six: certainties
olá, olá!
⚠️ TW (AVISO DE GATILHO): nesse capítulo há cenas e diálogos que podem servir como gatilho para alguns por conterem os seguintes "temas" sensíveis:
• acidente no trânsito
• internação hospitalar
• perda afetiva (perda de pessoa querida) implícita
se desejarem seguir com a leitura do capítulo, tenham uma boa leitura! <3
JUNHO DE 2020
TODOS OS CORREDORES DO UNIVERSITY COLLEGE HOSPITAL cheiravam a dor. A dor de mães. A dor de pais. A dor de filhos. A dor de avós. A dor de avôs. A dor de irmãos e irmãs, de maridos e esposas, de namorados e namoradas. A dor de todos.
Porque em cada quarto daqueles havia alguém especial. Alguém com uma família amorosa e amigos leais. Alguém que gostaria de estar no sossego do próprio lar, mas de algum modo fora parar ali. Cheirando a dor. Alguns, talvez a menoria, cheirando a esperança.
Brooke estava no quarto 307 da UTI.
Politraumatismo.
As múltiplas lesões em seu corpo foram causadas pelo impacto do veículo que colidiu com o seu. Brooke estava passando pelo semáforo — verde para a fileira em que ela se encontrava seguir caminho — quando um carro desgovernado e em alta velocidade atravessou o cruzamento, atingindo ela e outros três motoristas em sequência.
Um veio a óbito ainda no local. Os outros dois também foram encaminhados para o University College.
Duas semanas se passaram desde o acidente, e apesar do pouco progresso que dera, as pessoas ao seu redor tinham um fio de esperança. Desde Mark e Jenna, que coincidentemente foram os primeiros a serem avisados pela polícia do acidente, até Margaret e Lewis, que chegaram ao hospital minutos depois. Felizmente, Brooke entrou para a pequena porcentagem de pacientes que sobrevivem às primeiras horas e aos primeiros dias após os acidentes que geram politraumatismo, no entanto, ela ainda estava lutando contra os traumas.
O controle de visitas na UTI era rigoroso, portanto, não era todo dia nem toda hora que alguém ia até o quarto de Brooke. Até porque, em boa parte do tempo ela estava dormindo. Os remédios a deixavam sonolenta, quase sedada. Era horrível vê-la assim, mas todos recusavam-se a deixá-la sozinha naquele lugar.
O coração de Lewis disparava sempre que ele passava pelas portas do hospital, especialmente se estava na companhia de Margaret ou Dalmi. A mãe de Brooke vinha lidando bem com tudo aquilo, mas sua saúde debilitada o preocupava, e a pequena menina ainda tinha um pouco de dificuldade em ver a genitora de tal forma. Lewis receava sobre como inseri-la naquele ambiente poderia afetá-la mais à frente, mas a decisão de permitir sua entrada não lhe cabia.
Cabia a Margaret, aos médicos, à psicóloga e até mesmo à Brooke — que em seus melhores dias pedia para ver a filha.
Era uma situação delicada e muitas coisas ocorriam além das paredes do University College. As corridas de Lewis, a curiosidade das pessoas para saber o que tinha acontecido a Brooke, a atual e linda namorada do hexacampeão, o processo para indiciar o motorista causador do acidente que levara uma pessoa a óbito e três para o hospital, a aceitação de tudo aquilo.
Lewis segurou a mão direita de Brooke com as suas. Encarou-a com um meio sorriso. Ela estava acordada, muito embora não estivesse muito bem. Era horário de visita e ele fizera o possível e o impossível para estar ali. Passara a manhã inteira em Brackley e depois ainda tinha outros assuntos para resolver.
Quando chegou, encontrou Margaret — que parecia cansada tanto fisica quanto mentalmente; seu semblante demonstrava isso, nem mesmo seu cabelo brilhava como um ou dois anos atrás — e soube que Dalmi estava na lanchonete com Jenna. A garotinha tinha acabado de chegar da casa de uma amiga. Seus colegas de classe e amigos mais próximos vinham mostrando-se bastante solidários e amorosos com ela.
Mais uma vez o piloto passou os olhos levianamente por todas aquelas máquinas e fios. Era horrível, ainda que necessário.
Fazia alguns bons minutos que o casal vinha tentando conversar sobre algo difícil, e Lewis parecia disperso. Na verdade, era como se estivesse anestesiado.
Falar sobre aquilo o machucava de tantas formas.
— Lew — Brooke chamou, buscando pelo olhar dele. Apertou suas mãos e se esforçou para sorrir. — Vai ficar tudo bem.
Ele negou com um balançar de cabeça, finalmente alcançando as írises da namorada. Haviam hematomas por seu rosto, alguns curativos aqui e ali e a região de seus olhos estava roxa. Mas, apesar disso, por trás dos rastros do acidente ainda existia a Brooke de sempre. A Brooke que tentava ficar animada e animar os outros mesmo nas piores situações, a Brooke que não descansava até ter a garantia de que todos ficariam bem — mesmo que ela não ficasse.
— É horrível quando você não olha para mim — a escritora disse baixinho. Inspirou fundo, guardando em algum lugar de difícil acesso a vontade de reclamar de uma dor que surgira em seu abdômen. — Eu sei que estou feia, mas não precisa exagerar! — brincou.
Pela primeira vez naquele dia, talvez naquela semana, Lewis genuinamente riu. Depois disso ficou em silêncio por mais um tempo, tendo a mão de Brooke na sua, o olhar dela no seu, seu coração ainda mais preso ao dela. Ele queria mais horas, mais dias e até semanas para assimilar tudo, mas sabia que não seria possível.
Além do mais, no fundo no fundo desejava que tudo fosse o menos sufocante e doloroso possível para Brooke. Ela não merecia mais uma dose de preocupação ou sofrimento.
— Você continua linda, amor — Lewis disse, estendendo-lhe um sorriso. — Esses machucados não são nada.
— Então por que você mal olha para mim?
O piloto ponderou.
— Porque é difícil, Bee. É difícil te ver assim e não poder fazer nada. — assumiu. Brooke engoliu em seco. — Queria que fosse menos doloroso. Queria poder nos sedar e passar por isso sem sentir dor.
— Mas infelizmente não tem como correr dela, sweetheart. Onde há vida, há dor.
De repente, tanto Lewis quanto Brooke passaram a imaginar como as coisas teriam sido se eles não fossem um do outro, a imaginar um mundo onde eles não colidiram. Mas no fim das contas, a culpa de tudo aquilo não era deles. E ninguém tinha a garantia de que se fosse diferente, seria melhor. Talvez ocorresse o contrário.
— Eu não quero que você sofra. Não quero que ninguém sofra. — Brooke voltou a falar. Com um pouco de esforço, se sentou na cama. Passeou o olhar pelo rosto cansado de Lewis. — Não posso fazer você prometer que não vai sofrer tanto, mas…
— Brooke — ele a interrompeu. Ela ergueu as sobrancelhas. — Mesmo que eu não possa te prometer nada, não vou medir esforços para facilitar tudo isso.
Os olhos da escritora foram tomados por lágrimas. Nenhum deles precisava dizer muita coisa, usar muitas palavras, para saber exatamente do que estavam falando. Estava explícito em todos os lugares: nos olhares que trocavam, nos toques das mãos, nos tons de voz, em cada canto daquele quarto frio e, ironicamente, colorido.
Era uma possibilidade, eles sabiam.
— Continue cuidando delas — Brooke pediu, deixando uma lágrima cair. — Por favor.
Estava doendo como um inferno, como se tivessem colocado brasas em seu peito e fechado-o com algo muito difícil de quebrar. Sentia uma dor avassaladora que misturava todos os seus lados: o lado filha, o lado mãe, o lado namorada, o lado amiga… todas as suas facetas. Brooke estava cansada, tinha forças para fazer pouquíssimas coisas, e pensar em tantos quadros estava exaurindo-a ainda mais. Mas não era como se pudesse evitar.
Sua maior preocupação era com Dalmi, sua menininha de ouro. Ela era tão preciosa, não merecia passar por todo aquele sofrimento. Não merecia não poder abraçar a mãe ou então passar por procedimentos e procedimentos para fazer uma visita hospitalar.
Ela estava tão assustada, mas também estava demonstrando ser uma garotinha extremamente corajosa. Brooke admirava isso nela e esperava que ela fosse sempre assim.
— Espero que o futuro que sonhamos não esteja desaparecendo… — Brooke riu e Lewis a acompanhou.
— Não está. Ainda podemos reverter isso, Bee.
Ela concordou. Puxou o ar com uma força adicional e deu o sorriso mais alegre que conseguiu. Lewis retribuiu da mesma forma, logo em seguida beijando ternamente sua mão.
Nesse instante, algo, ou melhor, alguém, irrompeu pela porta.
A pequenina e loira figura de Dalmi caminhou rapidamente até a cama da mãe. Por trás do avental hospitalar e de todo o EPI havia o vestido branco com listras azuis que ela ganhara de Brooke no mês passado. Dalmi gostara tanto dele que disse que só o usaria em ocasiões especiais.
— Oi, mamãe! — a pequena a cumprimentou. Olhou para o rosto sorridente da mãe e sorriu também. Ocorreu a Brooke que talvez ela devesse se esforçar para sorrir mais.
— Oi, meu amor. Você estava com a tia Jenn? — quis saber.
— Sim! Ela me levou para comer na lanchonete. Sabia que lá tem uns bolinhos de chocolate com bastante recheio de chocolate? É assim, óh — usando as mãos, Dalmi mostrou para a mãe o tamanho do recheio. Todos no quarto caíram na risada. — Quando você sair dessa cama a gente vai lá.
— Por mim tudo bem, querida. Estou ansiosa para experimentar esses bolinhos de chocolate com bastante recheio de chocolate!
Em silêncio observou a filha se mover pelo quarto por um bom tempo até enfim descansar no colo de Lewis. E ali, vendo-os brincando juntos naquela cadeira, reviveu um pensamento que tinha, mas não gostaria de externar. Para ela, o fato de os médicos, apesar de tudo, estarem permitindo algumas visitas significava algo. E talvez não fosse algo bom.
Os olhos da escritora se perderam e seus pensamentos se dispersaram. Ao voltar para a própria realidade, pegou Lewis fitando-a com uma expressão quase impossível de decifrar. Ele sorriu, então, como se estivesse lendo os pensamentos dela, sibilou:
— Nós te amaremos de qualquer forma, Bee. Vai ficar tudo bem.
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capítulo sofridinho, né? que dor ver a brooke assim :(
eu nunca sei o que dizer quando escrevo capítulos com cenas tristes, então só vou perguntar o que vocês acharam desse capítulo e estão achando da história como um todo KKKKKKKKKKKKKK espero que estejam gostando!
o próximo capítulo será o epílogo — e eu pretendo postar ele assim que puder :)
não sei se vocês perceberam, mas esse capítulo está cheio de referências a uma música hehehe ouçam "it'll be okay" do shawn mendes, ela é linda demais! 🤧
obrigada >mesmo< a todas vocês que estão lendo afflatus e sendo tão carinhosas comigo e meus personagens! eu, brooke, lewis, dalmi e margaret amamos vocês!
beijinhos, beijinhos, beijinhos
até mais! <3
ㅤ
com amor,
yas.
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