** Primeira revisão 29/04/2021. Contém 1.078 palavras **

Antes mesmo de abrir os olhos Anne já sentiu todo seu corpo queimar, seus olhos estavam pesados, como se ela tivesse passado dias sem dormi e seus músculos pareciam enferrujados, quebráveis. Ela forçou a sentar-se, reconhecendo o lugar em volta, seu quarto tinha aquele ar de aconchego, o qual ela nunca conseguiu se desapegar, mesmo no começo de sua adolescência. Mesmo que todas suas amigas falassem o quanto infantil ele era, ela o mantinha de tal maneira. As paredes em um tom azul claro, a cômoda e a cama branca, sua mesinha que mantinha o computador em um bege claro, e suas paredes com paisagens as quais ela não parava de ficar impressionada. Só havia apenas uma coisa incomum, entre suas prateleiras de livros estava um poster que ela se recordava de ter se desfeito dele a um ano atrás, o tal era brilhoso e a frase "Enxergue a esperança" estava escrito em um tom de vermelho sangue.

Ela sentiu seus joelhos estalar enquanto caminhava em direção ao poster. Passou a mão sobre sua superfície, estava intacto, em perfeitas condições, mas ela se recordava de te-lo rasgado em um excesso de raiva. Sua mãe certamente deveria ter comprado outro e colocado ali. Ela sentiu uma pequena fúria passar pelo seu corpo. Ela sentia isso muito frequentemente em relação a mãe, depois que seu pai se foi, a mãe tinha se tornado uma grande inimiga, sempre em ocasiões especiais ela estava em seu caminho, e quando ela precisava urgentemente de conselhos e de alguem por perto, a mãe estava distante. No começo ela precisava da sua mãe como nunca tinha precisado de ninguém antes, depois que Davi apareceu em sua vida sua mãe parecia ter sido ataca pelo ciúmes, jogava sempre na cara da filha que ela estava negando a mãe por um menino qualquer e aquilo deixava Anne furiosa.

Estava sem forças para retirar o poster, então prometeu pra si mesma que quando estivesse mais disposta tiraria e entraria em uma grande batalha com sua mãe pra saber qual era o motivo daquilo. Ela abriu a porta e caminhou pelo corredor, tinha que se segurar nas paredes pois se sentia fraca como se só estivesse presente no seu corpo a estrutura óssea. Havia um lance de escadas logo a frente do quarto de sua mãe, ela caminhou com receio de fazer barulho e acorda a mesma. O enorme esforco que estava fazendo pra descer a escada deixava todo seu corpo trêmulo, já estava no quinto degrau faltando apenas mais sete quando uma luz invadiu o cômodo e ela se virou pronta pra receber uma bronca de sua mãe...

Sentiu uma súbita falta de fôlego e tudo escureceu novamente, sentiu-se leve, caindo... A última coisa a qual ouviu foi a voz distante chamando pelo seu nome.

- O que esta acontecendo com essa menina Pedro? Você disse que ela comeu ontem! Tenho milhões de problemas, não vou viver em medico nenhum!

- Ela comeu, talvez esteja com anemia... Filha, esta tudo bem? - A primeira coisa que Anne sentiu foi mãos sobre seu ombro, estava deitada no chão perto da escada a qual tinha caido, o teto era de um azul claro com alguns pontinhos pretos a onde o mofo se estalara, sentiu dor em toda a superfície de suas costas e seu tornozelo também doía, seus olhos continuavam pesados, e seu pulmão parecia espremido dificultando a passagem de ar. - Lilian, acho melhor levar ela ao medico, ela parece ter se machucado. - Anne estava pronta pra atirar centenas de palavrões no namorado mesquinho de sua mãe. Ela sempre odiou aquele cara, as pessoas falavam que era pelo fato dela não gostar da ideia de sua mãe ter superado a trágica morte de seu pai tão rápido, eles poderiam ter razão, sua mãe nunca demonstrou quaisquer sentimento de tristeza... Pensando bem dificilmente ela demonstrava alguma sentimento, tirando a raiva, e Anne queria que ela tivesse pelo menos a consideração de se sentir triste pela morte de alguém que ficou casado com ela durante 15 anos, mas não, ela não derramou uma misera lagrima. O que mais enraivava Anne era o fato do namorado de sua mãe compartilhar o mesmo nome de seu pai: Pedro.

- Daqui a quatro horas terei que esta no escritório, então pelo amor resolva isso, preciso dormi. Não entendo essa menina, esta tentando se matar? Por que trate de fazer isso de um jeito mais adequado!

- Lilian! - A mulher mal humorada já subia as escadas e fechava a porta de seu quarto atrás de si, Anne sentiu uma agonia por esta sozinha com aquele homem, então ela se sentou em um fôlego só. - Calma menininha, você não tem que se esforçar.

- Me solta! - Ela ouviu sua voz distorcida e engoliu o ar, "menininha" a palavra ecoou pela sala até atingir ela novamente, só havia uma pessoa que já a chamou daquela forma, ela se virou e encarou com olhos arregalados, o rosto de seu pai.

- Você esta bem? Acho que você realmente precisa ser levada ao medico, calma menininha foi apenas um susto, tudo vai ficar bem. - Ela foi embalada a um abraço, e atingida pelo calor humano, seu pai não era apenas um cadáver frio, agora ela podia sentir a vida emergindo dele, queria falar, mas não saia quaisquer som, ficou ali no colo do seu pai olhando pra longe tentando entender o que estava acontecendo, até que um momento de terror a invadiu e ela se viu se jogando pra fora dos braços de seu pai, e subindo as escadas o mais rápido que conseguiu, trancando a porta de seu quarto atrás de si, e se jogando no chão. Seu corpo ainda doía agora em toda parte pelo esforço que fez, seu tornozelo era o que mais incomodava, estava inchado e arroxeado, mas a dor era algo distinto, ela sentiu um aperto no coração, como uma mão esmagando o quê lhe dava vida, era tudo sua imaginação era um sonho, apenas isso, era uma brincadeira feita pelo seu consciente e estava tudo bem, possivelmente bem. Ela acreditava naquilo, ela iria acorda e tudo voltaria ao normal, mesmo que a realidade fosse cruel, ainda sim era realidade, era o seu destino. Ela caminhou ate sua cama, se deitou e antes de virar seu rosto para a parede deu uma ultima olhada para o poster, lagrimas saltaram dos seus olhos, forçou então o livramento das lágrimas e adormeceu. 

Link de onde a imagem foi extraída: https://pin.it/TbbUbOu