garganta.—Senhor Jason—saldo o homem de idade que perdi as contas de quantas vezes o vi nos últimos meses.
—Senhorita Carlyn! não te vejo já faz um tempo...—o sorriso simpático no rosto do homem me faz sorrir.
—Pois é...eu vim para ver o Shawn, você poderia liberar a minha entrada ou pedir que ele libere?—digo sentindo um caroço em minha garganta pelo nervosismo.
—Sinto muito mas ele não está, saiu agora...se tivesse chegado dez minutos atrás teria o encontrado.
Solto um suspiro decepcionado, é de manhã cedo então ele provavelmente foi para a academia, deve voltar em duas horas se for parar para beber um café como costuma fazer.
—Eu posso esperar aqui?—aponto para a poltrona que há do outro lado do hall.
—Claro, pode sim mas você sabe que ele não chegará tão cedo, certo? ele deve ter te avisado.—suas sobrancelhas estão juntas.
—Na verdade, nós não estamos nos falando então...—digo sem graça, o homem entreabre os lábios em surpresa.
—Oh...hum, me desculpa...eu não...
—Está tudo bem, estou aqui meio que mais nos resolvermos. Você pode me dizer o motivo dele demorar?
—Eu não sei muito mas quando ele saiu tivemos uma rápida conversa e pelo que eu entendi, o rapaz vai para a academia e logo em seguida vai diretamente resolver algumas coisas da próxima viajem. Você sabe...ele não para muito tempo aqui.
—É...eu sei. Ainda está tudo bem se eu esperar?
—Claro! pode se sentar na poltrona e esperar por ele.
Sorrio em agradecimento e vou até a poltrona amarela me sentando, retiro o celular e ligo para Zoe.
—E aí? já conversou com ele?—seu tom é receoso do outro lado.
—Ainda não, estou o esperando...ele saiu.
—Relaxa, ele deve voltar logo e então vocês poderão conversar e se entenderem.
—Estou tão nervosa, sinto minha boca seca e sinto como se eu fosse vomitar toda vez em que penso na nossa conversa.
—Apenas respire fundo e se concentre no que irá dizer pra ele, do jeito que ensaiamos.
Sorrio grata pela amiga que tenho. Zoe me fez ensaiar com ela e Charlie, que agora são um casal oficial, vale ressaltar, tudo o que eu diria para Shawn pois assim eu não ficaria tão nervosa. A atitude dos dois foi linda e na tarde em que ensaiamos consegui soltar algumas gargalhadas com eles não acreditando que eu realmente estava ensaiando porém agora tento lembrar de uma única frase que construi pra dizer a ele e não consigo.
—Juro pra você que não lembro de nada que eu diria, minha mente é um nevoeiro.
—Vai dar certo, quando você o vê-lo as palavras irão sair por vontade própria.
—Então eu tenho que esperar a boa vontade da minha boca e do meu cérebro?—ela ri.
—Relaxa, você apenas precisa dizer o que sente e não o que pensa que ele quer ouvir, diga tudo o que está guardado em seu peito e seja totalmente honesta.
—Zoe...—a chamo me sentindo tensa.—E se ele não me quiser de volta?
—Isso não acontecerá.
—Mas e se acontecer?
—Eu não sei amor...—ela suspira.—Eu realmente não sei.
—Eu preciso dele de volta.—sinto uma lágrima molhar meu rosto mas logo me apresso em limpar e fungo para afastar o choro.
—Vocês dois se amam então acabarão juntos, de uma forma ou outra.
—Não é tão simples assim, duas pessoas podem se amarem e ainda serem racionais sobre o seu próprio bem estar. Eu o machuquei e ele decidiu não estar mais comigo porque eu o fazia mal, e se mesmo eu dizendo que retribuo seus sentimentos, ele ainda perceber que sua vida é melhor sem mim?
—Então não era pra acontecer e eu tenho certeza que você aprenderá com algo e usará isso futuramente.—sinto outro lágrima molhar meu rosto, fico assim sempre que falo ou penso em um futuro sem ele.—Hum, eu preciso desligar, Charlie chegou aqui, estamos saindo juntos com a Maya e minha vó pela primeira vez!—seu tom muda para um animado o que logo me faz sorrir de fora a fora.
—Estou tão feliz por vocês estarem ficando sérios, os dois apaixonadinhos de chamego.—não consigo ver mas não preciso pra saber que ela está revirando os olhos com minha implicância.
—Tchau vadia.
—Te ligo depois.—estou sorrindo quando desligo a ligação.
Suspiro voltando a ficar no silêncio e me preparando para apenas esperar Shawn.
(...)
As coisas estão indo por água a baixo, literalmente.
Esperei até o meio-dia a chegada de Shawn mas não aconteceu e infelizmente precisei ir para o trabalho mesmo que minha maior vontade fosse inventar estar passando mal e ligar para Brenna dizendo que eu não poderia ir hoje, mas não posso deixar minha chefe na mão então acabei indo.
Assim que meu expediente acabou, peguei o primeiro ônibus e voltei para o prédio de Shawn me sentindo mais nervosa ainda por finalmente termos essa conversa todavia meu nervosismo gastado foi atoa pois Jason informou que ele ainda não havia voltado para seu apartamento desde que saiu pela manhã.
Voltei a me sentar na poltrona amarela que já se tornou minha amiga, até as nove da noite quando Jason precisou me expulsar. Eu já sabia disso, eles não aceitam que ninguém fique no hall depois desse horário pois não há supervisão então a partir das nove só é possível você entrar e sair se for um morador ou estiver com as chaves que os moradores tem para abrir a porta da entrada, o que eu não tenho.
Então aqui estou eu, em baixo do céu de Toronto logo ao lado do prédio do meu ex namorado, sentindo o osso do meu maxilar tremer assim como todo meu corpo por conta da chuva que cai do céu.
As pessoas dizem que o universo costuma mandar sinais para você e se eu acreditasse nisso diria que o fodido do universo está gritando pra eu desistir de Shawn. Porém não sou essas pessoas que acreditam em sinais, por isso ignoro o fato dele ter ficado fora o dia todo, de me expulsarem de dentro do prédio e da chuva grossa que está caindo do céu. Mas eu não vou sair daqui hoje enquanto ele não aparecer.
A sorte é que sempre ando com um suéter reserva dentro da minha bolsa então assim tenho mais proteção contra o frio todavia não adiantou muito já que no momento em que o vesti por cima do casaco, ele ficou ensopado assim como todo o resto de mim.
Odeio em como esses prédios não tem uma mísera cobertura, o local mais próximo onde eu poderia ficar debaixo é o ponto de ônibus no final da rua mas não adiantaria pois quando Shawn chegasse eu não o veria. Eu poderia mandar mensagem pra ele perguntando se está chegando mas se eu arriscar abrir a bolsa, todos os meus pertences podem ficarem encharcados, se já não estão.
—Carlyn?
Dou um sobressalto para o lado e quase ergo meu punho para socar que se aproxima quando sinto uma mão segurar meu braço. Deveria ter adivinhado que era ele pela forma que todo meu corpo se arrepia ao seu toque, como se já o conhecesse. Vejo Shawn borrado por conta dos meus cílios molhados, limpo os olhos confirmando minha suspeita.
Perco o fôlego com a imagem dele se formando em minha frente, o mesmo usa um suéter grosso preto que sinto estar um pouco molhado quando em um ato de reflexo me seguro em seus ombros por sua voz ter me feito quase cair. Ele usa uma jaqueta jeans por cima que não está molhada e há um guarda-chuva em sua mão.
Pisco atordoada ao tê-lo tão próximo de mim, meus lábios entreabrem tentando soar algo mas nada sai, me dou por vencida e permito-me olhá-lo por alguns segundos. Seu cabelo parece ter sido encharcado pois ele está com a exata aparência de quando saía do banho, amo a forma que seu cabelo molhado é penteado para trás como se contivesse gel, exceto pela mecha que tanto amo caindo sobre a lateral de sua testa.
Meu olhar desvia dele quando um farol entra em minha vista, um carro preto passa por nós dando uma buzinada e Shawn acena discretamente na direção do carro me levando a crer que foi sua carona. Logo seu olhar está novamente em mim, uma mistura de confusão e preocupação domina seu rosto.
—Oi.—finalmente consigo dizer algo entre um suspiro, minha voz não sai tão falhada por conta de agora estar em baixo do seu guarda-roupa mas ainda sim soa fraca.
—Você...você está tremendo.—seu olhar cai por meu corpo me checando assim como suas mãos postas em meus ombros, realmente estou mas não sei ao certo se é devido ao frio ou nervosismo por ele estar aqui.—Vem, vamos entrar.
Shawn me guia para o prédio sempre me deixando em baixo do guarda-chuva e quando adentramos com sua chave sinto meus órgãos pararem com a rajada de ar quente que respiro como se já tivessem se adaptado ao ar gelado. Enquanto caminhamos para o elevador é que percebo o quanto estou sentindo frio e como todo meu corpo está tremendo e implorando pelo um aquecedor. Dentro do elevador, não dissemos nada além de um "aqui está" quando meus dentes começam a fazer um bagulho irritante deles se batendo e ele põe a jaqueta seca que está usando em meus braços e eu digo um "obrigada" sorrindo em pequeno.
Quando entramos em seu apartamento, ele corre para ascender as luzes e ligar o aquecedor que sei que fica na cozinha. Encontro-me tirando sua jaqueta quando ele sai da cozinha e o vejo caminhando para o corredor de quartos, ainda sem ambos dizermos nada. Me remexo desconfortável sem saber ao certo o que fazer e o do porquê ele ter me deixado sozinha. Vejo ele voltando com uma toalha dobrada em seus braços e outros tecidos que não consigo identificar.
—É melhor você tomar um banho, se ficar com essa roupa pode ficar seriamente doente. Eu ajustei o chuveiro do meu quarto para o mais quente então se machucar pode diminuir um pouco a temperatura, vou fazer um chá e estarei aqui caso precise de algo.—ele deixa os tecidos em meus braços e logo se afasta.
—Obrigada.—sussurro apenas isso novamente pois não sei o que dizer e caminho-me na direção do seu quarto.
Tomo banho por alguns minutos com a temperatura que ele ajustou pois como meu corpo está bastante a baixo da temperatura normal, acaba aceitando para voltar ao seu estável mas então vou sentindo a água queimar minha pele e aumento um pouco a temperatura pra ficar mais confortável. Lavo meus cabelos com os cosméticos de Shawn e me visto dentro do banqueiro mesmo.
Vejo que ele trouxe minha calça de pijama flanela e minha calcinha que deixei aqui na gaveta que ele separou pra mim, depois que terminamos eu não voltei para buscar e ele também não levou para mim. Visto uma camiseta sua que fica no meio das minhas coxas mas que logo é coberta por seu moletom verde musgo, sorrio enquanto puxo o seu perfume do moletom, é meu moletom favorito dele e sempre o usava quando dormia aqui.
Enquanto retiro-me do quarto me sinto mais relaxada talvez pelo banho e por não estar mais tremendo de frio mas ao mesmo tempo ainda sinto como se meus órgãos estivessem tremendo e as borboletas em meu estômago estivessem agitadas tentando sair de dentro de mim.
Estou prestes a sair do seu quarto quando em um ato automático minha cabeça vira na direção da sua cama, me aproximo até estar ao lado dela.
Contém um criado-mudo ao lado de sua cama onde Shawn sempre deixou três porta-retratos, meu coração murcha ao perceber que um falta. Uma das fotos é dos seus pais se abraçando e sorrindo para a câmera, a outra foi mais recente tirada no primeiro dia do ano, estávamos na casa do lago comemorando. A imagem foi tirada no deck que dava ao lago e Shawn me segurava no colo enquanto eu afundava meu rosto em seu pescoço rindo, havia um dos maiores sorrisos que ele já deu e ao lado tinha seus pais, Aaliyah, Brian e minha mãe e Taila. Brian também tinha Aaliyah nos braços e ambos sorriam enquanto mamãe carregava Taila em suas costas e os pais de Shawn estavam mais contidos abraçados. É uma das únicas fotos que temos todos reunidos e Shawn uma vez me disse que queria ter uma foto ao lado de sua cama com as pessoas mais especiais em sua vida para lembrá-lo o quanto é sortudo.
Porém há uma foto faltando, tendo conhecimento disso sinto meus olhos se encherem de água. Respiro fundo para não permitir que as lágrimas caiam e avisto o porta-retrato no espaço abaixo da superfície que há entre as gavetas e a superfície, a foto está lá como se ele apenas tivesse tirado de cima mas que algo não o fez guardar na gaveta. Está deitada mas não pra baixo.
É uma foto nossa no sofá de Karen, foi Aaliyah que tirou alguns dias depois que todos descobriam nosso relacionamento. Estamos os dois sentados no sofá, eu com minhas pernas em cima das suas, ele me abraçava pelos ombros puxando-me em sua direção. Minha mão está segurando ele pelo maxilar enquanto minha testa se encontrava apoiada em sua bochecha e eu sentia seu perfume, Shawn tinha um sorriso sem mostrar os dentes no rosto mas dava pra notar seu olhar brilhando assim como minha expressão que embora não sorria era possível notar o quando aproveitava o momento.
Enquanto caminho de volta para a sala, me pego pensando que não posso ficar chateada por ele simplesmente estar me esquecendo, mas ainda sim fico pois não consigo controlar meus sentimentos. Quando chego na sala olho em volta perguntando-me o que estou fazendo aqui, ele está claramente conseguindo me superar, não é justo com ele eu simplesmente voltar para bagunçar tudo de novo.
Mal percebo quando caminho em passos apressados na direção da minha bolsa na poltrona, Shawn percebe o movimento pois volta da cozinha com duas canecas de café. Ele para no meio do caminho vendo eu com minha bolsa e a forma que meu corpo está virado na direção da porta.
—Eu...eu preciso ir embora.—consigo dizer após muito esforço, sinto meus lábios secos assim como meus olhos lacrimejando.
Shawn entreabre os lábios e em seguida os morde, vejo seu olhar desviar de mim para a porta e ele pisca como se não estivesse surpreso, vejo um sorriso murcho surgir em seus lábios e quando ele volta a me olhar diz:
—Preciso dizer, você até que conseguiu ir longe.
Seu tom é meio debochado mas ao mesmo tempo em que ele parece tentar soar como se já estivesse preparado pra não esperar muito de mim, ele também parece atordoado como se tivesse se permitido acreditar em mim.
—Veio até meu apartamento e tudo, é uma pena que você continua não conseguindo dizer.
Ele parece tão decepcionado que sinto algo quebrar dentro de mim. Não é que eu não consigo dizer que o amo, posso dizer isso agora facilmente mas ele parece que já conseguiu seguir com sua vida e não cabe a mim vim me meter nela mais uma vez.
—Não é isso...—sussurro mas sei que ele escuta.—É só que...você parece estar bem, sua vida parece estar bem, então...por que estou aqui?
Ele volta seu olhar pra mim agora parecendo quase ofendido, sua boca abre em surpresa.
—Você acha que eu estou bem e que minha vida está bem?—seu tom é incrédulo, ele caminha até a mesinha ao lado do sofá repousando as canecas nela e permanece lá deixando o braço do sofá e da poltrona entre nós.—Nada comigo está bem. Não durmo a dias, não consigo pensar em nada que não seja em você e quando não estou pensando em você acabo pensando nos nossos momentos juntos que acaba sendo a mesma merda, eu...vai por mim, eu não estou bem.
—Eu sinto muito...—suspiro após ele terminar de desabafar, aos poucos vou deixando minha bolsa deslizar pelo meu braço até cair de volta na poltrona, noto seus ombros relaxarem um pouco.—Não vou embora, quero conversar com você.—defino.
Ele concorda e anda até as canecas as recolhendo.
—É melhor você beber antes.—ele oferece e confirmo pois sinto minha boca tão seca que mal consigo abri-la.
Pego uma das canecas de sua mão fingindo não estar tão nervosa ao sentir seus dedos tocando o meu. Me sento no sofá dobrando uma das pernas em cima e ele faz o mesmo, se sentando logo ao meu lado e agradeço isso pois me sentiria mais desconfortável se ele tivesse mantido um grande espaço entre nós. Respiro fundo levando a caneca até minha boca e sentindo um alívio com o líquido quente dentro do meu corpo.
Um silêncio permanece no apartamento, apenas escutamos o som da chuva caindo lá fora e dos nossos lábios fazendo pressão em volta da caneca. Temos tanta coisa para conversarmos mas sinto como se nenhum de nós soubesse por onde começar ou o que dizer.
Paro para pensar no que ele disse e me sinto péssima por sua vida não estar "bem" como ele disse, a minha também está uma desordem mas nem por isso quero que a dele esteja na mesma situação.
—Minha vida também não está uma das melhores.—confesso depois de tempo em silêncio, sinto ele me olhar mas continuo com minha atenção no chá, um pequeno sorriso levanta meus lábios só agora percebendo que ele fez de hortelã, o meu favorito.—É horrível sair da cama e pensar em algo que não seja em nós dois, na saudade ou no futuro. É difícil ficar de pé e as vezes até simples gestos como respirar dói.
—Sinto muito...—ele diz o mesmo que eu, não o olho, apenas permito que ele veja um pequeno sorriso em meus lábios.
—Eu preciso te perguntar algo antes de conversarmos pra valer.—me mexo no sofá apoiando meu braço nas costas do sofá e ficando de frente pra ele, o olho vendo que ele apenas confirma.—Você é melhor sem mim? eu era suficiente?
Vejo ele levar sua mão até o rosto, coçando seus olhos enquanto respira fundo. Sinto meu coração acelerado temendo sua resposta.
—A vida não é apenas preto e branco então você sabe que é tudo é mais complexo.—vejo o mesmo umedecer os lábios.—Então não tem como falar disso no geral. Você me fazia bem, sempre fui melhor com você e sentia que minha vida era mais fácil e leve quando tinha você do meu lado. É só que depois de um tempo passei a necessitar da mutualidade e parecia que você não me oferecia isso, e isso me machucou porque sentimentos não retribuídos machucam mas você em si não me machucava, você me fazia bem. É a mesma coisa com a questão de ser suficiente ou não, depois que o fato de você não retribuir começou a me incomodar, a nossa relação passou a ser insuficiente porque eu precisava de alguém que estivesse lá 100%. Então se você tivesse retribuído o sentimento...tudo teria continuado perfeito.
Solto um suspiro agora entendendo mais seu lado e posso dizer que até um pouco aliviada, por saber que eu não fui boa pra ele durante toda nossa relação, mas sim apenas em uma parte dela e que se tivéssemos resolvido antes como todo casal, tudo continuaria bem.
Voltamos a ficar em silêncio por um tempo, ambos deixamos as canecas em cima da mesinha de centro e apenas passamos a nos olhar em silêncio e uma vez ou outra o outro desvia o olhar.
Tento me controlar mas já é tarde de mais quando minha mão que está apoiada em cima do sofá é levada até a lateral de sua testa. Meu olhar cai sob seus lábios que se entreabrem pra auxiliar na respiração, ele está nervoso, eu também estou. Volto com meu olhar para seus olhos e então para onde minha mão se encontra com a tarefa de por a mecha solta para trás juntando com as outras, penso que ele vai me afastar com o gesto íntimo mas não o faz e não sei ao certo como interpretar isso. Sinto-me como se estivesse pisando em ovos.
Ele é tão perfeito. Amo a forma que as vezes seus olhos mudam de coloração, hoje eles estão numa tonalidade perfeita de castanho claro, amo também a forma que ele me olha e é uma das coisas que mais sinto falta nele, a forma que me sinto a pessoa mais especial quando tenho seu olhar sob mim. Amo como seus lábios são tão desejáveis, sua tonalidade rosada e a forma que são carnudos não me ajuda muito. Eu apenas amo cada detalhe dele.
—Eu te amo.—as palavras saem dos meus lábios antes que eu consiga pensar em dizer.
Seu olhar que até então estava em mim é desviado para a mesinha de centro, me sinto constrangida e a força em minha mão vai desaparecendo fazendo com que eu a afaste do seu rosto. Pela forma que seus lábios torcem e o vinco em sua testa me fazem reconhecer os sinais de que ele está pensando.
—Eu não quero ouvir isso se você estiver dizendo apenas porque me querer de volta em sua vida.
—Estou dizendo isso porque te quero em minha vida e porque é como eu me sinto.
Ele volta com seu olhar pra mim e o assisto entreabrir os lábios pra dizer algo mas então ele desiste, ele abaixa o olhar para suas mãos. Vendo que ele não sabe muito o que dizer resolvo tomar a frente.
—Eu realmente sinto muito. Deveria ter dito que te amava no momento em que percebi e isso já faz um tempo.—ele volta a me olhar arqueando a sobrancelha parecendo surpreso.
—Quando?
—Foi naquele dia em que contei sobre meu professor e eu me sentia tão....quebrada e de alguma forma você me restaurou, em toda a minha vida eu nunca tinha sentido aquilo, que o mundo poderia desabar e tudo bem porque eu tinha você.
Um dos cantos dos meus lábios sobem levemente ao me lembrar daquele dia. Eu me senti tão segura com ele, não importava o medo que eu sentia em relação ao Edward porque eu sabia que enquanto ele estivesse comigo ele jamais conseguiria me intimidar, ele fazia com que eu me sentisse forte. Eu me senti acolhida e sabia que poderia desabar que ele estaria ali pra me segurar
—Você cuidou e me protegeu e enquanto você dormia eu só conseguia pensar o quanto estava apaixonada por você e em como estava ciente que você tinha defeitos como eu ou qualquer outra pessoa mas que eu amava até mesmo aqueles defeitos seus, não há...uma sequer parte sua que eu não ame, eu sou completamente louca por cada pedacinho seu.
Paro por um instante umedecendo meus lábios, meu olhar está em seu rosto assim como ele me olha sem piscar mas quebro o contato olhando para minha mão em cima das costas do sofá e na dele também no local.
Nossas mãos próximas mas não próximas o suficiente me faz lembrar da primeira vez em que estive em seu apartamento, em uma festa pós o primeiro show que fui dele, estávamos nesse mesmo local e timidamente nossos dedos avançavam na direção um do outro.
Noto seu olhar também cair para nossas mãos e ele parece lembrar do momento tanto quanto eu pois mexe seus dedos alguns centímetros quase como se fosse um consentimento, crio coragem para fechar o espaço entre elas e finalmente sinto a ponta dos nossos dedos indicadores se tocarem em um ato tímido. Meu coração bate forte contra meu peito enquanto entrelaçamos apenas um dos nossos dedos, o toque faz meu coração voltar a bater mais lentamente, resolvo continuar.
—E quando você terminou comigo senti como se minha alma estivesse sendo rasgada ao meio e eu sei que se você não me quiser de volta, eu vou me curar e seguir em frente assim como você. Mas eu não quero...—me auto interrompo ao sentir minha voz falhando.
Toda vez isso, não posso falar sobre a possibilidade de não estarmos juntos que as lágrimas se recusam a ficarem dentro do meu corpo. Sinto meus lábios tremerem por isso mordo eles com força e olho na direção do tapete como se não olhar pra ele fosse adiantar de algo, a essa altura as lágrimas já estão sendo liberadas.
Sinto sua mão sendo posta em meu pescoço, de imediato lhe olho surpresa por seu ato. O destino de sua mão não era em meu pescoço, ele sobe até segurar meu rosto através do maxilar. Olhá-lo dificulta tudo, não consigo olhá-lo e não sentir a intensa vontade de chorar pela saudade de não estarmos juntos. Seu polegar desliza por minha bochecha limpando o local húmido e indo até minha olheira limpando as lágrimas mais recentes que caem mais ainda com seu gesto. Pressiono minha bochecha contra a palma de sua mão em busca de aconchego e acabo deixando um beijo em seus dedos.
Ainda há tantas coisas que quero dizê-lo. Por essa razão me obrigo a afastar-me de sua mão, pelo mesmo meu rosto pois ele leva sua mão até a lateral da minha cabeça onde acaricia a mecha do meu cabelo.
—Deus...eu não quero estar longe de você porque no momento eu só consigo pensar em ter você do meu lado, em te amar como você merece, ser a pessoa em que você pode confiar, eu só consigo pensar num futuro onde estou com você.—um sorriso escapa dos meus lábios enquanto fungo ao pensar no que vou dizer, é tão irônico pois nunca pensei que diria algo assim pra alguém.—Você me fez acreditar em um para sempre, algo que nunca tinha pensado com ninguém.
Sorrio sutilmente com o gesto dele de por meu cabelo molhado atrás da orelha.
—E eu sei que você terminou comigo porque você precisava que eu precisasse de você de volta e agora eu preciso, preciso há um tempo mas só estou percebendo isso agora. Eu quero ficar com você pro resto da minha vida.
Sua expressão finalmente muda pois até então ele se encontrava apenas ouvindo pacientemente. Vejo ele enrugar de forma sútil sua testa fazendo suas sobrancelhas se aproximarem mais, ele pisca algumas vezes parecendo confuso ou atordoado, não sei ao certo dizer. Mas ainda sim há um pequeno sorriso em seus lábios, não o suficiente para erguer suas bochechas mas consigo ver seus lábios repuxados em dos lados.
—Eu estou completamente apaixonada por você, cada pequena parte da minha alma é louca por você então...eu te imploro...me der mais uma chance de te amar como você merece porque eu preciso de você.
Ele pisca ainda atordoado e então recebo minha resposta.
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E aí? o que acharam?
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