3.2- ...lado da...
3147 Words
Achava que sabia tudo o que precisava saber, como um barco e os navios funcionam, como lutar caso necessário e também me comunicar para evitar problemas desnecessários.
Mas... Ainda não entendia como uma embarcação flutua dessa forma, era jovem para ter força física e tempo de treino como meu irmão mais velho, e além disso... só sabia falar o meu idioma nativo.
Era uma embarcação monumental.
Linda com sua madeira esculpida em entalhes fortes. As velas não eram simplesmente brancas, se tratavam de um tecido forte todo ornado feito pelas melhores tecelãs do reino que eram verdadeiras artistas. Pareciam até tapeçarias e não velas.
Eu me perdia no tempo olhando todos os detalhes do navio, que parecia uma grande escultura em madeira.
Passamos pelas corredeiras fortes e haviamos sido jogados no oceano calmo rumo a passagem por dentre os muros, a única que conhecemos mais próxima de nosso reino.
O povo se preocupava com essa ruptura e pedia que os reinos se unissem e fechassem os muros novamente por medo do desconhecido, mas o ser humano é assim... enquanto uns temem outros sentem uma intensa atração.
Era a eterna guerra entre segurança e liberdade.
Sem a densa armadura pesada, subir no caralho era fácil e permanecia todo tempo que podia ali observando toda a vastidão de nada ao nosso redor. E por conta disso, os dias e noites navegando pareciam incrivelmente longos. Parecia ser capaz de caber uma semana inteira dentro de cada hora, passada ali.
Um fato importante era que sempre precisava de alguém de olho no timão, e essa função era dividida entre os tripulantes. O navegador, guiava e os demais apenas precisavam manter o rumo revezando essa vigia até novas ordens e depois novamente revezando.
E assim chegamos a uma costa lisa, sem pedras onde continha areias brancas e macias apesar de escaldantes. Todos estranharam aquela beleza de lugar, enquanto não pude deixar de comparar ao nosso rei; um ambiente tão cativante e encantador assim tão caloroso. Parecia que aquela praia abria os braços para nos receber, tirando as pedras que poderiam naufragar a embarcação.
Acampamos na praia mesmo, e caminhamos um pouco cautelosos pela mata nos dividindo em grupos, um para cuidar do acampamento, outro para ficar de apoio e reforço e um para explorar.
Me sentia uma criança hiperativa olhando a tudo. Tantas frutas e folhagens novas, as catalogava uma a uma desenhando-as enquanto os demais coletavam amostras para testar, mas logo um odor maravilhoso nos cativou e preocupou. Alguém estava cozinhando.
Trocamos olhares e seguimos com cautela o odor, logo nos deparamos com uma vista assustadora e inacreditável. Ali dentre as folhas havia uma vila, tão antiga e perdida no tempo que não fazia sentido existir:
As casas feitas com galhos e lama eram extremamente rudimentares, e o povo ali andava praticamente nu, onde as mulheres exibiam suas esferas e as crianças puras como animais brincavam sem preocupação de estarem completamente despidas.
Homens e mulheres possuíam adornos em seus corpos, fincados de uma forma que me dava gastura ao mesmo tempo que encantava. As pinturas em suas peles eram coloridas como quadros, e seus cabelos pareciam protegidos com lama, e não pude evitar por a mão sobre a minha própria cabeça assentindo arder pelo sol escaldante, achando uma ideia genial.
Quantos trabalhadores do campo desmaiavam por conta do sol em épocas mais fortes? Isso seria as melhoras que meu irmão pediu.
Mas por que não levar as pinturas do corpo?
Eu não sabia o que elas significavam. Apenas via beleza e sentia que havia algo a mais.
Nos afastamos para não gerar um problema e voltamos ao acampamento, onde todos apagaram exaustos. Mas eu estava tão agitado que me sentei escorado a uma árvore longa com frutas redondas e pesadas e fiquei admirando o movimento do mar, ali naquela praia o mar chegava a cobrir a terra diferente de casa onde o cais era alto demais e o mar era fundo logo após esta queda.
Pude pôr meus pés na areia sentindo o mar ir e vir sobre eles.
Aquele lugar era um paraíso, como os religiosos diziam que deveria ser, onde as pessoas não se importam com roupas e viviam em harmonia com a natureza ao seu redor. Faziam parte dela.
E então quando estava quase a cochilar por conta do som do mar, senti a água me atingir mais forte e despertei assustado e ensopado. Por que a água subiu tanto? Pensei em segundos logo erguendo o rosto e vendo que a luz da lua era coberta por algo.
Algo de proporções anormais apesar da silhueta humanóide.
Gelei e olhei em volta em um medo irracional automatico que houvesse algum herói para me salvar. E em seguida segui outro instinto primitivo e me escondi dentre as folhas. E com isso pude vez o que estava havendo:
Sobre uma rocha próxima um grupo se juntava pondo aquelas comidas deliciosas que estavam preparando com tanto carinho, e o ser imenso banhado pela lua parecia vir apreciar o banquete como uma oferenda a um deus.
Olhei incrédulo e tremendo, sentia meu corpo todo reagir e gritar para correr, mas estava curioso.
O ser se abaixa e posso ver que seu corpo colossal possuía feições humanas, apesar do imenso nariz mais parecer um focinho, e os dentes serem como das baleias, além de ter seis dedos com dois polegares em cada mão.
Ele parecia esta conversando com aquele grupo, havia se abaixado e estava a sussurrar em um idioma completamente desconhecido para mim.
E quando este se abaixou pude entender que aquilo não era uma oferenda, e sim uma festa de recepção, pois varios feéricos desceram de suas costas cumprimentando aquelas pessoas, trazendo presentes e sorrindo. Enquanto alguns humanos de mesma quantidade abraçavam uns aos outros e subiam pelo braço da imensa criatura humanoide como se despedissem.
Era uma troca.
Os feéricos vinham fazer parte deste povo, e este povo tinha jovens que desejavam explorar o mundo sem medo e deixar a ilha.
Eles tinham uma relação tão boa com os feéricos que eram quase o mesmo povo. Percebi que não havia nada de atrazado neles... apenas diferente, um foco em evoluir outras coisas em sua sociedade. Um foco na paz, e na auto compreensão.
De manhã contei tudo o que vi aos demais que ficaram em pânico morrendo de vontade de fugir dali imediatamente, e como sabia bem que iriam me arrastar à força se fosse preciso (afinal proteger a vida do príncipe é a prioridade deles) tive de ser fedelho e pirralho um pouco.
Escrevi uma carta pedindo que não fizessem nada drástico e começassem uma briga, e que logo voltaria. Apesar da vergonha me dominar, me despi e segui em direção a tribo.
Esperava que desta forma não parecesse uma ameaça e segui com minha fé.
Ao ser avistado já percebi uma comoção e logo dois homens se aproximaram de mim, me analisando e falando coisas em um idioma que não compreendia.
— Eu não falo seu idioma. — Assim que me pronunciei, um deles sorriu e acenou para trás. E assim uma jovem acenou de volta e entrou em uma das casas, saindo correndo com dois potinhos de tinta colorida.
O odor de plantas era nítido, parecia algo feito para emanar seu perfume.
Um dos homens então pegou o pote da moça e pois o dedo, me mostrou a ponta suja e passou sobre o desenho em seu peito, depois molhou novamente e passou sobre o desenho em sua testa, e me entregou o pote, repetindo o mesmo com a outra cor as misturando em sua pele.
Entendi que era para o imitar e assim o fiz.
― Agora nos entende? — A jovem fala e me espanto com a magia e ela ri. — O nome disso é magia. Ela conecta sua intenção e pensamentos, conseguimos entender e os traduzir.
Sabia que cada pintura tinha um efeito.
— Isso é incrível. — Digo olhando a mistura de ervas.
— De onde veio garoto? — O outro homem pergunta curioso com minha pele escura; todos ali pareciam ser tão claros quanto Sakura, provavelmente por passarem gerações bem protegidos pelas imensas árvores, enquanto o povo de minha mãe veio de uma área diferente da de meu pai, que era praticamente rosado.
Este lugar não era miscigenado como minha terra, onde os traços se misturam entre as gerações. Contendo suas histórias e trajetórias, misturando seus costumes e conhecimentos.
Me virei e apontei para o mar.
— De dentro das muralhas. — Respondi e eles se entreolharam surpresos.
— Estranho. Você não parece hostil. — O mesmo homem que me ensinou diz, e logo vejo um feérico se aproximar.
Suas orelhas eram longas e pontudas, o rosto simétrico e fino era belo, os longos cabelos voavam ao vento e sua pele levemente azulada com tons de roxo estavam as mesmas pinturas de todos ali.
Parei olhando seu corpo à mostra, era impossível não olhar. Suas pernas pareciam de um animal quadrúpede, parecia que ele poderia saltar sobre o navio ou correr junto dos cavalos se desse vontade. Não havia pés ali e sim patas. Mas mesmo assim ele era belo.
— O filhote humano pode ter boa índole, mas temos de ter plena certeza sobre seu bando.
— Já foram atacados? — Senti depois de falar que foi uma pergunta idiota, e abaixei a cabeça de vergonha. Mas aparentemente isso fez o feérico sorrir.
— Esta ilha, como todas as demais neste arquipélago, são as primeiras paradas ao saírem daquele local murado. — Explica de forma óbvia o contexto. E assim olho em volta tentando entender o que ocorria ali. — Os povos destas ilhas viviam isolados antes dos ataques sem saber o que existia além das praias, por conta da distância; então graças aos ataques passamos a trocar informações e ter uma rede de trocas de culturas. Meu povo ensinou aos demais as poções, os humanos desta ilha são ótimos em plantas e pescar, assim por diante.
— Uma troca... que coisa linda. — Murmuro em alto tom e novamente me envergonho por me sentir uma criança.
— Você é um mestiço? — a jovem pergunta. — Seus olhos e cabelo parecem o sol, e sua pele a noite. — Comenta meio encantada e me envergonho; todos sempre comentam o contraste que eu e meus irmãos tínhamos.
— Não. Sou apenas humano... Meu pai tem os cabelos e olhos de sol e minha mãe é escura como a noite. Não sei por que todos ficamos assim.
— É bonito. É só o que importa não. — A mesma diz ao sair e novamente tento não olhar seu corpo.
Mas logo ouço o grupo que me acompanha se aproximar, e tremendo uma luta desnecessária para salvar o príncipe saiu correndo.
— Calma! — Grito levantando as mãos. — Eles não são hostis. — falo e logo percebo o olhar de todos e me cubro com as mãos.
Não tinha como explicar o nível de vergonha.
Queria morrer.
Para quem não sabe, caralho é o nome daquele lugar circular que fica no mastro principal. Os indígenas encontrados tem características de diversas tribos reais existentes em vários pontos do mundo, assim criando uma tribo fictícia para essa obra e homenageando o povo indigena; afinal vou por vários tipos de povo e culturas misturados aqui, seria errado não por indígenas na mesma regra.
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