24.0
Quando você vai para um país que você é incapaz de entender meia palavra do que está sendo dito, as conversas em torno de si se tornam extremamente desagradáveis, as pessoas soam como abelhas em uma colméia e tudo que você quer é que calem a boca para você conseguir um pouco de paz, sem se sentir um alienígena no meio dos humanos.
Minha cabeça latejava e meu pescoço doía, tenso. Minhas pernas ficaram dormentes, então, levantei da cadeira do corredor do hospital, onde eu estava sentada ao lado de Natasha e Tony. Os dois me encararam, alarmados, como se eu pudesse colocar fogo no hospital inteiro.
-Onde você vai?
Encarei Tony e dei de ombros, apenas, percorrendo o pouco espaço que nossas cadeiras ocupavam.
-Eu preciso andar.
-Vai fazer um buraco no chão, assim! - Tony comentou, casualmente.
-Deixa ela, Tony! - Natasha pediu, em um tom de voz baixo, como se eu não fosse ouvir.
Avistei um bebedouro no final do corredor e me afastei dos dois a passos largos. O resto da equipe aguardava notícias nos aviões disponibilizados pelo Governo para Coulson. Eu não fazia idéia de como tinha ficado o lance da chacina que fiz com aquelas pessoas, mas esperava não ser presa. Ao menos, não até acabar com o resto do meu objetivo.
Enrolei ao máximo naquele bebedouro, bebendo água e mexendo no celular. Vi as fotos do piquenique que Morgan e MJ fizeram naquele dia e um vídeo da minha filha dormindo agarrada com o patinho e o elefantinho juntos.
A saudade dela chegava a fazer meu peito doer e não tinha nem mesmo dois dias que eu tinha me separado dela. Eu esperava que não demorasse muito mais para ter ela de volta nos meus braços.
E que eu tivesse ela de volta também.
Olhei meu relógio e fiquei frustrada de só ter passado mais cinco minutos desde a última vez que eu o encarei.
Então, avistei Sam entrando pela recepção do Hospital e tentando gesticular qualquer coisa. Talvez a moça entendesse um pouco de inglês, porque mexeu no computador a seguir, colou um papel no peito dele e o deixou entrar.
Sam veio até mim, me abraçando forte. Nos encaramos.
-Eu sinto muito por não ter conseguido salvar eles, Amber. Eu juro que eu tentei, mas eu estava longe…
-Não foi culpa sua, Sam. - Dei de ombros.
-É, mas eu sinto como se fosse!
Ficamos em silêncio por alguns instantes. Ele interrompeu segundos depois.
-Como eles estão?
-A bala de Steve se alojou perto do fêmur e ele teve que operar. Ainda está em cirurgia, pelo que parece. O Bucky continua em cirurgia para tirar a viga do ombro. - Franzi a testa. - Como a viga atingiu o ombro dele, Sam?
-Aquela moça jogou como se fosse uma lança e ia atingir o Steve.
-Ah…
-É… - Sam concordou. - Mas se quiser saber, o tiro ia atingir o Bucky.
Revirei os olhos e sorri para Sam, que retribuiu o sorriso.
-Eles brigam mas não vivem um sem o outro, né?
-Ah, não mesmo! - Concordei.
Fizemos mais uma pausa, onde meus pensamentos foram longe e eu cheguei a me assustar quando Sam cutucou minha barriga.
-Hey, e o pessoal…?
-Mortos. - Informei. - Espero que eu não seja presa!
-Duvido muito! - Sam deu de ombros. - Escuta, vou lá dar uma força para a Nat, está bem?
Concordei e observei Sam se afastar alguns passos. Mas para minha surpresa, ele simplesmente parou no corredor, voltou alguns passos e se aproximou de mim, sorrindo.
Revirei os olhos, cruzando os braços. Eu tinha certeza absoluta que ele ia falar merda. E estava completamente certa quando ele ergueu as sombrancelhas e murmurou:
-Hey, Fogão! Se o Bucky e o Steve morrerem e você não tiver ninguém para substituir eles, posso me candidatar?
-A Rebecca sabe desse assanhamento?
-A Becca pode entrar na fila também. Um trio é interessante, não acha?
Evitei o sorriso e revirei os olhos, tornando a encher meu copo.
-Deixa de ser idiota, Wilson!
-Não custa nada tentar! Você estava linda de Odalisca!
Joguei água nele, sorrindo. Sam saiu correndo, rindo, apesar de não ser o melhor ambiente para isso.
Só mesmo Sam Wilson para me arrancar um sorriso naquele momento…
Me perdi em pensamentos logo depois. Talvez, eu tivesse agido muito por impulso quando matei aqueles dois. Mas eu tinha certeza que se eu não matasse eles, eles iam me matar. Ou pior: Me colocar nas mãos do meu avô de novo. E eu Não podia deixar isso acontecer novamente.
Além disso, se Bucky e Steve estão em cirurgia, a culpa era daqueles dois.
E terceiro ponto: Se a culpa era dos dois, talvez, eles já soubessem que íamos atacar, certo? Ou foi apenas uma coincidência Luke ter posto Anna escondida? Não…
Naquela história não haviam consequências. Somente passos calculados e trabalhados detalhadamente.
Talvez, Luke não tivesse esperado ser atacado pacificamente. E isso tenha o enganado. Mas não a Anna.
Minha cabeça doeu e eu esfreguei minha têmpora. Eram muitos pensamentos de uma vez e, no fundo, eu sabia que eram pensamentos inúteis: Não fazia diferença se eles esperavam ou não ser atacados. Eles tinham morrido e era isso que importava.
Ainda esperei por mais uma hora e meia, andando para lá e para cá, sentando, levantando… Só então um médico apareceu e, para nossa sorte, ele falava inglês.
O médico trouxe notícias de Bucky, que tinha saído da cirurgia primeiro e estava se recuperando no quarto. Segundo ele, a viga se instalou entre a articulação do ombro direito e ficou presa entre a artéria, por isso a demora, mas que ele se recuperaria logo e sem sequelas.
Como ele ainda dormia por causa da anestesia, tive que me contentar em ficar sentada naquele banco de novo até o momento em que uma médica apareceu para informar que a bala da perna de Steve conseguiu ser retirada, mas que ele havia perdido muito sangue e, por isso, teve que tomar algumas bolsas e ia precisar ficar em observação.
Eu só fui autorizada a entrar como acompanhante lá pelas sete da manhã e como Natasha se candidatou para ser a acompanhante de Steve, eu nem mesmo hesitei em ir para o quarto de Bucky.
Ele ainda dormia quando entrei, de forma que fui direto até ele e o observei. Ele parecia cansado e estava um pouco pálido. Pus minha mão no rosto dele, fazendo um leve carinho, enquanto agradecia silenciosamente por ele estar bem.
Se acontecesse algo com Bucky, eu morreria junto.
Dei um beijinho nele e me encaminhei para sentar no sofá, pondo a bolsa com meus documentos e acessórios lá.
-É só isso?
Estremeci de susto e escorreguei, indo direto ao chão. Minha cabeça bateu contra o encosto do sofá e eu encarei Bucky, que estava rindo, deitado na cama.
Cruzei os braços e o encarei, revirando os olhos.
-Que bom que eu fiquei preocupada à toa e você já está bem até para rir igual a uma hiena asmática, né?
-Desculpa, Boneca… - Ele tentou parar de rir, mas me encarou e piorou a situação.
Então, levantei do chão e respirei fundo. Bem fundo. Aos poucos, Bucky parou de rir e me encarou, ficando sério.
-Iiiih, você tá com uma cara!
-É, eu tô. - Concordei. Andei até ele e o ajudei a sentar quando ele esticou a mão. - Escuta, eu preciso falar sério com você agora.
Bucky assentiu, batendo com a mão de vibranium ao lado dele, indicando que era para eu sentar alí. Ele suspirou e me deu a mão, repousando as duas, juntas, em cima da Coxa dele.
-Eu já sei o que você vai dizer.
-Ah, já, é? - Ergui uma sombrancelha, vendo ele assentir.
Para a minha surpresa, ele realmente sabia o que eu queria. E dava para ver que, claramente, não concordava com a idéia, mas não disse que ia me impedir ou tentar mudar minha opinião.
Acho que nossa conversa levou cerca de quarenta minutos, ao todo. Então, peguei as duas mãos dele quando o silêncio foi prolongado e o encarei nos olhos.
-Escuta, me promete uma coisa?
-Mais uma coisa?
-Só mais essa!
Ele assentiu de novo, beijando o dorso das minhas mãos. Respirei fundo.
-Promete para mim que, assim que sair desse hospital, vai direto para Wakanda e vai me esperar lá junto com a MJ e o Senhor Lee?
Bucky ficou em silêncio. Insisti de novo.
-Bucky, por favor! A MJ precisa de você tanto quanto precisa de mim! E eu não estou tranquila com ela lá, você sabe… A Pepper e o Senhor Lee cuidam muito bem dela, Bucky, mas você é o pai! E além disso, você está imobilizado, não pode fazer muito movimento com o braço. O médico disse que você vai precisar de fisioterapia, apesar de não ter atingido nenhum tendão!
-Tá, tudo bem! - Bucky assentiu, me acalmando. - Eu vou para Wakanda, Amberly. Não se preocupa!
-Okay, agora me promete que…
-Hey, você disse que era só mais uma coisa! - Bucky reclamou, indignado.
-Isso está incluído no pacote!
Ele rolou os olhos, esperando. Levei algum tempo para engolir o nó na garganta e conseguir pronunciar as palavras.
-Se algo acontecer comigo…
-Não vai!
-Mas se acontecer… - Frisei e encarei ele. - Promete que vai seguir em frente? Leva o tempo que precisar, mas que vai amar de novo, viver… E que não vai deixar a MJ esquecer de mim?
Bucky negou. A primeira lágrima rolou dos meus olhos e ele suspirou, segurando meu rosto.
-Sua boba… Não vai acontecer nada, amor! Para de chorar!
-Também não ia acontecer nada com você! - Argumentei, enxugando os olhos. - Por favor, Bucky…
-Tá, eu prometo! Agora… Vem cá!
Bucky me abraçou, apertado, por causa do Braço de metal. Repousei minha cabeça no peito dele, o apertando contra mim. Eu queria memorizar o cheiro, o toque, a temperatura…
Eu sentia saudades de MJ.
-Hey, eu posso entrar?
Nos separamos e eu pulei da cama, indo direto até a minha bolsa, fingindo estar mexendo em qualquer coisa nela para conseguir enxugar as lágrimas sem Sam ver.
-É, né? - Bucky reclamou. - Fazer o que? Já está entrando, né?
-Velho reclamão! - Sam revirou os olhos e me encarou. - Eu atrapalhei algo?
-Não, não! - Falei, sentando no sofá. - A gente só estava combinando a ida do Bucky para Wakanda. Não é, Bucky?
Ele assentiu. Sam não pareceu acreditar muito, mas mesmo assim, mudou de assunto e deu um tapinha na perna de Bucky.
-Dizem que vaso ruim não quebra, não é? Olha a prova aqui!
-Você veio aqui para falar algo importante ou para me irritar? Porque se for para me irritar, parabéns! Já conseguiu!
-Eu vim dar notícias do Steve e dizer que a Becca está aí fora! Só isso!
-Na verdade, eu tô aqui!
Rebecca abriu a porta do quarto e enfiou a cabeça para dentro, acenando.
-Oi, Amber!
-Oi, Becca! - Levantei do sofá e deixei ela entrar. - Escuta, eu vou só beber uma água e já volto, está bem?
Eles assentiram. Saí do quarto e caminhei até o bebedouro, tentando engolir junto com a água, o pânico que estava se formando dentro de mim. Não adiantou muito.
Cerca de dois minutos depois, eu estava chorando como se alguém tivesse morrido. Eu tremia e sentia o peito apertar. No fundo eu sabia que meu desespero era só ansiedade. Que a sensação de que eu ia morrer e nunca mais ver minha filha e meu marido, meus amigos, era só a ansiedade.
Mas eu não conseguia evitar. Eu não conseguia parar de pensar no "e se?". Eu não conseguia parar de pensar que foi desnecessário matar, ao menos, o Luke.
Eram muitos pensamentos e eu achei que ia passar mal quando senti alguém me abraçando. Eu levei um susto, mas relaxei assim que identifiquei Hope.
Levou cerca de vinte minutos e precisou do auxílio de um enfermeiro que falava inglês. Mas consegui parar de chorar e tremer, parar de achar que ia morrer. Eu estava tão cansada que quando Hope me ajudou a sentar no ambulatório para o qual o enfermeiro me arrastou, eu acabei cochilando.
Quando ele terminou os exames em mim, mesmo adormecida, e me liberou, caminhei de volta com Hope para o corredor, quase em silêncio.
Foi ela quem quebrou.
-O Coulson descobriu algumas coisas específicas por causa desse ataque daquela menina, lá. - Hope me encarou, fazendo eu parar. - Ele já tem um dia certo para sairmos aqui de Dubai e irmos para a Austrália.
-E qual é?
-Amanhã. - Hope me informou. - Você vai ou quer ficar aqui com o Bucky?
Neguei, balançando a cabeça.
-A gente já conversou.
-Vocês conversaram ou você mandou e ele vai obedecer?
Revirei os olhos e neguei.
-A gente conversou! E ele concorda que, ferido dessa forma, ele e Steve vão ser um peso a mais para a missão. Mas me fez prometer que vou levar o Tony e o Thor. O Steve está bem, por falar nisso?
Hope concordou.
-A Nat falou que ele já acordou, mas está fraco devido à perda de sangue e voltou a dormir.
-Ah… - Assenti, abraçando meu corpo. - Vou tentar visitar ele mais tarde.
Acabei voltando para o quarto de Bucky minutos depois quando o médico me chamou para explicar a situação dele. Não existiam riscos considerados perigosos, mas o músculo atingido ia precisar recuperar a força, então, ele precisaria de fisioterapia assim que tirasse os pontos.
Contei para ele sobre a minha partida no dia seguinte e quando percebi o olhar dele, acabei ficando com Bucky por horas, enquanto a gente fazia absolutamente nada.
Só conseguir ver Steve quando Bucky dormiu e Steve acordou, depois de alguns exames. Ele estava bem, embora levemente drogado de tantos remédios.
Uma noite nunca se arrastou tanto quanto aquela que passei no hospital, encarando o relógio da parede oposta à cama de Bucky.
Eu não tive coragem para me despedir dele, então, deixei uma cartinha e o meu cordão de fogo com a aliança de casamento e de noivado, prometendo voltar para ele.
Saí do quarto sem fazer barulho. Eu e Hope nos encontramos no corredor e eu não precisei dizer nada. Ela apenas me acompanhou até o Hotel onde o pessoal estava hospedado.
Enquanto ela seguia para o quarto de Clarisse, para chamar ela, eu fui para o de Rebecca e perguntei se ela tinha certeza que queria ir junto. Como ela demonstrou que sim, eu concordei e fui até o de Thor, que concordou com a idéia na hora.
Depois, fomos até o local combinado por Hope e Phill e achamos um avião no estilo jatinho. Só tivemos que esperar por algum tempo para Tony aparecer e, por fim, quando Natasha e Sam cismaram que iam conosco, decolamos.
Estava na hora de acabar com a Nova Corps.
Ooie, Pessoal!
Desculpe ter atrasado o capítulo de sábado. Eu quis garantir essa semana mesmo e tenho que avisar que só faltam 2 capítulos para eu encerrar Adore You. Porém, não sei se vai terminar no sábado que vem, como eu planejei, já que meus créditos de celular expiram dia 27 e eu não tenho como colocar no momento.
Portanto se eu sumir novamente, me esperem que eu volto, hein!
Ah, e é claro que amanhã vamos ter capítulo! 🥰
Espero que tenham gostado desse aqui! Espero vocês no comentário!
Beijos 💋💋
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro