𝐷𝑒𝑧𝑒𝑠𝑠𝑒𝑡𝑒 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑎𝑡𝑟𝑎́𝑠

  A chuva que iniciou com pingos suaves tornou-se barulhenta, espantando todos das ruas e amedrontando as crianças que tentavam adormecer. A chuva cobria com êxito a gritaria que vinha da casa dos Phaeron's.

   Nela um nascimento estava prestes a acontecer, o dia será marcado para todo o sempre, pois não será uma criança humana a nascer.

   Parte humana e parte demônio, uma mestiça nunca vista antes. Nem mesmo as tão poderosas bruxas da família Danria sabe bem como lidar com este parto delicado.

   A mais nova das bruxas tenta acalmar a mulher barulhenta, que grita por conta da dor lancinante que seu bebê demoníaco causa. Ela não tem forças o suficiente para dar a luz, sua morte é evidente até mesmo para os olhos despreparados de um humano qualquer. Enquanto a anciã estuda a dilatação, ela percebe que terá que rasgar a barriga para poder tirar a criança.

   Seu marido, inquieto e já sem paciência alguma, apressa as bruxas para tirar essa cria inumana, ele não aguenta mais ver sua querida e tão amada esposa sofrer. Uma questão batucava sua cabeça, não entendia como era possível as bruxas não fazerem nada a respeito da dor de sua esposa, a demora para realizarem o parto.

   As bruxas preparam o material, a mulher implora para tirarem logo a criança, enquanto o marido, não consegue mais olhar para cena de sofrimento.

   A porta de entrada é brutalmente escancarada, dando espaço para a aparição de dois corpos carregados de amamento pesado. Os caçadores chegaram e estes vem estudando o casal há meses, no aguardo deste tão esperado dia.

   O som dos disparos da arma da caçadora cortam o ar, trazem o desespero para os corações despreparados. O homem de corpo forte parte para cima do vampiro centenário, uma luta injusta se deu início e acabou tão rápido quanto a queda dos raios lá fora.

   Em seu peito uma estaca de madeira agora reside, por todo o seu corpo buracos incontáveis dos tiros disparados, seu despreparo e coração apertado acarretaram em sua morte precoce. O vampiro não pôde se despedir, nem ao menos conhecer sua cria revolucionaria. Em seus olhos notasse todo seu arrependimento se esvair até se tornar totalmente opaco e sem vida.

   A chuva lá fora toma mais força, com trovoadas incessantes que iluminam o ambiente de forma fantasmagórica. A mulher grita e chora aos montes, as bruxas a seguram e o caçadores agora controlam a situação.

   A mulher esguia que acompanha o caçador pega um bisturi, ela sabe que a cria é demoníaca então não se preocupa se caso machucar um pouco o bebê. Os gritos da grávida ficam fracos e roucos, seus olhos começam a perder a vida, então a caçadora começa seu trabalho sem piedade alguma.

   Um último grito é dado, carregado de toda amargura e arrependimento. A mulher agora estava morta, com a barriga aberta e toda ensanguentada. Uma criança saudável é quem chora agora, chora tanto a ponto de parecer saber de toda perversidade que acabara de acontecer.

   Os olhos da caçadora não expressam nada, mas ela esforça para colocar um sorriso frágil nos lábios. Com a criança em mãos ela sente o peso esmagador em seu coração, sentindo-se culpada por todo mal que acabara de fazer. O sorriso se vai e suas sobrancelhas tremulam juntos as pontas da sua boca.

     — É apenas uma criança... — ela sussurrou para si mesma com lágrimas aos montes encontrando seu queixo. — VOCÊ DISSE QUE ISSO ERA UM DEMÔNIO, DYLAN! — berrou a mulher indignada com o caçador.

   O homem se aproximou da caçadora e uma das mãos pousou sobre seu ombro, um olhar rápido é trocado, logo ambos focam no pequeno bebê inquieto.

     — Pode não parecer agora, mas ela será o pior dos demônios... — disse o caçador com a voz embargada.

   Os caçadores e as bruxas armaram uma acordo, que em troca as deixaria viver mais um pouco. Não havia como recusar, os caçadores estavam armados e elas eram uma das caças.

   Então o mundo silenciou e aquele dia fatídico ficou na história, enterrada a sete chaves nas memórias dos envolvidos.

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Espero que gostem, perdoem-me por não estar muito bom, meu forte não é a narrativa em terceira pessoa ksk.

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O primeiro capítulo sairá no início de janeiro de 2021.