** Primeira revisão 29/04/2021. Contém 333 palavras **

A verdade começa quando a mentira morre.

Todo o desespero passava pelo corpo de Anne, ela esperava um aperto da mão fria que estava sobre a sua, enquanto falava para alguém que não a respondia. Tomou fôlego e encarou o rosto pálido e vazio com arranhados e cortes finos. Começou então a imaginar a vida saindo daquele corpo, evaporando como fumaça de um charuto. Por breves instantes ela tinha esperança. A esperança enchia seu corpo como um copo de água debaixo de uma torneira totalmente aberta, mas quando se passava alguns segundos que o rosto de Davi parecia cada vez mais vazio e sua respiração mais leve, a esperança sumia por completo, e ela somente conseguia pensar que ele iria morrer, e ela ficaria sozinha.

Lembrou do seu pai. Era difícil viver do passado, mas em pequenas ocasiões o passado se debatia diante de seu rosto e ela só conseguia olhar pra ele. Mesmo que todos falassem que ficaria tudo bem, ela sabia que não ficaria, lembrava de olhar horas e horas para fotografias e sentir o vazio, o mesmo que ela sentia agora.

Achou que seria fácil viver depois que conhecerá Davi. Achou que poderia continuar, mas a vida não é generosa, ainda mais com aqueles que poderiam ter tudo.

Ela escutou o barulho que vinha dos aparelhos que segundo a medica o mantinha vivo "Parece que nem a vida pode ser mantida" ela pensou, antes mesmo de se ouvir dizendo.

- Davi, sinto muito. Não irei me separar de você, nem mesmo que a maior barreira seja erguida diante do nosso amor. Eu te amo. Você me mostrou como viver novamente, e eu juro que queria fazer o mesmo por você. Juro que queria que vivesse. Juro que queria morrer no seu lugar, por que você sempre amou a vida, e eu trocaria a minha para ter de novo o que eu sempre amei.

Ela sentiu uma única lágrima descer pelo seu olho direito, e atravessar todo seu rosto, até cair nas mãos ainda entrelaçadas dos dois.