2.2 - ...de...
4882 Words
Este cap vai mostrar as relações com os Feéricos em acordos de paz e muitas mudanças dos reinos. Um pouco da relçaão dela e dos irmãos ^_^
Voltei aos meus aposentos pensativa.
Se o amante de meu irmão não mentiu meu querido amigo de infância estava recheado das mesmas más intenções que eu tinha com ele.
E por que não deixar rolar?
No dia seguinte despertei cedo animada com meus novos afazeres.
Todos os humanos que via me encaravam feio pois me conheciam bem e sabiam da minha postura com relação ao que fazer. Muitos deles sempre zombaram de minhas idéias dizendo ser idiotices de criança, mas agora eu estava no cargo para fazer destas idéias insanas reais.
A verdade é que nenhum deles gostava da ideia de se unirem aos feéricos e tinham vontade apenas de manter um acordo de paz, entretanto à distância. Diziam que essa mistura iria extinguir os humanos.
Eles estavam certos. Mas quem liga? A raça humana tem que acabar mesmo.
― Está chegando a emanar luz. ― Ele brinca ao me encontrar no corredor.
Como artista da coroa era muito requisitado pelos nobres, e mesmo sendo um gárgula assustador ninguém podia negar que suas criações eram incrivelmente belas.
― Estou feliz. ― Resumo o olhando de cima a baixo. Sempre que ia trabalhar para um nobre cobria seu corpo com um mato elegante que ganhou de minha mãe. Esse tom de verde combinava com ele. ― Ouvi boatos de que vocês pretendem se mudar dentro de cinco anos. ― Comentei e ele quase parou de andar. ― Que bom. Já estou acostumada com vocês por aqui... vou sentir falta, mas sempre foi um acolhimento temporário.
― Verdade, já se passaram quase oito anos... ― Murmura pensativo olhando pelas enormes janelas do corredor, aquele lindo sol que despontavam entre as nuvens densas que se formavam. ― Acho que o tempo vai virar.
― Vai sim. ― Disse olhando pela mesma janela. Mas não para o céu.
Como meu irmão detalhou nosso castelo era montado de torres altas, e com isso podíamos vigiar tudo abaixo e aquele coração (o formato do reino era assim... coisa dos meus pais excêntricos assim como nossos nomes.) começava a ser contaminado por desordens...
Conseguia ver facilmente que um grupo se amontoava na área pertencente às mansões que deveriam ser desocupadas esta manhã.
O povo estava revoltado e os soldados pareciam estar sendo apoiados por eles, era uma cena ridícula de presenciar:
Os nobres outrora tão opulentos e respeitados eram alvejados por alimentos apodrecidos ao serem retirados de suas casas à força pelos soldados que estavam adorando fazer aquilo tudo; afinal muitos deles eram feéricos. Os gárgulas abrigados que sempre tiveram de abaixar a cabeça para estes nobres arrogantes e ridículos que se achavam superiores a troco de nada.
Os poucos que deixaram as mansões por vontade própria já estavam a se ajeitar nas casas cedidas dentro do cumprimento do castelo, eram sobrados; casebres de dois andares bem construídos encostados ao imenso muro que circundava o castelo.
Elas foram feitas para acomodar os gárgulas e outros que precisarem de auxílio, entretanto muitos foram partido ao longo destes anos o que deixou o local livre, dando esta idéia a meu irmão. Se as propriedades opulentas eram cedidas aos nobres simplesmente por serem membros da coroa, porque todos não morariam no território do castelo como as Fadas fazem em seus grupos familiares?
Mas meus devaneios foram interrompidos pelo braço forte de Merkós que me contrapõe a parede fazendo sinal de silêncio; tento prestar atenção para onde ele olhava tão curioso e logo posso ouvir a conversa.
― Eu apenas me preocupo com essa atitude. Logicamente ele será odiado, e isso não é bom. ― Era a voz de uma de minhas tias.
― Eu sei que o que o rei fez foi radical, entretanto não temo por sua vida. E a senhora também não precisa. ― A voz de minha irmã era fácil de se reconhecer; era forte e vivaz.
De fato não tínhamos com o que nos preocupar. Afinal o amante do rei era um homem muito feroz e poderoso e não deixaria encostar em um fio de seus dourados cabelos desgrenhados.
Estavamos bem preparados, afinal todos sabíamos que a nova regência traria inúmeras mudanças e meu querido irmão já iniciou elas na festa de coroação e não parou um segundo sequer durante estes dias: Cada dia ele fazia uma mudança drástica no reino e todos estavam tendo suas reações a tudo isso, alem de que foi firme em dizer que promessas de casamento para firmar acordos de paz, era o mesmo que uma escravidão envolvendo sexo.
Foram palavras fortes, mas não pude discordar.
Ser obrigado a se casar e ter filhos com uma pessoa era.... aff. Deu pra entender o ponto dele?
Bem... por causa disso eu teria a minha primeira reunião hoje, e seria justamente com as fadas. E por causa disso estava emanando alegria mesmo que muito nervosa.
Eu nunca tinha visto uma fada.
― Pode ir aos meus aposentos à noite? Queria conversar. ― Disse ao me despedir de Merkós e o ver acenar que sim, indo até minha doce irmã que parecia querer sair de fininho novamente depois de terminar a conversa com nossa tia. ― Gostaria de estar presente?
― Ah? Não... eu confio no que fará. ― Diz sem graça claramente não esperando me ver ali tão cedo já que acabara de se livrar de nossa tia. ― As coisas estão movimentadas desde a coroação, não?
― E aparentemente vão continuar assim. ― Disse ao olhar pela janela vendo os guardas colocarem aquelas placas com decretos e novas leis.
Gelei.
O que o meu querido irmão estava aprontando hoje?
Deixei minha irmã ir aonde queria e fui ler com calma.
*~* Não haverá mudanças nas normas de conduta, apenas nos agravantes e punições ao seu descumprimento. Ao invés de todos serem presos e jogados nas celas, haverá diferença de punição por crime feito *~*
Interessante. De onde será que ele tirou esta ideia? Genial!
Roubar – Permitido tentativa de justificativa – Como penalidade fica obrigatório o trabalho nas fazendas para pagar pelo roubo.
Matar – Sem permissão de justificativa – Penalidade de morte variando entre: força, apedrejamento, guilhotina, afogamento e fogueira.
Crimes contra o reino como traição – Permitido tentativa de provar inocência – Penalidade de tortura variando entre:
Esse não quis ler.
Meu maninho sabia dar medo as vezes...
Mas foi um bom recado
.
Nos dias que se sucederam foi uma limpeza total no reino.
Prisioneiros que lotavam as masmorras e calabouços foram libertos, levados às fazendas ou mortos de vez. E isso foi uma festa para o povo que adorava ver um criminoso pagar com a vida.
Seus corpos foram amontoados em barcos velhos que já desejávamos nos livrar e jogados ao mar para serem devorados pelos tubarões. Foi o amante de meu irmão que garantiu este detalhe sórdido e sombrio...
Pude ver o mar se tingir de vermelho...
Acho que não é por menos que um homem tão violento está apaixonado pelo meu doce e frágil irmãozinho...
Mas voltando a minha reunião.
Estava bem nervosa.
Marquei em nosso jardim por achar um ambiente mais cômodo e agradável, mas antes de chegarem fiquei a cogitar se isso não foi uma afronta e me peguei nervosa.
― "Obrigada por nos receber". ― A voz de uma fada era como o soar de vários pequenos sinos, uma melodia tão fraca e delicada que parecia feita pra acalentar um coração.
― Eu que agradeço por terem aceitado vir. ― Sorrio abertamente ao ver os membros da coroa pousarem sobre a mesa que preparei com muito carinho.
Diferente dos humanos, os feéricos não traziam uma corte de soldados para os guardar; principalmente as fadas. Elas eram as mais poderosas e com isso, garantiam sua própria segurança.
Os membros da coroa eram os que iam à linha de frente guiando e mostrando como se faz.
Achava algo tão honroso!
Diferente de um rei humano que se esconde atrás de seu trono...
― Vamos direto ao assunto. Sei que meus pais lhes prometeram um casamento com minha irmã mais velha como forma de firmar o acordo de paz. Entretanto acreditamos que esta não seja a forma que mais os agrada, estou certa? ― Digo ao me sentar vendo eles se acomodarem nos assentos que pedi para confeccionarem com pele de leão.
O mais alto deles era o rei e este tinha o tamanho aproximado do meu antebraço enquanto sua bela rainha mal chegava ao comprimento total de minha mão. Ambos pareciam muito interessados no que eu tinha a dizer, mas aparentemente não cativei o belo príncipe que parecia distraído em pensamentos.
Diferente dos humanos as fadas não tinham imposições do que deveria ser vestimentas masculinas ou femininas, não tinha o menosprezo a coisas de mulher ser inferior ou delicada.
Todos os guerreiros tinham longos cabelos que cortavam apenas quando perdiam um combate assim demonstrando sua vergonha. E as madeixas do príncipe eram divinas, longas ao ponto de passar de seus pés como uma capa esvoaçante, traçada de modo a não o incomodar.
― Me envergonho pelos atos de meu povo. E estou disposta a me retratar da melhor forma e mudar este quadro. ― Digo sincera e posso ver um sorriso no rosto do casal. Mas logo os olhos negros do príncipe me encaram curioso.
Era como olhar uma noite estrelada.
Os olhos de uma fada eram totalmente negros sem uma esclera branca ali para adornar uma esfera menor. Não. Eram completamente negros assim como dos gárgulas eram coloridos.
― "O que tem em mente?" ― Ele próprio me pergunta altivo se levantando da cadeira e caminhando até uma xícara que deixei ali somente como decoração da mesa. ― "Como pode provar que os humanos são de confiança? Aceitamos a troca pois era algo que parecia um sacrifício para os humanos, não por ser bom para nós." ― Impõe ao ignorar a pequena xícara que deixei para eles sobre uma mesinha confeccionada do tamanho deles; e puxar o bule de chá quente e despejar sobre a xícara de tamanho normal.
― Deseja um sacrifício? ― Isso me impressionou, não nego. ― Bem... eu não sei o que dizer... O que deseja? Prefere mesmo se casar com minha irmã? ― Perguntei honesta e ele me olhou curioso logo adentrando a xícara como se ela fosse uma banheira quentinha.
Achei fofinho. Isso é errado? Ou racista?
― "Não." ― Responde pensativo como se tivesse idéias maliciosas com ela; e com isso não evito lembrar do que Los me disse: o que uma fada faria com uma mulher de outra raça?
Tal dúvida me deu curiosidade... mas não podia trair meus sentimentos pelo meu gárgula fofo, por uma curiosidade. Mesmo que o príncipe seja lindo.
― Quero fazer deste reino um local onde qualquer raça possa se casar. ― Digo de uma vez e todos me olham espantados. ― Eu sei que existe este... taboo, mas vejo muitos casais que se escondem. E gostaria de criar um local onde esse amor não seja um crime.
Os pais pareciam não ter gostado, mas o príncipe por outro lado...
― "Posso conversar em particular com a embaixadora humana?" ― Ele diz olhando para os pais que dão de ombros deixando o lugar da mesma forma que chegaram.
Pareciam comentas de tão velozes que eram.
Deixavam apenas um rastro de luz derivado desta energia poderosa que emanava o tempo todo.
Olhar diretamente para uma fada chega a doer os olhos. Suas asas cintilantes eram feitas de pura energia, não pareciam com de borboletas como nos desenhos que vi; eram pura energia se movendo e mudando de entonação assim como os olhos de um gárgula.
― Meu irmão mais velho deseja ajudar no combate contra os dragões. Isso lhes agrada? ― Pergunto e ele imediatamente saiu do chá parando próximo ao meu rosto. ― Não...?
― "Logicamente que não. Os draconatos são sábios aliados!" ― Impõe visivelmente revoltado. ― "Draconatos são sábias criaturas. E vocês resolveram brigar com eles? Isso só demonstra como os humanos são asquerosos..." ― Responde revoltado esperando uma reação minha de nojo ou algo assim, mas eu só consigo concordar com ele. ― "Os humanos invadiram seu terreno, escavaram tudo e roubaram suas riquezas. Se eles devolverem os ataques acabam." ― Impõe revoltado, mas eu acho maravilhoso e ele não entende.
― Perfeito! Podemos acabar com essa guerra, provar ao povo que os reis são ruins e trazer todos para cá. ― Sorrio e ele fica confuso.
― "Você é estranha humana." ― Murmura ainda a voar próximo a mim, e posso observá-lo melhor.
Seus cabelos eram rubros como uma rosa, e voavam dançando no ar como se estivesse debaixo d'água. Era lindo de se ver. Os olhos grandes como de um gato, ocupava boa parte de seu rosto e as antenas reluzentes que só a realeza tinha saiam de onde nos humanos são sobrancelhas.
Ele tinha lábios finos e bem desenhados, um nariz empinadinho e mãos grandes e fortes com dedos longos coisa de um guerreiro viril. Usava apenas calças deixando o tórax coberto apenas por seus longos cabelos; mas estranhei essas calças. Eram feitas de plantas como a moda dos Plan-in.
― Entendo. ― Murmurei pensativa. Ele devia passar muito tempo entre esta outra raça... por isso deve ter gostado da ideia de se misturar com outras raças, e negado a ideia de se casar com minha irmã. Que fofo! Já imaginei ele junto de uma garotinha parecida com uma linda flor. ― E se nos amaldiçoar? ― Digo firme ele me encara curioso. ― Caso trairmos como: planejar algo contra um feérico novamente; deixaremos a forma humana?
― "Algo me diz que a senhorita adoraria tal punição." ― Ele afirma zombeiro. ― "Pois bem". ― Murmura voltando a pousar sobre a mesa. ― "Farei tal maldição sobre todo seu reino e aliados." ― Sorri sórdido e satisfeito.
Meu irmão iria me xingar e tirar meu cargo; fora os reinos aliados que iriam declarar guerra. Então... tinha de inventar que fiz outro acordo com ele.
Mas eu não poderia começar isso mentindo podia?
Ele se despediu satisfeito e se foi.
Respirei trêmula ainda com a imagem da caldinha com a ponta felpudinha que eles tinham para me acalmar. Tudo que as fadas tinham de fofas tinham de perigosas e poderosas, foi o que sempre aprendi. Seus corpos eram frágeis, mas seu poder é incomensurável.
― Você fez o que? ― A voz de meu irmão consegue ecoar pelas paredes como um trovão quando se irritava. Ele até parecia ter o poder de dobrar de tamanho. Não posso negar que era uma boa característica para um rei. ― Mas que merda de acordo foi esse?
― Me ouça ok. Eles não querem nada nosso a não ser a garantia de que não vamos os atacar "novamente". Além disso, foram "todos os reinos" que atacaram os feéricos, e desta forma os nossos aliados também serão bem vistos. Não há risco algum. ― Tento explicar usando de lógica e ele se acalma. ― Se os aliados reclamarem disso é por que planejam algo. Simples. Não a risco algum se não planejam atacar os feéricos novamente. ― Pontuo e ele parece refletir.
― Certo. Falarei com nossos aliados. Se eles querem ficar no mesmo acordo ou não; caso não queiram eles que se virem para fazer paz com as fadas. ― Da de ombros. ― Bom trabalho Etnaugnim.
Era estranho ser chamada pelo nome.
Todos os meus irmãos sempre me chamavam de algum apelido fofo, mas agora estávamos conversando como Rei e Embaixadora, e eu tinha de entender essa diferença que para ele parecia ser tão natural.
Me despedi com educação voltando animada para meus aposentos esperando ansiosa que meu amigo de infância chegasse.
Fiquei remoendo o que diria e como diria; e sem querer acabei vendo minha querida irmã voltar de fininho a seu quarto.
Bem... não era da minha conta o que ela fazia da vida dela.
Estava editando as novas leis de convívio entre humanos e feéricos quando ele chegou.
Estava tão distraída que mal percebi e tomei um bom e gostoso susto.
― Desculpe. ― Ele diz, mas estava morrendo de rir da minha cara. ― O que queria?
A pergunta era simples e boba, mas me faz ferver por dentro.
Ele não tinha motivos para suspeitar de nada, sempre o chamava aos meus aposentos, até porque sua casa era difícil para eu alcançar sem ter asas.
Mas agora as coisas estavam diferentes... eu não o via mais apenas como meu amigo de infância.
― Queria conversar sério. ― Disse ainda de costas ao enrolar o pergaminho que escrevia e organizar minha mesa.
Sentia meu corpo tremer por baixo das minhas vestes.
Mas respirei fundo e me virei indo até ele.
― Gosta de mim? ― Fui direta, nos conhecemos a anos e não tinha porque enrolar. Na verdade, depois que falei me arrependi muito.
Tinha muita coisa a perder.
Anos de amizade verdadeira e significativa!
Travei no lugar, não conseguia dizer mais nada ou me mover. Que merda eu fui fazer? Se eu estiver errada e ele não corresponder eu estou estragando uma amizade perfeita.
― Bem... ― Ouvi sua voz soar mais tímida e travada do que nunca antes. ― Sim, muito. ― Acho que tive um micro infarto. Sua voz saiu de um jeito que mesmo sem ter capacidade de olhar para ele podia saber que estava sorrindo. ― Somos amigos afinal. ― Completou claramente inseguro.
Levantei o rosto trêmula já mirando em seus olhos para tentar saber o que ele sentia. Roxo de novo. estava agitado e entristecido. Por que?
― Por que está triste? ― Digo na cara de pau me aproximando mais calma. ― Aconteceu alguma coisa hoje?
― Não, não. ― Diz sem graça se afastando. ― Eu.. vi seu irmão discutindo com namorado... Ele fechou o casamento com a garota e combinou como ter um filho com ela ano que vem. Pelo jeito tudo já esta acertado. ― Murmura pensativo.
Meu Deus. Meu irmão não da um ponto sem nó?
Então ele planeja um casamento para encobrir seus desejos... Como ter filhos usando de magia e tudo mais?
Só me surpreendo mais a cada dia com suas capacidades.
Pior é que faz muito sentido. Ele precisa ter descendentes para a coroa, além de ter de esconder sua relação.
― Eles vão continuar a relação por baixo dos panos... ele não parece feliz com isso. Mas pelo jeito não tem outra forma. ― Completa pensativo.
― É... se souberem que ele gosta de homens ele será deposto e expulso do reino. ― Respondo pensativa, queria ter como ajudar mas essa parecia ser mesmo a única forma de continuarem juntos. Escondido.
― Ele podia ir embora com quem ama não? Mas ele prefere ficar com a coroa. ― A forma que ele fala parece ofendida. Mas me irrito. Ele não entendia? Como pode não entender algo tão simples?
― Não o julgue! ― Acabei gritando sem querer. ― Ele tem bons planos para o reino. É um sacrifício para ele, não trate como se fosse ganância por poder.
― Me desculpa... é que os humanos... unff. ― Murmura escorando na parede e fechando as asas sobre o corpo como se fossem uma capa longa.
― Eu sei. Mas meu irmão não é assim. ― Exclamo indo até ele apagando as velas que usava para escrever.
― Estão chamando ele de "doce ditador". ― Pontua firme me olhando com olhos preocupados. ― Eu sei que é com tom de brincadeira porque estão amando as mudanças mas... Ditador não é algo legal. Não?
― Concordo. ― Digo me sentando na cama e deixando os sapatos escorregarem pelas meias finas que usava. ― Eu entendo seu receio para com a coroa e os humanos... Mas por favor acredite no meu irmão. ― Digo franca e ele esboça um sorriso singelo.
Esses lábios desenhados em meio as presas afiadas e perigosas...
― Eu tenho fé que vocês trarão grandes mudanças. ― Sorri ao se aproximar de mim. ― Andei perguntando sobre essa sua idéia de casamentos mistos. ― Comenta pensativo e meu coração já dispara. ― Aparentemente a igreja odiou ao ponto de almejar tomar métodos preventivos contra. O povo por outro lado está dividido; muitos vêem lucro com essa propaganda, como os vendedores de flores e doceiros para festas. Outros acham que isso chamaria a atenção de pessoas estranhas que influenciariam mal seus filhos.
Respiro fundo pra não xingar.
Já esperava essa palhaçada.
― Obrigada por me alertar. Mas eles não podem fazer nada contra um membro da coroa assim. Mesmo que meu título tenha caído e ficado desprotegida por não ser mais uma herdeira ao trono eles não podem me afetar diretamente como se fosse uma camponesa. ― Digo ainda a olhar o teto desenhado.
― Sim. Mas o que vocês fazem dá um peso enorme. Todos falam sobre com quem cada um irá se casar. Julgam que você é insana e irá se entregar a um... feérico. Que é por isso que quer legalizar o casamento entre espécies.
― Desgraçados! Querem tirar minha valia por conta... ― Me levantei furiosa gritando mas logo parei de falar.
Ele estava me olhando tão sério e pensativo que cheguei a travar.
― Creio que entendo um pouco... como as relações amorosas da coroa são importantes... vocês são o exemplo. Do que é certo e do que é errado. ― Diz pensativo. ― Ouvi sobre o medo de ser possível gerar mestiços e... como isso pode extinguir a raça. Acho tão bobo. Até parece que é só deixar de proibir que a maioria em peso de humanos vai preferir feéricos.
― Concordo. Quem pensa que a raça humana seria extinta só por que agora se pode casar com outra raça é porque prefere um feérico. ― Respondo rindo. ― Mas seria uma boa forma de ser extinta. Pelo amor e não por um extermínio. ― Dou de ombros. ― Acredito que Los queria se envolver com uma estrangeira além dos muros e tenho tudo para imaginar que minha irmã já tem alguém e é alguém que ela não pode revelar.
― Sua irmã está grávida.
Travei
Como ele me conta isso assim do nada e sem aviso?
Ok que brincam dizendo que ele é o meu informante pessoal, mas não é assim não.
― Ela esconde bem com a armadura, mas logo não terá como manter o disfarce. ― Completa vendo que eu não falava nada.
― Quem? ― Pergunto o que não devia pelo espanto. ― Espera! Eu não quero saber. Eu nem deveria estar sabendo disso. Ela que deveria ter me contado. Deus! Por que ela não me contou? Ela não confia em mim?
― Eu não sei.
Ele fala assim mesmo. Seco e direto sem se importar com minha crise.
Gárgulas tinham emoções de pedra, não eram tão volúveis e voláteis como humanos.
― Tudo bem. A vida é dela, não. ― Me levantando querendo esquecer isso. ― Vem. Senta aqui comigo. ― Disse o convidando a se sentar na cama comigo; da mesma forma que fazíamos quando crianças.
Lembranças de nossas brincadeiras inocentes me inundam.
Quando isso mudou em mim?
Brincávamos o dia todo e capotamos dormindo nesta mesma cama abraçados confortáveis como irmãos, mas agora só de ele se aproximar eu me arrepiava toda.
Eu sei o que está esperando.
Se fizemos algo... adulto.
― Me diga. Você... pretende partir junto da sua raça não? ― Murmuro pensativa ao abraçar as pernas sentindo o vento frio balançar as pontas do meu fino vestido.
― Eu... ― Ele engole seco se sentando ao meu lado. ― Ainda podemos ser amigos. ― Afirma tentando manter um sorriso. ― Não há muito para mim aqui... essa é a verdade. Posso ser considerado um artista mas... não é algo que eu precise morar aqui para isso. ― Pontua meio distante em pensamentos. ― Se tiver um cliente, posso vir trabalhar e voltar.
― Entendo. ― Não queria que ele partisse, mas era a coisa mais lógica.
Então pensei... se já vamos nos separar mesmo. Por que não ousar e arriscar?
Tudo me indicava que ele... também sentia o mesmo. Ou era coisa da minha cabeça?
― Eu... não queria que fosse. Mas... é direito seu. ― Confessei. ― Vou sentir falta da sua companhia, me acostumei com estar sempre junto de você. Pode dormir aqui como nos velhos tempos? ― Pedi como uma criança e ele pareceu sem graça com tal pedido.
Deu um pulinho gracioso e virou o rosto todo embaraçado.
Era a reação que eu queria.
― N-não somos mais crianças... seria estranho. ― Murmura meio que empurrando as palavras para fora da boca.
― Por que? ― Não dou tempo de ele pensar.
― Você sabe que... já falam de mais da nossa amizade.
― Idai. Que falem. Eu sou a pessoa favorita pra eles falarem mal, não importa o que eu faça. Sou amiga de vários feéricos não só você.
― Ai. Valeu me senti importante agora. ― Ri.
― Mas você é. ― Sorrio e ele corresponde com essas presas que me fazem sentir tudo menos medo. ― Sabe... Você... ainda quer ser meu amigo? ― Pergunto deixando o assunto vago aberto para ele interpretar.
Ele então leva um tempo para entender, mas parece em dúvida se entendeu direito.
― Gosta de mim? ― Inverte a pergunta com um tom meio preocupado. ― Você é humana... tão frágil...
― Tem medo de me machucar? ― Pergunto meio desapontada. Ele nunca teve medo de me ferir antes.
― Tenho... ― Afirma virando o rosto. ― Mas não fizicamente. ― Completa olhando pela janela. ― Temo pelo... que podem fazer contra você... ou...
Ele não completa, mas eu entendo bem.
Faz tempo que deixei de ser a fofa. Desde que não era mais a filha caçula e Los tomou este lugar eu não tenho mais permissão de gostar de nada que seja estranho aos olhos da maioria. Achar fada linda? Ok. Achar gárgulas sexy, isso não pode. Eu tinha de ter o mesmo gosto que eles impunham...
― Merkós... ― Digo pondo a mão sobre sua perna e ele me olha. Eu raramente o chamava pelo nome; era sempre kapetynha ou algum pronome direto. ― Vai mesmo... partir? ― Pergunto olhando para o piso de madeira do meu quarto.
Eu não queria chorar.
Mas era o certo.
Ele tinha de ir com a raça dele... não podia ficar por mim.
Mas os caras legais têm o dom de nos surpreender nestes momentos e fazer tudo ficar perfeito do nada.
― Não. ― Responde franco. ― Ganho bem e sou respeitado entre os humanos. Até os racistas... ― Seu tom saiu tão... prático que parecia estar dando uma palestra. Ele ensaiou isso? ― Sei que faz mais sentido eu desejar morar com minha raça. Mas eu cresci aqui e estou acostumado. Teria de procurar outro cargo se partir... Aqui já tenho um que gosto muito.
― Então esse é seu único motivo de querer ficar? ― Correspondo meio magoada ainda sem olhar para ele.
― Eu... também gosto da... sua companhia. ― Diz em um fio de voz e então o olho. Seus olhos estavam azuis.
Um azul puro quase branco.
Por que ele estava tão triste? O que eu falei de errado?
― Merc...
― Eu... te amo. ― Me interrompeu, mas sem coragem de me olhar nos olhos. ― Não como amigo. E isso já faz um tempo. ― Completou fechando os olhos como se confessasse algo ruim. ― Eu... sou bizarro por causa disso? Gostar assim de uma humana... desejar alguém de outra raça... tem algo errado comigo?
― Se tem com você... tem comigo e com o príncipe das fadas. ― Comentei ele finalmente me olhou.
Então pus os pés sobre a cama e fiquei de joelhos para assim ficar da altura de seu rosto e olhar melhor suas micro expressões.
― Eu... também gosto de você. Não tô nem ai... para o que falam. Não vou sofrer por isso. ― Digo acariciando seus densos cabelos que hoje estavam trançados minimizando aquela juba exuberante.
― Você é doidinha... ― Responde tentando fazer um sorriso, mas seus olhos continuavam azuis.
― Isso... não deveria ser errado. ― Digo ao segurar uma de suas mãos e ele põe a outra em meu rosto.
Posso ver aquela bela luz azul de seus olhos passearem sobre meu rosto pensativo.
E então selei este momento depositando um beijo cálido em seus lábios.
Apesar de ter sangue quente, sua pele densa não se permite corar; mas pude ver sua reação ao arregalar os olhos espantado.
Ele não diz nada.
Seus olhos mudam gradativamente para o tom de rosa, e eu sorrio com tal resultado; voltando a o beijar.
Beijar era um ato exclusivo humano para demonstrar amor. Seja na boca ou como carinho fofo era algo nosso. Gárgulas tinham bocas aterradoras feitas para devorar e destruir, não para beijar; mas Merkós cresceu com humanos e fazia bom uso de sua língua...
Nem preciso dizer que foi perfeito.
Na verdade estava criando uma obra muito maior que está. E essa será curtinha pois é a parte da explicação do outro mundo; na real está se passa séculos no passado da outra que estou elaborando e fica de easter egg para quem ler ambas. Amo fazer este tipo de coisa.
Como uma é muito no futuro da outra não precisa ler ambas ok?
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