4.1 - Nem tudo...
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Aiehc era mesmo um rei igualitário.
E assim que recebeu a coroa ordenou a forjatura de mais quatro espadas e as entregou a cada um de nós em uma linda celebração íntima entre os mais chegados.
A ideia dele era mostrar como não planejava reinar sozinho e que confiava em cada um para o ajudar com todas as mudanças que estava planejando para o nosso reino, e quem sabe um pouco além. (Não tinha como não desconfiar do meu querido irmãozinho). Coisa que ele pôs em prática no segundo em que a coroa ornou suas madeixas desalinhadas.
Foi um caos.
O povo não via nada, porque todos os nobres foram postos para dentro do palácio então todas as brigas e gritarias ocorriam dentro destas paredes.
Todos sem exceção reclamavam da conduta do rei, de os expulsar de suas casas e dar lugar ao povo, todos praguejavam contra a saúde física de meu irmão, que parecia não se abalar com as ofensas dirigidas a si. Todos desejavam sua morte e pareciam planejar para que isso ocorresse o mais breve possível. Mas seu guarda costas era inabalável.
Com isso os conspiradores começaram a rechear as celas e sem piedade alguma executados na praça como era feito com qualquer membro da vila; sem um diferencial qualquer por serem membros da coroa, sem o mínimo de consolo ou conversas para amenizar a raiva e os fazer mudar de ideia; muito menos aceitava as tentativas desesperadas de acordo. Estavam sendo tratados como cidadãos comuns; todos agora tinham o mesmo peso, ninguém valeria mais por ser da coroa.
Isso garantiu uma admiração perigosa do povo para seu novo rei. Ele passou a ser idolatrado como um deus da noite para o dia, e eu chegava a me arrepiar toda, ouvindo os murmúrios pelas ruas da cidade.
Meu irmão mostrou que sabia como ser firme e cruel quando era preciso; e assim aqueles que viam algum vestígio de fragilidade nele por conta de sua gentileza e modo de se comportar, logo se calaram.
Os familiares choraram pelas perdas em seu luto, mas não ousaram tramar novas vinganças. Poucos tentaram asilo nos reinos aliados, mas os reis não ofereceram nenhum tipo de regalia por não ter ganho algum com isso o que os desagradava em demasia. Estavam encurralados e sufocados e isso não seria algo bom de se deixar...
Mas meu irmão não parecia nem um pouco preocupado com isso. Ordenava a cada um que continuasse seus afazeres e não deixava nenhum deles desocupado.
Deu cargo a todos, até mesmo a aqueles que nunca trabalharam na vida e caso demonstrasse alguma incapacidade eram cruelmente rebaixados a cargos cada vez mais inferiores até que conseguissem cumprir as tarefas. Seus ganhos eram condizentes com seus cargos, o que começou a desagradar cada vez mais e mais.
Mas o povo?
Como disse e vou repetir: o povo estava o idolatrando como a um Deus.
Tanto que o clero começou a se preocupar aumentando os dias de culto, mas poucos iam; já que segundo o novo rei "frequentar os cultos era algo íntimo de cada um e não obrigatório; uma vez que se obriga não é de coração e sem ser de alma não vale". Logicamente que com isso os dízimos das igrejas diminuíram drasticamente, mas para não ter problemas com o clero meu irmão sabiamente os forrou de mimos controlados.
Duas das propriedades mais abastadas que foram apreendidas dos membros da corte, foram entregues ao clero para servir como escola para ensinar os feéricos sobre a fé dos humanos, e por incrível que pareca o contato que Etnaugnim trazia fez com que muitos fossem a essas escolas a título de curiosidade mesmo.
Se podia ver que os que iam não eram meros civis e sim estudiosos que procuravam compreender a raça humana e suas peculiaridades.
Era lindo os ver chegar a cidade e atravessar elegantes indo até uma das escolas; o lugar chegava lotar de pessoas curiosas quando um deles vinha e a igreja ficou satisfeita com isso.
Afinal a coroa estava lhes dando tudo que precisavam, mais espaço e indicando súditos, eles só tinham de os cativar.
― Já vai partir? ― Sou surpreendida pelos meus irmãos: Aiehc e Etnaugnim e quase infarto.
― Sabem que não posso ficar. ― Digo olhando para meus queridos irmãos que pareciam fraquejar de dor por tantas despedidas difíceis.
Afinal, Los e Avon haviam partido a poucos dias; Aiehc até enviou os melhores soldados para os encontrar e auxiliar. Mas eu não podia ficar ali.
Depois que Etnaugnim anunciou seu casamento com um deles tudo explodiu mais ainda.
A garota sempre teve uma fama ruim por ser tão afetuosa com os não humanos, isso porque apesar das aparências que mantinham a grande maioria dos cabeças do reino e principalmente o clero, desprezavam completamente os Feéricos. Afinal houveram tantas guerras e mesmo que eu não vivesse na época, meu avô conta como foi com horror no olhar, como se estivesse vivenciando tudo novamente a cada palavra.
Não tem como negar tamanho perigo.
Não é só porque foi no passado que devemos ignorar.
Ele conta que eles simplesmente surgiram e começaram a dominar seus terrenos, mas mesmo que não tivessem humanos nestes locais, eles eram próximos das vilas e isso já foi motivo para haver uma disputa que os humanos perderam feio.
Cada raça tinha seu dom, seus poderes e aparência. E as piores de todas elas eram os draconatos: seres reptilianos humanoides capazes de usar o poder dos elementos e que além de uma pele resistente eram amortais; e as fadas: que aparentemente meigas e fofas são formadas puramente de energia. Isso pode parecer pouca coisa, mas entenda que um ser feito de energia não pode ser morto, ele explode e destroi tudo ao seu redor no mínimo, fora que tem muito poder para usar; meras armas humanas não são páreo para o poder mágico de uma fada ou sua velicidade...
Amortais, palavra que minha irmã me ensinou, significava que não morre por idade a não ser que se mate com venenos ou armas, diferente de um ser imortal que nada é capaz de matar.
Os imortais são raros, mas existem e dão ainda mais medo nos humanos.
Bem, indo a minha apresentação:
Meu nome tem o significado de Crescente e sou a primeira filha da família real, mas todos nós chamamos pelos apelidos, sendo os que eu dou a eles: Trapo, pois Aiehc está sempre largado como um mendigo andarilho ou uma boneca de trapos, mesmo agora que ostenta a coroa de rei. Espetinho, pois Etnaugnim tem um fetiche estranho por Feéricos grandes e fortes, e imagino ela sendo empalada um dia, dou risada e ela morre de vergonha. Nuvem, pois Los está sempre pegando estrelas no mundo da lua, tem dias que chega a babar. E por último e não menos importante o Primogênito da família e minha maior dor de cabeça Avon apelidei de Papai.
Ele sempre foi extremamente protetor comigo e com todos os demais, e como nossos pais estavam ocupados acabei confundindo na infância e assim ficou. Avon é em muitas vezes o motivo de eu ter insônia, seja por que estou preocupada com ele ou porque estou com medo do que ele vai me dizer sobre algo que fiz.
Quantas vezes perdi o sono por suas escolhas, por ter se ferido gravemente em alguma coisa que eu desconhecia? E quantas vezes eu mesma escondi dele verdades para não ver seu olhar a decepção...?
Agora mesmo estou escrevendo isso apos descobrir que estou grávida.
É...
Eu não sei o que fazer.
A agonia de provavelmente perder dois dos meus irmãos me fizeram revelar o meu segredo a minha irmã. E em pânico sobre o que poderia ocorrer, mesmo confiando nela eu precisei partir.
Isso pois no nosso reino é de extrema proibição que um membro da corte tenha os prazeres carnais antes de selar votos, isso pois já temos muitas regalias; e cabe apenas ao povo que sofre e diminui por conta das intempéries da vida aumentar e proliferar sem controle, não a corte.
Banhada pela vergonha inventei uma desculpa qualquer a meu irmão e consegui a desculpa para tentar melhorar nossa relação com os dois reinos inimigos. O tempo que passaria fora seria o suficiente para essa criança nascer.
― Todos sabem que és a guerreira mais forte deste reino, fora vosso irmão. ― O tritão que faz a guarda de Aiehc se tornou um bom amigo.
Ele caminha até mim montado em seus fortes cascos.
Uma criatura que passei a admirar, me perdendo na beleza de suas galhadas, e de sua coloração tão diferenciada. Era mesmo tão encantador para uma mulher quanto uma sereia é para um homem.
― Sinto muito. ― Ele volta a falar tomando minha atenção e eu percebo que não ouvi nada que ele tinha dito e estava perdida em seu encanto mágico. ― Não foi a intenção pegá-la desprevenida desta forma. ― Ele tinha boa noção de seus poderes passivos, e vivendo entre humanos deveria tomar um cuidado constante.
― Esta tudo bem. Terminou seu turno?
― Ele nunca termina. Sabe que a cada dia novos tentam contra a vida do Rei. Ele...
― Causa. Eu sei. ― O interrompo e ele dá risada, mostrando as presas afiadas de uma piranha. Era o sorriso mais doce e assustador do mundo. ― Continue cuidando dele por favor. Logo estarei de volta; não demorarei mais que dois anos para cada reino.
― Cuidarei dele para o resto da minha vida. Pode ficar tranquila.
Ouvir isso me tranquilizou muito.
Não sei como Aiech havia cativado tal criatura dessa forma, mas ele tinha esse dom. Era alguém extremamente agradável de se ter por perto. Não tem como não querer o por em um potinho e cuidar com muito amor.
Já havia me despedido ao longo dos dias, então apenas parti na calada da noite.
O reinado número um já aguardava minha chegada, estavam interessados em um acordo de paz pois nosso reino conseguiu um acordo com as Fadas e nada além disso os interessava. Poderiam nos apunhalar amanhã e tomar as fadas como um poderio contra nós; mas era ainda mais perigoso deixar que alguém descobrisse desta gravides dentro do meu reino.
Por sorte, minhas vestes sempre foram largas a esconder minhas curvas, e a armadura que me adorna termina de proteger minha alcunha.
Foram vários dias de viagem até chegar ao primeiro reino.
Exigiram que fosse só, como prova de bom grado e não ser uma armadilha. E da mesma forma achava melhor arriscar apenas a minha vida nesta empreitada banhada apenas no meu egoísmo e orgulho; por não querer ser descoberta não arriscaria mais ninguém.
Minha montaria era forte, enfrentamos juntos os rios, e montanhas.
Por sorte havia muito pasto para ele se alimentar e eu nunca o forçaria além de seu limite.
O tempo em completo isolamento me ajudava a pensar.
Olhava a água corrente no rio ao meu lado, ou as rochas rolando morro abaixo dos desfiladeiros, pensando o quão tola e infantil eu estava sendo. Olhava ao longe as imensas muralhas que foram construídas a tanto tempo, questionando todas as histórias sobre elas; eu nunca as vi de perto. Mas podia se ver sempre que viajava pois eram colossais.
O pai da criança que carrego me contou coisas questionáveis sobre as muralhas, me mostrou pinturas perfeitas delas onde posso analisar; mas como confiar em uma pintura?
Passo por alguns dias de chuva, nada fora do esperado. Mas preciso parar a viagem e esperar o temporal passar; e com isso tenho mais tempo de pensar: posso sentir meu abdômen fazer a curva característica do meu pecado. O que faria agora? Não quero pensar no pai, e no que me diria sobre os meus pensamentos assassinos e nada maternais.
Mas eu não sou uma princesinha romântica, sou uma guerreira e esse acidente não pode mudar quem eu sou. A única diferença entre mim e qualquer guerreiro que se deita com alguém é que eu posso sofrer a maldição de ter de gerar uma vida indesejada, enquanto os guerreiros nem mesmo sabem se algo ocorreu.
Mas a chuva não passa e mesmo que passasse ainda teria um longo caminho em silêncio com meus pensamentos.
Volto a pensar nele, e torno a rezar pela vida dos meus irmãos.
Todos eles, os que partiram e os que ficaram. Todos de certa forma estavam em perigo; sendo o primogênito entre os terrenos de uma guerra insana, o caçula ao explorar terrenos desconhecidos, minha querida irmã apenas por amar e desejar se casar e logicamente o querido rei... e tudo que está radicalizando tudo que as pessoas conhecem de uma forma extremamente drástica.
Mais em alguns dias e eu chegaria ao primeiro destino; coisa que eu me impus por simples arrogância e orgulho...
Acho que esse era o grande mal de todos nós.
O que havia em comum entre nossos passos e escolhas...
Mas não era boba, não era burra. Eu percebi desde o momento de minha partida que estava sendo seguida.
― Auto! ― A saudação intimidadora dos guardas quebram o silêncio de meses viajando completamente sozinha em pensamentos.
Exponho o brasão da família real e desta forma sou guiada para dentro dos portões, que circundam a cidade, e olhos curiosos me rodeiam.
O povo tem vestes diferenciadas impondo patamares: posso ver facilmente membros da elite entre os cidadãos de castas inferiores. Mas todos me olham da mesma forma assustada e curiosa.
― Não estão acostumados a ver uma mulher trajada como homem. ― Um nobre diz me explicando assim que cruzou as escadarias sendo escoltada pelos guardas do palácio, mas minha atenção estava sobre meu companheiro de viagem. Se iriam tratá-lo bem. ― Pode ficar tranquila. Jamais faríamos mal a uma criatura tão bela como uma montaria, muito menos a um membro da coroa tão nobre ao ponto de aceitar nosso pedido de vir só.
O homem volta a falar e lhe dou atenção.
Nada a descrever; que já não possa imaginar sem o meu auxílio: um homem de idade mediana, cabelos ralos mas não chega a ser calvo, estatura mediana e meio magro quase atarracado encoberto por vestes opulentas a esconder o corpo por completo.
― Venha por gentileza. As empregadas irão lhe ajudar com estas vestes. ― Completa ao me guiar mas nego educadamente. ― Entendo. Não deseja se livrar de sua única proteção apenas para estar com uma aparência apresentável para conversar com nosso rei devidamente.
Uma armadilha social?
Mas meu receio era de expor meu ventre; nem tinha me dado conta de tal perigo.
Preciso me concentrar.
Adentro a tão opulenta sala tal qual a de nosso castelo, e já me deparo com a família real. O desgosto no olhar da rainha foi gritante, já a curiosidade nos olhos dos filhos foi convidativa; mas os olhos do rei eram um mistério total.
― Ouvi falar que em seu reino há liberdades como esta. ― Ele diz firme. Sua voz grossa lembra um pouco a de meu pai, só lhe faltava a alegria que o meu tinha. ― Também ouvi falar que sua força não deixa a desejar. ― Me sorri com respeito. ― Pois bem, aos negócios. Não gostaria mesmo de descansar um pouco e trocar de roupa? Estas parecem desconfortáveis e imundas da longa viagem.
― Não há necessidade.
― Pois bem: chegou até nós que vocês tem como aliados as fadas, e que seu irmão pretende se aliar aos draconatos. Seria de extrema burrice não selar um acordo de paz agora que tem um novo rei que pelo que parece está mudando muitas coisas.
― Sim. Meu irmão é agitado e genial. ― Tento ter atenção na conversa, mas eu deveria ter aceitado o descanso. A dor nas pernas e os pés inchados me tomavam a atenção.
― E ele pediu o que em troca desta paz? ― O bom era que ele vai direto ao assunto; assertivo e convicto já cheio de ideias. ― A mão de uma de minhas filhas imagino eu. Todas são belíssimas.
Esse papo de selar acordo dando filhas... me enjoa.
― Não. Ele é veemente contra usar pessoas como moedas de troca. ― Digo ao me levantar da pose de cavaleira que estava. ― O meu rei apenas não deseja guerra. E não exige coisas para que você cumpra; nossa embaixadora com os feéricos garante a paz com as fadas e os reinos aliados ao nosso; basta assinar esse acordo. ― Digo por fim pegando o pergaminho para que ele veja.
O homem morde os lábios lendo atentamente, enquanto os demais esperam ansiosos tentando interpretar sua feição assim como eu.
Ele funga e não parece nada feliz.
― Que tipo de exigência ridícula é esta? ― Esbraveja batendo o pergaminho. ― Como podem saber quem planeja mal aos feéricos? E como podem Transformar quem planejar em um?
― Com magia? ― Respondo em forma de pergunta não conseguindo conter o tom irônico e aparentemente todos têm de segurar o riso. ― Meu senhor. Essa é a exigência das fadas. A única coisa que meu rei fez foi transmiti-la ao seu reino. Se não quiser, não há problemas, mas as fadas não aceitam outra coisa. ― Menti, sabia que ela poderiam aceitar casamento, mas não tiraria o poder que minha irmã tem nisso tudo, o acordo que ela fez os agradou imensamente mais.
― Descanse. Iremos debater o assunto e ponderar uma resposta às fadas. Agradeço seus serviços jovem. ― A rainha se interpõe antes que o marido possa gritar algo.
Agradeço a gentileza e me retiro.
Estava em perigo, não podia negar, mas todos nós estavamos. Eu só tinha de saber lidar, ter compostura e voltar para casa.
Afinal ninguém iria desejar começar uma guerra por matar um mensageiro de paz membro da coroa.
Passei a noite em cólicas de preocupação.
Imaginava como estaria minha irmã, se ninguém tentasse a matar por causa de tal casamento com um Feérico. Lógico que não. Quem conseguiria ser mais sutil que o noivo? Como passar pela guarda?
Mas e o meu bobo e inocente rei fofo? Não se iluda, ele sabe se cuidar e seu povo é sua maior defesa. Além dos guardas que o veneram.
Mas e o pequeno Los? Calma ele já cresceu e é um homem capaz de cruzar seu destino.
Mas e Avon? Aquela guerra é suicidio...
Acabei me levantando e ficando na janela. Sentia falta da minha opulenta varanda cercada pela ventania que castiga os picos eternamente.
Mas como falei antes: eu estava sendo seguida desde que saí de casa.
E apesar de perceber uma presença, não conseguia ter noção de quais eram suas intenções. Pensava que poderia ser algum guarda ordenado a me guardar; mas mesmo ali naquele quarto podia sentir sua presença. Era estranho.
— A magestade real a aguarda. — logo pela manhã fui convocada para receber a resposta. Me segurando para não responder o pobre empregado que magestade só tem real. Segurando um riso travesso digno de meu irmão, agora rei. — Espero que tenha uma decisão. Ainda preciso ir a mais um reino. — Digo impaciente ao adentrar a sala e me deparo com os olhos raivosos do rei.
— Eu imagino, entretanto desejamos negociar diretamente com as fadas. Não iremos aceitar um recado tão estranho.
— Fadas não têm costumes e pensamentos humanos. Tudo que elas desejarem irá soar estranho senhor. — digo ao me pôr em pose de cavaleiro e novamente a rainha parece se incomodar com meus trajes e formas masculinizadas.
— O acordo de paz é sobre as fadas, faça bem sua parte e proponha algo aceitável. — ele parecia capaz de expelir fogo. E me lembro de minha irmã prevendo exatamente esta reação, dizendo que eles jamais aceitariam algo que os impedisse de atacar. — Desejamos igualdade, e poder falar com as fadas por nós mesmos. Esse é nosso acordo de paz. Nos traga esse acordo e posso assinar.
Mas quem tinha essa função com os feéricos era minha irmã, e ela zombaria da cara deste rei antes de tentar fazer qualquer paz.
— Como o imaginado. — a voz fina e tremida me faz olhar para a janela e posso ver um pequeno ser de longas madeixas avermelhadas. Era o ex -noivo de minha irmã o príncipe. Gelo tremendo o que tal ser faria ali, e imagino que tivesse sido ele quem me seguia.
Um pouco de tristeza me atinge. Em momento algum desejava que fosse... alguém em especial a me seguir. Fazia sentido ser o príncipe, que o assunto eram as fadas.
— Como ousa invadir meu castelo criatura! — contudo o rei já se levanta furioso e o pequeno ser ri, não se intimida nem um pouco.
— Deseja paz, mas ofende? — pontua voando e espalhando aquele brilho mágico que emanava. — Tão diferente deste reino. Desde que cheguei voei e olhei como seu povo se comporta entre eles, como este lugar é. E afirmo que as fadas não desejam acordos com lugares assim. Principalmente depois de tal ofensa, criatura... — seu tom dourado toma um avermelhado.
O homem gela, e eu me pergunto o que ele tinha na cabeça.
O costume de poder absoluto era tanto que não se deu conta? Ofendeu uma fada claramente à sua frente.
— Perdoe- me o momento de exaltação. Recebi uma proposta muito anormal e preocupante. — diz suando frio. — O que posso fazer para termos uma boa conversa? Posso lhe oferecer muitas propostas.
— Casamento também? — o pequeno dá de ombros. — Não me interesso por humanas. Mas existe gosto para tudo, humanos adoram fazer acordo entregando sexo em troca. — impõe revoltado, já que casamento nada mais era que... uma forma de marcar seu parceiro. — Mas se esta é a forma que você prefere... eu aceitaria suas filhas.
— T-todas? — o homem empalidece. — Isso é um ultraje! — grita.
— Horas. vocês foram contra nossa proposta, exigem que seguimos os seus costumes, ofendem o mensageiro, e a mim. Acha pouco? Vocês humanos fazem muitos filhotes logo terá mais filhos.
Tentava não rir da cara do rei, era bem feito pra ele, mas cruel com as garotas que nada tinham de culpa.
Queria intervir, mas não podia atrapalhar um acordo de paz.
Fiquei ouvindo toda a conversa, o escriba fez um novo pergaminho e ambos assinaram.
As jovens foram trazidas, todas assustadas e a rainha parecia desesperada.
O rei possuía sete filhos, dentre eles meninos e meninas desta rainha e da anterior; e o príncipe exigiu todos eles os garotos e as garotas, o impondo que gerasse um novo para assumir o trono.
O príncipe se aproximou e rodeou todos os analisando bem.
— São saudáveis e férteis, vão servir muito bem. — sorri de uma forma que até os rapazes sentiam vontade de chorar de desespero. Seus olhares eram de súplica ao pai que desvia o olhar do apelo de seus filhos em serem levados sem saber para que.
Ou pior.
Com uma vaga ideia do para que.
Mas eu me engolia, por não poder impedir. Era um acordo de paz.
Voltei ao quarto que me foi cedido socando as paredes de ódio, e percebendo minha mão sangrar parei.
— Compreendo sua revolta; seu coração está no lugar correto. — a voz do príncipe soa na janela novamente. — Percebi sua angústia. A jovem princesa que iria desposar me fez ter apreço pelos humanos, apesar de ainda não ser do tipo que sente desejos por eles. — balança a cabeça de uma forma fofa.
— Pode me garantir que eles não vão sofrer? — digo ao me sentar na cama ele murmura, já me dando um gelo na espinha.
— Não serão mortos. Muito menos passaram por torturas. — diz ao voar próximo a mim. — Serão bem tratados.
— O que pretendem fazer com eles?
— Quer mesmo saber humana? Você parece... afetada como se fosse com você.
— Isso se chama empatia.
— Entendo. — pontua ao pousar próximo a mim, e posso ver suas vistosas asas quantumplas se dobrarem em suas costas, de uma forma graciosa e meiga. — Bem. Eles serão levados a um local que os comporte, afinal são muito grandes para nossas casas. Algumas de nossas colmeias desejam fazer testes, vendo como os mestiços de outras raças com humanos estão se comportando, então precisamos de muitos humanos jovens e saudáveis para estes testes.
— Vai por eles para... — não conseguia terminar a frase; o horror estava estampado em mim.
— Por que está reagindo assim? Humanos são bem pervertidos, pensam muito em procriar, seria como um paraíso para eles.
— Não é assim! — eu não sabia como explicar o abuso que ele planejava fazer. E ele ficou me encarando confuso e curioso com aqueles enormes olhos negros e reflexivos como esferas peroladas.
Minha irmã foi assertiva em explicar a todos nós como os Feéricos possuíam a mesma dificuldade de nos entender do que nós a eles, e assim como entre nós humanos haviam inúmeras culturas e costumes compreendendo essas diferenças um povo via o outro.
— Eu.. unf! Eu entendo que vocês achem que os humanos são pervertidos, mas existe uma diferença entre desejar e ser forçado. Isso é algo terrível, é traumático.
— Vocês se importam com o que é traumático? — ele me responde curioso, como se soubesse muito mais do que eu sobre minha própria raça. Seus olhos pareciam bolas de cristais, capazes de me mostrar algo além do meu imaginário.
Foi como um sonho acordado. Uma Sensação de saber o que nunca vi, como lembrar algo antigo que li:
Pude quase ver; ver pessoas escravizando outras, vi massacres por poder e domínio, vi o rebaixamento daqueles oprimidos por suas diferenças, vi a destruição que podiamos causar a terra e a tudo que habitava nela. O sorriso e prazer nos semblantes daqueles no poder...
— Para! — gritei ao levar as mãos ao rosto, tentando impedir aquilo.
Que lugares eram aqueles?
Quem eram esses povos?
O que era um poder capaz de explodir nações... o que eram bombas? Como eu sabia esses nomes? Bombas atômicas...
— Acalme-se. — posso ouvir sua voz calma e gentil, e uma luz quente e confortável como um abraço sobre mim. — Olhar nos olhos de uma fada pode ser perigoso. Somos energia pura, outras raças podem não conseguir filtrar o que veem.
— O que eu vi? — perguntei diretamente e ele se afastou se sentando na janela, pensativo.
— Os humanos, o pior de seus povos, do que fizeram. — responde apreensivo. — Os draconatos dizem, que a maioria dos humanos não tem como compreender... mas acredito que vocês possam. Seus irmãos parecem uma esperança.
— Compreender o que?
— O que este mundo é.
Essa foi de longe a mais dificil de escrever! Tive ajuda de trocentas pessoas para ter umas ideias e desbloquear.
Acho que eu exijo muito mais das minhas personagens femininas do que dos masculinos, pq se vou para um lado sinto ser clichê se vou para o outro já sinto q to militando. Ta osso me auto agradar eu exijo muito, e estou tendo terapia para entender pq eu sou assim com personagens femininos.
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