Capitulo 9
Não ousei perguntar quem era Alefe ou o que ele era. Continuei em silencio e me acalmando pelos pensamentos.
De repente me senti enjoada, levei em consideração que provavelmente era por conta do cansaço e da correria, mas minha visão ficou turva e estava meio tonta. Pisquei várias vezes diante da escuridão das ruas mas borrões negros continuava a se formar na minha frente. Não conseguia mais pensar com clareza. Gritei no meio dos sufocos do meu medo para que Richard parasse.
- Para! Richard pare! - Comecei a bater em suas costas.
- Não posso. - Ele gritou de volta. Me preparei pra gritar mais alto e autoritário.
- Pare agora! - Ele desacelerou mas não parou completamente, quando por fim só estava dando alguns passos fui me sentindo melhor.
- O que houve?
- Eu ... - A tontura voltou mais intensa e o enjôo também, Fechei fortemente os olhos pronta pro desmaio.
- Anne! Não! Agora não! - Richard me sacudiu rispidamente, mas não adiantou, não conseguia voltar a mim mesma.
Dessa vez não foi como se estivesse invisível ou somente fosse uma observadora, havia sido convocada a tal lugar.
Senti isso quando havia alguem me esperando, no meio da escuridão caótica e da fraca iluminação fantasmagórica.
Era uma sala, pequena. Um quadrado muito bem formado com algo parecido um lampião iluminando fracamente a sala. A temperatura era adequada e não havia mobilias, parecia um banheiro sem reforma.
Impedindo a passagem da porta estava alguem, um pouco mais alto do que eu e mais corpulento, um homem.
- Enfim podemos nos conhecer formalmente. - Um passo adiante fez com que ele chegasse mais perto de mim, estávamos a três passos de distancia.
- Quem é você? - Algo como um sorriso formou em seus lábios, era constrangedor não poder ver todas as suas feições, apenas um deslumbra dos lábios e dos olhos.
- Me chame de Luke, querida. - Estremeci como se dedos gélidos tivesse tocados os meus braços - querida - ele não disse tal coisa em tom de afeto.
- O que você é? - Ele deu mais um curto passo fazendo com que eu encolhesse e sentisse a parede rústica na minha costa.
- A pergunta certa seria .... O que você é ? - Ele confrontou e menos de um segundo havia percorrido o curto espaço e estava tao próximo que quando abaixou pra falar comigo seus cabelos um tanto comprido tocou minha bochecha. - Diz pro anjinho que estou me divertindo muito.
Meus olhos ficaram arregalados quando um dedo longo e pálido a luz do lampião fez um pequeno carinho na minha bochecha.
Meu coração acelerou quando voltei a mim.
Senti o familiar dos lençóis tocando minha pele e me acariciando carinhosamente. O ar tranquilo e o cheiro inconfundível de spray perfumado.
Estava no meu quarto. Me segurei firmemente aos lençóis pra prolongar tal sensação reconfortante. Foi tudo um sonho.
Abri os olhos esperando encontrar algo em comum ou sentir alguma dor mas estava estranhamente bem, bem até demais.
Levantei um pouco de forma que fiquei sentada e encarei meus joelhos, toquei minha perna, meus cabelos ... Estava tudo certo, perfeitamente em ordem.
Me afundei novamente no travesseiro e a porta abriu carregada de luz.
- Anne? - Uma voz falhando me chamou.
- Oi vovó. - Respirei fundo tentando me conscientizar de tudo.
- Enfim acordou querida, você precisa comer.
Voltei a me sentar, agora encarando a minha vó, mesmo pela fraca iluminação ela estava com fortes marcas abaixo dos olhos e pálida
- Tudo bem ... - Sorri timidamente, ela caminhou até a porta mas não saiu, voltou a atenção pra mim e perguntou.
- Quem é aquele menino?
Abri a boca pra responder mas não sabia ao certo a resposta, então fiquei em silencio.
- Tudo bem, depois conversamos então ... - E saiu.
Anjo .... Um aperto no peito fez com que eu lembrasse de tudo, o que havia acontecido com ele? O que tinha acontecido com nos?
Com uma certa surpresa percebi que minha mão estava na minha bochecha, congelei ao lembrar do toque de Luke.
E depois fiquei confusa, lembrando do toque ... Era tao calmo, intenso ... E na hora não havia me amedrontado e sim acendido algo dentro de mim, percebi assustada que eu havia gostado do toque.
Escondi o rosto no travesseiro tentando me esquecer daquela sensação.
Logo em seguida minha vó estava de volta, segurando um prato com o vapor aquecendo o quarto.
Comecei a comer sabendo que estava sendo observada pela minha vó que agora se encontrava sentada na beirada da cama. A sopa quente fez corar minhas bochechas e fiquei desconfortada sabendo que devia respostas a minha vó, mas também queria explicações. Não sabia como havia retornada a minha casa.
- Cadê meu pai? - Perguntei depois de colocar uma quantidade do caldo com gosto de feijão na boca.
- Ele não foi liberado do hospital, esta em observação. - Ela fez uma pequena pausa - Acham que pode haver algum pequeno trauma no sistema nervoso. Ele também não sabe que você só voltou pra casa a poucas horas.
- E como cheguei? - A sopa já estava acabando.
- Chegou ontem um pouco antes da meia noite. Mas o que aconteceu? - Tomei a ultima colherada de sopa. - Aquele ... Ricardo? - Não a corrigi - Ele deu uma breve explicação dizendo que encontrou você em um bar ... E que você passou mal...
Desliguei minha mente por breves segundos da explicação. Como ele havia ousado mentir dessa forma pra minha vó? E ainda desvalorizando minha imagem dessa forma ...
- O que houve querida? - Percebi tarde demais que estava encarando-a.
- Nada ... É só que ... Foi isso mesmo vovó. Sinto muito por tudo e por esse desgosto que estou causando em ti. - Abaixei o olhar para o prato agora vazio na minha mão. A fraca quentura me trazia conforto. - Eu só, não achava que poderia aguentar ... Precisava esquecer.
Ela se aproximou mais colocando a mão protetoramente nos meus ombros.
- Tudo bem querida, eu entendo ... Só não se machuque por conta da sua dor interna, ta bom? Isso não vai lhe trazer benefícios.
Balancei a cabeça de forma positiva.
- Vovó - Chamei-a quando a mesma se levantou pra sair - Você disse que cheguei ontem um pouco antes da meia noite, mas já esta escuro ... Que horas são?
- São quase dez da noite querida. - Ela sorriu docemente antes de sair.
Caramba, havia dormido o dia todo ... E ainda sim me sentia completamente cansada.
Fechei os olhos e depois do que pareceu minutos alguem estava me acordando.
- Querida, sei que deve esta cansada mas seu pai vai ter alta do hospital e pensei que provavelmente iria querer ir. Seu tio vai passar aqui daqui meia hora pra irmos busca-lo.
Escutei tudo com os olhos ainda fechados, Murmurei um "ta bom" e escutei a porta se fechando novamente.
Quando por fim tomei coragem de abrir os olhos tristemente percebi que a janela estava sem cortina e uma forte luz inundava o quarto. Dessa forma eu acordei de verdade.
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- Se arrumou rápido querida. - Minha vó estava na cozinha tomando um café puro. - Coma algo antes de saímos.
Não comi, mas tomei capuccino.
Logo em seguida meu tio, o irmão mais velho de mamãe estava estacionando o carro. E depois de meia hora estávamos no hospital.
- Estamos aqui pra buscar o Paciente Pedro Collin. - A mulher desviou o olhar da tela do computador pra nos encarar.
- Tem a ficha do paciente ? - Minha vó entregou uma cartela com algumas informações. A mulher leu os dados da cartela e depois voltou a entrega-la a minha vó - Só pode subir uma pessoa pra ajudar o paciente.
- Acho melhor eu ir querida, terei que ouvir as recomendações medicas. Tudo bem pra você?
- Aham ... Vou ficar esperando nos bancos ali fora.
- Tudo bem, tome - Ela me entregou uma nota de vinte - Compre algo lá na praça de alimentação.
E com isso ela saiu, entrando em um corretor.
Segui sem muita vontade pra pequena área reservada a fumantes. Estranhamente lá era aconchegante. Tinha alguns banquinhos e umas arvores que produzia uma sombra agradável.
Me acomodei em um deles tentando desacelerar meus pensamentos o resultado foi que não pensei em mais nada.
Estava encarando meu tênis quando uma sombra se ergueu acima de mim, de repente tudo voltou a acelerar me vi diante de uma figura terrível, alta, com feições horrendas e nada civilizado. Richard.
- Mas o que você ... - Ele se sentou do meu lado e eu senti o cheiro de suor exalando dele - Você ao menos poderia ter tomado um banho.
- Notícias, isso que vim fazer aqui. - Olhei-o atentamente, curiosa.
- Oras, arrumou um novo emprego de jornalista? Não sabia que sua ... Especie precisasse de dinheiro.
- Cômico - Sua voz vibrou um pouco antes dele responder - De fato Você tem um belo futuro artístico pela frente.
Voltei a olhar pra ele, tinha um meio sorriso nos labios, o mesmo tom sarcástico. Era o mesmo cara que havia corrido comigo na noite e me levado pra casa. Fiquei quase feliz por ter me familiarizado com isso.
- Hmm - Ele murmurou - Precisava realmente lhe informar - De repente ele estava serio novamente, os lábios haviam assumido uma linha reta e o cabelo caido escondia seus olhos.
- Bom, então não desperdice tempo. - Tentei controlar o tom e deixa-lo calmo, porem a aflição estava me corroendo por dentro.
- Vão parar de persegui-la.
Me virei rapidamente pra encara-lo e para minha surpresa ele fez o mesmo. O cabelo caiu pro lado e os olhos negros eram ainda mais escuro de tao perto. Só nesse estante percebi que ele estava muito próximo e um breve momento constrangedor caiu sobre mim
- Como assim? - Consegui perguntar.
- Restauraram a ordem, decidiram que talvez seja melhor que você saiba com o que esteja lidando talvez assim tenha mais chance. Falaram que terá um porem ... O qual ainda não sei. Mas a boa noticia é que você pode voltar a escola e fica próxima do Davi.
Respirei fundo, havia me esquecido daquele nome nos dias que se passaram, mas a presença dele era forte dentro de mim. Sabia que se pudesse beija-lo o faria com uma urgência terrível e sedenta...
- Meu Cristo! Para com isso! Posso ler seus pensamentos maliciosos! - Um tremor percorreu meus músculos, era tao intimidador!
- Então pare de espionar meus pensamentos. - Disse suavemente.
- Acha que não queria isso? Lotar minha própria mente com pensamentos propensos de uma adolescente não é agradável.
Com isso ele se levantou e começou a se retirar, sumindo atrás das arvores.
Fiquei agradecida por poder ficar sozinha com os meus pensamentos.
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- Menininha! - Havia se passado mais de dez minutos desde a saída teatral de Richard quando avistei meu pai.
Não havia prestado atenção em muitos detalhes no velório mas agora podendo avaliar a situação ele parecia muito magro. Havia hematomas pequenos na sua face e arranhões cicatrizando, o braço ainda engessado e ele vinha em uma cadeira de rodas.
Com dificuldade consegui abraca-lo sentindo boa parte de seus ossos. Percebi na sua expressão que ele estava tentando se mostrar forte e feliz, mas era ao contrario de tudo aquilo. Senti vontade de falar que ele não precisava usar uma mascara quando estivesse comigo, que eu sabia de sua tristeza mas nada disse.
Minha vó me disse quais foram as observações dos médicos no caminho de volta pra casa. Obviamente ele não iria trabalhar por um bom tempo, teria que parar com atividades físicas e se manter descansando e tomar alguns remédios, tanto pra dor quanto pra manter a calma.
Fui concordando silenciosamente com tudo, e no meu subconsciente estava fazendo uma escolha ... Ir ou não para escola? Talvez eu precisasse dar um tempo ao luto, mas temia que fosse pior.
Sem dizer que em menos de um ano poderia ser a minha morte e claro que estava com medo, não sabia lidar com mortes ... Mas receiava que meu pai também não soubesse.
E Davi ... Lembrei do seu olhar sorridente, do azul visível em seus olhos diante da luz ... Concordei silenciosamente com o famoso poema " O amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente ...'
Acima de tudo que já havia acontecido eu precisava me salvar. Por mim, pelo meu pai e por Davi. Pelo nosso amor.
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- Você tem certeza que pretende ir a escola? - Minha vó havia ficado em casa para "nos ajeitar" a nova rotina. Estávamos todos sentados envolta da mesa com o cheiro delicioso de carne de panela e batata. Contei brevemente que iria a escola no outro dia e meu pai estranhamente concordou dizendo que seria bom pra mim, porem minha vó foi mais severa em relação a isso. - Tao cedo ... Você não deve se preocupar com as suas notas querida, a diretora concordou em lhe dar algumas semanas de recuperação e depois Você pode fazer trabalhos recuperativos.
- Não estou preocupada com a nota vó. Só não vejo diferença em ficar aqui ou ficar lá, isso não vai mudar as circunstâncias.
- Concordo - Olhamos para o canto da mesa a onde estava meu pai - Oras Tereza, deixe Anne ir a procura do conforto das amigas, ela precisa disso.
Minha vó nada mais disse sobre o assunto
Acordar, respirar fundo, lembrar de tudo, sentir uma dor agoniante no peito, respirar fundo novamente, se levantar, se consolar e ir a rotina normal.
Fiz exatamente isso na manha de segunda, parecia um dia normal tirando o fato de que minha mar não foi me acorda por que obviamente mortos não tem que cumprir horários ( imagino eu) e também pelo fato de que tive que preparar eu mesma algo para me alimentar pois meu pai estava em um sono pesado por conta da medicação e que eu iria de ônibus a escola.
Não havia razão para que o dia não fosse normal para todos. Afinal somente eu tinha perdido minha mãe, somente eu corria perigo de vida, somente eu estava indo conquistar um garoto que em outras épocas me conhecia melhor do que eu mesma e hoje nem parece enxergar quem eu realmente sou.
Acho que a pior parte se perder alguem, além de ser o fato em si é todo mundo lidar com você como se você fosse uma coitada.
Quando cheguei na escola ouvi murmúrios de todos os lados dizendo coisas do tipo " Imagina como ela deve está se sentindo" ou " Mas soube que a mãe dela era horrível" e o clássico " Eu não conseguiria viver com essa dor"
Dentro da escola foi ainda pior, gente completamente desconhecida pra mim veio me dar os pêsames, até mesmo Jaque pareceu solidária a minha perca
Professores, inspetores, coordenadores vieram me consolar.
Depois de um tempo quase enlouquecedor de tanto "carinho falso" Lis e Andy chegaram, juntas.
Elas correram ao meu encontro no patio, me abraçaram e perguntaram como estava, tentei parecer forte e tranquila na minha respostas
- Bem.
- Quando as meninas falaram que você tinha vindo a escola quase não acreditei. - Disse Andy.
- Precisava me distrair. - Andy me abraçou novamente.
- Somos divertidas! - Ela sorriu e também deixei que um breve sorrisoe animação.
Entrando na escola, naquele exato momento estava Rich. Mesmo com o capuz cobrindo a cabeça consegui reconhece-lo, estava realmente familiarizada com ele.
As meninas seguiram meu olhar e Andy arrumou sua postura quando percebeu de quem se tratava
- Já volto. - Disse antes de dar alguns passos em direção a ele
- O que você vai fazer? - Ouvi Lis perguntar atrás de mim.
- Preciso agradecer a ele ... Por uma coisa. Esperem ai.
Com passos largos cheguei adiante de Richard. Ele parou por alguns segundo e em seguida retirou o capuz de seu rosto. Marcas visíveis de cansaço cobria sua expressão calculada, o cabelo estava despenteado e os olhos ... Acessos.
- Achei que daria um tempo a escola. - Foi ele quem disse primeiro.
- Você sabe que tempo é o que eu menos tenho no momento. - Um sorriso torto se moldou em seus lábios.
- Realmente Senhorita Anne. E o que deseja? - Tomei senso de realidade e percebi que boa parte das pessoas no patio estavam nos encarando, me senti estranha.
- Eu ... - Um pequeno tumulto tomou conta das pessoas no patio, Richard percebeu primeiro do que eu e se virou para o portão principal da escola a onde todos os olhares estavam agora. Sai de trás dele para poder olhar também, antes de colocar meus olhos na pessoa que estava entrando na escola dei uma última olhada para Richard. Ele estava completamente tenso, os olhos semi serrados e a boca levemente aberta.
Segui seu olhar perturbado, na entrada da escola alguem se destacava.
- Richard ... - falei sussurrando
- O que ele ta fazendo aqui? - Ele perguntou mas pra si mesmo.
Voltei a encarar a figura, roupas completamente pretas, uma jaqueta de couro que o deixava intimidador, músculos bem definidos embaixo da blusa preta, rosto com um formato perfeito ... Reconheci ele como se um soco tivesse atingido meu estômago. Os cabelos ruivos brilhava pelo sol fraco da manha, o sorriso mas gélido do que nunca fazia conjunto com os olhos tao castanhos que em contraste com sol parecia quase vermelhos. Agora eu podia ver seu rosto com clareza, não fiquei surpresa com tamanha beleza.
O sorriso superior dele cortou o ar e atingiu Richard, o qual firmou a mandíbula e recuperou a postura.
- Olá Richard, é um prazer imenso ver você, irmãozinho.
AI MEU DEUS GENTE, DEEEEESCULPA PELA DEMORA! As aulas voltaram e estou sem tempo D: ( só pra vocês terem uma ideia escrevi boa parte do capitulo no ônibus quando estava vindo da escola hehe) Então queridos (as) votem, comentem! E se não for pedir demais compartilha com os seus amigos XD quem sabe o livro tem um bom alcance *-* beijossss!
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