** Primeira revisão 11/05/2021. Contém 1.792 palavras **

Era madrugada de sexta pra sábado, sentia-me apreensiva. Um sentimento grotesco me invadia, mas de alguma forma ... Eu sentia que estava fazendo algo bom, só não sabia para quem exatamente.

Idai que ele tinha se tornado um babaca? As pessoas mudam e as vezes de alguma forma não se desenvolvem direito e eu estava ali para ajuda-lo. Sem dizer que ... O que eu teria a perder? Conclui com um leve pensamento. Não tinha nada a perder. Já perdera tudo.

Enchi-me de uma confiança e conclui que eu conseguiria meu Davi de volta.

E eu dormi, até demais.

Acordei ás 14:10 da tarde. Quase surtando. Eu demoraria certamente vinte minutos de ônibus para chegar até a praça ( por ser final de semana o ônibus era mais rápido) porem não tinha escolhido nenhuma roupa, nadinha.

Ah! Que se dane.

Quando sai do chuveiro percebi meu celular vibrando descontroladamente encima da cama. Encarei o visor com o nome de Lis. Logo que o aparelho parou de tocar percebi mais 7 chamadas da mesma. Aparentemente era uma ligação séria.

Retornei.

- Anne? - A voz dela estava um pouco abafada.

- Sim, o que houve ?

Pronto, ela começou a chorar.

Não aquele choro do tipo " Eu não passei em uma prova" ou " Minha vida é horrível!" e sim um choro atormentador. Sentia as vibrações do seu afogamento sentimental vindo da linha telefônica.

Tive receio de perguntar o que houve. Eu gostava muito de Lis, meu carinho por ela chegava ao mesmo ponto do que sentia por Andy, porém conhecia-a um mês, não estava pronta pra ergue-la em um momento de desiquilíbrio.

Sem dizer que ...

Eu tinha um encontro, daqui a menos de 1 hora e meia.

E ... Era com Davi.

OK, afaste esse seu egoísmo.

- Eu ... Eu - Mais vibrações emocionais. - O Rodrigo terminou comigo! - Um momento de expectativa ... Mais uma rodada de choro.

- Mas vocês nem tinham começado algo! - Retruquei.

- Eu sei, mas com certeza a gente pretendia - Ela esperou um momento antes de concluir. - Pelo menos parecia que sim.

- O que ele falou ? - Perguntei um tanto ansiosa.

- Ele... - Ela sufocou mais um longo período de choro - Disse que gostava de mim, mas que ele não estava pronto para dar carinho tão de imediato a alguém. Foi nessa hora que comecei a chorar e então ele disse " Viu? Nem começamos algo sério e já estou fazendo você chorar. Não sirvo para isso Lisa. " Sim, ele disse meu nome!

- Ele te ligou?

- Sim.

- Que patético.

Eu imaginava o que tinha rolado, Rodrigo provavelmente tinha encontrado outra ou voltado com alguma ex.

Lis era a melhor menina para se namorar. Ela era cativante, porém ela era "novata" e prezava certamente pelo seu future e não faria nada que se arrependesse profundamente depois. Além de que não tinha um espirito muito aventureira.

- Lis sinto muito, mas ele arrumou outra.

- Eu sei ... - Ela confessou baixinho. - Mas, não entendo o que pode ter de errado comigo.

- Não tem nada de errado com você. Ele simplesmente abriu mão de um futuro relacionamento sensacional contigo.

- Acho que não ...

OK, decidi parar de ser realista e apelar para o aumento de autoestima.

- Lis ele é um babaca.

Isso sempre funcionava.

- Sim, um enorme babaca.

- Você merece cara melhor.

- Ele é um idiota completo!

- Sim! Trocou uma garota linda como você por alguma vadia.

- Com certeza ela é uma enorme vagabunda

Droga, faltava uma hora para meu encontro e eu ainda estava de toalha.

- Olha Anne, minha mãe me disse ...

- Sua mãe?!

- Ah sim, ela descobriu tudo. O que não foi difícil estou chorando rios aqui. Enfim, ela me disse que o bom pra isso é uma terapia de compras. Você precisa me ajudar.

Droga, mil vezes droga!

- É que eu tenho um compromisso ...

- Ham??? - Deu pra sentir as lagrimas retornando para um novo combate. - Você ... Não me disse nada sobre um compromisso.

- Sim, é que foi de ultima hora. Uma festa de ... Ham, reconhecimento pelo emprego da minha mãe ... Ou coisas assim. O fato é que como ela é obcecada pelo emprego ela quer ... Ham... Fazer bonito, entende ?

- Ah, claro ... - Ela estava obviamente magoada.

- Olha Lis, Andy adora compras e conhece muito mais de garotos do que eu. Por que não chama ela ? E eu prometo sair com você. Prometo mesmo.

Estava sendo uma péssima amiga.

Mas amigos entendem ... Certo?

- Ah sim! - Ela pareceu ser atingida por uma esperança - Verdade! Obrigada Anne! Irei falar com Andy ... E boa festa pra você.

- Espero que seja boa, sinto muito de novo Lis. - Falei com um tom mais manso.

- Não se preocupe. Beijos.

Droga, larguei o telefone e corri pra me arrumar.

Vinte minutos e lá estava eu saindo de casa.

Fiquei dez minutos no ponto aguardando o ônibus e enquanto isso mandei um sms pra Andy.

" Tem alguma festa quente hoje? "

Ela respondeu.
" Mais ou menos. Estou me arrumando para encontrar Lis. Aquele filho da mãe do Rodrigo"

" É, eu sei. Como assim 'mais ou menos?' "
" O primo do Adam vai fazer uma festa, mas sabe como é, não é quente. O primo dele tem quase trinta anos, ou seja só gente mais velha, e aquele tipo de bebida... Cerveja. ECA! "
" OK, então esqueça a festa. Venha pra casa com Lis e vamos nos encher de comida. "
" OK, umas oito horas estamos ai."
" Ótimo"

Quando cheguei na praça estava no horário marcado. Não tinha ninguém ali.

Entrei em pânico.

Talvez ele tivesse ido embora cansado de esperar.

Talvez ele nem ao menos tenha se dado ao trabalho de vir.

Talvez ele nem se lembre.

OK, calma Anne.

Sentei no banco mais afastado. Tinha apenas duas pessoas na pequena praça, um cara com uma blusa laranja horrível lendo um jornal e outro cara com uma calça horrível fazendo uma caminhada.

O banco que eu escolhi estava de costas para entrada da praça. Preferi assim, pelo menos não ficaria sem jeito quando visse Davi caminhando em minha direção, isso se ele viesse.

Esperei, esperei, esperei. Nada.

Às 16:20 senti um hálito quente no meu pescoço. Era ele.

Não sei ao certo quais foram meus sentimentos. Alivio por não ter sido rejeitada e... Desconforto por esta com um ser tão comum para mim e ao mesmo tempo pateticamente diferente e estranho.

- Você parece assustada guria. - Ele caminhou até ficar em pé na minha frente. Estava com uma bermuda jeans, uma blusa bastante larga preta e um óculos de sol que escondia seus olhos.

- Por que estaria? - Retruquei em um tom confiante.

- Diga você. - Ele se aproximou tanto que eu achei que ele iria me beijar. Até ele decidir sentar ao meu lado.

Ele cheirava a tabaco. Uma onda de tristeza me atingiu.

- Sabe o que eu acho? Esse lugar uma merda. Não sei por que estamos aqui. - Ele ficou encarando os balanços e o escorregador.

- Eu gosto daqui. - Indaguei.

- Hmm - Breve silêncio - OK, não temos muito tempo, tenho uma festa para ir -

Encarei ele, sem entende-lo. Ele revirou os olhos e se levantou. Por um momento eu achei que ele iria embora, até ele segurar minhas mãos e me puxar de modo que fiquei em pé na frente dele, nosso corpo estava tão próximos que podia sentir a transferência de calor do corpo dele para o meu.

Fiquei quieta por alguns instantes, meu corpo estava tenso. Senti a mão dele descendo para minha cintura e em um momento de pavor percebi o rosto dele se aproximando e eu estremeci.

Eu poderia beija-lo. Já havia o feito tantas vezes antes ... Mas, não.

Virei o rosto e me afastei dele, retornei a cair no banco e quase não consegui conter as lagrimas.

Davi primeiro ficou me encarando curioso, depois fechou o rosto.

- QUE MERDA? Se decida garota! - Ele rugiu - O que você quer?

Arregalei os olhos e uma única lágrima se soltou descendo sobre o meu rosto. De imediato lembrei do dia perturbador no hospital.

Davi deitado imóvel sobre a maca com vários aparelhos ligado em seu corpo. Nossas mãos unidas ... E meu choro inconsciente.

Não importava o que fosse acontecer dali para frente, apegar-me-ia a lembrança de que eu morreria por ele e ele faria o mesmo por mim.

- Não Davi, não vou ficar com você. - Disse o mais calmo que consegui.

- Então me diga o que você quer.

- Quero que você volte a ser o que era antes - Sussurrei. Não tive medo de falar ... Acho que eu não me importava tanto com aquilo.

- O que?

- Nada. - Me levantei e comecei a caminhar me distanciando dele.

- Você é estranha guria!

Escutei ele gritar, mas continuei andando. Repassando mentalmente todos aqueles acontecimentos.

O pior era que apenas uma coisa ficou realmente marcada na minha memoria.

O cheiro insuportável de tabaco.

~~~~~~~~~~~~~ Naquele mesmo dia

- Você não vai acreditar na loucura que Lis fez! - Era Andy pelo telefone, já passava das 20:00 horas e elas ainda não haviam chegado em casa.

- Ela não decidiu beber e depois dormi com algum estranho, né??

- Caramba Anne! É oito horas da noite a onde ela poderia ter feito isso? As melhores boates nem começaram a abrir e ela não tem um RG falso.

- E nem você tem.

- Tenho sim

- Ham?

- Esquece, mas olha estamos chegando e você simplesmente vai ficar impressionada.

- Haha desde que ela não apareça gravida aqui, tudo bem.

Meia hora depois escutei os murmurinhos vindo da entrada da frente. Abri a porta e encontrei uma Andy sorridente e uma Lis também sorridente.

Porem

Lis estava diferente.

O cabelo antes com um corte reto estava em camadas descendo sobre seu ombro e ela tinha os olhos marcados com delineador.

Parecia uns dois anos mais velha e estava deslumbrante.

- UAU - Disse.

- Eu sei! Ela esta o máximo! - Andy falou e as duas entraram.

Me mostraram as roupas super descoladas que elas compraram. Não somente o visual de Lis havia mudado, mas ela parecia muito mais ... Madura.

Sem dúvida o Rodrigo saberia na segunda feira o que tinha perdido.