II: bolinhos de mirtilo amassados.
voltei! e tenho um pequeno adendo aqui: não estranhem o conflito entre ações infantis e pensamentos mais adolescentes no jungkook! é exatamente essa fase que tô captando nele!
(つ≧ᴗ̵≦)つ boa leitura a vocês!
Jungkook nunca tinha escutado falar sobre dinossauros, mas estava na casa da vizinha que tinha uma tevê enorme e com cores quando um documentário inimaginável sobre aquelas grandes criaturas começou a passar. Foi preciso um pouquinho de abracadabra e pronto Jungkook tinha uma nova fascinação.
Os olhos de Jungkook refletiam o brilho do tesouro que tinha descoberto e ficou um pouco obcecado, até mesmo tentando desenhar um dinossauro todo seu quando chegou em casa. Mas com a referência de que eles eram primos das galinhas, tudo saía meio parecido com a Barriguda, o novo membro interino da família Watanabe e Jeon.
Uma vez até sonhou (meio acordado) que sua galinha Barriguda estava lutando contra um tiranossauro rex. Alguns lasers e armas de água estavam envolvidos, e era só isso o que faltava acontecer pra completar aquela semana maluca.
— Cadê a cesta? — Jungkook perguntou.
— Que cesta?
— A vó pediu pra você trazer a cesta. — Jungkook cutucou o narizinho cheio de coceira.
— Que cesta?
— E eu lá sei? Não é você quem faz cestas? — Jungkook perguntou a Jimin, o ajudante que a vó tinha contratado pra dar uma mãozinha com as ovelhas e os porquinhos.
Ele tinha um cabelo estranhamente tingido de rosa chiclete. Segundo ele, tinha nascido assim porque sua mãe comeu várias pitayas com leite rosa quando ainda nem sabia que estava grávida. Disse mais um monte de bobagem tirada de um lugar insano dentro daquela cabeça cabeluda e caipira. Cada vez que Jungkook perguntava sobre, a história mudava.
Jimin já tinha dito que sua mãe plantou morango no umbigo, que seu pai o colocava pra dormir num canteiro de flores rosas e mil e uma outras baboseiras. Bicho do mato mesmo!
Mas é claro que vovó Kaori, defensora da verdade, disse em alto e bom som que sabia que aquilo era tudo rebeldia adolescente. Que Jimin era vaidoso e tinha feito bobagem no cabelo. Achou que comprar tinta de andarilho ia acabar com seus problemas de auto estima, mas desde então tinha virado uma vassourinha de beterraba.
— E não dá no mesmo? — ele sempre implicava com o antirromantismo daquela história que a velha contava.
Foi Jimin que tinha apresentado a pequena galinha que, assim como Jungkook, tinha sua pequenina anomalia fofa. Na verdade não era nada fofo, Barriguda era cega, mas enxergou o bom coração de Jungkook quando ele ofereceu um punhado de milho e ela acabou picando o pé dele, sem rumo nenhum. Como se fosse pra ser assim... Jeon viu que era o destino.
Jungkook nunca viu galinha mais chata, sorte que era linda porque senão teria recusado cuidar dela.
— É só por ela no galinheiro assim como todas outras galinhas.
— Barriguda é uma madame, você acha mesmo que uma galinha como ela pode frequentar o galinheiro?
— Quero ver se vai dizer isso quando ela botar ovo bem na sua cabeça! — Jimin também implicou com isso porque era natural dele. Ainda não tinha entendido porque Jungkook cismou tanto com a galinha de sua mãe e levou ela embora sem mais nem menos.
Ladrãozinho!
— Achou a cesta? — Jungkook perguntou depois de mais uma hora assando biscoitos para venderem na igreja. As vendas aconteceriam numa mini feirinha de arrecadação, o dinheiro era para ajudar uma família que estava com dificuldade em vender suas especiarias. — Qual é!
Jeon estava cansado de tanto fazer massa. Tinha feito bolo, biscoito e doces que não fazia ideia do nome. Tinha farinha tampando algumas das quase infinitas sardinhas do lado esquerdo do rostinho emburrado.
— Tá aqui, Barrigudo. — zoou Jungkook, deixando várias cestas grandes ali.
A semana tinha sido um vira e mexe, Jungkook cuidava de Minhee pras avós trabalharem nas plantações e quando dava quatro horas ele distribuía alguns jornais com sua bicicleta vermelha e quase desmontada. Era gigante e ele sempre ameaçava cair a cada pedalada. Ele voltava com algumas moedinhas e despejava no cofre de cogumelo e só então podia descansar. Até dar a hora da janta, ele lia alguns gibis e escutava música quando Jimin esquecia seu mini rádio.
E Jimin até era legal de vez em quando, quando estava sujo de lama e não conseguia ser esnobe. Não que ele fosse esnobe como as pessoas chatas de anéis de diamante, só era meio espirritado, Jungkook ria disso às vezes.
— Lá vem ele. — ele sussurrou, e Jeon não entendeu até que parou de tentar limpar a clara de ovo do cabelo e viu Taehyung atravessando o oceano de fiapos verdes para chegar ali. Jimin pareceu ter uma reação alérgica na hora e ao invés de um espirro, ele olhou feio pra Taehyung que retribuiu igual.
Jungkook não entendeu. Oras, não entendia muita das coisas, mas ali tinha caroço! Não entendia porque o céu era azul se ele não era de água que nem o mar, nem o porquê de não existirem óculos para galinhas tadinhas como a sua e nem porquê de repente Taehyung não parecia mais um pernilongo chato zumbindo em seu ouvido. Ele se parecia mais com uma maria fedida que vinha visitar Jungkook de vez em quando. Incomodava, mas não tanto. Tinha deixado de ser horrível, mas não era exatamente bom. Só quando se distraiam o suficiente para não lembrarem que eram Jeon Jungkook e Kim Taehyung, arquinimigos natos. E isso aconteceu duas vezes.
— Vou entregar o salmão pra sua avó. E já volto, tenho novidade! — Kim sumiu pela casa e Jungkook não tinha uma careta feia de repulsa porque curioso como era... chupava limão em troca de qualquer fofoca.
— Hum. Se eu soubesse que esse tipo de gente frequentava sua casa Jungkook eu teria ficado no chiqueiro. — Jimin disse bem bonito, descascando uma mexerica para dividir com Jungkook. Apesar da fruta estar docinha, Jimin não deixava os lábios relaxarem, ele era todo azedo. E rosa. Jungkook não conseguia imaginar nada rosa e azedo, Jimin era mesmo algo diferente.
— E de onde vem essa implicância?
— Por que?
— Não entendi por que você não se dá bem com Taehyung.
— Não diga o nome do diabo, senão ele vem! — exclamou. — Além do mais você também não é exatamento amigo dele.
— Jamais seria! A diferença é que ele sempre foi chato comigo, não tive opção a não ser odiá-lo.
— É assim que me sinto também. — disse, calculou os danos que poderiam aconteer se contasse para Jeon e deu de ombros. — Bom, você sabe que eu não sou do tipo fofoqueiro. — imagina se fosse. — Mas pra você acho que não tem problema. Você só deve conversar com a sua galinha e um recém nascido. — Ouch. — Taehyung é um tremendo babaca bruxo. Ele usa bruxaria! Bruxaria das feias!
— O que?! — a primeira coisa que Jungkook pensou foi "Jimin foi envenenado pela mexerica" e a segunda foi "Será que a suposta bruxaria de Taehyung poderia transformar Barriguda em uma Barriguda Rex?". O resto dos pensamentos foram abafados pelo resto da história.
— Tá me dizendo que ele usa bruxaria pra crescer legume? Pra ganhar o concurso de maior legume? Pra te humilhar?
— É, Jungkook! Acredite em mim, ele é um sacana. Um danado. Nunca que um rabanete ficaria daquele tamanho. Nem que tivesse sido plantado por Titãs.
Jimin parecia muito apegado àquelas convicções e sua rixa com Taehyung não parecia frescura. Então, Jungkook passou três minutos chupando mexerica e imaginando os dois batalhando com rabanetes gigantes como espada e então Barriguda Rex aparecia para salvar a humanidade daqueles dois cabeçudos. Nossa, isso daria um ótimo filme.
Park despistou o assunto e foi arranjar assunto pra lá da fazenda, deixando Jungkook pra trás todo encantado com seu próprio mundo de pensamentos extraordinários.
— Então, saca só! — Taehyung conseguia mesmo assustar Jungkook toda vez que se dirigia a ele. É, Jungkook tinha até pego um pouco de água benta da igreja pra tacar nele qualquer dia desses. — Namjoon tem um amigo e esse amigo tem um vizinho, e esse vizinho foi embora pra cidade grande e deixou o video game pra trás. E adivinha? — ele subiu e desceu com as sobrancelhas como se insinuasse algo muito perverso. — Nenhum deles têm tempo pra isso! — comemorou. — Viva a minha vagabundice!
— Vagabundice? — não soava muito bom na boca, mas por hora deixaria isso de lado. — Ta e aí?
— E aí que... — ele tirou o video game de última geração de dentro da mochila judiada e assim que Jungkook tocou nele, passando os dedos por todos aqueles adesivos radicais e viu a infinidade de opções de jogo dentro da mochila de Taehyung, faltou desmaiar. — Tcharam!
Eles não demoraram muito para se acomodarem, conectaram o video game na tevê que vivia assombrada e empoeirada no sótão. Ficaram a tarde daquele jeito, comendo pipoca temperada e migrando entre os jogos. Jogaram os de luta, os de avião e de fantasia. Era tudo o que Jungkook não sabia que precisava!
— Por que você sempre ganha?! — Jungkook reclamou.
— Eu tenho um segredo. — ele pausou o video game. — Eu uso combos!
— O que é isso?
— Quando você junta vários golpes apertando as teclas várias vezes. Tipo... — descongelou a cena e mostrou um simples combo que tinha visto num papel grudado embaixo do videogame. — Cima, cima, baixo, triângulo e quadrado, quadrado. — seu personagem fez um super golpe comendo quase metade da vida de Jungkook. Estava impressionado. Estava impressionado com algo que o xexelento do Taehyung tinha ensinado.
Jungkook embolou os dedos naqueles combos que ele inventava na hora e conseguiu derrotar Taehyung algumas vezes. Mas apesar disso ele não ficou emburrado que nem no circo. Parecia até... orgulhoso. Como se Jungkook fosse seu pequeno padawan.
Quando cansaram já era tarde e foi no tempo certo de Jungkook escutar Minhee abrir o chororô. Ele se levantou e trouxe o nenê até a sala, ninando ele no sofá mais uma vez porque ainda estava bem sonolento.
Kim ficou encarando o bebê até chegar numa conclusão. — Parece uma praguinha.
Ele praticamente pediu pelo tapa que levou no braço.
— Você parece um estrupício e ninguém tá falando nada viu! — ele riu discretamente. Minhee era meio feinho mesmo. Mas já já se tornaria um príncipe. Príncipe das fraldas-bomba.
— Acho que ele quer leite. — Taehyung observou vendo o menino chupar o dedo. — Com certeza.
— Como sabe? — Jungkook perguntou. Era muito difícil entender uma coisinha que não falava. Jungkook só ficava com a parte divertida, brincar com Minhee, ensinar ele as cores e nanar.
— Eu tenho bastante irmãos.
— E como que é? A gente tem que dar ele pra vaca? Ela sabe fazer isso? — Jungkook não sabia do que estava falando, mas parecia razoável chutar. Até onde sabia só vaca que tinha leite! E cabritinhas também, mas aquele leite era uó.
Taehyung riu até cair com a cabeça no ombro de Jungkook. A pele ali ficou quente e apesar de magrelinho até que Jeon não era lá desconfortável. — Você é doidinho. — suspirou. — A gente pega o leite da vaca e adoça na leiteira depois.
— Hmm, E põe naquele copo de bico, né: — realizou-se dos fatos e concordou. — Beleza, vamo lá!
Minhee tinha cochilado de novo e Jeon o colocou no cestinho coberto, se preparando pra sua nova missão.
Barriguda, curiosa, foi junto pra não ver o que iria acontecer. Tadinha.
— Tá, o que a gente faz? — Jeon estava parado, com as mãos na cintura olhando praquela vaca mimosa. — Ei, você ai. — apontou pra bichana. — Me dê o seu leite.
Taehyung queria morrer de tanto rir. Jungkook era mesmo uma peça.
— Só porque você acha que a sua galinha conversa com você, não quer dizer que todos animais tem esse poder. — ele disse puxando o banquinho e o balde.
— Ah, achei que fosse mais educado fazer assim. A vovó já chega chegando.
— É como se faz. — ele lavou as tetas da vaca e a própria mão, começando a ordenhar. Ela soltou um mugido alto. — Essa é reclamona. — ele percebeu o comportamento da vaca, mas não achou que fosse nada demais. Até ela fugir da ordenha e começar a correr atrás de Jungkook que nem um touro desgovernado.
— Taehyung! — ele gritava a todos pulmões. — Me ajuda, o que que eu faço? — a vaca nem era tão rápida, no entanto Jungkook já previa seu enterro. Morto por uma vaca feiosa. Ele estava mesmo desesperado gritando que nem uma maritaca e claro que esse alvoroço chamou atenção.
Logo, a vó apareceu ajudando Taehyung a tentar domar aquela vaca possuída. — Eita, essa aí veio do além, tia!
— E esse além não é do céu não! — ela completou.
A velha só ria do estado do neto, quase por um fio. Jungkook estava enfrentando uma profunda crise. Nunca mais beberia leite.
— Acho que cê assustou ela Jungkook. — Kaori riu. — Deve ter sido esse cabelo doido ai.
E vaca lá sabia alguma coisa de cabelo? Eram profissionais do cabelo? Jungkook ficou indignado e catou o balde com sua atitude. Taehyung ficou lá fora por mais tempo e decidiu nem voltar a esbarrar naquele Jeonzinho bravo. Deixou o video game com Jungkook como um pedido de desculpa. Não que precisasse, mas sabia que talvez isso fizesse Jungkook odiá-lo menos nos próximos dias.
— Por que as coisas são tão dificeis? Tudo parece tão fácil e divertido nos livros. — Jungkook desconversou consigo mesmo, numa grande reflexão literária. Agora, estava tomando banho depois de quase uma hora de tentativa da avó de tirá-lo do videogame.
Ele decidiu lavar esses pensamentos bobos com xampu cheiroso de chocolate e acabou dando uma fome... de verdade, deu até vontade de comer seu cabelo! Mas não parava de pensar o porquê de quase tudo dar errado pra ele. Quando ia catar amora era quase certo que uma aranha ia cair no seu cabelo, quando conseguia fugir das aranhas as abelhas vinham vingar e agora, oras, não conseguia sair do nível 26 do King Kong!
— Ah, mas... — foi procurando um motivo que Jungkook lembrou-se de Jimin e do papo de Taehyung ser bruxo. Não... será que era isso? Será que Taehyung planejava deixar Jungkook tão azarado até que virasse um sapo estúpido?! Impossível! Mas não duvidava nem um pouco daquele...! De repente toda melancolia com bolha de sabão foi embora e resultou num Jungkook de orelha vermelha. Se suas sardas pudessem ficar bravas, ficariam, pois nenhuma parte sua estava livre de todo aquele tsunami de ideias. Ideias e mais ideias. mirabolantes — Ele vai ver! Vai ver só, vai ver tanto que os olhos vão pular pra fora. — ele ouviu um estalo vindo do quarto, mas ignorou! Nenhum fantasminha ia impedi-lo de bolar destinos cruéis para Taehyung.
E assim, como advogada do diabo, Barriguda interrompeu todo o processo e entrou no banheiro fazendo um barulho danado, assustando o pobre e nobre Jungkook que faltou infartar. — Barriguda do céu! — a galinha não parava de cacarejar. — Fale mais devagar!
Barriguda estava nem aí, era uma dama sem modos. Jungkook só conseguiu acalmá-la depois de colocá-la na caminha quente e fazer carinho até dormir.
Quando foi se jogar na cama e terminar seus planos diabólicos no meio dos sonhos sentiu algo estralar. Olhou debaixo da coberta e lá estava, um jogo. Mas não um jogo qualquer. Um jogo de dinossauro. Um jogo de dinossauro com um bilhete.
Dinossauros não gostavam de limão azedo :P
Aquilo era uma ofensa? Ele sabia que a exata única pessoa que tinha coragem de comentar seu temperamento sem ser as avós era ele, era Taehyung.
Jungkook bufou antes de se deslumbrar. Puxa, nada dava certo mesmo, nem o que era pra dar errado!
Jeon fechou o zíper da inimizade por enquanto e apagando a birra, logo estava sorrindo e sorrindo sem se importar com mais nada além daquilo ali em seus braços. Foi dormir ansioso querendo que amanhã chegasse depressa e ele pudesse passar o dia no sofá da sala com dinossauros pixelizados. Taehyung ficaria pra depois, talvez até para nunca!
🍏
Agora as avós tinham aprendido a malandragem da chantagem. Depois que Jungkook ficou vidrado na tevê, não teve jeito elas tiveram que apelar. Jungkook iria virar um explorador querendo ou não! Foi assim que a lista de mini-aventuras nasceu e estava colada na parede da cozinha para lembrar Jungkook das suas missões.
O garoto tinha que cumprir pelo menos uma aventura da lista todo dia e só assim poderia aproveitar o entretenimento daquelas tecnologias coca-cola. E ele faria tudo pra ficar mais alguns minutinhos jogando.
"Não vejo graça" a avó Jeon sempre dizia. "Na sua idade eu gostava mesmo era de subir em árvore que nem macacaquinha" ela ria sempre que lembrava e adicionava "Agora se eu subo na árvore não desço mais" e Jungkook entendia exatamente que deveria aproveitar sua juventude caçando assunto, insetos ou problema.
E essa decisão acabou dando trabalho pra Kim Taehyung. Não houve exatamente um acordo ou um contrato propriamente dito, mas ele resolveu que não havia nada melhor pra fazer além de ver Jungkook se estabefando por aí. As avós tinham até dado algumas moedas pra eles comprarem coisas de menino. Menino bom era menino fora de casa, se estrepando e aprendendo a vida vivendo, não assistindo.
Dava uma dor de cabeça de vez em quando, mas valeu a pena o esforço pra esse exato momento.
— Mentira! — Taehyung estava pulando na cama como se fosse dele. — Vamos mesmo pra cidade?
— Vamos... — Jungkook terminava de encher a mochila com o que precisaria. Olhou pra Barriguda e não precisava calcular muito pra saber que ela não caberia ali. Fez biquinho. — Minha tia-vó mora lá, sozinha. Ela resolveu que eu preciso de um pouco mais de cultura. — deu de ombros. Não se lembrava muito bem de como ela era, só que tinha dinheiro o bastante pra ter arrumadeiras e lustres em cada cômodo.
— Não acredito! — Taehyung estava realmente animado.
E Jungkook acabou ficando animado também depois da longa viagem de charrete. A tia-vó parecia muito feliz em vê-lo, disse que precisava de um pouco de ar jovem naquela casa velha. Taehyung foi todo paparicado, um metido filho da mãe que fingiu ter lido os livros preferidos da tia.
— E onde você leu isso?
— Segredo, Jungkookie. — foi uma das poucas coisas que falou aquele fim de semana inteiro pra Jeon porque ou estava ocupado comendo pratos deliciosos ou estava conversando sobre autores de nomes longos e chatos.
Eles participaram de uma sessão de clube do livro na própria biblioteca da casa, várias pessoas apareceram para a ocasião e Jungkook se perguntava se eles tinham se confundindo achando que iriam tomar chá com a rainha. Era única explicação para roupas tão caricatas e pomposas. Jeon viu até mesmo um senhor usando monóculo e uma moça cujo penteado era enorme e confuso, ele não saberia dizer onde começava e terminava. Houve muito jazz e quituches como nas reuniões chiques dos livros, de repente a velha casa vazia se tornou um baile de pessoas que liam e cantavam, muitas vezes ao mesmo tempo. Então quando formaram uma roda para que cada um citasse seu trecho do livro preferido, Taehyung teve a chance de se expressar e ele falava animadamente sobre O Processo de Kafka, enquantoJungkook teve que juntar toda sua coragem pra falar do Pequeno Príncipe.
Não gostou do sorrisinho que Taehyung esbanjou durante o tempo que falou, mas deixou quieto quando recebeu alguns aplausos educados. Para Jungkook não existia leitura melhor que a leitura de um livro que te fizesse bem, fosse um ensaio de palavras complicadas ou um livro cheio de gravuras de aquarela.
— Ele é seu amigo? — uma das garotas perguntou enquanto comia um pedaço de torta, sentada na cadeira ao seu lado. Jungkook apenas balançou os ombros e ouviu ela rir. — Ele é bem bonito, engraçado e inteligente. Não temos garotos assim por aqui. — Jeon olhou para o Kim se divertindo com outros garotos mais velhos muito bem vestidos e metidos, mas não tão bonitos. — Vocês deviam vir mais vezes. — ela sorriu, totalmente simpática e Jungkook concordou meio incerto.
Mas... as pessoas viam Taehyung daquele jeito mesmo? Até então Jungkook nutria a narrativa que Kim era um garoto caipira meio estranho que gostava de pintar as próprias roupas e fugia da tesoura, por isso seu cabelo era diferente, maior e ondulado, talvez até charmoso. Não fazia ideia de que ele lia algo além de rótulos e legendas de filme. Ninguém dava muito bola pra ele aonde moravam, mas ali, ele parecia diferente. Não cheirava a peixe e seu sorriso se destacava dos demais. Chegava a ser irritante.
Se sentiu um pouco idiota por pensar assim... mas anos de implicância não se desfaziam simplesmente por um acaso.
Quando o lugar esvaziou e algumas lamparinas se apagaram, Jungkook se deitou a cama de um dos quartos de hóspedes. O tanto que já tinha contado de ovelhinhas era suficiente para encher aquela casa enorme com todas elas se ovelhas lessem e participassem de clubes do livro.
— Jungkook. — Jeon jurava ter ouvido seu nome no meio da noite, por isso agarrou os lençóis com mais força, lembrando-se dos burburinhos das crianças mais idiotas que já tinha visto dizendo que aquela casa era mal assombrada. — Jungkook!
— Vai embora, espírito! — ele disse com os olhos selados de medo. Se Barriguda estivesse ali ele não estaria preocupado, sabia que ela o protegeria até de pterodátilos, mas ali estava sem ninguém, praticamente um self-service para os fantasmas.
Ele ouviu uma risada e a porta se fechou. Quando sentiu um peso na cama, se obrigou a olhar e nunca se sentiu tão aliviado por ver Taehyung. — O que é? — disse emburrado.
O outro fechou a cara e olhou para os próprios dedos. — Não consigo dormir, posso ficar aqui?
Jungkook se assustou mais com isso do que teria se assustado com uma assombração. Ele fechou a cara e mostrou a língua antes de se virar pra dormir.
Taehyung levou isso como um sim e entrou na coberta. Não sabendo ficar quieto, voltou a falar: — Gostei muito de hoje. — ele sorriu bem bonito, mesmo que Jungkook não estivesse vendo. — Me senti mais adulto. Mais interessante.
— Hum. — Jeon resmungou. Ele estava se sentindo o completo oposto, ofuscado e infantil. Talvez não estivesse preparado para o mundo ainda.
— Duas meninas me deram o telefone delas... Devo ligar? — perguntou, se ajeitando para ficar mais confortável no colchão. O silêncio se misturou com o sono e antes de se render a ele, apenas disse, risonho: — É, também acho que não.
O outro dia foi mais divertido com certeza. Jungkook acordou cedo e insistiu em ajudar a cozinheira a fazer o cafpe da manhã tradicional coreano. Sentiu saudades da mãe e do pai, decidindo que escreveria uma carta para eles quando voltasse para casa.
A manhã passou depressa enquanto passeavam pela feirinha de gostosuras e obras de arte. Jungkook comprou caramelos e Taehyung, depois de muita insistência, aceitou um pacotinho de trufas de chocolate. Após um tour por tantas telas enormes e barracas que podiam degustar sorvetes e doces, eles aprontaram uma misturando as trufas e os caramelos na boca.
— Hmmmmmm! — os dois disseram em uníssono. Nunca tinham comido algo tão bom!
Jungkook tirou uma deliciosa soneca da tarde para depois andar de cavalo com Taehyung pelo campo, o que foi esquisito, mas legal também. Tentou não agarrar a cintura dele, porém jurou que se não o fizesse ia ser arremessado para bem longe por causa do galope forte do cavalo.
— Assim você vai me partir ao meio Jungkook! — Taehyung disse, achando graça, mas ficando meio sem ar. Jungkook assistiu o pôr do sol em movimento, adorando ver o outro lado das montanhas que tanto admirava. Ele quase dormiu encostado em Taehyung se não fosse pela chegada imediata a pseudo mansão.
A tia-vó não deu tempo de respirarem! — Andem logo, vamos, vamos. — ela insistia para que se arrumassem rápido, quase mandando os dois tomarem banho junto. Mas Jungkook foi mais rápido e trancou a porta, podendo ficar à vontade.
Jeon odiava roupas sociais mais que tudo, esse ódio estava acirrado com sua aversão a livro de páginas brancas, com certeza. Mas não teve como escapar da gravatinha e do cabelo lambido. Queria suas mini ondinhas de cabelo de volta, no entanto, uma noite só não o mataria. Depois de se olhar no espelho e ver o perfeito traje de um convencido, prometeu a si mesmo nunca mais se vestir daquele jeito. Nem se fosse se casar com o príncipe mais nobre da Terra.
Jungkook passou perfume e protetor solar, nos bolsos guardou um pacote de amendoim com chocolate para não passar fome durante a peça de teatro. Era a primeira vez que ia de forma tão independente. Talvez ser adolescente tivesse alguns prós no final das contas.
— Aonde vai tão branco? — a tia deu risada enquanto delicadamente espalhava melhor o protetor solar, protegendo as bochechas e as sardas do não mais tão pequeno Jungkook. Jeon fez careta, o nariz enrugadinho era tão familiar... — Você me lembra dela, às vezes. Tão teimosa e resmungona. — ela sorriu, um dos sorrisos mais lindos que Jeon já tinha visto. — Coincidência ou não, ela também defendia o pequeno príncipe com unhas e dentes.
Jungkook se sentiu especial pela primeira vez naquele ano. Podia ser simples para Taehyung que estava ouvindo atrás da porta, mas para Jeon era um pouco mais que uma simples comparação.
Houve uma época que Jungkook morou naquela casa, ainda muito bebê quando os pais precisaram trabalhar em dobro. A tia nunca virou as costas para eles e até mesmo sua amiga de tanto tempo nanou e cuidou de Jungkook como se fosse seu. E sua mãe o fazia lembrar de todo esse cuidado fosse contando histórias ou mostrando algumas fotografias dessa época.
No seu aniversário de treze anos, ele ganhou uma caixa com várias coisas que pertenciam a melhor amiga da tia: fitas, discos, roupas de rock e livros. Mas com certeza o que mais o deixou curioso foi aquele monte de cartas presas a um elástico. Cada carta tinha sido escrita por Junko, a mulher que morava com sua tia-vó Fumiko, e cada envelope tinha uma foto de Jungkook sozinho ou com ela – dentro daquela casa de paredes azuis, nos campos, nos parques, especialmente nos balanços, mas principalmente em seu colo sempre com um sorrisão banguela.
Ela era a única que o chamava de cenourinha e não soava como ofensa.
— Iguaizinhos. — a tia disse, dando um beijo no topo da cabeça de Jeon. — Ela também não gostava de roupas sociais, mas fazia o que fosse preciso para ir aos teatros e óperas.
Jungkook sorriu, muito satisfeito com que o que tinha ouvido. Porém, estava cedo demais para ficar muito nostálgico!
E tão logo quanto foi, a bagunça voltou. Foram apertados na carruagem enquanto contavam suas expectativas para o espetáculo, no entanto, nada que tivessem imaginado poderia chegar perto do que realmente aconteceu.
Jungkook se sentiu vivo e com uma inspiração sem igual. Os dedos formigavam para escrever e as pernas queriam sair correndo para viver, fosse as desventuras em um novo lugar ou as pequenas confusões que arrumava.
Taehyung parecia igualmente feliz, mas diferente de Jungkook ele estava quieto, apenas observando como Jungkook também parecia diferente sob o ar da cidade. Não era exatamente melhor, somente uma mudança curiosa. Sem dúvidas, seus olhos brilhavam muito mais, talvez fosse o excesso de luzes e holofotes, as bochechas estavam mais rosadas e pueris, o terninho tinha combinado com as suas risadas espontâneas. Era a perfeita mistura de um encanto inocente e uma rosa desabrochando no meio da noite do deserto a procura de conversas mais sérias.
Uma hora não haveria mais diferenciação e seriam de uma vez por todas mais velhos, responsáveis e independentes. Poderiam perder o brilho ou mantê-lo numa parte especial do coração. Mas isso já era pensar demais e isso não era mania sua.
Mas é, Jungkook parecia, até demais, com o príncipe da peça. Talvez o jeito ainda pueril, a gargalhada alta e o temperamento inesperado. Foi a primeira vez que olhou para Jungkook de verdade.
Não sabia se tinha gostado ou não.
— Por favor, meninos. Voltem ainda esse ano pra gente se divertir mais! — a despedida não foi nem um pouco triste. Taehyung sentia falta de casa e com uma sacola cheia de livros novos, puxa, mal via a hora de sumir na mata para ler escondido já que a mãe não acreditava que essas coisas davam muito futuro.
— Claro que sim, tia. — Jungkook compartilhou um abraço quente e saudoso com ela. Taehyung não ficou de fora e se sentiu muito bem vindo a voltar.
— Da próxima vez eu quero que traga seus famosos biscoitos com geleia viu, sir Taehyung!
— Pode deixar!
A viagem de volta foi cansativa e obviamente Jungkook não demorou a dormir ali mesmo, encostado ombro de Taehyung. Nem mesmo todo o sono gasto no caminho o impediu de ir correndo para sua caminha.
Jeon não sabia que precisava daquela viagem até fazê-la. Barriguda ficou feliz de vê-lo de novo e lá no céu, brilhando que nem maluco, Sol, seu falecido gatinho, também brindava aquele nova fase que se iniciava na vida de Jungkook.
🍏
Não muito tempo depois, o videogame ficou chato. Jungkook não gostava de admitir, mas Taehyung apareceu mais de uma vez na sua casa para ajudá-lo a zerar os jogos. Já tinham ficado acordados até duas horas da manhã! Tudo escondido das avós, tudo sussurrado em risinhos baixos. A única evidência que deixaram foi farelos de biscoitos e marcas de dedo sujo de doce de leite na porta da geladeira.
Mas não se enganem, Taehyung ainda era bem chatão! Jungkook tinha feito juramento de escoteiro, que não importasse o quão legal fosse fazer pulseiras de miçangas e nadar no riacho, ele não trairia seu coração, e seu coração sempre fazia careta ao pensar em Taehyung. Uma careta tão feia quantoum gremlin.
Jungkook voltou às suas raízes, quase que literalmente... Não demorava muito pra ele se esconder que nem um coelhinho lá nas macieiras, ler e escrever, voltar com coceirinha da grama e bochechas rosadinhas de primavera.
Mas aquela tarde estava boa demais. Jungkook tonha convencido as avós a deixarem ele assistir novelas com elas e que fonte de conhecimento! Principalmente o conhecimento romântico. Galãs, reviravoltas e drama plantaram inspiração na cabeça de Jungkook e olha ele lá, totalmente concentrado nas palavras que saíam como um furacão da caneta.
A língua estava de fora e as sobrancelhas bravas de concentração. Ele se divertia e ria das bobagens que escrevia de vez em quando porque essa era a experiência completa de viver um romance fictício.
Escreveu tanto e sem parar que mal percebeu pra onde as coisas estavam indo. Quando releu o último parágrafo, ele engoliu seco e mordeu a polpinha da boca.
"O ruivinho nem gostava de pipoca doce e amendoim, mas estava sentado no galho da árvore de flores rosas dividindo um pacote dos dois com o garoto dos olhos sonhadores e verdes. Ele sabia que o outro se divertia em falar e rir das próprias piadas, mas não conseguia, hoje, não conseguia ouvir nada além do coração pulando corda no peito. Por isso nem percebeu o silêncio que ficou deixando o vento assobiar fraco e os passarinhos serem os astros do fim de tarde.
— Tá tudo bem? — os lábios estavam vermelhos de corante de pipoca e se a própria língua estava doce, imaginava se a dele também não estava.
— Você que ficou quieto do nada, ruivinho.
— Ah... — ele coçou o ombro avermelhado de sol. — Você... você já beijou alguma menina?
— Oh! — ele gargalhou. Se sentiu bobo, muito bobo. — Você vai contar pra alguém?
— N-não.
— E se algum passarinho escutar? — ele sorriu mais fraco e tranquilo. Ainda se sentia bobo, mas mais ainda curioso. — É segredo. — ele já sabia o que devia fazer. Então o deixou se aproximar com as mãos em concha e a voz soar linda no cochicho perto da orelha. — Eu nunca quis beijar uma garota.
Ele ficou nervoso com aquilo, as bochechas ardiam como pimenta e ele se sentiu quente como se o verão entrasse pela respiração levemente falha.
— E você? — ele ainda estava perto e falava baixo. — Já quis beijar alguém?
Ele tomou coragem pra olhar pra ele e gaguejou até em pensamento. — J-já. — parecia bravo, e estava, bravo por não entender o estômago borbulhando que nem água com gás.
— Eu conheço? — ele fez que sim, rápido e forte. — Ele é bonito? — o sim foi tão certo que nem deu tempo de perceber o erro. — Mais bonito que eu? — sua risadinha não foi nada boba.
Taehyung beijou seu rostinho, perto das pintas e da boca. A boca estava tremendo um pouco, mas não atrapalhou em nada no outro beijo ainda mais perto da boca.
Mas ele não conseguiu segurar seu coração e falou ansioso: — Eu nunca conheci ninguém mais bonito que você! — e quis ganhar um beijo ainda mais íntimo que aquele."
Jungkook se assustou, saindo daquele transe escrito do resto de tinta verde da sua caneta. Ele quase rasgou a folha tamanha força usou para rabiscar o nome de Taehyung boiando na sua história romântica. Ele parou um pouco e respirou fundo, porque estava praticamente tal qual o ruivinho da sua história, em pânico. Nossa! Aquilo era muito perigoso e se alguém o visse escrevendo essas coisas!
— Olá! — Jungkook viu a alma sair do corpo e bater a cabeça no galho da macieira e cair de novo no seu corpo. — Jungkook? — Taehyung ficou confuso com a cara de ladrão pego no pulo que Jeon fez. Parecia ter cometido um crime muito delicado. — O que você tá aprontando? — deu um sorrisinho maroto e tentou pegar o caderno de Jungkook das mãos dele, mas o garoto pareceu acordar.
— Sai do meu pé chulé!
Se recompôs e agradeceu Taehyung ser maior cabeça de balão porque ele logo começou a escalar as árvores pra comer maçã.
— Você gosta mais de maçã verde? — Jungkook perguntou, estranhando justo aquela escolha quando tinha tantas maçãs vermelhinhas para pegar.
— Sim, é mais azedinha.
— Eu também sou e você não gosta mais de mim que do que o Hoseok!
Taehyung o olhou espantado de forma engraçada. E começou a rir deixando Jungkook arrependido e envergonhado do que tinha falado. Nossa, precisava comprar um filtro pra pôr na boca e parar de falar besteira!
— Não foi isso que eu quis dizer! Quis dizer que... — pensou. — que... — qualquer coisa! — que... que você é esquisito.
— Por gostar de maçã verde? Ou por não gostar de você? — ainda ria enquanto comia a tadinha da maçã e Jungkook fingiu não ter escutado, continuando a comer sua própria maçãzinha vermelha.
Hum, quem ele pensava que era pra não gostar de Jungkook!?
Quando começou a escurecer Taehyung acompanhou (seguiu) Jungkook até a fazendinha dele e assim que estavam perto da porta, Kim subiu nas escadas barrando Jungkook bicudo.
— Se eu te contar algumas piadas você fica mais feliz?
— Não tô triste.
— Tá bravo.
— Não tô! — bateu o pé e cruzou os braços. Ah nem tava bravo, só um pouco indignado que Taehyung não gostava dele. Ok, Jungkook não era muito legal com ele, mas mesmo assim!
Taehyung riu porque aquela teimosia em algum momento virou charme e tornou-se divertido ver Jungkook ficar tão emburrado. Aprendeu a não só virar o jogo, como aproveitá-lo.
— O que é um pontinho preto no avião?
— Taehyung! — deu um tapa fraco nele, tentando desviar e entrar logo em casa.
— Uma aeromosca.
Ele fechou os olhos e segurou o risinho nos lábios traidores. — Não teve graça. Posso ir?
— Como que o Batman faz para entrar na Bat-caverna? — ele e suas piadas de batman, Jungkook tinha até parado de ler as HQ's daquele super-herói meia boca.
— Cê num vai me deixar em paz né...
— Ele bat-palma. — e deu risada a beça, mas Jungkook o olhou com cara de besta. — O que? Qual o problema com as minhas piadas de batman?
Jungkook revirou os olhos sorrindo e esperando logo que aquela tortura acabasse!
— Ok, ok. Se você não rir dessa eu deixo você ir. — ele jogou o cabelo caramelo pra trás e só então Jungkook percebeu que Taehyung era um tanto mais alto e mais... mais alguma coisa. Na igreja diziam que ele era o mais bonito dali... mas Jungkook não sabia se acreditava ou não. — Alô? Combinado?
— Combinado. — respirou dramaticamente.
— Qual é o tio da construção? — deu uma pausa animada e Jungkook esperava o pior. — O tio jolo!
Não conseguiu, riu. Riu traindo tudo que acreditava! Virar adolescente era muito difícil. Tinha uma galinha como amiga, queria beijar e não sabia segurar risada.
— Perdeu! Vai ficar comigo aqui pra sempre escutando mais piadas. — eles ainda riam e a lua também lá no alto.
— Não! Pelo amor de Deus. — ele ria desesperado tentando entrar em casa e sendo pego por cosquinhas. — Taehyung! Que saco. — mas era difícil levar a sério com aquele som de risada gostosa. Mas ai, o lado estabanado entrou em ação e quando Taehyung tropeçou no degrau derrubou Jungkook consigo e os dois resmungaram de dor.
— Puts.
— Puts? — Jungkook perguntou, se levantando e fazendo carinha de dor pro ralado do braço. — Você não tem jeito.
Taehyung riu fraquinho ainda jogado na varanda. — É verdade. — ele olhou pra Jungkook que olhou de volta e pareceu irresistível não rir. No final das contas, eles eram uma grande piada de quase dezesseis e quase dezessete anos. Alguns efeitos colaterais da puberdade tinham começado a se espalhar pelo corpo de Jungkook há algum tempo. Ele tentava ignorar os pelinhos, a voz indecisa, mas não conseguia ignorar a curiosidade em fazer coisas erradas.
Pensou nelas e arregalou os olhos, ficando sem graça. — O que foi? — Taehyung perguntou. — Percebeu como eu sou gato?
Claro que ele riu, Taehyung só fazia isso. Mas Jungkook apenas resmungou e levantou, recebendo uma mão querendo ser ajudada. Ele levantou Taehyung também e odiou o quão estreita as escadas eram, parecia pouco espaço para os dois.
— Eu vou indo.
— Tchau, Taehyung. — ele olhou pros pés e depois pro garoto mais chato do mundo bem ali, com cara de garoto mais bonito do mundo. Até suas sardas do ladinho esquerdo do rosto pareceram odiar admitir isso. Talvez fosse porque estava escuro, mas o sorriso de Taehyung parecia mais íntimo, como se o motivo fosse Jungkook.
— Tchau, Jungkook. — enrolou um dos cachos amassados da cabeça de Jeon no seu dedo e se afastou um pouco. — Não precisa ficar bicudo, eu gosto de você. — ele deu um toquinho no queixo de Jungkook e ele franziu o nariz. — Só não conta pro Hoseok.
E deixou Jungkook pra trás sem entender mais mil coisas. Até o bebê Minhee parecia mais esperto naquele momento.
— Você com certeza vai ser o mais inteligente da família. — Jungkook o nanou mais um pouco e deu um beijinho na careca dele. Talvez o cansaço do Sol tenha o nanado também e ele dormiu, sentado no sofá balançando Minhee.
— Meu Deus, Kaori olha o tamanho do nosso neto.
— Mas é só isso também. Só tem tamanho. Continua um bebezão.
As avós riram e se apertaram no sofá pra continuar assistindo a única novela que Jungkook era proibido de ver, sem imaginar que o neto tinha um olho meio aberto. Vendo aquele beijo quente entre os protagonistas, ainda sonolento, Jungkook parou para imaginar quando seria sua vez.
Até seu personagem ia beijar antes que ele mesmo! Totalmente injusto.
🍏
Jungkook era uma linda borboletinha social quando queria (e quando o evento tinha comida). Por isso nunca faltou em um piquenique da igreja! Era desculpa para se arrumar, comer bastante e ainda fofocar com suas primas e amigas.
— Não fique andando pra lá e pra cá.
— Isso, e não suje essa roupa de grama de novo! — a vó exclamou já se afastando e deixando o neto a vontade. Jungkook amava aquela roupinha.
Ele usava seu macacão verde claro e uma camiseta branca somente em ocasiões especiais. O cabelinho molhado deixava ele ainda mais fresco, tipo limonada com gelo! Ele também tinha levado uma mochila pequena com coisas pro bebê e seu caderno, caso algum sabor novo de sorvete o inspirasse a escrever.
Não demorou muito pra se enturmar, se distrair e ficar de risadas no lençol colorido. Esqueceu-se de sua imaginação.
— Os meninos do coral não vieram...
— Foram pra cidade vizinha comemorar o aniversário do Goo.
As coisas só ficaram mais interessantes quando a prima preferida de Jeon chegou e ela era toda doida. Já chegou com sua cesta cheia de fofoca e bolinhos de mirtilo. Enquanto comia e ouvia os bafafás, Jungkook olhou ao redor. Eles sempre faziam o piquenique naquele bosque rasteiro, era quase uma claraboia natural da floresta.
As avós estavam no seu círculo social, o bebê Minhee estava tentando ser gente, engatinhando e tentando pegar besouro.
Taehyung estava lá é claro, mas tinha cara de quem tinha comido e não gostado. Estava rodeado da bagunça dos irmãos e de um Namjoon tentando tirar o semblante de enterro dele.
As coisas andavam meio esquisitas. Jungkook tinha ganhado duas revistas POP da prima na semana passada e talvez todo aquele papo de namoro e dicas de beijo tivesse mexido com a cabeça de Jeon. Agora só pensava nisso. Virou outra pequena obsessão e essa não era lá uma coisa que podia sair contando como os dinossauros e o video game.
Chegou até unir suas duas últimas, beijos entre dinossauros: era possível? Provavelmente não... Mas parecia mais possível do que ele um dia sequer dar um selinho em alguém. Só selava cartas que mandava pros pais e a galinha Barriguda quando ela não o acordava de madrugada.
— Ei, etzinho! — a prima chamou. — Ta em que mundo?
Quis responder que estava num mundo onde os hormônios eram banidos e ele podia continuar satisfeito em somente ler romance. Querer viver um era ultrapassado, esperança demais e para se sincero se sentia muito novo praquilo. Romance parecia assustador, um filme de terror se fosse analisar direito.
Ah, mas seu gatinho Sol teria pago para ver Jungkook duvidando de um sentimento que sempre foi muito seu. Sua estrela norte e seu parque de diversão. O amor sempre foi uma página de livro lida muitas vezes e um capítulo de desenho gravado por meses na tevê.
Ele gradualmente saiu da nebulosa de pensamentos conflituosos,ouviu alguns casos, riu de alguns absurdos e comeu bastante, esquisitamente desanimado num dia tão lindo quanto aquele. Só havia uma única coisa que podia acabar com aquilo, mas a mãe estava longe demais pra cozinhar com ele seu prato preferido.
Seu olhar cruzou com o de Taehyung, mas foi quase nada. Apesar disso, Jungkook guardou um bolinho de mirtilo enrolado num pano na mochila.
Todo mundo foi embora aos poucos. A noite varreu todos pra debaixo do tapete de suas casas e era mesmo muito gostoso as noites de um quase verão. Não viu quando Minhee dormiu nos braços de Taehyung só percebeu quando ele estava caminhando junto com o resto de sua família pra casa. Minhee tinha pego birra e só queria o colo dele!
Jungkook estava quieto como se tentasse escutar o barulho mais fraco da Terra. Ele chutava algumas pedrinhas e colecionava vagalumes nas lembranças. Contou vinte e seis vagalumes até chegar à porteira. No fim, a vida na fazenda era tão calma que podia deixar alguém maluco. Mas era bom demais se preocupar com quase nada. Não que Jungkook tivesse muitas preocupações além das suas próprias bobagens...
— Boa noite, menino. Obrigada pelo agrado. — a vózinha Anri agradeceu Taehyung, levando aquele bebezão pra dentro de casa.
— Boa noite, senhoras. — ele respondeu educadamente como se fosse mesmo um mocinho bom. Todas aquelas meninas da igreja diziam o contrário... Jungkook ficou para fechar a porteira e apagar as luzes de fora.
— Ah! — antes que se despedisse por reflexo, Jungkook entregou o bolinho. — Acho que você tinha dito que gostava de bolinho de mirtilo. — aquele em especial estava meio amassado, mas ainda sim fofo.
— É meu segundo preferido. — ele sorriu. — Cê envenenou?
Jungkook bufou e revirou os olhos. — Quem te contou?
A risada daquela vez era um pouco mais fraca, receosa, experimental. Não tinha mais nada pra falar. Jeon não ia dizer que gostou de como o cabelo dele ficou de lado, meio bagunçado, nem que queria mais dos biscoitos de polvilho que ele tinha levado. O peixe sempre morria pela boca e o garoto pressentia que se falasse demais se enfiaria num buraco sem saída.
— Obrigado, Jungkookie. — ele suspirou e colocou as mãos no bolso da bermuda, começava a esfriar. — Acho que finalmente você me odeia um pouco menos. — depois de longos três meses de insistência, lidar com Jungkook era como lidar com aquela vaca possuída que o perseguiu, estranhamente divertido.
— Não vai se achando não.
— Impossível. — ele deu de ombros. — Agora sou oficialmente o melhor amigo do garoto com mais sardas do mundo. É uma honra.
— Cruz credo... — ele fez uma careta muito convincente. — Tchau.
— Tchauzinho. — ele acenou cheio de graça.
Jungkook não viu que deixou a mochila aberta e foi tarde demais quando voltou correndo pra casa depois de ver um sapo perto e derrubou seu caderno. Aquele caderno era pior que um diário...
Taehyung o gritou, mas Jeon já não queria mais papo furado e o ignorou. Precisava dormir e roncar que nem um leitãozinho, que nem seu primo mais novo.
Então agora, Taehyung passava por um dilema moral enquanto passava a mão pela capa xadrez-piquenique. Um dilema que não demorou uma piscada demorada. Quando já estava de madrugada e ele não conseguia dormir nem ouvindo sua nova fita no walkman, ele acendeu o abajur e pegou o caderno debaixo do travesseiro.
Antes de dar uma de enxerido, fez uma prece rápida e prometeu pros céus que essa seria a única vez que cometeria um crime daqueles! Um crime com cheirinho de frutas, glitters e figurinhas de caderno.
🍏
Depois de três dias se dedicando à leitura, a mãe de Taehyung estava prestes a chamar um médico, uma curandeira e um padre, tudo junto, todos os meios mais extremos! A mulher, assustada, comentou com Namjoon que Taehyung só podia estar doente. Fazia tempo que ele só saia de casa pra ajudar o pai e estava sempre com aquele caderninho em mãos, parecendo ter sido engolido pra outro mundo. Só não levava para o banho porque não podia.
Quando os olhos de Taehyung finalmente chegaram em linhas vazias, ele fechou o caderno e abriu a mente. Fechou os olhos e abriu a boca, totalmente incerto de tudo que um dia colocou numa caixinha de impossível.
Seu teto quase caiu de tanto que ele o encarou. E mesmo que tivesse caído, não teria conseguido quebrar aquele sorriso indeciso que nasceu nos seus lábios.
Não devia começar a pegar o hábito de pensar muito, isso não era coisa sua. Então jogou o caderno dentro de uma bolsa ecológica, pendurou um colar de quartzo verde no pescoço e cheirou a camiseta preta do Elmo antes de sair de casa. A mãe soltou um aleluia e Namjoon riu da determinação de Taehyung, pra fazer sabe-se lá o que.
O chinelo já sabia pra onde estava indo e não teve como repreender o coração de quase sair pela boca quando avistou as macieiras. Ele procurou Jungkook, não teve coragem de gritar seu nome, roeu as unhas quando não o viu ali. Respirou todo o ar do mundo e se apressou a subir o monte até a casa de Jeon.
As avós disseram que ele estava no quarto, inconsolável e desejaram boa sorte pra ele antes que ele subisse as escadas.
Quando deu de cara com a porta de Jungkook, cheia de fotos e origamis, Taehyung quase deu meia volta e foi embora. Mas quando deu o primeiro passo pra fugir, ele ouviu um soluço de choro e ai não teve jeito.
— Por favor, vó. Eu quero ficar quietinho. — a voz quebrada e molhada de lágrima fez Taehyung se arrepender de se meter onde não devia. Ele viu o garoto se escondendo no cobertor formando um montinho chorão. Ele fungou e colocou os olhos pra fora. — T-taehyung?
— Ficou com tanta saudade de mim que tá até chorando? — ele riu, tímido, nervoso, tudo o que não era estava sendo agora. Era difícil não ser tudo isso depois de ver seu nome escrito e rabiscado por cima, com se alguém tenta-se apagá-lo de uma carta de amor.
Barriguda cacarejou e foi tentar comer o chinelo de Taehyung. Ele riu e se sentou na beira da cama de Jeon, totalmente desconfortável com a sua impulsividade. O que estava fazendo?
Jungkook ficou calado até não aguentar mais aquele comportamento estranho de Taehyung. — O que aconteceu? — Taehyung foi mais rápido, postergando a bomba o máximo que podia.
— Aquela vaca feia! — ele fez careta pra não voltar a chorar. — De novo ela veio atrás de mim e eu torci o pé por causa dela, hyung. — Jungkook choramingou sem perceber que tinha chamado o outro de hyung.
Mas Taehyung percebeu e tossiu. Não, Jungkook não podia nunca mais chamá-lo de hyung, porque o que ele queria fazer não era coisa de hyung.
O pézinho de Jungkook era perseguido, primeiro tinha sido a correria do rio e agora isso. Pobrezinho!
— É, ela é uma vaca estúpida. — ele riu, ainda estranho e quadrado. — Deixa eu ver. — ele puxou a coberta e se arrependeu porque Jeon estava só de camiseta e cueca.
— Taehyung! — ele gritou e pulou na cama, se espremendo de dor porque movimentou o pé machucado.
— Desculpa. — Taehyung queria muito não rir. — Não vou contar pra ninguém que você usa cueca de super herói.
Ele levou uma travesseirada na cabeça tão forte que quase se esqueceu do que tinha vindo fazer. Não teve como não revidar a guerra de travesseiro e tudo quase se estendeu ate que a sacola de Taehyung caiu, revelando o que trazia dentro de si.
Jungkook arregalou os olhos e foi muito rápido a combustão do sangue pras suas bochechas. Os dedos avermelhados coçaram, a mente rodou que nem o brinquedo das xícaras rodopiantes e a boca secou, sem ideia do que fazer. Do que falar, do que pensar.
Taehyung tinha lido seu caderno?
Pela cara que ele fez, tinha sim.
— Eu li. — ele falou. Jungkook tinha imaginado, mas ter isso confirmado foi terrível. Não sabia mesmo o que esperar, se é que deveria esperar alguma coisa. Ele tomou coragem de olhar para o mais velho e engoliu a bola de lã. — Eu li tudo.
Jungkook quis abrir a janela e pular dela, usar Barriguda de avião e viajar até sua casa onde estaria longe de Taehyung e o problemão que havia criado sendo um enxerido! Estava planejando milhões de desculpas, que aquele caderno era de sua prima, sei lá, que Barriguda tinha o ameaçado a escrever aquilo. Talvez só devesse pegar o caderno,jogá-lo na privada e dar descarga... ou será que deveria fazer isso com Taehyung? Ele cabia na privada? Ok, era só fingir desmaio.
— Eu quero... — sua voz nunca ficou tão rouca quanto naquele momento. Taehyung brincou com os cristais pequenos do colar e mordeu o lábio, falando o que não devia. Olhou pra Jungkook que nunca esteve tão fofo com os olhinhos inchados e a boca vermelha de tanto judiar dela. — Depois de pensar bastante eu... eu acho que quero fazer isso com você.
Se bem lembrava a última coisa que tinha escrito era... O beijo na árvore. Então ele queria um beijo? Tipo, um beijo mesmo, como os dos filmes, entre dois garotos que certamente estavam apaixonados, ele queria beijar Jungkook ou estava apaixonado? Os dois? Ou nenhum?
Jungkook esperava tudo menos aquilo, será que seria educado tentar se livrar de Taehyung pela privada mesmo depois dele ter dito que, bom, que queria o beijar? Tipo pra valer.
Quando Jeon pensou em dizer algo, correr ou cometer um atentado contra Taehyung, Barriguda resolveu todos os dilemas com um cacarejo alto e um ovo se acomodou bem no travesseiro de Jungkook.
Puxa vida!
deixem uma estrelinha pra mim :) até o próximo capítulo! 💗
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