five: (not so) dear problem
JUNHO DE 2020
LEWIS COLOCOU DALMI NA CADEIRINHA e passou o cinto de segurança por seu corpinho delicado. Mesmo com cinco anos de idade, a pequena Losen ainda se parecia com uma frágil boneca de porcelana. Contudo, estava mais ativa, mais falante, mais curiosa. Ela olhava para tudo e todos a todo momento, fazia perguntas e raramente ficava quieta. Uma vez Margaret contara que Brooke era assim quando tinha essa idade, só que menos sapeca.
Lewis riu e pensou que talvez o ditado que tudo o que você apronta com seus pais quando é criança volta em dobro quando você tem filhos realmente fosse verdade.
— Tudo certinho aí, Mimi? — ele perguntou, entregando a ela uma tartaruga de pelúcia. Dalmi estava passando por aquela fase em que a criança fica fascinada por coisas aleatórias durante algum tempo, e naquele momento seu fascínio era por tartarugas.
— Tudo certo! — a garotinha respondeu com ânimo. Mesmo novinha, além de ter um vocabulário extenso, Dalmi tinha uma pronúncia excelente. Ela era uma menina bastante inteligente, e a forma como a mãe a incentivava, lendo histórias para ela e cultivando nela o amor pelas letras, só ajudava. — Vamos para o shopping?
— Isso, para o shopping! — Lewis sorriu e arregalou os olhos. Sentou-se ao lado da cadeirinha e brincou com uma mecha do cabelo ondulado dela. — Ver quem?
A loirinha ponderou. Tocou o dedo indicador no queixo várias vezes e deslizou a mão pelo uniforme escolar, então encarou-o com um olhar brilhante.
— A mamãe! — respondeu em um tom de voz estridente e levantou os braços.
— Isso, a mamãe! — entrando na brincadeira, ele fez uma careta que lhe arrancou uma risada gostosa. Dalmi sacudiu a cabeça e bateu palminhas. — A mamãe está nos esperando lá, aí nós vamos jantar, assistir um filme e brincar no parque. O que você acha?
— Acho ótimo! — dessa vez, Dalmi fez joinhas. Ela vivia fazendo isso.
Lewis esboçou um sorriso e beijou a testa dela antes de se levantar e fechar a porta do carro. Tomou seu lugar diante do volante e tirou a Mercedes GLC 250 da vaga. Como era dia semana e horário de pico, as ruas de Londres estavam caóticas; carros enfileiravam-se nas duas mãos, motocicletas se amontoavam pelos corredores nos cantos das ruas, faróis brilhavam e ofuscavam o sol — que de pouco em pouco se escondia por detrás dos imponentes prédios e arranha-céus londrinos.
O piloto passara a semana inteira ocupado com treinos e visitas à fábrica da Mercedes em Brackley, portanto havia tido pouco tempo para ficar com Brooke e Dalmi, mas agora que estava livre não deixaria uma oportunidade tão boa como aquela escapar. Dois dias atrás combinara que iria buscá-la na escola e levá-la para o Westfield London, um dos maiores shoppings da capital inglesa, onde encontrariam Brooke, jantariam, assistiriam a um filme e depois brincariam no parque.
Com os olhos fixos na estrada, Lewis parou para pensar que nunca se imaginara em um programa aquele, do tipo family-friendly, com uma namorada. Mas, em retrospecto, gostaria de ter tido essa experiência antes. Ou não. Porque fora ótimo experimentar aquele sentimento pela primeira vez na companhia de Brooke e Dalmi. Talvez as coisas tivessem ocorrido como eram para ocorrer.
Ainda dando atenção ao percurso que fazia, ele esticou o braço para ligar o som. Bom, não fazia ideia de quem era aquela música, mas se tratava de uma música infantil que Dalmi era apaixonada. Ele levantou o olhar e encarou-a pelo retrovisor interno do carro.
Com a tartaruga de pelúcia nas mãos, a pequena menina se balançava na cadeirinha e cantarolava a letra da música que preenchia o veículo. Ela parecia não se importar com o fato de estar sendo observada por Lewis. O afeto entre eles crescera tanto que Dalmi se sentia à vontade para ser exatamente a garota esperta e cheia de energia e ideias mirabolantes que ela era com a mãe e a avó.
Lewis pensava em muitas coisas, sobretudo em como Dalmi Losen se tornara uma filha para ele. A filha que, ainda que por muito tempo não tenha tido noção disso, ele sempre quis.
— Canta comigo, tio Lew! — a pequena pediu enquanto olhava para ele com um ar cheio de esperança.
Ele riu e balançou a cabeça. Não tinha como negar algo a ela.
De tanto ouvir a música, sabia a letra de cor e salteado. Então cantou, acompanhando a voz tranquila de Dalmi. Ela bateu palminhas até se perder totalmente na voz melódica e suave do padrasto e decidir que estava na hora de apenas escutá-lo. Mesmo que não dissesse a ninguém, nem mesmo a mãe, ouvir Lewis cantar era um de seus passatempos favoritos.
Ao ver dela, a voz do piloto era como as nuvens que dançavam silenciosamente no céu azul. Como pedaços de algodão-doce; extremamente fofinha, doce e bonita.
E Lewis seguiu cantando por vários minutos, a atenção se redobrando a cada vez que o fluxo aumentava. Quando parou em um semáforo e olhou pelo retrovisor outra vez, viu Dalmi dormindo com a cabeça um pouco tombada para o lado. Ele sorriu, afrouxou o cinto de segurança e virou-se para trás a fim de colocá-la em uma posição que não fizesse seu pescoço doer. Ao voltar para o banco do motorista, desbloqueou o celular — que estava preso ao suporte grudado no painel do veículo — e ligou para Brooke. Queria saber se ela já havia saído da editora e estava no shopping ou se também estava presa no trânsito.
Brooke estava concluindo seu livro.
Seguia sem dizer absolutamente nada sobre ele, o conteúdo da obra continuava sendo uma surpresa, mas dava algumas pistas sobre como as coisas estavam correndo na editora — onde ela trabalhava como coordenadora de projetos e como futura autora publicada.
Dava para ver em seus olhos como estava feliz com o andamento das coisas. Depois de tanto tempo sem saber para onde ir, chegar onde estava chegando era um grande alívio. Algo digno de se comemorar. Brooke sentia que a publicação daquele livro seria o pontapé perfeito para publicar muitos outros. Ela queria ser uma autora best-seller, uma autora que as pessoas conheciam, amavam e se lembrariam durante anos.
Lewis suspirou quando a chamada foi para a caixa postal. Deu de ombros e tornou a se concentrar no trânsito. Aquela parte de Londres era cheia de semáforos e o fluxo pesado não estava ajudando.
Os carros voltaram a circular, mas logo pararam outra vez. Ele bufou e debruçou-se no volante, passando a encarar as próprias pernas. Alguns segundos depois, sobrepondo os ruídos externos — as buzinas, as vozes, os motores das motos e dos carros —, o toque do celular tomou conta de sua audição.
Em um pulo Lewis levantou a cabeça; não queria que o som acordasse Dalmi. Levou o olhar na direção do celular e leu o nome de Mark, noivo de Jenna, a amiga que se casaria em questão de semanas, no visor. Ele abriu um sorriso e deslizou o dedo pelo botão verde, em seguida colocando a chamada no viva-voz; mas não alta demais, é claro.
— Oi, Mark — Lewis o cumprimentou. — Você me ligando? — riu.
— Oi Lew. Pois é, cara. Milagres acontecem. Onde você está?
— No carro. Estou indo para o shopping com a Dalmi, vamos encontrar a Bee. — ele contou. — E você?
— Bom, hum… — Mark ficou em silêncio, atiçando a curiosidade de Lewis.
— Você ainda está na linha, cara?
Os quatro, Lewis, Brooke, Jenna e Mark, se conheceram ainda em dois mil e dezoito, logo que o piloto e a escritora começaram a namorar. Mark e Jenna trabalhavam como corretores de imóveis, mas viviam viajando porque suas vendas ultrapassavam as barreiras da Inglaterra. No Instagram deles era possível ver fotos em vários países diferentes.
E vez ou outra o grupo viajava junto.
— Estou. — deu uma risada fraca e pausou outra vez. — Bom, Lewis, é que é o seguinte…
O piloto arqueou as sobrancelhas. Lewis?
— Não consigo enrolar mais ou encontrar uma forma menos dura de dizer isso. — Mark disse de uma única vez, praticamente atropelando as palavras. O coração de Lewis ricocheteou no peito. — Preciso que você venha para o hospital. O University College.
Lewis ficou em silêncio, dividido entre perguntar o que queria ou não. Ele não sabia se gostaria de ouvir a resposta que tinha certeza que iria ouvir.
— Por que? — sua voz saiu em um fio, trêmula.
— Porque a Brooke está lá.
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não sei o que dizer.
eu deveria dizer algo? também não sei.
a dalmi tá uma mocinha linda e esse momento deles cantando no carro me deixou toda boba 😭
e falando sobre o que o mark disse... ai, imagina o susto que o lewis levou :(
no próximo capítulo, que é o penúltimo, vamos descobrir como a brooke está e o que rolou!
e vocês acham que ela está escrevendo sobre o quê? qual será a história que ela vai publicar no livro?
me digam o que acharam do capítulo! a opinião de vocês é importante demaissss :)
obrigada por lerem afflatus e comentarem!
beijinhos, beijinho, beijinhos
até mais! <3
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com amor,
yas.
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